Os discos que marcaram
o 2005 da Dying Days
Depois de seis anos no ar, a Dying
Days sucumbiu à tentação de publicar listas
de preferidos do ano. A esta altura você já passou
por pelo menos uma dezena delas, está com a cabeça
tão povoada de sugestões que está misturando
nome de banda com nome de disco. Por que diabos a Dying Days resolveu
entrar nessa? Por que o planeta precisa de mais uma lista virtual?
Nosso coletivo de sete colaboradores
estreiou no ano passado o espaço "Vitrola", que
está propositalmente escondido na capa do site. Na época,
o intuito foi único e exclusivo de promover uma troca de
sugestões de bandas e discos que iam sendo digeridos e, pelo
motivo que fosse, mereciam algum tipo de menção. Com
o cuidado de fugir da pretensão da palavra divina, sem depender
da estrutura do site, promovendo uma maior interação
entre todos que freqüentam o espaço. Depois de um ano
e meio na brincadeira, resolvemos enfim passar a régua no
ano e trocar as sugestões definitivas, os discos que cada
um acredita que não podem virar o ano em branco.
Que seja pela diversão dispensável
de fazer listas ou pela curiosidade de saber o que o coletivo escutou,
são sete discos de cada um dos sete colaboradores. Se não
nos arrependermos, em 2006 sai de novo.
Nota: O “Funeral” do
Arcade Fire foi lançado em 2004, mas no Brasil saiu somente
em 2005. Cada um ficou livre para considerar se incluía em
sua lista ou não, dependendo de quando veio de fato a ouvir
o disco.
Alexandre Lopes
Alexandre Luzardo
Ana D. M.
Fabricio Boppré
Francisco Marés
Natalia Vale Asari
Vicente Moschetti
Alexandre
Lopes
Selecionar os 'sete melhores discos
de 2005' pode ser uma tarefa meio falha, principalmente quando você
tem dado maior atenção a discos de anos passados (Flaming
Lips, Pink Floyd e Syd Barrett foram alguns dos nomes que mais ouvi
ultimamente). Mas ao relacionar os discos atuais que transitaram
aqui pelo meu Winamp, percebi que talvez eu não esteja tão
estagnado como pensei...

Queens of the Stone Age - "Lullabyes to Paralyze"
Tá certo, o QotSA debandou
um pouco sem as porralouquices e berradeiras espontâneas do
Nick Olivieri, deixando espaço para algumas passagens longas
e viajadas demais do Josh Homme. Mas acontece que 'Lullabyes to
Paralyze' ainda é um dos álbuns mais consistentes
que ouvi em 2005; boas melodias ("This Lullaby", "I
Never Came") rocks eficientes ("Medication", "Little
Sister") e riffs que te levam a praticar air guitar ("Tangled
Up In Plaid", "Everybody Knows That You're Insane").
Não é absolutamente perfeito, mas ainda assim é
o melhor que eu achei dentro do time dos 'medalhões' atuais
(levando em consideração os discos fracos de Dandy
Warhols e Billy Corgan, por exemplo). E Josh Homme ainda é
o melhor riffeiro da atualidade pra mim, ponto final.

The Mars Volta - "Frances The Mute"
Depois de assistí-los no
TIM Festival de 2004, fiquei seco para ouvir este disco. De cara,
o excesso de viagens do Mars Volta pode te dar uma indigestão,
um estranhamento inicial. É compreensível: o som da
banda é algo como se o Led Zeppellin desse uma cria bastarda
junto ao punk, para em seguida o tal filho revoltado flertar um
pouco com a eletrônica e ritmos latinos. Uma comparação
dessas chega a dar medo, certo? Mas depois que essa primeira impressão
é ultrapassada, é impossível não colocar
"Frances The Mute" nesta listinha. Só "L'via
L'viaquez" já vale o disco inteiro. E nem precisa usar
drogas pra viajar junto.

Sleater-Kinney - "The Woods"
O disco inicia com "The Fox",
uma faixa que começa primorosa, barulhenta, para depois adicionar
um ritmo mais quebrado, somente para retornar à quebradeira
novamente. Essa é basicamente a tônica de todo disco
de rock empolgante, mas o Sleater-kinney não pára
por aí; ao longo das faixas, as moças adicionam algo
mais melodioso e cadenciado aqui e ali, com guitarras de timbre
simples, mas que diferem de dezenas de outras bandas pela pegada
e arranjos inventivos. Ao ouvir este disco, eu posso dizer seguramente
que o Sleater-kinney é a melhor banda feminina que eu tenho
conhecimento - apesar de não gostar de vocais femininos estridentes.

Wolf Parade - "Apologies To The Queen Mary"
Eis um disco ligeiramente 'estranho',
mas bem legal de escutar. Podem ter sido os 'ecos de Frank Black'
emulados pela voz principal, mas posso dizer que me surpreendi com
o Wolf Parade. Não sou muito fã de teclados, mas em
'Shine a Light' eles são uma atração à
parte, e os arranjos poucos convencionais contribuíram bastante
ao clima alegre da faixa. Um bom disco para se ouvir sem compromisso.

