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Os discos que marcaram o 2007 da Dying Days

Alexandre Luzardo
Ana D. M.
Fabricio Boppré
Natalia Vale Asari
Vicente Moschetti

Resumo


Alexandre Luzardo

Juntando alguns nomes previsíveis com uma outra surpresinha, até que não foi tão difícil montar essa lista. O ano de 2007 foi bom para a música, péssimo para a indústria. Numa frase tirada da Pitchfork num texto sobre a quantidade de discos recebidos que acabam não resenhados, foi dito que hoje em dia tem mais pessoas dispostas a lançar discos do que pessoas dispostas a comprá-los. Como fica o artista nessa história ainda é uma discussão ampla que não cabe desenvolver aqui, mas fica a certeza, enquanto o artista puder ser ouvido sua missão estará cumprida. Vamos a lista, pessoal e intransferível, sem qualquer ordem:


Arcade Fire – Neon Bible

Somente por "Intervention" já valeria o disco, que é cumpridor em todos os sentidos. Não houve grandes mudanças de rumo nesse segundo álbum, mas ainda estão longe de qualquer sinal de esgotamento. Mesmo que não surja um novo disco antes de 2010, dificilmente o Arcade Fire deixará do ser uma das bandas da década.


Radiohead – In Rainbows

O Radiohead conseguiu com esse disco ser revolucionário também no lado business, causando mais estragos na moribunda indústria fonográfica. E o mais intrigante é que mesmo liberando o álbum de graça na internet, quando o CD foi fisicamente lançado nas lojas meses depois, ainda foi primeiro lugar na Billboard. Prova de que não era um punhado de músicas qualquer. Sem abrir mão do lado mais 'abstrato' da banda, In Rainbows certamente possui as canções mais acessíveis do Radiohead em muito tempo. "Nude" é a coisa mais Ok Computer que eles fizeram desde o próprio.


Wilco – Sky Blue Sky

Sky Blue Sky parece ter sido feito sem muito esforço, pela simplicidade das letras e pela pegada da banda, soa como algo muito mais natural e espontãneo do que pensado aos detalhes. Com isso a banda vai se distanciando de Yankee Hotel Foxtrot, considerado por muitos o seu principal trabalho. Eu ainda ficaria com A Ghost is Born, no meio do caminho, mas Sky Blue Sky agradou bastante, como na divertidíssima "Shake It Off" e sua bateria insana.


Black Rebel Motorcycle Club – Baby 81

O BRMC retomou um território mais familiar em Baby 81, belo disco, competente e cumpridor. Se faltou a emoção mais exposta de Howl, temos o rock empolgante em músicas como "Berlin" e "Weapon of Choice". E se der muita saudade do Howl, tem a belíssima "Am I Only" fechando o disco.


Silverchair – Young Modern

Depois de um álbum ousado e pretensioso com resultados bem sucedidos, a banda retorna esbanjando auto-confiança e criatividade em um disco esquizofrênico cheio de variações imprevisíveis. E pop. "Waiting All Day" e "Strange Lines" são belas e cativantes, enquanto "Those Thieving Birds" resgata o lado orquestral explorado em Diorama. É bastante incomum ver uma banda chegar ao auge criativo passados dez anos de carreira e o Silverchair mostra que sobreviveu a sua primeira década e atingiu a maturidade.


Albert Hammond Jr. – Yours to Keep

Uma das boas surpresas do ano, esse cara soltou um disco redondinho e bem resolvido em suas influências. Parece que sai um novo esse ano, se não estragar tudo, vai dar mais motivos para o Strokes não mais retornar. Destaque para "Everyone Get's a Star", uma das músicas mais viciantes do ano.


Dinosaur Jr. – Beyond

Estava escancarado que esse retorno do Dinosaur Jr. era pela grana, os caras se odiavam, tinha tudo para dar errado e eis que os caras se superam e soltam um discão de onde nada se esperava. Deve ser o que chamam de química, não necessariamente uma substância. Um disco que já mostra a que veio nos primeiros 30 segundos, basta ouvir a soleira inspiradíssima de J Mascis em "Almost Ready", e não tem volta.

Considerações rasteiras

Retorno cumpridor: Buffalo Tom, Three Esay Pieces. Parece que a banda nunca acabou.

