A história das Breeders remonta aos
anos 80, quando Kim Deal ainda nem sonhava em tocar nos
Pixies e dividia algumas canções com a irmãzinha
gêmea Kelley Deal - as duas montaram uma dupla chamada
The Breeders ("reprodutores", termo jocoso pelo
qual os gays norte-americanos chamam os heterossexuais)
e tentavam compor temas folk, sem sucesso. Passou o tempo:
Kelley arrumou emprego, Kim entrou para os Pixies, a banda
foi contratada pelo selo inglês 4AD, lançou
o sucesso Doolittle e o grupo passou a excursionar,
com Kim mandando bala num baixo burrão e forte. Só
que, ainda que Kim contribuísse com algumas canções,
como "Gigantic", os Pixies eram a banda de Black
Francis (aka Frank Black). O gordoidão compunha tudo,
fazia quase todos os vocais e ainda tomava decisões
sem consultar os outros integrantes - como a de cancelar
uma turnê norte-americana inteira e só avisar
os companheiros em cima do laço. Kim trocou o baixo
pela guitarra, chamou outra amiga que estava de saco cheio
de sua banda de origem (Tanya Donelly, dos Throwing Muses,
outro grupo de Boston contratado pela 4AD) e as duas convocaram
dois membros de outras formações: Josephine
Wiggs (baixo, vinda da band Perfect Disaster) e Brit Walford
(bateria, vindo da banda Slint, e creditado no disco como
Shannon Doughton). Sob o comando de Steve Albini (que talvez
escaldado pelos problemas com os próprios Pixies
em Surfer Rosa, preferiu ser creditado apenas como
"engenheiro de som") o grupo acabou fazendo de
seu humilde projetinho um dos melhores trabalhos de rock
alternativo dos anos 90, quando a década ainda se
iniciava.
O combustível de Pod é
a doideira. Doideira da grossa, mesclada a muito peso e
melodias entre o punk e o heavy. Kim e Tanya mandam bala
em canções associáveis ao Velvet Underground,
ao Who e aos próprios Pixies - só que com
muito mais intensidade e experimentação. Em
apenas três semanas de estúdio, o grupo aprontou
um material perturbador, que se iniciava com o punk sabbathiano
de "Glorious" (marcado pelas linhas de baixo de
Josephine, mais "burras" ainda que as de Kim nos
Pixies) e seguia com a crueza punk e experimental de "Doe",
"Hellbound", "When I was a painter"
(a cara de "The gift", do velvet Underground,
trazendo ainda o violino de Carrie Bradley), etc. Referências
a drogas pesadas - que levariam Kelley, irmã de Kim,
para a cadeia e para uma clínica, posteriormente
- não são difíceis de serem achadas
no disco. Tem pra todos os gostos, desde a contra-capa com
foto de papoula até os hinos à lesação
"Doe" e "Glorious" - sem falar na regravação
porrada de "Happiness is a warm gun", dos Beatles.
Para quem não sabe, a letra do clássico do
White album já foi interpretada milhares
e milhares de vezes como sendo uma homenagem às drogas
injetáveis (a tal "arma de fogo" do título
seria nada mais nada menos que uma seringa cheia de heroína
da boa) - e, pelo visto, Kim levou isso a sério,
já que botou até o ruído de um isqueiro
sendo aceso (esquentando uma colher?) no início da
música. A toscaria continua na balada lesada "Oh!",
dá um tempo na bonitinha "Fortunately gone",
prossegue na metálica e psicodélica "Iris"
e atinge o clímax na pesada e viajeira "Opened"
e no hino do ménage a trois "Only in
3's". Um puta disco, melhor e mais conciso que Bossanova,
disco dos Pixies da época - tanto que o superou em
vendagens.
Apesar do bom começo, o futuro
das Breeders não seria dos melhores. O selo Rough
Trade, que deveria distribuir a banda nos EUA, faliu e pegou
todo mundo de surpresa. Como nenhum membro era exclusivo
da banda, ninguém esquentou lugar por muito tempo
- à exceção óbvia de Kim, já
cheia dos Pixies e prestes a ser dispensada por Frank Black.
Em 1991 saía o EP Safari, com Kim, Jim McPherson
(bateria) e Kelley Deal, que nunca tinha tocado guitarra
na vida, empunhando o instrumento. Tanya Donelly não
estava mais na banda, mas tocou baixo nas gravações.
Após gravarem Last splash, com Kim, Kelley,
Josephine Wiggs e Jim, as Breeders desfrutariam de uma popularidade
que nem os Pixies tinham conseguido - só que problemas
pessoais dos outros integrantes e a prisão de Kelley
com heroína impediram uma volta. Kim chegou a gravar
um CD com o projeto The Amps, mas só em 2002, com
a volta dos Breeders no bom Title TK, a vocalista
fez o disco que estava devendo, dessa vez ao lado da irmã
e de músicos da banda punk Fear. Mas foi Pod
que fez escola, antecipando tendências que ganhariam
vulto com grupos como Smashing Pumpkins e Pavement.