Oasis - "Don't Believe The Truth"
Quando ninguém mais acreditava
que esses caras poderiam fazer algo decente, eis que eles resolvem
gravar algo que vale o download. Não é nenhuma sofisticação
em relação aos discos anteriores, mas a simplicidade
de canções como "The Importance Of Being Idle"
e "Mucky Fingers" faz jus aos fãs e fama que eles
conseguiram anteriormente. E o engraçado é que as
faixas cantadas pelo Noel Gallagher acabaram ofuscando o vocal (e
a arrogância) do irmão Liam. Demorou pro Noel sair
em carreira solo.

Alice Cooper - "Dirty Diamonds"
Estranho tia Alice estar aqui no
meio de discos alternativos? Nem tanto: este álbum tem uma
sonoridade bem garageira, e não chega a soar forçado.
Valeu pela espontaneidade, e pelo cover que destoa completamente
do resto do disco: "Pretty Ballerina". E eu ainda arrisco
a dizer que o riff de "Dirty Diamonds" lembra bastante
Black Rebel Motorcycle Club.

Massacration - "Gates of Metal Fried Chicken of Death"
Isso é sério! Se um
dos 'mandamentos' do rock é divertir, este álbum cumpre
(e bem) esse propósito. Puxe este disco, ouça e perceba
se não estou certo...
Alexandre Luzardo
Não tenho a pretensão
de escolher os melhores discos do ano, tanto que a minha lista sequer
está em ordem. No entanto, acho válida a idéia
de trocar impressões sobre alguns dos diversos discos lançados
em 2005. Entre os meus sete escolhidos estão representantes
distintos de diferentes universos, de novidades aos nomes consagrados,
que freqüentaram o meu playlist durante o ano. A começar
por um disco que é simplesmente bom, em qualquer contexto:

Black Rebel Motorcycle Club – "Howl"
Com certeza o disco mais surpreendente
do ano. Acho que ninguém poderia esperar que o BRMC viesse
com um disco como esse depois de seus dois primeiros trabalhos.
Confesso que nunca tive mais do que simpatia pelo BRMC. Com todo
o respeito que o Jesus And Mary Chain me merece (e eu gosto bastante
da banda), acho que a banda dos irmãos Reid não é
suficiente para justificar a existência de um seguidor tão
fiel como o BRMC era até então. Mas com Howl a história
muda. Irretocável, da primeira a última faixa, é
incrível como a banda conseguiu se voltar ao passado, a música
americana de raiz, e ainda assim soar absolutamente genuíno.
Não tenho idéia se foi um mero exercício de
estilo ou se a banda achou sua identidade e vai seguir esse caminho
no futuro, mas no mínimo "Howl" é uma prova
de versatilidade dos músicos do BRMC. Independente do que
vier por ai, por si só e pelos seus méritos, "Howl"
é um disco para deixar marcas definitivas em quem ouve.

Foo Fighters - "In Your Honour"
Eu queria escolher pelo menos um
cachorro grande (alguns diriam cachorro morto) para compor a lista
e confesso que a escolha não foi fácil. Não
que faltaram discos bons do povo que freqüenta as paradas,
pelo contrário. O problema é que nenhum foi exatamente
marcante. O novo do Beck é muito bom, mesmo sem nada revolucionário.
O Oasis também fez um belo disco (“The Importance of
Being Idle” foi uma das músicas que mais ouvi esse
ano). Até o Audioslave, que eu esperava que fosse afundar
pela mostra do primeiro single (“Be Yourself”), mas
me surpreendi positivamente. Em todo caso, optei pelo Foo Fighters
pela ambição. O Foo Fighters queria fazer ‘o
disco’ com "In Your Honour". Talvez não tenha
conseguido, pois o resultado ficou um pouco maçante, mas
a banda precisava dar uma sacudida depois do decepcionante "One
By One", e mostrou que continua sendo um dos poucos nomes que
podem ser levados a sério no mainstream. O conceito do álbum
me convenceu, aquela história de homenagear o povo que ia
aos comícios de Jon Kerry onde o Foo Fighters tocou, se faz
presente em músicas como “Best of You” e a faixa
título. Já o disco acústico valeu especialmente
pelas surpresas, o dueto com Norah Jones ficou bacana, e “Cold
Day In The Sun” (com Taylor Hawkins no vocal) é excelente.
Agora, se a motivação para fazer o disco foi o sucesso
multi-milionário do álbum conceitual do Green Day,
aí eu fui enganado completamente e cá estou eu fazendo
papel de palhaço.

Greg Dulli - "Amber Headlights"
Um lugar nessa lista estava reservado
para um herói do passado. Billy Corgan desperdiçou
sua chance com seu "TheFutureEmbrace", disco que até
hoje não entendi (e olha que eu tentei). Já Greg Dulli
fez a alegria de um fã do Afghan Whigs das antigas. É
um disco de guitarra, com um pique roqueiro que nunca ouvi no Twilight
Singers. Não chega a ser um disco que vá marcar o
ano de 2005 até porque não traz exatamente nada de
novo, mas aquela seqüência inicial de “So Tight”,
“Cigarrettes” e “Domani” é de arrepiar
quem passou anos ouvindo o "Gentlemen".

