Os discos que marcaram
o 2007 da Dying Days
Alexandre Luzardo
Ana D. M.
Fabricio Boppré
Natalia Vale Asari
Vicente Moschetti
Resumo
Alexandre Luzardo
Juntando alguns nomes previsíveis com uma outra
surpresinha, até que não foi tão difícil montar essa
lista. O ano de 2007 foi bom para a música, péssimo para
a indústria. Numa frase tirada da Pitchfork num texto
sobre a quantidade de discos recebidos que acabam não
resenhados, foi dito que hoje em dia tem mais pessoas
dispostas a lançar discos do que pessoas dispostas a
comprá-los. Como fica o artista nessa história ainda é
uma discussão ampla que não cabe desenvolver aqui, mas
fica a certeza, enquanto o artista puder ser ouvido sua
missão estará cumprida. Vamos a lista, pessoal e
intransferível, sem qualquer ordem:
Arcade Fire – Neon Bible
Somente por "Intervention" já valeria o disco, que é
cumpridor em todos os sentidos. Não houve grandes
mudanças de rumo nesse segundo álbum, mas ainda estão
longe de qualquer sinal de esgotamento. Mesmo que não
surja um novo disco antes de 2010, dificilmente o Arcade
Fire deixará do ser uma das bandas da década.
Radiohead – In Rainbows
O Radiohead conseguiu com esse disco ser
revolucionário também no lado business, causando mais
estragos na moribunda indústria fonográfica. E o mais
intrigante é que mesmo liberando o álbum de graça na
internet, quando o CD foi fisicamente lançado nas lojas
meses depois, ainda foi primeiro lugar na
Billboard. Prova de que não era um punhado de músicas
qualquer. Sem abrir mão do lado mais 'abstrato' da
banda, In Rainbows certamente possui as canções mais
acessíveis do Radiohead em muito tempo. "Nude" é a coisa
mais Ok Computer que eles fizeram desde o próprio.
Wilco – Sky Blue Sky
Sky Blue Sky parece ter sido feito sem muito esforço,
pela simplicidade das letras e pela pegada da banda, soa
como algo muito mais natural e espontãneo do que pensado
aos detalhes. Com isso a banda vai se distanciando de
Yankee Hotel Foxtrot, considerado por muitos o seu
principal trabalho. Eu ainda ficaria com A Ghost is
Born, no meio do caminho, mas Sky Blue Sky agradou
bastante, como na divertidíssima "Shake It Off" e sua
bateria insana.
Black Rebel Motorcycle Club – Baby 81
O BRMC retomou um território mais familiar em Baby 81,
belo disco, competente e cumpridor. Se faltou a emoção
mais exposta de Howl, temos o rock empolgante em músicas
como "Berlin" e "Weapon of Choice". E se der muita
saudade do Howl, tem a belíssima "Am I Only" fechando o
disco.
Silverchair – Young Modern
Depois de um álbum ousado e pretensioso com resultados
bem sucedidos, a banda retorna esbanjando auto-confiança
e criatividade em um disco esquizofrênico cheio de
variações imprevisíveis. E pop. "Waiting All Day" e
"Strange Lines" são belas e cativantes, enquanto "Those
Thieving Birds" resgata o lado orquestral explorado em
Diorama. É bastante incomum ver uma banda chegar ao auge
criativo passados dez anos de carreira e o Silverchair
mostra que sobreviveu a sua primeira década e atingiu a
maturidade.
Albert Hammond Jr. – Yours to Keep
Uma das boas surpresas do ano, esse cara soltou um disco
redondinho e bem resolvido em suas influências. Parece
que sai um novo esse ano, se não estragar tudo, vai dar
mais motivos para o Strokes não mais retornar. Destaque
para "Everyone Get's a Star", uma das músicas mais
viciantes do ano.
Dinosaur Jr. – Beyond
Estava escancarado que esse retorno do Dinosaur Jr. era
pela grana, os caras se odiavam, tinha tudo para dar
errado e eis que os caras se superam e soltam um discão
de onde nada se esperava. Deve ser o que chamam de
química, não necessariamente uma substância. Um disco
que já mostra a que veio nos primeiros 30 segundos,
basta ouvir a soleira inspiradíssima de J Mascis em
"Almost Ready", e não tem volta.
Considerações rasteiras
Retorno cumpridor: Buffalo Tom, Three Esay
Pieces. Parece que a banda nunca acabou.