Retorno decepcionante: Crowded House, Time on Earth. Adquiri grande admiração por essa banda depois que já tinha acabado, aí surge um disco novo e o resultado foi um tanto sem sal.

Disco que ouvi só para falar mal e quebrei a cara: Velvet Revolver, Libertad. Sim, não é tão horrível. Apenas medíocre. E o elo mais fraco é o Weiland que não conseguiu encaixar justamente o seu ponto forte, que são as melodias. Chance desperdiçada para surgir uma banda de hard rock radiofônico e popular, ainda mais agora que o Audioslave já era. A única chance de dignidade para o Scott Weiland seria retomar sua carreira solo e soltar um disco tão insano quanto o 12 Bar Blues. O resto do Velvet sempre poderá chamar o Axl.

Zeitgeist: A expectativa sempre é alta em se tratando de uma banda tão importante quanto o Smashing Pumpkins. Mas, sendo condescendente com o velho ídolo, não ficou tão mal. No nível do Machina, talvez. Usando um velho chavão, juntando Machina com Zeitgeist e tirando o excesso daria um disco poderoso. Penso que o verdadeiro desafio vem agora: o que fazer? Se a banda acabar de novo ficaria uma volta despropositada como foi a do Jane's Addiction, por exemplo. O careca precisa baixar a cabeça e seguir produzindo. E que venha 2008.

Ana D. M.

Estes foram os discos que me chamaram a atenção em 2007 (novamente, sem ordem de preferência)...


Siouxsie – Mantaray

Não é por ser "a" Siouxsie, nem por ser uma das primeiras grandes figuras femininas do punk, nem por ter uma carreira ininterrupta (?!) desde 1976 e, apesar de todo esse tempo, este ser o seu primeiro álbum solo. E por tudo isso ;-) e o fato que eu sou puxa-saco da Siouxsie mesmo. Uma crítica que poderia ser feita é que este disco não tem um estilo bem definido – na verdade ela vai do quase-jazz até as baladas "tush"; às vezes lembra Banshees, às vezes o instrumental está mais pra Killing Joke. Mas está a altura dos outros trabalhos, e mantém o mesmo nível de cuidado e qualidade que é possível ver nos trabalhos dos Banshees e Creatures.


Rasputina – Oh Perilous World

Sim... violoncelos... e sem falsetes assanhadinhos.


Grinderman – Grinderman

Grinderman é nome-fantasia de Nick Cave & the Bad Seeds. Ou, numa analogia nerd, dá pra dizer que é algo tipo quando você quer brincar com um trabalho mas não sabe muito bem onde isso vai dar (especificamente, Cave tocando guitarra), e aí salva o arquivo com outro nome antes de fazer qualquer coisa. Fica como uma "válvula de escape", em oposição ao caminho cada vez mais "religioso" que os Bad Seeds estavam tomando, permitindo uma agressãozinha básica e mais direta (e, por que não, mais vendável?? A gente sabe que a tosquice é friamente calculada, mas perdoa).


Dinosaur Jr. – Beyond

Erm, "Beyond" podia ser tranquilamente o quarto álbum da banda, lançado logo depois de "Bug". Com o retorno de Lou Barlow (Sebadoh) (eu não saberia dizer até quanto ou quando, mas quem se importa?) depois de vinte anos, o pior de tudo é que o álbum realmente é como se os anos 90 não tivessem existido para o Dinosaur Jr.


Meat Puppets – Rise to Your Knees

Continuando na sequência de bandas que preparam o terreno para um previsível (e incoerente, pois não se trata de uma década completamente morta e sepultada ainda) revival dos anos 90, os Meat Puppets também ressuscitam como se nada tivesse acontecido. Também lembrando, como eles mesmos colocam, que na realidade os Puppets nunca terminaram, apenas entraram em "hiato". É legal ver que nem sempre uma história dessas termina da pior maneira possível. Às vezes alguém volta pra contar a história... e continuá-la.

Meia boca:
Stooges – The Weirdness

Resolvi instituir essa categoria pra enquadrar Mr. Pop, que podia estar fazendo horrores se tivesse continuasse a envelhecer dignamente como estava fazendo em Avenue B e não tivesse cedido ao complexo de Peter Pan. O disco não é ruim, o problema é que o Sr. já passou dos 60. E sim, os irmãos Asheton deixaram as bandas-suporte de Iggy Pop muito, mas muito, anos-luz para trás, mas a produção não faz justiça a isso. Sinto muito.

