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Review: The Aeroplane Flies High
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5 em 1 - Uma das críticas mais freqüentes aos Smashing Pumpkins, principalmente em relação ao terceiro e multiplatinado disco do quarteto de Billy Corgan, Mellon Collie & The Infinite Sadness, é a falta de uma direção na sonoridade da banda. Em termos mais simples, os abóboras "atiram para todos os lados" na hora de gravar um disco, sem se importar muito com a coesão da obra.

Se isso é verdade, o que, de fato, é, Corgan poderia ser indicado para a seleção americana de tiro, pois acerta o alvo tocando desde o mais furioso rock até baladas românticas singelas, delicadas e pops, passando por tudo o que pode - ou não - ser imaginado. Mas é verdade, também, que esse modo de se fazer um disco acaba deixando de lado a coesão da obra; Mellon Collie parece ser tocado por 28 bandas diferentes, sendo que seu único ponto em comum é o vocalista. Ainda assim, é um dos discos mais fantásticos lançados na década de 90.

The Aeroplane Flies High retrata justamente esse período da banda. É uma caixa que contém os 5 singles retirados de Mellon Collie & The Infinite Sadness transformados em EPs, adicionando várias musicas que estavam ou no lado B desses singles ou enterradas em alguma fita qualquer das gravações do disco. Ao todo, são 33 músicas, incluindo as 5 do disco principal, o que dá uma idéia do que foi o processo de gravação.

Somando as músicas do disco e da caixa, são 56 músicas, além de tudo o que foi utilizado no Pastichio Medley e do que até hoje não chegou aos ouvidos do público, além de alguns poucos fãs com acesso a essas gravações. Estima-se que foram gravadas 70 músicas para o disco, sendo que praticamente 60 são de autoria de Corgan, excluindo músicas compostas por ele no mesmo período que não chegaram a sair das primeiras demos gravadas. No total, Billy e a banda escreveram e gravaram algo próximo a 100 músicas em 2 anos, um número impressionante. E, o que é ainda mais impressionante, a banda manteve seu padrão de qualidade em praticamente todas as músicas. Posso dar uma dica pessoal, para que vocês tenham uma dimensão do quão produtivo foi aquele período: a música Methusela, que não chegou nem a ser gravada pela banda durante as sessões oficiais, é uma das músicas mais lindas que já ouvi, o tipo de música que 10 entre 10 compositores daria um braço para ter escrito. Isso tudo prova que Billy Corgan é um gênio da música contemporânea, e nada menos.

Como é uma espécie de complemento ao Mellon Collie, The Aeroplane Flies High também apresenta esse lado "pistoleiro" do Smashing Pumpkins, com a diferença de que essas vertentes não chegam a se misturar tanto, por estarem separadas em cinco discos. O que se assemelha mais, nesse aspecto, ao disco principal é o EP Thirty-Three, onde o termo "um polaco de cada paróquia" parece ganhar um exemplo bem claro, agrupando desde uma balada piano/voz dos anos 20 até momentos de puro grunge. Os outros quatro tendem a agrupar musicas semelhantes, ou pelo menos semelhantes segundo o padrão de Corgan.


Bullet With Butterfly Wings (4 estrelas e meia)

Muito há para se falar da faixa-título. É a música favorita de 10 entre 10 pessoas que conheceram a banda recentemente (e isso inclui eu, quando conheci a banda), e os motivos não são poucos: é uma faixa enérgica, crua, desesperada, cantada com toda a emoção possível por um Billy Corgan fora de si, se auto-flagelando e auto-depreciando em forma de poesia, potentes guitarras e um refrão memorável. Com certeza, um dos grandes clássicos dos anos 90.

Logo em seguida, vêm James Iha com Said Sadly, em um contraste quase que inacreditável com Bullet. O dueto com Nina Gordon (Veruca Salt) é uma apaixonada e belíssima canção folk - ou alternative country, como preferirem - bem no estilo do autor, que ao contrário do chefão dos Pumpkins, tem um estilo de compor direcionado e previsível, sem que isso seja algo ruim. Lembra muito os melhores momentos do apenas razoável álbum solo de Iha, Let It Come Down, como Be Strong Now.

