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Review: Opiate
avaliação:
“Opiate”, primeiro lançamento do Tool, é simples e direto. Ou seja, não se trata de um “álbum verdadeiro” do Tool. A banda escolheu apenas as músicas mais pesadas para este EP, fazendo todos pensarem que a sonoridade do grupo estava mais para “metal” do que para seu verdadeiro estilo. Talvez este lançamento seja tão “agressivo” porque a banda, em 1992, ainda contava com o baixista Paul D’Amour, e dizem que o cara vivia de mau-humor...

Mesmo assim, as músicas são muito boas, com a qualidade instrumental do Tool e a voz de Maynard James Keenan sendo o fator diferencial.

Logicamente, a capa de “Opiate” faz uma referência à influência religiosa na consciência das pessoas, trazendo uma figura bizarra de seis braços trajando uma batina. Este seria o tema principal do EP, com frases indicando algumas alfinetadas na forma que algumas seitas orientam seus adeptos. Citando Marx, “a religião é o ópio das massas”.

Após os 10 segundos iniciais de silêncio -para o ouvinte pensar “Por que não está tocando nada?”, aumentar o volume e se assustar com a entrada direta de “Sweat”- o Tool mostra um peso bem técnico, com algumas passagens bem clichê, lembrando inúmeras bandas de trash-metal em certos momentos.

Com “Hush”, a banda condensa de maneira mais direta o que se torna a tônica do álbum: riffs de guitarra abafados e eficientes, baixo forte e pulsante e uma bateria excepcional. Apesar da letra repetitiva, Maynard dá conta do recado, mostrando nos versos um tom ao mesmo tempo forte e delicado para uma canção crua. Tão crua que por acaso é a menor do EP!

Maynard diz "Yeah. Ready. I was having fun sitting down having a cup of coffee but now I have to sing" antes de uma microfonia dar lugar a “Part Of Me”. A faixa mostra uma agressividade a mais do que as anteriores, mas ainda assim de uma maneira bem contida, talvez por ser uma versão de estúdio. Com as três primeiras faixas, o ouvinte tem a quase incoveniente impressão de que tudo está no lugar, cada parte devidamente calculada para não cair o ritmo da pancadaria. É como se tivessem cortado as partes melódicas longas e características do grupo, que viriam a aparecer nos próximos álbuns.

“Cold And Ugly” é a primeira faixa ao vivo de “Opiate”, e começa com Maynard dando um recado para seu amigo do Green Jello (“Throw that Bob Marley wannabe motherfucker outta here”), que no local da apresentação estava soprando uma espécie de trombeta, e isso atrapalharia o andamento da gravação do show. Maynard já conseguia alternar tons mais suaves em bases instrumentais pesadas, para depois rasgar a voz, explodindo na fúria da música. É também uma das poucas músicas onde Adam Jones faz um solo relativamente rápido, mas nada de virtuosismo; a “pegada” de Adam é mais ritmicamente furiosa e harmônica.

“Jerk-Off” é a música mais agressiva do EP, com sua letra sobre não esperar chegar a justiça, tomando partido dela e assumindo a ofensiva, com certeza uma zombaria à justiça divina (“Alguém me disse uma vez/Que existe o certo e o errado/E que a punição viria para aqueles que se atreverem a ultrapassar os limites”(...) “Eu devia bancar Deus e atirar em você”). Com certeza as duas faixas ao vivo são melhores do que as outras de estúdio, por dar uma idéia da fúria espontânea de uma performance do Tool.

“Opiate” é a faixa que mais se aproxima do Tool normal, talvez por ser a faixa de maior duração e ter mais variações no andamento, diferente das anteriores. E como a capa sugere, a faixa-título também faz alusões à religião (“Jesus Cristo, você não virá salvar minha vida agora?/Abra meus olhos e me cegue com suas mentiras”) Ela ainda esconde a faixa não-creditada “The Gaping Lotus Experience”, uma pequena viagem sonora que beira a psicodelia, pela guitarra de Adam Jones coberta de flangers e outros efeitos. E não poderia faltar Maynard ecoando “Satan, Satan, Satan...”

Resumindo: “Opiate” não é a maneira certa para se entrar no mundo subjetivo do Tool, justamente porque soa previsível demais, se comparado aos outros lançamentos do grupo. Mas se você já ouviu “Ænima” e o “Undertow”, vai acabar gostando da banda “chutando o pau da barraca” no “Opiate”!

Alexandre Lopes
set/2003