John Frusciante – "Curtains"
"Curtains" fez parte da
seqüência de seis álbuns em seis meses, iniciada
em 2004, mas como foi lançado em janeiro de 2005, pôde
ser considerado para a lista. Nem é o melhor disco da série
(a honra provavelmente fica com "The Will to Death"),
mas ainda assim figura fácil entre os melhores desse ano.
Basicamente é apenas John Frusciante na voz e guitarra e
nem precisaria mais. A musicalidade desse cara é extraordinária.
Basta ouvir “Anne” e comprovar.

Los Hermanos – "4"
Entre os nacionais tem várias
novidades pintando, mas ainda nenhum nome conseguiu me empolgar
mais que os cariocas do Los Hermanos. Cada vez mais isolados musicalmente,
o LH apresenta em "4" um disco ainda mais introspectivo.
Das primeiras vezes que ouvi fiz uma relação um tanto
absurda, mas que para mim até hoje faz sentido: o "4"
está para o Los Hermanos como A Ghost Is Born está
para o Wilco. No disco seguinte a um trabalho consagrador como foi
"Ventura", o Los Hermanos veio mais contido, mais esparso,
com muitos detalhes a serem explorados com calma pelo ouvinte. Trocando
“Ventura” e “Los Hermanos” por “Yankee
Hotel Foxtrot” e “Wilco”, a frase acima é
a mesma. E assim como a banda de Jeff Tweedy mostrou no recém
lançado disco ao vivo (e no show do Rio que eu não
fui), as músicas novas do Los Hermanos ficam muito bem ao
vivo.

Posies - "Every Kind of Light"
O Posies está entre as bandas
veteranas que, longe do sucesso comercial e já sem qualquer
hype no mundo indie, segue fazendo bons discos. Nada Surf e Teenage
Fanclub também estão na mesma situação
e igualmente lançaram bons discos (o do Teenage Fanclub é
especialmente despretensioso, demora um pouco para encantar), mas
optei por "Every Kind of Light" para figurar nessa lista.
Um disco sem nenhuma música fraca; na minha opinião
o Posies conseguiu fazer um de seus melhores trabalhos depois de
15 anos de carreira.

Sufjan Stevens – "Illinoise"
Eu não sou exatamente o tipo
que se rende fácil a novidades, já que eu só
consigo me entregar depois de uma identificação maior
com o artista ou banda, o que normalmente só vem depois de
dois ou três discos. Mas 2005 foi um ano repleto de bandas
novas e eu até acompanhei bastante as novidades graças
às facilidades da vida moderna (leia-se p2p e mp3 player).
De todos, Sufjan Stevens, que não é exatamente um
estreante, foi o que mais me empolgou. O requinte das melodias e
a riqueza dos arranjos certamente me convenceram a acompanhar a
série dos estados americanos do rapaz com interesse daqui
pra frente. Também gostei da excentricidade do Decemberists
e seu "Picaresque", da psicodelia infantil do Arquitecture
in Hensinki e Okkervil River e Wolf Parade têm os seus grandes
momentos, mas no todo, deu Sufjan Stevens, disparado. Ainda que
eu não compartilhe do mesmo entuasiasmo de quem ouviu e se
apaixonou, já que pra mim o disco é um pouco longo
demais, não consigo ter pique para ouvir todo. O que não
quer dizer nada, já que o do Foo Fighters está nessa
lista e é duplo.
Resmungos: infelizmente o "Funeral"
tecnicamente é de 2004, pois foi um dos discos que mais ouvi
durante o ano. Por outro lado, duas das bandas mais cotadas do desse
ano eu sequer cheguei a escutar: Animal Collective e My Morning
Jacket.
Ana D.
M.
Os Bons, os Maus e os Insípidos
O ano de 2005 em termos de álbuns
lançados, pode saber, é o que provavelmente será
chamado de um 2000s típico. Sei que é meio cedo pra
dizer o que significa isso, mas por exemplo, a marca mais forte
é que a maioria das boas bandas vêm aparecer por via
não-oficial. Só vem conhecido por gravadora grande
o que já era assim antes. O resto do povo coloca o material
na rede, e você sai atrás pra conhecer por indicação,
atrás de alguém que diga “ó, isto aqui
parece com...”. E aí vem alguma referência batida
pra tentar definir um pouco melhor o som da banda, o que às
vezes se torna algo bem difícil. É cada vez mais raro
ficar conhecendo alguma coisa nova e boa pelo rádio, pior
ainda pela MTV.
Bom, como já comentei antes,
não ando exatamente atrás da “nova salvação
do rock” e ouvi poucos dos discos lançados em 2005.
A maioria dos trabalhos “locais” que peguei já
são de 2004 ou antes ainda. E dos álbuns que estão
nesta lista, não achei nenhum, nenhum mesmo, exatamente “inovador”.
O denominador comum é: pouca coisa nova, muita continuidade
de trabalho. E isso não é necessariamente ruim. Este
ano foi pra shows, não pra álbuns.
Mas entre aqueles que dão dor de cabeça ou não...
pra não cometer a injustiça de apontar melhores quando
não escutei coisa suficiente pra apontar melhores, 7 bons
álbuns deste ano (Obs.: Não incluí coletânea,
nem disco ao vivo. Senão, seria obrigada a pôr nesta
lista no mínimo do mínimo o "Telluric Chaos",
dos Stooges e o "Minimum / Maximum", do Kraftwerk.), isentos
de sujeira melódica:

