Cantora, pianista e nas horas vagas poeta, a americana Chan
Marshall (ou Cat Power) é uma das mais gratas surpresas
da década passada. Famosa por suas canções
angustiantes, calcadas no folk (Dylan, Lou Reed, Moby Grape
são suas grandes influências) e com uma voz dilacerante,
Chan tem muita história para contar.
Nascida em Atlanta, no estado da Georgia, em 1972, Chan passou
a maior parte da infância acompanhando o pai, também
músico, pelo Sul dos Estados Unidos, o que explica
a influência do blues em seu trabalho. Após a
separação dos pais, foi morar com a mãe
na Carolina do Norte, ficando lá até os 17 anos,
quando decidiu abandonar o colegial e se mudar para Atlanta
e, de lá, para Nova York.
Sua carreira musical teve início em 1992, quando fundou
o Cat Power (nome tirado de um adesivo que viu em um carro,
onde estava escrito "Cat Diesel Power") com um amigo
baterista. Em 1994 lançou o single "Headlights"
por um pequeno selo americano. Em 1995 a cantora já
estava abrindo vários shows da cantora Liz Phair em
Nova York. Neste mesmo ano, conheceu Steve Shelley (baterista
do Sonic Youth) e Tim Foljahn (do Two Dollars Guitar, e que
tocou no disco "Psychic Hearts", de Thurston Moore),
e juntos gravaram diversas canções em estúdio.
Ainda em 1995. é lançado seu 1º álbum,
intitulado "Dear Sir", e meses depois, "Myra
Lee", seu 2º álbum. Ambos foram gravados
no mesmo dia, sendo que o segundo saiu pela Smells Like Records,
de Steve Shelley.
Mas
seu trabalho começa ganhar projeção
mundial em 1996 graças ao seu 1º trabalho
pelo selo Matador, "What Would The Community Think".
Chan foi contratada pela Matador por Gerard Cosloy,
co-fundador do selo, que conhecia Chan desde os primórdios
de sua carreira. São destaque deste disco as
faixas "In This Hole", "King Rides By",
o hit "Nude As The News" e "Bathysphere",
do Smog. |

Chan Marshall em estúdio |
Apesar
disso, Chan vinha em um processo de descontentamento e decepção
com relação a sua carreira musical, e ao seu
papel como artista idolatrada por muitos fãs. Ela não
havia gostado muito do resultado de seus primeiros discos,
e acreditava que haviam se aproveitado dela, em especial nos
dois primeiros álbuns. Neste período Chan isolou-se
do mundo em uma casa no interior dos EUA junto com seu namorado,
Bill "Smog" Callahan, onde passou praticamente um
ano somente caminhando, pintado, nadando e cozinhando, desligando-se
completamente do mundo da música. Mas após ter
um pesadelo em uma certa noite, Chan resolve retomar o Cat
Power. Nas palavras da própria: "I had a horrible
dream that a voice was telling me my past would be forgotten
if I would just meet him -- whoever he was -- in the field.
And I woke up screaming, 'No! I won't meet you!' And I knew
who it was: the sneaky old serpent. My nightmare was surrounding
my house like a tornado. So I just ran and got my guitar because
I was trying to distract myself. I had to turn on the lights
and sing to God. I got a tape recorder and recorded the next
60 minutes. And I played these long changes, into six different
songs. That's where I got the record".
Um mês depois, Chan vai para a Austrália e se
junta ao Dirty Tree (parceiros de Nick Cave) para dividir
suas angústias em umnovo disco. "Moon Pix"
(1998) é sem sombra de dúvida um os melhores
trabalhos dos anos 90. É deste disco à faixa
"Cross Bones Style", cujo vídeo clipe fez
seu rosto ser tornar mais famoso.
Com a auto estima recuperada e já cansada de suas velhas
canções, lança "The Covers Record"
(2000) onde literalmente passa por cima de Rolling Stones
("I Can't No - Satisfaction"), Velvet Underground
("I Found The Reason"), Bob Dylan ("Paths Of
Victory") em versões maravilhosas. Foi durante
a turnê promocional deste álbum que Chan Marshall
veio ao Brasil pela 1ª vez com shows realizados em São
Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre.
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Após três anos sem lançar trabalho
inédito, em 2003 finalmente sai o álbum
"You Are Free", que caiu nas graças
do público e da crítica. A produção
impecável ficou a cargo do experiente Adam Kasper
(QotSA, Pearl Jam, Foo Fighters). Para este trabalho,
Chan pode conta com Dave Grohl (bateria em 3 faixas
e o baixo de "Speak for me"), Eddie Vedder
(vocais em "Good Woman" e "Evolution")
e Warren Elis (do Dirty Tree, na faixa "Good Woman").
Outro destaque é a sensacional abertura com "I
Don't Blame You", canção piano-e-voz
que muitos julgam ser dedicada a Kurt Cobain, apesar
dela negar isso. |
Segue novo hiato de três anos,
antes de Chan brindar seus fãs com um novo álbum.
2006 é o ano de lançamento de "The Greatest",
que apesar do nome, não se trata de nenhuma coletânea:
é o legítimo sucessor de "You Are Free",
gravado no Ardent Studios ao lado de Teenie Hodges (guitarra),
Leroy Hodges (baixo) e Steve Potts (bateria), todos músicos
de Memphis.
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