Decepção:
Patty Smith – Twelve

Eu realmente queria achar esse disco legal, mas depois de ouvir de novo e de novo, cheguei a conclusão que só gostei mesmo foi de Gimme Shelter, e isso e porque eu gosto da musica. E achei Smells Like... uma das coisas mais bizarras que já ouvi. Mais bizarro ate que a versão da Tori Amos.

Fabricio Boppré

Minha lista não vai muito além dos discos lançados este ano pelas minhas bandas de cabeceira, sem nada de muito surpreendente. Em parte por ter realmente gostado bastante destes discos, em parte por não ter ouvido muita coisa recente este ano...


Radiohead – In Rainbows

Muito se falou do pioneirismo do Radiohead no formato de lançamento deste seu In Rainbows, o que acabou ofuscando um pouco as opiniões à música propriamente dita. Mas não dá de criticar ninguém por isso: a essa altura não há mais muito o que acrescentar sobre o Radiohead além de ser a banda mais à frente de seu tempo, sem concorrentes próximos. Sua música inclassificável continua maravilhosa, surpreendente, fresca e incomparável.


Black Rebel Motorcycle Club – Baby 81

Depois do estupendo Howl, os enjaquetados voltaram às suas raízes não tão distantes, neste disco longo que enriquece ainda mais a ainda curta mas já memorável discografia do BRMC. Não é um disco alto-nível do começo ao fim, como seu antecessor, mas mesmo que Baby 81 fosse somente um single com Cold Wind em seu tracklist de 2 ou 3 músicas, estaria aqui na minha lista.


Wilco – Sky Blue Sky

Aqui está outra banda que também promoveu uma volta as raízes. Depois de dois trabalhos mais difíceis e absurdamente belos, o Wilco deixou a pretensão de lado e soltou este disquinho simples, tranquilo, por vezes divertido, por vezes preguiçosamente melancólico. É outra banda que dá a impressão de que não sabe errar.


Converge – No Heroes

Aqui estamos falando de outra coisa totalmente diferente: música totalmente desprovida de sanidade e delicadeza. Para quem não conhece e quer se interessar, um Fugazi extremo e enlouquecido seria a melhor referência.


Pelican – City of Echoes

Ainda falando deste metal-moderno (ou metal-onde-os-músicos-não-precisam-vestir-roupas-constrangedoras), se o Converge está para aquilo que o Metallica fazia nos anos 80, o Pelican é uma das bandas que reciclou o que faziam as bandas que não prezavam pela velocidade ou pela violência, mas sim a melodia e a atmosfera (há quem chame isso de post-metal). Estes moços do Pelican já têm um punhado de ótimos lançamentos entre LPs e EPs, mas por ocasião do lançamento deste City of Echoes, li algumas críticas escritas por pessoas não muito contentes com uma suposta suavizada no barulho da banda. Até faz certo sentido, mas eu gostei deveras do resultado.

Decepção:
Smashing Pumpkins – Zeitgeist

Pois é, hesitei bastante em colocar o Zeitgeist aqui porque eu verdadeiramente gostei de algumas coisas do disco, ouvi-o bastante, certamente mais do que costuma-se ouvir um disco que se considere decepcionante. Mas vindo de quem um dia já lançou um Mellon Collie and the Infinite Sadness, ou já empacotou suas b-sides num Aeroplane Flies High, não tem jeito, Zeitgeist é muito pouco. Então, se por um lado é um disco que eu ouvi com prazer, por outro foi mais um adiamento na minha convicta opinião de que Billy Corgan voltará a nos surpreender com outras obras-primas musicais. Por isso mais decepcionou do que agradou. Quem sabe ano que vem.

Natalia Vale Asari

Sem decepções, já que não tive tempo de dar mais chances aos discos decepcionantes em 2007. Sem mais muitos outros discos, porque os trabalhos seguintes consumiram quase toda a minha quota musical durante o ano, ressurgindo ferozmente nos fones de ouvido.


Wilco – Sky Blue Sky

Just sing what you feel, don't let anyone say it's wrong.

Músicas tristes-alegres, entremeadas por letras de uma simplicidade genial. Simples melancolia. Um disco que não estaria completo se o Bob Dylan não existisse. Um disco que reinventou a alegria. Shake It Off e On and On and On.