Cowboy Junkies – "Early 21st Century Blues"
Inclui covers de John Lennon e Bob
Dylan, só pra citar os “grandes”. Trilha sonora
pros cretinos anos 2000, é perfeito.
The Fall – "Fall Heads Roll" // New Order –
"Waiting For the Siren’s Call"
É... só que material
novo vindo de banda que tocava na mesma época não
cheira a requentado. E na contabilidade deste século, pra
pobre sempre 2 = 1 mesmo.

Neil Young – "Prairie Wind"
Não sou exatamente a maior
fã do mundo do Neil Young, nem mesmo quando o tiozão
fez sua colaboração pra tirar o Pearl Jam da linha
no tempo do "No Code", mas este álbum ficou tão
deite-e-escute-sossegado que teve que entrar na lista.

Arcade Fire - "Funeral"
Sei que ele tinha sido lançado
em 2004, mas também teve versão lançada em
2005 e ouvi em 2005, então tá na lista. O Arcade é
uma das poucas bandas que consegue fazer uma apresentação
com o David Bowie e não ser ofuscada, até porque o
som tem bastante afinidade. E o álbum é grudentíssimo;
Rebellion/Lies é extremamente grudenta.

Fiona Apple - "Extraordinary Machine"
Por mais que o álbum tenha
sido “expelido” por causa da pressão dos fãs
– corria a história de que ele estava pronto, mas a
Epic não queria liberar porque “não era comercial”,
quando isso é apenas parte da história, sendo que
era a própria Fiona que não estava muito feliz com
o que já tinha gravado e vazado na net no começo deste
ano – ele não é bem um álbum “incompleto”.
O som na versão final não é exatamente difícil,
como as versões que tinham vazado, apesar de mais cru instrumentalmente
que o "When The Pawn Hits The Conflicts He Thinks Like A King",
de 1999. Pelo contrário, é alguma coisa que dá
pra deixar tocando horas e horas, até cair a ficha das letras...

Garbage – "Bleed Like Me"
Um pouco de eletrônico, um
pouco de distorção, pouco de revival anos 80, som
típico do Garbage. É um disco quase inteiro de faixas
“tocáveis em rádio”, só que em
outros tempos, haha.

Juliette and the Licks - "...Like a Bolt of Lightning"
Mallory Knox, ops, Juliette Lewis.
Pra 2ª desgraça da banda (a primeira é a vocalista
ser atriz), chegou a ser apontada como a "nova salvação
do rock" pela Metal Edge. Mas o disco é bem legal, não
se mete a inventar nada e acaba que desce “redondinho”.
Juliette Lewis já tinha gravado covers da PJ Harvey, mas
com os Licks é algo bem diferente, com guitarras cheias;
lembra um pouco o Concrete Blonde no comecinho, apesar de ser meio
que um pecado comparar as letras dos Licks com as da Johnette Napolitano.
P.S. Obrigada aos
outros escribas que me ajudaram a juntar boa parte do material de
2005 pra ouvir. Vocês são uns anjos da darknet!
Fabricio
Boppré

Black Rebel Motorcycle Club - “Howl”
Já elogiei tanto esse disco
que sinto que não há nada que eu possa acrescentar
sem me repetir. É de longe a coisa mais marcante e inspirada
que eu ouvi em 2005, por isso está aqui no topo. Mas o resto
que segue não tem ordem de preferência.

Nada Surf - “The Weight is a Gift”
Boa surpresa (ao menos para mim,
que nunca tive o Nada Surf em altíssima conta), um disco
de execução simples mas empolgante, cheio de boas
melodias e refrões redondinhos. Em termos de quantidades
de audições, deve perder só para o “Howl”.
Não que isso signifique alguma coisa muito importante - mas
tendo sido uma fonte tão recorrente de diversão, merece
estar aqui.

Trail of Dead - “Worlds Apart”
Talvez em função da
alta expectativa inegavelmente frustrada em um primeiro momento,
esse disco demorou um pouco para me ganhar. Mas aos poucos fui me
afeiçoando e logo já estava considerando-o um discaço
espetacular. Uma bela seqüência para a obra-prima “Source
Tags and Codes”.