A partir daí o disco assume um conceito: 5 covers do início dos anos 80. Começa com You're All I've Got Tonight, música dos Cars, em uma versão rock-arena, um pouco fraca. Alguns teclados ajudam a manter o clima retrô. Em seguida, vem Clones (We're All), de Alice Cooper. Apesar de não gostar de Cooper, os Pumpkins fizeram um excelente trabalho com essa música. Uma grande versão, que, se não fosse pelo aviso no encarte de que era um cover, passaria desapercebida como uma música de Billy.

Mas o momento mais belo do EP acaba sendo protagonizado por James Iha. Sua versão para A Night Like This, do Cure, ficou simplesmente perfeita! Um arranjo delicado, feito por Ken Brown (ex-marido de D'Arcy, tocava no Catherine), serve de cama para um vocal contido e grave de James, recitando os belos versos escritos por Robert Smith como se fossem seus. Após um belíssimo interlúdio, substituindo de forma genial o chatíssimo solo de saxofone da versão original, Iha parece se soltar, cantando novamente o refrão em um tom agudo e melodioso, à beira de um desafino. Violoncelos dão o tom, e Iha canta melancolicamente "I want to change it all". Sublime, conseguiu melhorar infinitamente uma canção retirada de um dos melhores discos do Cure, o que por si só já é um grande feito.

Para terminar o EP, a banda dá uma pista do que seriam as bases de seu trabalho seguinte, Adore. Os sintetizadores e baterias programadas acabam dando o tom tanto de Destination Unknown, dos Missing Persons, quanto de Dreaming, do Blondie, mas de formas bem distintas. A primeira é uma versão bem humorada e fiel à original, mas nada de grande interessante. Diverte durante seus 4 minutos, mas é de fácil esquecimento. Já Dreaming se tornou um sublime dueto entre D'Arcy e Corgan, com belíssimos sons de teclado e uma melodia encantadora. Ideal para se ouvir no final de uma tarde de inverno.

Bulllet With Butterfly Wings é um ótimo EP, apesar de alguns deslizes. Mostra que os Smashing Pumpkins podem ser grandes intérpretes, algo que já havia sido provado no outro CD de lados-B da banda, Pisces Iscariot, onde transformaram Landslide, do Fleetwood Mac, em uma bela canção acústica de Billy Corgan.


1979 (4 estrelas)

1979 é um dos maiores sucessos da carreira do Smashing Pumpkins. A música mais pop da banda lançada até então, conta com um inusitado clima new-wave. Uma bateria cadenciada, em alguns momentos até substituída por uma precária bateria eletrônica, está onde costumava aparecer a bateria furiosa e enérgica de Jimmy Chamberlin. Os riffs de guitarra são distantes e repetitivos, se fundindo com os teclados e com o baixo, num belíssimo e melancólico arranjo, que serve de cama para o vocal suave de Billy Corgan. Sem dúvidas, uma grande música, uma das melhores da carreira dos abóboras.

O restante do EP 1979 pode ser dividido em duas partes: uma é composta por músicas de Corgan, sendo que todas elas apresentam uma característica em comum: o baixo (ou uma guitarra sendo tocada como baixo) acaba sendo o fio condutor dessas canções, enquanto a guitarra, mixada ao fundo, é deixada para fazer efeitos, barulhos e frases repetitivas, assim como os teclados. O efeito disso são 3 músicas que fundem a psicodelia dos anos 60 com o minimalismo do pós-punk britânico de The Cure e Joy Division. Cherry e Set The Ray To Jerry, se não chegam a estar entre as melhores da banda, cumprem bem sua proposta. Já Ugly é o destaque negativo: o minimalismo acaba sendo excessivo, deixando a música um tanto quanto monótona.

A segunda parte é composta por duas músicas de James Iha, The Boy e Believe, intercaladas entre as três faixas de Billy. Essa parte acaba sendo o grande destaque do EP, além da faixa-título. The Boy remete a nomes como o REM e Teenage Fanclub por ser uma típica canção power-pop, romântica até a medula, tocada em uma guitarra distorcida e garageira. Já Believe começa delicada, folk, crescendo para um belíssimo arranjo, em que se destaca um quarteto de cordas. Duas grandes canções do passional, pop e folk Iha.

Apesar da inegável qualidade da faixa principal, o EP acaba sendo um dos mais fracos da caixa. O ponto mais interessante é o contraste entre os dois compositores, Billy soando experimental e etéreo e James, como sempre, soando romântico e pop. Mas, ao contrário do que todos sempre esperam, James se saiu melhor.