Modest Mouse – We were dead before the ship even sank

It honestly was beautifully bold.

Emprestando apenas um ouvido à tarefa nada árdua de ouvir esse disco do Modest Mouse, acaba-se com a impressão de que ele é composto apenas pelas músicas rápidas e gritadas típicas da banda (aquilo que eu carinhosamente chamo de "rap"ão Modest Mouse). Sob maior atenção, porém, ou através de repetições do disco ao longo dos dias, outra conclusão se destaca: melodias e barulhinhos bem cuidados, baladinhas bem-feitas, o extraórdinário vocabulário com tendências científicas, e a música do ano: Missed the Boat.


Arcade Fire – Neon Bible

Us kids know.

Sinistro e claustrófico como contos de fada na Idade Média. Não faltam o entusiasmo nem a música-cabaré (My Body is a Cage), que o Arcade Fire me obriga a gostar. Mais trabalhoso, mais funesto que o disco anterior; isso implica grandes promessas para o terceiro disco do grupo.


Black Rebel Motorcycle Club – Baby 81

Look what you've started.

Filho do promissor debut com o desconcertante disco anterior. É como se o cowboy descobrisse a motocicleta e o rock, e fizesse um disco fortuito desses. Algumas músicas podiam ilustrar o yuppie e o delírio (Killing the Light, Lien on your Dreams), e outras poderiam acompanhar o nosso personagem rebelde em suas andanças pelas planícies de Iowa.

Vicente Moschetti

2007 foi mais um ano interessante para quem gosta de música, e mais uma etapa de crescimento dos artistas independentes mundo afora, com muita oferta musical e pouquíssimos rótulos bem delineados. É interessante observar que as bandas deixam-se influenciar pelo que acontece na atualidade e dessas influências nascem discos ainda mais ousados e decompromissados, fruto da ausência de vínculos com gravadoras e obrigatoriedade de vendas. O que se anunciava há uma década com a popularização da música via MP3 parece finalmente ter acontecido: as pessoas estão gravando muita música e as estão disponibilizando sem se importar muito com quem vai escutá-las, ou como isso vai acontecer.


Boris with Michio Kurihara – Rainbow

Os japoneses do Boris são absurdamente prolíficos, ao ponto de levar o termo a uma espécie de doutrina. De cada três novos lançamentos da banda, um é certamente "incomprável" devido ao caráter limitado de sua edição, outro esgota-se com facilidade enquanto o terceiro fica finalmente pelas prateleiras para que reles mortais possam escutá-lo. Isso quando três lançamentos anuais não são transformados em quase uma dezena (o que não é raro na discografia deles). Mas tamanha prolificidade não os isenta dos problemas que essa atitude sempre carrega: muitos discos em pouco tempo produzem erros e acertos na mesma proporção. Por outro lado, o leque abre-se de tal forma que você fatalmente acaba gostando de um disco deles.

"Rainbow" é mais um capítulo nessa exploração de possibilidades, dessa vez em conjunto com Michio Kurihara (White Heaven, Damon & Naomi). De cara, percebe-se a intenção do quarteto aproveitar o inesperado da parceria para criar composições um tanto desprendidas do catálogo do Boris. Em "Rainbow", o punk garageiro de "Pink" não predomina, tampouco os drones vigorosos de "Dronevil". O trabalho em questão volta-se principalmente para a psicodelia japonesa, o que implica em guitarras menos volumosas e mais certeiras (embora sempre distorcidas, lógico), ritmos bem definidos e vocais característicos do rock japonês. Kurihara mostrou-se uma peça importante na química do projeto, proporcionando ao Boris a possibilidade de mostrar que é possível ir além do som mais esparso e descompromissado que costuma criar. Em se tratando de Boris, é possivelmente o disco mais acessível para quem freqüenta as praias indies, o que fica reforçado com a inclusão de faixas absurdamente delicadas como "... E, Eu Quero" e "Minha Chuva".

"Rainbow" pode não ser dos discos mais representativos do que o Boris faz com freqüência, mas é tranqüilamente uma opção bem definida, elaborada, que privilegia o clima em lugar do peso (em se tratando das toneladas que o Boris costuma moldar, é claro).