Cream - “Royal Albert Hall”
Disco duplo resultante da recente
reunião de uma das bandas mais importantes de todos os tempos.
O primeiro power trio da história mantém ainda uma
impressionante química ao vivo, mesmo passadas mais de três
décadas após a separação, detonando
em clássicos como Sunshine of Your Love, Spoonful e NSU.
Ginger Baker, Jack Bruce e Eric Clapton, estes são os caras.

Six Organs of Admittance - “School of the Flower”
Destas eleitas, é a única
banda (na verdade, é uma one-man-band) que eu conheci somente
esse ano. Mas devido a esse disco singular, de sonoridade ora acústica,
ora turbulenta, todo envolto em uma atmosfera sombria e solene,
sua presença na minha listinha é obrigatória.

Iron & Wine e Calexico - “In the Reigns”
Formidável EP gravado em parceria
por Samuel Beam (aka Iron & Wine) e o Calexico. Os estilos,
já naturalmente similares, se combinam muito bem e rendem
um punhado de canções sublimes.

Bonnie "Prince" Billy e Matthew Sweeney - “Superwolf”
Outra parceria rendendo um disco
irrepreensível. My Home Is The Sea, a primeira música,
podia ser a única também, que mesmo assim a existência
desse álbum já estaria plenamente justificada.
Francisco
Marés
2005 foi um ano bom para a música?
Vamos analisar: o rap-farofa conseguiu fazer mais barulho do que
no ano passado, isso sem nenhum hit tão bacana quanto “Hey
Ya” (até acho aquele rap francês do est-que-tu-m’entend-é-oh
legalzinho, mas precisa tocar o dia inteiro?). Novos rebentos da
nova geração de recicladores conseguiram ultrapassar
as barreiras do rock “alternativo”, onde ninguém
mais tem saco para suas reinvenções baratas, e bandas
de qualidade duvidosa (ou, para ser franco e direto, latas de lixo
com guitarras penduradas no pescoço) como Bravery e The Killers,
além dos nada mais que razoáveis Bloc Party, Franz
Ferdinand e Kaiser Chiefs, caíram na boca do povão
e viraram a ultima bolacha do pacote do dia para a noite. Bandas
como os favoritos da casa Delgados e os babacas mais legais do País
de Gales McLusky apareceram de um dia para o outro no colo do urso
e hoje são ex-bandas. Parece que foi mais um ano perdido,
assim como na política, na economia... Será?
Em que outros anos tivemos tantos shows internacionais de qualidade
(Weezer, Mercury Rev, Pearl Jam, Sonic Youth, Arcade Fire, Wilco,
Manu Chao, etc, etc, etc.) em Terra Brasilis? O ano de 2005 pode
ter revelado o território brasileiro para o circuito mundial
de shows de uma forma intensa, e, ainda por cima, incluiu cidades
tradicionalmente deixadas de lado como Curitiba, Belo Horizonte
e Porto Alegre. Além dessa euforia local, mais do que bem
explicada, tivemos o lançamento de discos excelentes, incluindo
os que eu citarei agora e os que foram citados pelos meus colegas
acima (e abaixo). Creio que esse ano os bons lançamentos
vieram num número bem maior do que no ano passado, e ainda
revelaram grandes nomes para o futuro, como Cidadão Instigado
e Arcade Fire, além de terem confirmado o talento de veteranos
como o Mercury Rev.
E o que nos espera em 2006? É difícil dizer. Nem uma
lista de possíveis lançamentos adianta muito. Espero,
porém, que sejamos novamente surpreendidos, seja por quem
for, em qual ritmo for.

Sigur Ros - "Takk"
Antes de ouvir o disco, havia escutado
dois comentários distintos sobre o disco: um dizia que este
era uma seqüência mais experimental do disco anterior,
enquanto o outro afirmava que, com esse disco, o Sigur Rós
virara “pop”. Por mim, não foi nada disso. A
banda escolheu um caminho um pouco diferente daquele traçado
em Agaetis Byrjun e (), um pouco mais alegre e mais solto, e com
canções que quase esbarram no “pop” (“Gong”,
“Hoppipolla” e a lindíssima “Glosóli”),
mas a essência é o bom e velho Sigur Rós de
sempre, com melodias poderosas encobertas por uma suavidade e uma
beleza única. Talvez esteja um grau mais acessível
que seus antecessores, mas quem nunca gostou não vai gostar
como sempre. [recomendadas: “Glosóli”, “Gong”]

The Mars Volta - "Frances The Mute"
Lembro-me de uma descrição
do disco “Are You Experienced?”, do Jimi Hendrix, no
qual o autor afirmava que cada nota de sua guitarra massageava um
ponto diferente no cérebro. Guardadas as devidas proporções
e óbvias diferenças de estilo, essa descrição
serve mais que bem para Frances The Mute. O novo disco do Mars Volta
é uma profunda viagem aos confins mais distantes do cérebro
humano. Mais que um disco, Frances é um painel formado por
viagens instrumentais nos limites do minimalismo, fusões
inusitadas de ritmos, melodias poderosas e letras enigmáticas;
e todos esses elementos são estruturados de uma maneira única,
fazendo que cada uma das longas músicas do disco atinjam
ápices arrebatadores. Um disco certamente difícil,
mas que vale muito a pena ser decifrado. [recomendadas: “L’Via
L’Viazquez”, “Miranda That Ghost Just Isn’t
That Holy Anymore”]

