Intenso, caótico, libertador, primal, furioso. Uma
lista de adjetivos para tentar definir uma banda como o At
The Drive-In seria infinita. Formado na cidade cucaracha de
El Paso, Texas, o ATD-I serviu de exemplo de honestidade e
dedicação no período em que esteve na
ativa (1994 a 2001). O centro do ATD-I era fechado entre o
vocalista Cedric Bixler, o até então baixista
Omar Rodriguez e o guitarrista Jim Ward.
O primeiro registro sonoro
do ATD-I foi o EP “Hell Paso” - um trocadilho
com a cidade-natal de seus integrantes – lançado
em dezembro de 1994 de maneira independente, através
do selo Western Breed, bancado pela própria banda.
Para divulgar o lançamento, o grupo percorreu o estado
do Texas à procura de shows, a maioria deles mal-fadados
e vazios. Após a gravação de mais um
EP independente, “Alfaro Vive, Carajo”, a banda
foi contratada pela Flipside, após um show que contou
apenas com nove (!) membros na platéia.
No meio de 1996, o ATD-I lança
seu primeiro disco, “Acrobatic Tenement”. A exemplo
do clássico “Bleach” do Nirvana, o custo
total da gravação do disco foi de apenas U$$
600. Desde o início, a energia da banda se mostra presente,
ainda que com um toque simplório e não muito
bem direcionado. Não era facilmente enquadrada como
uma banda de hardcore, talvez pela qualidade de suas gravações
e instrumentos beirando o estilo lo-fi; as vozes de Cedric
e Jim chegam a ser insuportavelmente desafinadas neste registro.
Mas a agressividade da banda era o diferencial, o que fazia
com que se sobressaíssem de qualquer tentativa de rótulo.
Antes de entrar em turnê
para promover “Acrobatic Tenement”, houveram mudanças
na formação e Omar resolveu assumir a segunda
guitarra. Os shows eram feitos com a ajuda de amigos de outras
bandas que se dispusessem a tocar com eles, sendo que Paul
Hinojos e Tony Hajjar fizeram parte deste rodízio e
logo foram integrados definitivamente à banda.
Devido as dificuldades financeiras
da Flipside, que não conseguia divulgar devidamente
o grupo, o ATD-I foi aconselhado a rumar para a One Foot/Offtime
Records, um selo um pouco maior que sua gravadora original.
Apesar das melhores condições de gravação,
o resultado não poderia ter sido pior: o EP “El
Gran Orgo”, de setembro de 1997, foi lançado
sem a prévia autorização da banda, e
tornou-se o único registro que não era comercializado
em seus shows, como forma de protesto. Pode-se perceber uma
mudança no som do ATD-I, como se o grupo estivesse
se aproximando do que outras bandas de hardcore melódico
faziam na época (talvez um reflexo da convivência
com seus companheiros de turnê: Screw 32, JChurch, AFI,
Still Life, Mustard Plug, Face to Face, Cosmic Psychos, entre
outros).

Cedric Bixler, o frontman
do ATD-I
O descontentamento com sua
nova gravadora era tanto que o grupo chegou a manifestar uma
anti-propaganda: “O ATD-I foi enganado pela OFFTIME
Records quando lançou El Gran Orgo; por favor NÃO
compre!!!! Quando você compra El Gran Orgo você
não dá suporte ao ATD-I, você dá
suporte à DESONESTIDADE”. Ironicamente, a anti-propaganda
empregada pelo ATD-I teve seu efeito inverso: a primeira tiragem
de “El Gran Ogro” esgotou-se em três dias,
estendendo a popularidade da banda a um campo maior, que antes
consistia apenas em amigos de clubes do circuito underground.
Neste período, o line-up do grupo não contava
com Jim Ward, que havia deixado o ATD-I temporariamente.
Desfeito o tortuoso contrato
com a Offtime Records, a banda encontrou-se sem gravadora
para prosseguir. Não poderiam continuar de maneira
independente, como começaram, pois os shows estavam
tomando um porte maior do que podiam arcar. Mas esse período
durou pouco: após conferirem um show do ATD-I, representantes
da Fearless Records entraram em contato com a banda, oferecendo
um contrato.