Interpol – Our Love To Admire

O disco mais recente dos nova-iorquinos foi implacavelmente detonado pela crítica em 2007, muito pelo fato de ser o primeiro lançamento deles numa gravadora major. Nada mais previsível, principalmente por se tratar de uma banda que explodiu nos arredores semi-independentes de 2002. Mas o principal motivo pelo qual encaixei "Our Love To Admire" na lista foi a razoável satisfação que tive em escutá-lo frente aos outros pouquíssimos discos majors que ouvi durante o ano. Não que ele seja imprescindível: na verdade, ele até pode ser o disco mais fraco do catálogo do Interpol. Entretanto, como suas músicas acabaram não fugindo muito do livro de receitas da banda, não se ganhou muito mas também não se perdeu quase nada.

Estão lá as guitarras secas, os climas sombrios e os singles ganchudinhos. "The Heinrich Manouver" e "Mammoth", os dois hits, são competentes em suas funções, mas podem deixar a desejar se comparados com outros momentos do Interpol. Assessorado por Rich Costey (Block Party, Franz Ferdinand), o Interpol buscou algumas alternativas para pincelar o novo som, incorporando instrumentos como piano e teclados de forma um tanto significativa, o que acabou influenciando consideravelmente o resultado final. "No I In Threesome" é melodicamente interessante, com bom refrão. "All Fired Up", "Rest My Chemistry" e "Who Do You Think" poderiam figurar no disco anterior. E "The Lighthouse" não deixa de ser uma mudança interessante, mesmo que ainda muito incipiente.

Na melhor das hipóteses, "Our Love To Admire" é o primo pobre de "Antics", que mesmo com todo o esforço, não conseguiu honrar com brilhantismo o brasão da família. Talvez o fato dele estar nesta lista mostre o quão calamitosa foi a proposta artística das grandes gravadoras. Mas quem se importa com isso, não é?


Orthodox – Amanecer en Puerta Oscura

Em seu disco de estréia, "Gran Poder", os espanhóis do Orthodox deixaram bem claro que escutaram muito Black Sabbath durante a adolescência. Mas ao contrário de tantos outros que enveredaram pelo stoner, o Orthodox preferiu puxar a influência para o doom, mais lento e massivo, porém com um efeito sempre peculiar. Mesmo nesse panorama positivo, o bom disco de estréia deixou uma sensação de que a banda podia ir além, o que realmente aconteceu em seu segundo disco, "Amanecer en Puerta Oscura".

Embora desejado, era impossível imaginar que a banda quebraria suas barreiras com apenas um disco. "Amanecer en Puerta Oscura" extrapola os limites do metal, acomodando-se com muita propriedade nos domínios do jazz e da música experimental. "Con Sangre de quien te ofenda" começa o disco de forma 100% jazzística: ritmos quebrados, baixo vigoroso e sopros escondem a vertente pesada que a banda explorará ali adiante, quando "Mesto, Rigido e Ceremoniale" e "Solemne Triduo" dão as caras com uma vertente mais familiar a quem já conhece o Orthodox. O disco ainda mergulha em dois ambients recheados de avant-garde (sendo que "Puerta Osario", tem um quê de Dylan Carlson). Em "Amanecer em Puerta Oscura" o Orthodox reciclou suas influência e criou um monstro todo seu, muito particular, elaborado com muita confiança. Não perde em nada para grandes medalhões do gênero experimental.


Boris with Merzbow – Rock Dreams

Quem já ouviu Masami Akita sabe que seu alter-ego Merzbow executa toda e qualquer possibilidade sonora existente nos laptops e eletrônicos, numa conjugação quase insuportável. O resultado é em 99% das vezes perturbador, afinal de contas, um dos papas do noise não está na posição de pioneirismo por acaso.