Retorno decepcionante: Crowded House, Time on
Earth. Adquiri grande admiração por essa banda depois
que já tinha acabado, aí surge um disco novo e o
resultado foi um tanto sem sal.
Disco que ouvi só para falar mal e quebrei a cara:
Velvet Revolver, Libertad. Sim, não é tão
horrível. Apenas medíocre. E o elo mais fraco é o
Weiland que não conseguiu encaixar justamente o seu
ponto forte, que são as melodias. Chance desperdiçada
para surgir uma banda de hard rock radiofônico e
popular, ainda mais agora que o Audioslave já era. A
única chance de dignidade para o Scott Weiland seria
retomar sua carreira solo e soltar um disco tão insano
quanto o 12 Bar Blues. O resto do Velvet sempre poderá
chamar o Axl.
Zeitgeist: A expectativa sempre é alta em se tratando de
uma banda tão importante quanto o Smashing
Pumpkins. Mas, sendo condescendente com o velho ídolo,
não ficou tão mal. No nível do Machina, talvez. Usando
um velho chavão, juntando Machina com Zeitgeist e
tirando o excesso daria um disco poderoso. Penso que o
verdadeiro desafio vem agora: o que fazer? Se a banda
acabar de novo ficaria uma volta despropositada como foi
a do Jane's Addiction, por exemplo. O careca precisa
baixar a cabeça e seguir produzindo. E que venha
2008.
Ana D. M.
Estes foram os discos que me chamaram a atenção em 2007
(novamente, sem ordem de preferência)...
Siouxsie – Mantaray
Não é por ser "a" Siouxsie, nem por ser uma das
primeiras grandes figuras femininas do punk, nem por ter
uma carreira ininterrupta (?!) desde 1976 e, apesar de
todo esse tempo, este ser o seu primeiro álbum solo. E
por tudo isso ;-) e o fato que eu sou puxa-saco da
Siouxsie mesmo. Uma crítica que poderia ser feita é que
este disco não tem um estilo bem definido – na verdade
ela vai do quase-jazz até as baladas "tush"; às vezes
lembra Banshees, às vezes o instrumental está mais pra
Killing Joke. Mas está a altura dos outros trabalhos, e
mantém o mesmo nível de cuidado e qualidade que é
possível ver nos trabalhos dos Banshees e Creatures.
Rasputina – Oh Perilous World
Sim... violoncelos... e sem falsetes assanhadinhos.
Grinderman – Grinderman
Grinderman é nome-fantasia de Nick Cave & the Bad
Seeds. Ou, numa analogia nerd, dá pra dizer que é algo
tipo quando você quer brincar com um trabalho mas não
sabe muito bem onde isso vai dar (especificamente, Cave
tocando guitarra), e aí salva o arquivo com outro nome
antes de fazer qualquer coisa. Fica como uma "válvula de
escape", em oposição ao caminho cada vez mais
"religioso" que os Bad Seeds estavam tomando, permitindo
uma agressãozinha básica e mais direta (e, por que não,
mais vendável?? A gente sabe que a tosquice é friamente
calculada, mas perdoa).
Dinosaur Jr. – Beyond
Erm, "Beyond" podia ser tranquilamente o quarto álbum
da banda, lançado logo depois de "Bug". Com o retorno de
Lou Barlow (Sebadoh) (eu não saberia dizer até quanto ou
quando, mas quem se importa?) depois de vinte
anos, o pior de tudo é que o álbum realmente é como se
os anos 90 não tivessem existido para o Dinosaur Jr.
Meat Puppets – Rise to Your Knees
Continuando na sequência de bandas que preparam o
terreno para um previsível (e incoerente, pois não se
trata de uma década completamente morta e sepultada
ainda) revival dos anos 90, os Meat Puppets também
ressuscitam como se nada tivesse acontecido. Também
lembrando, como eles mesmos colocam, que na realidade os
Puppets nunca terminaram, apenas entraram em
"hiato". É legal ver que nem sempre uma história
dessas termina da pior maneira possível. Às vezes alguém
volta pra contar a história... e continuá-la.
Meia boca:
Stooges – The Weirdness
Resolvi instituir essa categoria pra enquadrar
Mr. Pop, que podia estar fazendo horrores se tivesse
continuasse a envelhecer dignamente como estava fazendo
em Avenue B e não tivesse cedido ao complexo de Peter
Pan. O disco não é ruim, o problema é que o Sr. já
passou dos 60. E sim, os irmãos Asheton deixaram as
bandas-suporte de Iggy Pop muito, mas muito, anos-luz
para trás, mas a produção não faz justiça a isso. Sinto
muito.