Zero (5 estrelas)

Lisa Simpson, sobre Zero: "é interessante como essa música afeta as pessoas".

Baseada em um simplíssimo riff de guitarra, perdido entre o heavy-metal e o punk, a canção é uma espécie de hino não-oficial dos Smashing Pumpkins. Corgan derrama suas palavras, ora abstratas, ora heréticas, como se fizesse um discurso para uma geração perdida. A ira de Billy nunca pareceu tão intensa, os breves 2 minutos de música parecem ser uma seção de auto-flagelação do compositor, mas ainda assim, a música é cantada com um estranho prazer em sua voz. É uma das músicas que elevaram Corgan ao status de ídolo de adolescentes problemáticos, apesar de dividir o posto com artistas de qualidade duvidosa.

O EP acaba sendo totalmente fiel à proposta da canção. Ainda que "pesado" seja um termo um tanto quanto relativo (tem gente que diz que escola de samba é pesado, por exemplo), são os 15 minutos mais pesados da carreira dos abóboras, e isso inclui seqüências matadoras de discos como Siamese Dream e Gish, onde a crueza ainda era marca registrada da banda.

Após o hino Zero, vêm God. O começo lembra um pouco as músicas do EP 1979, sendo levada no baixo, com um Billy Corgan contido e discreto, até uma onda de guitarra e bateria, ambas tocadas no último volume e com toda a energia possível, invadirem a música por alguns segundos. Mas é só uma pista falsa. A calmaria tensa continua, até a volta da guitarra e da bateria, fazendo uma ponte para um refrão explosivo e enérgico. Depois disso, o clima volta para a tensão anterior, agravada por uma percursão quase tribal de Jimmy. A ponte volta, guitarra e bateria parecem brigar pelo posto de instrumento mais barulhento do disco, e a partir daí são dois minutos do rock mais enérgico e agressivo que os Pumpkins poderiam ousar fazer. Billy grita "God knows I'm helpless" (Deus sabe que não tenho salvação) até perder sua voz, Jimmy impõe um ritmo frenético, cada batida na caixa soa como um tiro, até um final brusco, que soa como se alguém tivesse tirado o som da tomada. Parecia ser a única maneira de parar Billy Corgan e sua máquina de fazer rock'n'roll. Só uma dúvida: como podem deixar uma pepita desse quilate escondida no lado B de um single?

Mouths of Babes é o elo perdido entre Pumpkins e Alice In Chains. A levada lenta e pesada lembra muito as músicas de Jerry Cantrell, apesar da (grande) diferença nos timbres vocais de Layne Stayley e Billy Corgan. Em seguida vem a faixa instrumental Tribute to Johnny, tributo a Johnny Winters, onde os Pumpkins decidem mostrar tudo o que sabem em seus respectivos instrumentos, em 2 minutos e meio. Só as viradas de bateria de Jimmy Chamberlin já valem a música, uma rara demonstração de virtuosismo que não é chata e sonífera em momento algum. Muito pelo contrário, os riffs e arpejos de Iha e Corgan encantam e fascinam.

Marquis In Spades talvez seja o momento mais heavy-metal da banda. Uma explosão de fúria, raiva e desconforto em forma de música. Riffs pesados, Corgan berrando como poucos e um final de deixar até fãs de Belle & Sebastian de queixo caído. Excelente! E, para fechar a obra, nada como uma faixa..... power pop?? Sim, isso mesmo, Pennies é power-pop puro. Uma melodia deliciosa, levada por uma guitarra arpejada, que inclui até algumas harmonias vocais. É mais uma das tantas faixas dessa caixa que poderiam ser os singles de Mellon Collie, mas acabaram relegadas à "segunda divisão". Quem mandou elas aparecerem na cabeça de Billy nesse período tão produtivo?

A sétima faixa do EP, Pastichio Medley, são 26 minutos com riffs e mais riffs de Billy que acabaram não gerando nenhuma música completa. É um exemplo interessante para se falar da produção artística em escala industrial que sai da cabeça da abóbora mais conhecida do mundo, mas acaba sendo um verdadeiro sofrimento ouvi-la por completo. Aperte stop sem remorso, a não ser que você queira plagiar algo. Daí sim o Pastichio Medley vira um prato cheio!