"Rock Dreams" é um disco duplo com a gravação de um show no Earthdom, Tóquio, onde ao contrário do que geralmente acontece nas colaborações de Akita, quem dá as cartas é o Boris. O show em questão é todo calcado em composições da banda, principalmente no aclamado "Pink", onde o que predomina é a atuação do trio desancando seus massivos volumes de guitarra, baixo e bateria. Coube a Merzbow acompanhar a banda "on the fly", largando uma cobertura consistente de noise eletrônico que no caso de "Rock Dreams", funcionou perfeitamente. Há coerência no encontro das sonoridades, pois a mão de Akita ao invés de provocar repulsa e se apropriar da atenção do ouvinte, atuou como um quarto instrumento, levando a sensação de sujeira para patamares ainda maiores que o Boris tradicionalmente produz. O primeiro disco explora o lado experimental do trio, onde o drone e o doom predominam. O segundo disco começa com quatro faixas punks de "Pink", para depois cair em mais uma catacumba sonora e em seguida retornar à sonoridade anterior, mais acessível. Um belo encontro de duas legendas da música japonesa contemporânea, merecidamente colocado a nosso dispor.


Ulver – Shadows Of The Sun

Os noruegueses do Ulver começaram sua carreira em 1993 misturando black metal com folclore regional. Após três sucessivos discos dentro daquela proposta, passaram a desenvolver seu som ao ponto de quebrar barreiras inimagináveis, alcançando outros terrenos como o industrial, o eletrônico e o avant-garde.

"Shadows Of The Sun" é o capítulo mais recente desta saga, com o Ulver baseando suas composições num forte caráter emocional, casando-as muito bem com a sonoridade contemplativa e intimista que permeia o disco. Indiferente a rótulos e barreiras sonoras, a banda compôs um disco que mescla fortes elementos sinfônicos com ambient, toques de avant-garde e até new-age. Embora não recorra a nenhum elemento tradicional do metal, "Shadows Of The Sun" é mais sombrio do que muitos discos do gênero, de onde contrasta um interessante sentimento de desolação com a suavidade dos vocais e do piano onipresente. Uma grata surpresa de 2007, que cresce consideravelmente à medida que as audições se sucedem.


Burial Chamber Trio – Burial Chamber Trio

Um projeto de 3/4 do SunnO))), Burial Chamber Trio é Greg Anderson, Oren Ambarchi e o absurdo Attila Csihar. Correspondendo ao que se pode esperar desse encontro, o disco reúne mais experimentações em torno de oscilações sonoras e esgotamento de timbres. Nada muito novo para quem freqüenta essas praias, no entanto, a massa sonora é tão intensa que o disco acaba se distanciando um pouco dos demais. Com Anderson no baixo e Ambarchi em seu tradicional laptop, a gravação distorce, oprime e sobrecarrega os graves das caixas, justamente como o ouvinte poderia requisitar. O panorama de peso e obscuridade transcende a sisudez do SunnO))) com as intervenções sempre inusitadas de Attila, que agrega performances xamânicas e tribais ao seus tradicionais cânticos, dando um caráter bastante descompromissado ao projeto. Nada revolucionário, mas uma grata surpresa para os que convivem com essa vertente musical.

E a decepção do ano:
Smashing Pumpkins – Zeitgeist

Billy Corgan fez um esforço imenso para tentar me convencer que os Smashing Pumpkins eram ele e o baterista Jimmy Chamberlin. De quebra, quis me mostrar que os Pumpkins ainda não tinham cumprido com sua missão no planeta Terra, puxando da manga a ressurreição de uma das maiores legendas do rock alternativo dos anos 90. Todo esse plano mirabolante culminou em "Zeitgeist", que encontrou muitos alvos, menos os que originalmente deveria ter encontrado: me convencer que ele e Jimmy eram os Pumpkins e que a banda realmente precisava ressurgir das cinzas.


Resumo

3 citações: Black Rebel Motorcycle Club - Baby 81
3 citações: Wilco - Sky Blue Sky
2 citações: Arcade Fire - Neon Bible
2 citações: Dinosaur Jr - Beyond
2 citações: Radiohead - In Rainbows
1 citação: Albert Hammond Jr - Yours to Keep
1 citação: Boris with Merzbow - Rock Dreams
1 citação: Boris with Michio Kurihara - Rainbow
1 citação: Burial Chamber Trio - Burial Chamber Trio
1 citação: Converge - No Heroes
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1 citação: Interpol - Our Love To Admire
1 citação: Meat Puppets - Rise to Your Knees
1 citação: Modest Mouse - We Were Dead Before The Ship Even Sank
1 citação: Orthodox - Amanecer En Puerta Oscura
1 citação: Pelican - City of Echoes
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1 citação: Silverchair - Young Modern
1 citação: Siouxsie - Mantaray
1 citação: Ulver - Shadows of the Sun