Esta é a versão antiga da Dying Days. A nova versão está em http://dyingdays.net. Estamos gradualmente migrando o conteúdo deste site antigo para o novo. Até o término desse trabalho, a versão antiga da Dying Days continuará disponível aqui em http://v1.dyingdays.net.


discografia,
letras e reviews:
* principal
* complementar
arquivo
letras traduzidas
Home | Bandas | Letras | Reviews | MP3 | Fale Conosco
Liars:
Liars
Formação: Brooklyn, NY, EUA.

Angus Andrew: guitarras e vocais
Aaron Hemphill: guitarras e eletrônica
Julian Gross: bateria

Outros integrantes:
Pat Nature: baixo
Ron Albertson: bateria

Biografia:


Uma das características do início dessa década foi o surgimento de vários focos de música segmentada, ao contrário de cenas maiores e prolongadas como o grunge nos anos 90. A mídia tentou, nessa mudança de velocidade com a qual as coisas passaram a acontecer, organizar as coisas dentro dos paradigmas existentes até então, sendo em poucos anos desafiada a encontrar maneiras de conduzir uma explosão de música espalhada por milhões de computadores. Essa pequena segmentação em pouco tempo se mostrou momentânea, incapaz de definir um panorama onde artistas africanos coexistem nos MP3 players com medalhões como o Elvis Presley. A primeira fase do Liars foi encaixada nessa tentativa de adequação a uma tendência, mas as etapas seguintes trataram de revelar a verdadeira proposta dos nova-iorquinos: música para os mais excêntricos Winamps.

Angus Andrew, Aaron Hemphill, Pat Nature e Ron Albertson formaram o Liars em Williamsburg, região do Brooklyn que no início da década foi pinçada pela mídia como uma das que "estavam construindo o rock do novo milênio". As apresentações incendiárias do quarteto eram reverenciadas como das mais imperdíveis, responsáveis pela contextualização do Liars no que se convencionou como "cena nova-iorquina" (que contou com Rapture, Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Interpol e Walkmen, entre vários outros). Embora musicalmente divergentes entre si, a imprensa relacionou essas bandas como a primeira boa safra do que a década reservava para os ouvintes.

Mesmo respaldado por turnês com artistas nada convencionais como o Sonic Youth e o The Jon Spencer Blues Explosion, o primeiro disco do Liars, "They Threw Us All In A Trench And Stuck A Monument On Top", acabou relacionado com o "efeito NY", mais precisamente com o rótulo "disco-punk". A atmosfera proveniente dessa rotulagem marcou essa primeira fase da banda, mesmo que o álbum apresentasse um formato mais avançado do que a simples idéia de conter músicas de abastecimento para pistas de dança descoladas. Apesar dos ritmos dançantes e roqueiros onipresentes, o disco mantinha uma linguagem suja e desvinculada da aura acessível equivocadamente atribuída a ele.

Reconhecemos que a indumentária da
banda não favorece nosso trabalho de
catequização

Pouco se ouviu a respeito deles nos anos seguintes, embora tenham editado três ruidosos EPs (um deles em conjunto com os vizinhos do Oneida). Durante esse período, Angus e Aaron dispensaram Paul e Ron (que depois formariam o No Things), com o argumento de que a dupla remanescente era a verdadeira responsável pelas composições e que a ausência de Paul e Ron eliminava a necessidade de outros músicos compartilhando as decisões musicais da banda. No início de 2003 Angus mudou-se com sua namorada (Karen O., do Yeah Yeah Yeahs) para uma casa nas florestas de New Jersey, sendo acompanhado por Aaron e o amigo Julian Gross quando Karen partiu em turnê com sua banda. Era chegado o momento de produção do segundo disco, e o Liars conseguiu convencer a Mute Records de que ao invés de fazê-lo em frios e caros estúdios, a banda produziria melhor no porão da casa em que estava estabelecida. Com sinal verde da Mute, o trio assessorado por David Sitek (do aclamado TV On The Radio) decidiu eliminar os laços com os rótulos que lhe foram aplicados e buscou uma sonoridade desafiadora que revolucionaria a imagem da banda.


Não leia essa bio durante seu expediente
Influenciados por artistas de eletrônica como o Matmos, passaram a flertar com o experimentalismo e as possibilidades oriundas da simbiose entre máquinas e ruídos analógicos, diferentemente do setup mais convencional utilizado no passado. Mas foi através de uma pesquisa equivocada na internet que Aaron deparou-se com o ingrediente principal do disco que estava sendo criado. Ao digitar equivocadamente a sentença "Brocken Witch", deparou-se com uma série de páginas dedicadas ao Walpurgisnacht, uma tradicional celebração alemã para as bruxas da região Brocken e o folclore oriundo da idade média.