O saldo final de Zero não poderia ser melhor. Toda a fúria de Billy Corgan condensada em 5 excelentes faixas perdidas entre o punk, o metal, o grunge, o hardcore e tantos outros rótulos, mas que no final são apenas rock puro e direto, ideais para acordar a vizinhança no meio da madrugada. E, depois de muitos air-guitars, air-drums e air-basses, a encantadora Pennies acaba ajudando o fã a recuperar seus sentidos. Aliás, que musiquinha maravilhosa...

Um último adendo: Zero carrega consigo toda uma história bolada por Billy Corgan. Até onde eu sei, é mais ou menos assim: seu alter-ego se chama Zero, mas se tornaria Glass (Glass Theme, Glass and The Ghost Children) ao encontrar June (Bye June), o amor de sua vida, que o tornaria uma pessoa completa. Essa história acabou servindo como um conceito geral para toda a carreira dos Pumpkins, e várias teorias são levantadas em relação a isso. Não entendeu? Pois é, eu também não, mesmo depois de um ano no fã-clube da banda.


Tonight Tonight (3 estrelas e meia)

O épico que abre a primeira parte de Mellon Collie And The Infinite Sadness é uma das grandes obras-primas da banda. Gravada com uma orquestra completa, é mais uma prova da megalomania e da pretensão de Billy Corgan. Se estivéssemos falando da megalomania e da pretensão de gente sem talento, com certeza estaríamos falando de uma música exagerada, chata, enfim, um mero épico rock tradicional. Mas estamos falando de alguém que sabe canalizar todos esses aspectos aparentemente negativos para criar algo maravilhoso. E Tonight Tonight é exatamente isso: algo maravilhoso. Poderia falar também do clipe, clássico absoluto da MTV, mas daí já é covardia...

Já o EP de Tonight Tonight, baseado nas duas versões do single, acaba sendo apenas mediano. A proposta é exatamente oposta a faixa principal: são canções folk, gravadas precariamente, boa parte delas apenas em voz e violão. Apesar da boa idéia, alguns arranjos preguiçosos acabaram prejudicando algumas canções, deixando o disco muito irregular.

O grande destaque do lado-B é, sem dúvidas, a excelente Rotten Apples, uma melancólica balada que poderia estar facilmente entre as 28 músicas de Mellon Collie. A tristeza no vocal de Corgan é cortante, e essa melancolia ainda é acentuada por um violoncelo que pontua a melodia cruelmente. Por algum motivo me lembra algumas faixas de Chelsea Girl, da Nico. Meladori Magpie e Medellia of the Gray Skies, apesar de não serem grandes canções, têm seu charme. A primeira apresenta um clima country, graças a uma guitarra slide que enriquece e muito seu arranjo, enquanto a segunda é uma melancólica balada semi-acústica, que poderia ter saído infinitamente melhor se fosse gravada em condições melhores. Toda a canção é prejudicada pela sonoridade ruidosa da gravação, visivelmente caseira.

O resto do EP acaba sendo um dos momentos mais fracos do Smashing Pumpkins. Jupiter's Lament é uma canção folk, com acordes simples e uma melodia um pouco pobre. Não chega a ser ruim, mas também não impressiona. Já as duas músicas que fecham o disco, Blank e Tonite Reprise, deveriam ter sido descartadas. A primeira é uma fraquíssima balada folk, com uma gravação precária, cheio de desafinos de Billy Corgan e com um violão em um tímbre horrível. Mesmo com uma produção melhor, a qualidade não seria alterada. A fraqueza está presente também na melodia, na harmonia e até na letra. Já Tonite Reprise é a versão inicial de Tonight Tonight, retirada de uma demo. Segundo Billy, foi gravada ao vivo e tocada em um violão com cordas velhas e enferrujadas, em uma escala em que ele não consegue cantar. Isso explica a péssima qualidade do som, os desafinos, e tudo mais. Vale apenas como curiosidade.

O EP de Tonight Tonight é, com certeza, o mais fraco da caixa. Muitas canções que não foram gravadas nas sessões oficiais poderiam ter sido muito melhor aproveitadas aqui do que boa parte das faixas. Um clássico como Tonight Tonight merecia, definitivamente, um tratamento melhor.