Decepção:
Patty Smith – Twelve
Eu realmente queria achar esse disco legal, mas depois
de ouvir de novo e de novo, cheguei a conclusão que só
gostei mesmo foi de Gimme Shelter, e isso e porque eu
gosto da musica. E achei Smells Like... uma das coisas
mais bizarras que já ouvi. Mais bizarro ate que a versão
da Tori Amos.
Fabricio Boppré
Minha lista não vai muito além dos discos lançados este
ano pelas minhas bandas de cabeceira, sem nada de muito
surpreendente. Em parte por ter realmente gostado
bastante destes discos, em parte por não ter ouvido
muita coisa recente este ano...
Radiohead – In Rainbows
Muito se falou do pioneirismo do Radiohead no formato de
lançamento deste seu In Rainbows, o que acabou ofuscando
um pouco as opiniões à música propriamente dita. Mas não
dá de criticar ninguém por isso: a essa altura não há
mais muito o que acrescentar sobre o Radiohead além de
ser a banda mais à frente de seu tempo, sem concorrentes
próximos. Sua música inclassificável continua
maravilhosa, surpreendente, fresca e incomparável.
Black Rebel Motorcycle Club – Baby 81
Depois do estupendo Howl, os enjaquetados voltaram às
suas raízes não tão distantes, neste disco longo que
enriquece ainda mais a ainda curta mas já memorável
discografia do BRMC. Não é um disco alto-nível do começo
ao fim, como seu antecessor, mas mesmo que Baby 81 fosse
somente um single com Cold Wind em seu tracklist de 2 ou
3 músicas, estaria aqui na minha lista.
Wilco – Sky Blue Sky
Aqui está outra banda que também promoveu uma volta as
raízes. Depois de dois trabalhos mais difíceis e
absurdamente belos, o Wilco deixou a pretensão de lado e
soltou este disquinho simples, tranquilo, por vezes
divertido, por vezes preguiçosamente melancólico. É
outra banda que dá a impressão de que não sabe
errar.
Converge – No Heroes
Aqui estamos falando de outra coisa totalmente
diferente: música totalmente desprovida de sanidade e
delicadeza. Para quem não conhece e quer se interessar,
um Fugazi extremo e enlouquecido seria a melhor
referência.
Pelican – City of Echoes
Ainda falando deste metal-moderno (ou
metal-onde-os-músicos-não-precisam-vestir-roupas-constrangedoras),
se o Converge está para aquilo que o Metallica fazia nos
anos 80, o Pelican é uma das bandas que reciclou o que
faziam as bandas que não prezavam pela velocidade ou
pela violência, mas sim a melodia e a atmosfera (há quem
chame isso de post-metal). Estes moços do Pelican já têm
um punhado de ótimos lançamentos entre LPs e EPs, mas
por ocasião do lançamento deste City of Echoes, li
algumas críticas escritas por pessoas não muito
contentes com uma suposta suavizada no barulho da
banda. Até faz certo sentido, mas eu gostei deveras do
resultado.
Decepção:
Smashing Pumpkins – Zeitgeist
Pois é, hesitei bastante em colocar o Zeitgeist aqui
porque eu verdadeiramente gostei de algumas coisas do
disco, ouvi-o bastante, certamente mais do que
costuma-se ouvir um disco que se considere
decepcionante. Mas vindo de quem um dia já lançou um
Mellon Collie and the Infinite Sadness, ou já empacotou
suas b-sides num Aeroplane Flies High, não tem jeito,
Zeitgeist é muito pouco. Então, se por um lado é um
disco que eu ouvi com prazer, por outro foi mais um
adiamento na minha convicta opinião de que Billy Corgan
voltará a nos surpreender com outras obras-primas
musicais. Por isso mais decepcionou do que agradou. Quem
sabe ano que vem.
Natalia Vale Asari
Sem decepções, já que não tive tempo de dar mais
chances aos discos decepcionantes em 2007. Sem mais
muitos outros discos, porque os trabalhos seguintes
consumiram quase toda a minha quota musical durante o
ano, ressurgindo ferozmente nos fones de ouvido.
Wilco – Sky Blue Sky
Just sing what you feel, don't let anyone say it's
wrong.
Músicas tristes-alegres, entremeadas por letras de
uma simplicidade genial. Simples melancolia. Um disco
que não estaria completo se o Bob Dylan não
existisse. Um disco que reinventou a alegria. Shake It
Off e On and On and On.