O efeito das leituras chegou aos colegas, que se integraram na tarefa de transformar os contos seculares de caça às bruxas no tema do álbum (auxiliados por eventuais caminhadas à noite no meio da floresta). Essa influência se embrenhou no trabalho da banda de tal forma que as lendas malignas foram complementadas por uma sonorização sinistra e sombria, fazendo de "They Were Wrong So We Drowned", o segundo LP do Liars, um dos discos mais criativos de 2004. Nesse sentido, a banda não só cumpriu a tarefa de apagar o passado, como acabou reservando sua poltrona no clube dos artistas que a partir dali passariam a responder pela vanguarda, o que lhes custou a antiga audiência movida por rótulos momentâneos. Suas performances no palco foram igualmente intrigantes, podendo ser conferidas até mesmo no Brasil durante o festival paulista Nokia Trends em setembro de 2004.

O Liars promoveu seu segundo disco de forma tão massiva na Europa que Angus eventualmente transferiu-se para Berlim, atraído, entre outros motivos, pelo baixo custo de vida na cidade. Aaron e Julian o acompanharam gradualmente, a partir do momento em que o terceiro disco do trio começou a ser forjado em terras alemãs. O primeiro material produzido logo após "They Were Wrong So We Drowned" aproximou-se da sonoridade ambient, e embora tenha sido originalmente direcionado para um projeto visual a ser lançado na carona do segundo disco, a banda se viu exaustivamente alternando produções musicais com gravações em vídeo. Quando percebeu, tinha levado a experiência para um outro patamar, onde todo o tempo estava disponível para a elaboração de um produto que apontasse para territórios artísticos inexplorados.

Enquanto a Mute pedia tempo para conceber o lançamento do trabalho, que exigia a inclusão de um DVD como complemento da experiência sonora, a banda seguiu polindo o novo material em exaustivas sessões de estúdio. A característica principal das novas músicas estava na sonoridade massiva das baterias, que atuavam quase como um quarto integrante da banda. Para chegar a essa resolução, foi localizado um antigo estúdio pertencente ao ex-governo comunista alemão, utilizado em gravações de programas de rádio. O complexo oferecia salas de gravação específicas para sonoridades peculiares, concebidas para a produção de radionovelas.

Angus Andrew e o misticismo moderno

A banda gravou seu disco nesse local a um custo irrisório e se esmerou em obter o máximo de possibilidades que o espaço lhe proporcionou. É esse exercício de experimentação de sons que delineia "Drum's Not Dead", o terceiro e mais audacioso trabalho dos Liars. Acompanhado de um DVD com três versões visuais do disco, o álbum deixa as bruxas de lado e aborda a polaridade entre os sentimentos que cercam o processo de criação da banda: a confiança e a dúvida (representados respectivamente por "Drum" e "Mt. Heart Attack"). Parece difícil que eles tenham conseguido conciliar tantas idéias arrojadas em um único pacote, mas o lançamento de "Drum's Not Dead" foi acompanhado de muitos elogios por parte da imprensa virtual, fazendo dele um dos principais discos a serem escutados no ano.

A seqüência de metamorfoses sofridas pela banda mudou radicalmente sua imagem, efeito perseguido e homologado com pelo menos dois belos álbuns. O ano de 2006 será dedicado às turnês de divulgação de "Drum's Not Dead" e tudo indica que os Liars não serão esquecidos nas listas de final de ano. Com ouvintes cada vez mais exigentes e interessados em música criativa e inovadora, são grandes candidatos a marcar os playlists da temporada.

Vicente Moschetti
julho/2006

Discografia:
Discos oficiais Ano
They Threw Us All In A Trench And Stuck A Monument On Top 2002 (Blast First / Mute)
They Were Wrong So We Drowned 2004 (Mute)
Drum's Not Dead 2006 (Mute)
EPs e singles Ano
Fins To Make Us More Fish-Like
2002 (Blast First / Mute)
Atheists, Reconsider
2002 (Arena Rock)
We No Longer Knew Who We Were
2003 (Sound Virus)
There's Always Room On The Broom
2004 (Mute)
split c/Yeah Yeah Yeahs
2004
We Fenced Other Gardens With The Bones Of Our Own
2004 (Mute)
It Fit When I Was A Kid
2005 (Mute)
The Other Side Of Mt. Heart Attack
2006 (Mute)