Sufjan Stevens - "Illinoise"
O cantor, compositor e instrumentista
polivalente americano Sufjan Stevens fez do segundo capítulo
de sua epopéia americana – 50 discos para 50 estados
– um clássico instantâneo. Aprimorando idéias
já presentes em Michingan, o disco anterior, Stevens dá
uma nova roupagem para velhas idéias da música americana,
com exemplos variados da música local, que vão desde
o folk intimista de “John Wayne Gacy, Jr.” até
o Ray Conniff estilizado de “Come On, Feel The Illinoise!”,
passando por pérolas caipiras e até algumas evocações
do rock “muderno” de Strokes e companhia. Discaço,
sem sombra de dúvidas. [recomendadas: “The Man Of Metropolis
Steals Our Hearts”, “Come On, Feel The Illinoise!”]

Arcade Fire - "Funeral"
Esse talvez tenha sido o ano do Arcade
Fire. Poucos conseguiram unir sucesso de público e crítica
com tanta intensidade, e poucos foram tão onipresentes nas
listas de melhores do ano, isso sem levar em conta que muitas vezes
a ausência deveu-se ao fato de que o disco já estava
disponível em 2004 na gringolândia. Mas isso é
irrelevante: o que importa é que Funeral é uma senhora
estréia. Grandes melodias, climas intensos, refrões
épicos, instrumental único, são só alguns
motivos pelo qual o Arcade Fire conquistou o mundo. Esse disco sozinho
compensou por todas às vezes que tive o desprazer de ouvir
The Killers esse ano. [recomendadas: “Neighborhood #1 (Tunnels)”,
“Rebellion (Lies)”]

The Decemberists - "Picaresque"
Ao contrário de muitos outros
artistas, que se rendem ao normal e aceitável após
alguns anos de carreira, Colin Meloy e seus parceiros vão
cada vez mais fundo em sua loucura e nostalgia. O foco, além
dos contos de piratas – tema recorrente do universo mitológico
dos Decemberists – e guerras sangrentas do início do
século passado, cai também sobre a coroa espanhola
e seus rituais peculiares, romances folhetinescos do século
XIX e até o futebol americano. Um disco estranho, porém
fascinante, excelente para exercitar sua imaginação.
[recomendadas: “The Mariner’s Revenge Song”, “Eli
The Barrowboy”]

Cidadão Instigado - "Método Tufo de Experiências"
Esse foi, para mim, o grande disco
brasileiro do ano, provando que é possível fazer discos
independentes no Brasil de qualidade tão boa ou melhor do
que os discos de major – talvez até melhor, parece-me
que os independentes tratam sua música com mais carinho.
É um disco difícil, melodicamente falando; não
raro, o cearense Fernando Catatau (o tal Cidadão Instigado)
abusa de experimentações, mudanças de andamento
ou barulheira pura e direta, chegando até a existir uma comparação
com o Mars Volta. Mas sua poesia é simples, com significados
universais, que vão desde o preconceito sofrido por ele,
um nordestino em São Paulo, até interpretações
sagazes das leis de Deus. [recomendadas: “Os Urubus só
Pensam em te Comer”, “O Pobre dos Dentes de Ouro”]

Mercury Rev - "The Secret Migration"
É verdade o que eu disse há
um tempo atrás: esse disco decepcionou em um primeiro momento.
Mas fui injusto com o mais novo rebento do Mercury Rev; não
se trata de uma obra-prima irrepreensível como o mágico
“Deserter’s Song”, não conta com nenhuma
canção arrebatadora como “The Dark Is Rising”,
de “All Is Dream”, mas é um disco muito bom sim.
A banda parece estar mais alegre e as melodias mais soltas e despretensiosas
do que nos discos anteriores, revelando até uma certa afinidade
entre os Revs e os Beatles que não haviam transparecido antes.
Mostra, acima de tudo, que uma banda pode transformar seu som e
buscar novos caminhos mesmo depois de quinze bons anos de carreira.
[recomendadas: “In A Funny Way”, “Vermillion”]
Natalia
Vale Asari
Eu nem sabia que eu tinha ouvido
tantos discos de 2005 em 2005. A lista abaixo apenas enumera os
que caíram nos meus ouvidos e os marcaram. Menção
honrosa para o do Eugene Kelly e o do Eels. Mas tentar me convencer
que 9 = 7 já pretensão demais.

Arcade Fire - "Funeral"
Datas não podem ser tão
importantes assim, nem mesmo em um apanhado de discos de fim de
ano. Portanto, me dei ao luxo de trazer esse disco de 2004 para
a lista de 2005. O "Funeral" ganhou todo um sabor especial
depois de presenciar o Arcade Fire ao vivo no Tim Festival. As músicas
Tunnels, com o seu quê nabokoviano, e Rebellion (Lies) são
indiscutíveis.