Em junho de 1998, o grupo estava
em estúdio novamente para preparar o primeiro disco
a ser lançado pelo seu novo selo. Trabalhando com Alex
Newport (que já produziu Melvins, Ikara Colt, Sepultura
e System of a Down) e com Jim Ward de volta, o ATD-I criou
um disco glorioso chamado "In/Casino/Out". Gravado
quase que interiamente ao vivo no estúdio (foram feitos
apenas alguns poucos overdubs de vocal e guitarra), este segundo
LP foi lançado em agosto de 1998. "In/Casino/Out"
tornou o ATD-I definitivamente numa das bandas mais importantes
de um período que podemos identificar como uma espécie
de pós-grunge, mesmo que, nitidamente, a banda não
tivesse ainda na época o reconhecimento que merecia
(hoje em dia, o culto ao ATD-I torna-se cada vez maior).
Logo após o lançamento,
a banda entrou em turnê, participando de shows ao lado
de bandas como Murder City Devils, Fugazi,
Good Riddance, Promise Ring, Sonic Youth, Get Up Kids, Sunny
Day Real Estate, Archers of Loaf e Jimmy Eat World, parando
em dezembro para um rápido descanso e algumas sessões
de estúdio. Já em 1999, em março, a banda
volta para a estrada, fazendo alguns shows pelos EUA antes
de partir para sua primeira visita a Europa. No meio
do ano, o grupo decide juntar algumas canções
ainda não lançadas oficialmente e lançá-las
em um EP. "Vaya" saiu em julho de 1999 pela Fearless,
soando como uma pequena continuação de "In/Casino/Out".
Depois disso, o ATD-I embarcou em mais uma turnê para
divulgação de seu novo EP, fazendo shows pelos
EUA e duas noites no Canadá.
Nas
apresentações desta turnê, era evidente
o crescente entusiamo do público para com o ATD-I.
Esse período marcou também a assinatura
da banda com a recém-fundada DEN Records, cujos
proprietários eram Gary Gersh e John Silva. Essa
atitude levou alguns (poucos) fãs a virarem as
costas para a banda, como se o ATD-I tivesse se vendido
à uma gravadora maior. Mas a própria banda
nunca mostrou ter qualquer pretensão de ser um
expoente ou representante do underground, ignorando
a possibilidade de existir somente no mercado independente. |
Omar ou Side Show Bob? |
Depois de mais alguns shows
no fim de 1999 ao lado do Rage Against the Machine, em janeiro
de 2000 o ATD-I entra em estúdio para gravar seu novo
disco ao lado de Ross Robinson (famoso por seu trabalho com
Korn, Sepultura e Slipknot), que a banda havia conhecido em
sua última passagem por Nova York. Foram sete semanas
de gravações no estúdio Indigo Ranch,
em Malibu, até o material ser entregue para Andy Wallace
fazer a mixagem.
Na verdade, 2000
foi prolífico em termos de lançamentos do ATD-I:
foram lançados ainda alguns splits (entre eles, um
com o Murder City Devils) através de selos diversos,
e também alguns singles, introduzindo ao público
o material que a banda estava preparando para seu novo álbum.
Mas, antes deste disco ficar pronto, a DEN Records passa por
uma fusão com a Grand Royal Records,
que seria então a nova casa do ATD-I. O grupo cai na
estrada novamente, voltando a Europa e tocando também
no Japão. "Relationship of Command" é
finalmente lançado em setembro.
Melhor produzido e distribuído,
este disco torna o ATD-I finalmente uma banda grande, mas
ao contrário do que tudo indicava, o fim do conjunto
estava próximo. Depois de um período sem atividades
em 2001 (descontando um novo single para
"Relationship of Command" e o projeto paralelo
De Facto, de Cedric e Omar, que lançou o álbum
"Megaton Shotblast"), o grupo oficializa a separação,
seguida quase que imediatamente da formação
de duas novas bandas: Cedric e Omar criam o Mars Volta, enquanto
que Jim, Tony e Paul formam o Sparta.
O fim precoce não fez com que a banda perdesse popularidade,
pelo contrário: o ATD-I goza hoje de grande prestígio
e sua música honesta e extrema serve de influência
para muitas bandas que acreditam no poder do barulho como
arte.
Alexandre Lopes e Fabrício Boppré
set/2004
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