Thirty-Three (5 estrelas)

Thirty-Three é, de longe, o single mais estranho lançado pelos Pumpkins. Ao invés de uma canção convencional, com estrutura, melodia e instrumentos convencionais, Billy e sua turma resolveram lançar como quinto single de seu mais ambicioso projeto essa pérola psicodélica escondida em Twilight To Starlight (segundo disco de Mellon Collie). Não poderiam ter feito escolha melhor: além de provar o quão vasto é o repertório da banda, optando por uma música que vai além de uma Bullet With Butterfly Wings versão 2, essa música é bela como poucas. Pianos, violões e guitarras se fundem num som maravilhoso e único, para que Billy Corgan recite seus versos com toda a emoção possível. Infelizmente, parece que poucas pessoas ainda se lembram dessa música. Uma prova concreta disso é sua exclusão da coletânea Rotten Apples, lançada em 2001.

Se Thirty-Three foi uma prova da vastidão de sons que Billy Corgan pode criar, o EP segue pelo mesmo caminho, soando como uma banda diferente a cada musica. E, mesmo chutando a coesão do disco para bem longe, é o melhor EP da caixa, junto com o curto e grosso Zero.

Já no primeiro lado-B, os Pumpkins mostram que não brincam em serviço. The Last Song, está, sem nenhuma sombra de dúvida, em meu top 5 de melhores músicas da banda. E estamos falando de uma banda com mais de 300 músicas! Nem preciso dizer mais nada, mas irei, essa canção não pode passar desapercebida. Seu começo já é emocionante, graças a um suave arranjo de piano e violão. Os versos soam como uma despedida (This is the last song I sing for you / This is the last song I can give you) e Billy parece estar conformado com ela. Mas aos poucos vai revelando sua tristeza, principalmente quando chega à ponte, onde recita belos versos como "would you find a way across me / to forgive and forget me". E aqui entra a grande surpresa da música: Bill Corgan, sr., o pai de Billy, entra com sua guitarra blueseira, fazendo um jogo de pergunta e resposta com os versos de seu filho, que desembocam em um dos refrãos mais emocionantes da história da música. Sublime, simplesmente sublime. O tipo de música que tira lágrimas de uma pedra.

Na seqüência, vem a longa, pesada e grunge The Aeroplane Flies High (Turns Left, Looks Right). Riffs lentos, graves, cheios de distorção, longos solos, lembra muito músicas como Quiet e Hummer, do álbum anterior, Siamese Dream. Transformer é a mais fraca do EP, apesar de ser uma faixa interessante. Um riff alegrinho, um ritmo empolgante, mas nada que tire sua cara de lado-B. Em seguida, vem The Bells, de James Iha, uma balada folk, cheia de pianos, violões e cordas. Excelente, como todo o material de James na carreira dos Pumpkins, o que infelizmente não se repetiu em sua carreira solo.

E depois de 32 faixas, quase duas horas de música, Billy Corgan se despede solenemente de nós. Após uma enxurrada de sentimentos, timbres e texturas, Billy parece querer dar um descanso a nosso ouvido já calejado, e também à nossa alma. Esse descanso se chama My Blue Heaven, uma antiga canção de amor, lançada pela primeira vez em 1927, em uma versão tocante. Piano, violoncelo e a voz de Corgan, que canta uma letra inocente, infantil, como se quisesse se livrar dos fantasmas que o atormentaram durante boa parte dos discos. Em poucas palavras: é lindo. E também não deixa de ser surpreendente.

E Thirty-Three, o EP, é isso mesmo. Psicodelia, rock, grunge, baladas no piano, folk, o que aparecer pela frente. Muitos fariam grandes equívocos com tantas vertentes da música pop nas mãos, mas Billy, James, Jimmy e D'arcy fizeram uma verdadeira obra de arte. Só nos resta dizer parabéns!

Epílogo

Essa caixa acabou dando aos fãs da época uma visão muito mais ampla da música dos Smashing Pumpkins. Essa visão complexa de Billy Corgan sobre a música já havia sido mostrada em Mellon Collie & The Infinite Sadness, e The Aeroplane Flies High vem apenas como uma confirmação. Alguns podem chiar, dizer que isso não é o que esperamos de uma banda de rock. Podem reclamar ao ouvir pérolas como The Last Song ou My Blue Heaven, pedir por guitarras pesadas e baterias agressivas e, principalmente, rock'n'roll. Mas uma última pergunta: os Smashing Pumpkins são uma banda de rock? Não, os Smashing Pumpkins não são uma mera banda de rock, muito menos qualquer outro nome que decidam colocar em sua música. O som da banda transcende esses rótulos simplistas: o avião deles voa mais alto!

Francisco Marés de Souza
set/2003