Black Rebel Motorcycle Club - "Howl"
O primeiro disco do Black Rebel Motorcycle
Club era meu queridinho. Não mais: "Howl" tomou
o posto. Trilha sonora perfeita para filmes dos irmãos Coen,
desbancando certos discos do Nick Cave.

Trail of Dead - "Worlds Apart"
Quem esperaria encontrar uma música
como "To Russia My Homeland" em um disco do Trail of Dead?
Uma música dessas, dentro de todo o barroquismo das vinhetas
do grupo, é a improbabilidade que faltava. Misturada às
costumeiras rasgações viscerais, foi decisiva para
evitar as comparações desleais com "Source Tags
and Codes". Nesse louco e obscuro lado da terra, claro.

Billy Corgan - "TheFutureEmbrace"
Proclama-se por aí que o Billy
Corgan mudou, converteu-se e enlouqueceu. Dizem que este solo dele
é uma reciclagem mais atrevida das eletronices do "Adore".
Fala-se em ressurreição de Blissed and Gone. Tudo
verdade. O problema é que ele continua fazendo músicas
como Mina Loy.

Okkervil River - "Black Sheep Boy"
Me recomendaram Damien Jurado, acabei
ouvindo Okkervil River. Músicas tristes me fazem feliz, que
o diga o Mogwai. Mas uma folga dentro de um disco vem a calhar.

Elbow - "Leaders of the Free World"
Protegido da casa. Derruba paredes
com aqueles gritos infernais e a dicção imperfeita.
Como diria a propaganda, é um estilo Elbow de ser. A música
Mexican Stanoff é uma dessas típicas, com barulhinhos,
perfeitinha. No estilo Elbow, claro.

Iron and Wine & Calexico - "In the Reigns"
Com o perdão da palavra,
é fofo. Só que não é enjoado, e está
mais para Iron and Wine do que para Calexico. Bom para fechar o
dia. O ano.
Vicente
Moschetti
[sem ordem de preferência]

Los Hermanos – "4"
Talvez o disco mais controverso lançado
no país em 2005, "4" inovou ao apresentar as novas
propostas da banda, assim como não surpreendeu ao mostrar
o quarteto novamente fugindo de seus passos anteriores. Enquanto
Camelo apresentou uma esperada entrega à MPB (no jeito LH
de fazê-lo), Amarante mostrou ainda mais talento em suas composições,
conseguindo criar músicas inigualáveis que reforçam
sua verve particular de composição. Regado de sensibilidade,
o álbum foge de tudo o que acontece na música brasileira,
brilhando em um universo paralelo que a banda vem construindo desde
o assassinato de Anna Júlia, onde hoje eles e apenas eles
têm o privilégio de existir. Arrastado e recheado de
texturas, "4" dá pouca chance para o pula-pula
do "Bloco" ou para as palmas de "Ventura", obrigando
o ouvinte a conter-se na aura cinzenta de faixas inspiradas no mar.
Um single com apenas as belíssimas guitarras de "Primeiro
Andar" e a doce melancolia de "O Vento" já
salvaria a música brasileira de 2005. Graças aos cariocas,
"4" tem ainda mais pérolas em sua concha. [recomendadas:
"Primeiro Andar" / "O Vento"]

The Mars Volta – "Frances The Mute"
Em uma década onde as novas
bandas apostam na economia e na comunicação instantânea
de suas músicas, o The Mars Volta optou pela contramão.
Pegaram o ponto onde o álbum anterior tinha parado e mergulharam
ainda mais na elaboração sonora, fazendo de "Frances
The Mute" um dos discos mais amados/odiados do ano. Vestido
de uma aura progressiva (músicas com subtítulos, longas
jams, ênfase nos instrumentos), o disco superou seu anterior
apesar da dificuldade de absorção nas primeiras audições.
Sem recorrer a hits instantâneos, o monobloco intercala longos
momentos de criação de climas que por vezes é
amassado por rocks furiosos e certeiros. O convidado John Frusciante
humilha com um solo em "L'Via L'Viaquez", Omar Rodriguez
recheia o disco de idéias mirabolantes, Cedric Zavala entra
apenas nos momentos necessários, geralmente passando o rodo
como na parte final de "Cassandra Gemini". Mesmo com alguns
exageros, "Frances The Mute" provou que é possível
desafiar uma parcela do público tão acostumado com
Franz Ferdinands e cia., mesmo que isso pressuponha um pouquinho
de esforço. [recomendadas: "Cygnus.... Vismund Cygnus"
/ "L'Via L'Viaquez"]

Sufjan Stevens – "Illinoise"
Em tempos onde muitos artistas consagrados
suam sangue para reunir uma dezena de canções relevantes
que muitas vezes sequer conseguem fustigar o interesse do ouvinte,
Sufjan Stevens gravou 74 minutos de generosas idéias musicais.
Abusando de arranjos bem elaborados e caprichados, produziu um disco
agradabilíssimo de ser escutado, onde ricas melodias são
o pano de fundo para estórias sobre personagens do folclore
do Estado de Illinois. Sufjan faz músicas pulsantes, vivas,
que escancaram talento de composição e elaboração
de melodias. Banjos, pianos, percussões, xilofones e irretocáveis
backing vocals angelicais: tudo é magistralmente conduzido
e direcionado para as canções, fazendo com que "Illinose"
cruze a linha do folk, encontrando uma resolução mais
universal e suficiente para justificar os resultados como dos melhores
do ano. [recomendadas: "John Wayne Gacy Jr." / "They
Are Night Zombies!!"]

Fantômas – "Suspended Animation"
Já que o Lightning Bolt não
acertou a receita em "Hypermagic Mountain", o disco de
noise de 2005 foi o novo do Fantômas. Depois de alguns anos
experimentando com vários artistas inusitados, Mike Patton
finalmente conseguiu forjar um som que aproveitasse todo o lado
bom dessas colaborações. Dominando como nunca a parafernália
eletrônica, Patton deixou a banda a ponto de bala e jorrou
muitos samplers por cima da quebradeira, numa combinação
impressionante. A banda criou seus discos bastante distintos entre
si, sendo o nonsense o único fio condutor entre eles. "Suspended
Animation" quebra essa tendência, apontando mais para
o debut de 1999, porém muito mais bem pensado, composto e
executado que a estréia. Samplers, frenesi, anime, peso e
noise perfeitamente misturados ou intercalados fizeram do disco
a melhor pedrada na janela de 2005. [recomendadas: "04-02-2004
Saturday" / "04-10-2005 Sunday"]

Wolf Parade – "Apologies To Queen Mary"
Parece quase inevitável ser
apresentado a uma banda nova que não tenha seu som enraizado
nos anos 80. Do parentesco direto como o do Interpol aos leves toques
como os do Arcade Fire, a música dos anos 80 se faz perceber
nas batidas sintetizadas, nos teclados onipresentes ou mesmo na
referência direta a ícones como o David Byrne. Gravar
um disco que partisse dessa conjugação para chegar
num resultado consistente e, melhor, com personalidade própria
transformou-se numa tarefa digna de reconhecimento. O disco do Wolf
Parade pode ter sido a grande iniciativa nesse sentido, mesmo que
não seja um primor tão memorável como, digamos,
"Funeral" foi no ano anterior. O mais interessante aqui
é a roupagem acessível que a banda dá para
canções que não são assim tão
assimiláveis: as composições são quebradas,
incomuns, inquietas. Ainda por cima, ambos os vocalistas têm
maneiras peculiares de cantar, podendo afugentar de cara os ouvintes
menos pacientes. Mas a cobertura expressiva de teclados/sintetizadores
e as guitarras desleixadas suavizam tudo, criando uma receita palatável
e interessante. [recomendadas: "We Built Another World"
/ "Shine A Light"]

John Frusciante – "Curtains"
O disco que finalizou a série
de trabalhos solo de Frusciante foi gravado em 2004, mas lançado
em 2005. Passando a régua com um trabalho mais calmo, o guitarrista
debruçou-se sobre violões, mas muito longe de formatos
popularescos que gostaria uma MTV. Cheio de andanças, as
faixas transpiram sentimentos, Frusciante se entrega às canções
e encontra uma interessante harmonia entre sua voz ríspida
e a riqueza dos arranjos, dando continuidade a seu exercício
com backing vocals, cada vez mais belos. De vez em quando, lança
pinceladas dissonantes como o solo de "Anne". Ao mesmo
tempo, faixas como "The Real" e "Time Tonight"
são sensibilidade em estado bruto, num disco que encanta
com sua combinação de crueza e ricas melodias. [recomendadas:
"Anne" / "The Real"]

Animal Collective – "Feels"
Emparelhado com o também ótimo
"The Runners Four" do Deerhoof, "Feels" responde
pela volumosa geração difundida pela internet, que
aposta numa maneira de se comunicar com o ouvinte sem abrir mão
de suas linguagens particulares. Com um currículo de álbuns
bem inacessíveis, o coletivo começou a buscar a simbiose
entre suas peripécias e a acessibilidade em seu disco anterior,
"Sung Tongs", sendo "Feels" um passo ainda mais
significativo nessa direção. Ainda que não
seja primoroso, o disco guarda uma série de pequenos detalhes
que se revelam nas sucessivas audições, embalados
por uma dezena de melodias viciantes. A ininteligibilidade que eles
fazem questão de aplicar em suas letras é balanceada
por sonoridades vibrantes, universais, que tomam a mente do ouvinte
e teimam em partir. Até as mais tortuosas experimentações
psicodélicas ("Bees", "Daffy Duck") guardam
uma expectativa de comunicação. É essa conexão
quase sensorial que faz de "Feels" um álbum excêntrico
e intrigante, adjetivos estes que são sempre bem-vindos.
[recomendadas: "Did You See The Words" / "Banshee
Beat"]
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