Modest Mouse – We were dead before the ship even sank
It honestly was beautifully bold.
Emprestando apenas um ouvido à tarefa nada árdua de
ouvir esse disco do Modest Mouse, acaba-se com a
impressão de que ele é composto apenas pelas músicas
rápidas e gritadas típicas da banda (aquilo que eu
carinhosamente chamo de "rap"ão Modest Mouse). Sob maior
atenção, porém, ou através de repetições do disco ao
longo dos dias, outra conclusão se destaca: melodias e
barulhinhos bem cuidados, baladinhas bem-feitas, o
extraórdinário vocabulário com tendências científicas, e
a música do ano: Missed the Boat.
Arcade Fire – Neon Bible
Us kids know.
Sinistro e claustrófico como contos de fada na Idade
Média. Não faltam o entusiasmo nem a música-cabaré (My
Body is a Cage), que o Arcade Fire me obriga a
gostar. Mais trabalhoso, mais funesto que o disco
anterior; isso implica grandes promessas para o terceiro
disco do grupo.
Black Rebel Motorcycle Club – Baby 81
Look what you've started.
Filho do promissor debut com o desconcertante disco
anterior. É como se o cowboy descobrisse a motocicleta e
o rock, e fizesse um disco fortuito desses. Algumas
músicas podiam ilustrar o yuppie e o delírio (Killing
the Light, Lien on your Dreams), e outras poderiam
acompanhar o nosso personagem rebelde em suas andanças
pelas planícies de Iowa.
Vicente Moschetti
2007 foi mais um ano interessante para quem gosta de
música, e mais uma etapa de crescimento dos artistas
independentes mundo afora, com muita oferta musical e
pouquíssimos rótulos bem delineados. É interessante
observar que as bandas deixam-se influenciar pelo que
acontece na atualidade e dessas influências nascem
discos ainda mais ousados e decompromissados, fruto da
ausência de vínculos com gravadoras e obrigatoriedade de
vendas. O que se anunciava há uma década com a
popularização da música via MP3 parece finalmente ter
acontecido: as pessoas estão gravando muita música e as
estão disponibilizando sem se importar muito com quem
vai escutá-las, ou como isso vai acontecer.
Boris with Michio Kurihara – Rainbow
Os japoneses do Boris são absurdamente prolíficos, ao
ponto de levar o termo a uma espécie de doutrina. De
cada três novos lançamentos da banda, um é certamente
"incomprável" devido ao caráter limitado de sua edição,
outro esgota-se com facilidade enquanto o terceiro fica
finalmente pelas prateleiras para que reles mortais
possam escutá-lo. Isso quando três lançamentos anuais
não são transformados em quase uma dezena (o que não é
raro na discografia deles). Mas tamanha prolificidade
não os isenta dos problemas que essa atitude sempre
carrega: muitos discos em pouco tempo produzem erros e
acertos na mesma proporção. Por outro lado, o leque
abre-se de tal forma que você fatalmente acaba gostando
de um disco deles.
"Rainbow" é mais um capítulo nessa exploração de
possibilidades, dessa vez em conjunto com Michio
Kurihara (White Heaven, Damon & Naomi). De cara,
percebe-se a intenção do quarteto aproveitar o
inesperado da parceria para criar composições um tanto
desprendidas do catálogo do Boris. Em "Rainbow", o punk
garageiro de "Pink" não predomina, tampouco os drones
vigorosos de "Dronevil". O trabalho em questão volta-se
principalmente para a psicodelia japonesa, o que implica
em guitarras menos volumosas e mais certeiras (embora
sempre distorcidas, lógico), ritmos bem definidos e
vocais característicos do rock japonês. Kurihara
mostrou-se uma peça importante na química do projeto,
proporcionando ao Boris a possibilidade de mostrar que é
possível ir além do som mais esparso e descompromissado
que costuma criar. Em se tratando de Boris, é
possivelmente o disco mais acessível para quem freqüenta
as praias indies, o que fica reforçado com a inclusão de
faixas absurdamente delicadas como "... E, Eu Quero" e
"Minha Chuva".
"Rainbow" pode não ser dos discos mais representativos
do que o Boris faz com freqüência, mas é tranqüilamente
uma opção bem definida, elaborada, que privilegia o
clima em lugar do peso (em se tratando das toneladas que
o Boris costuma moldar, é claro).
Interpol – Our Love To Admire
O disco mais recente dos nova-iorquinos foi
implacavelmente detonado pela crítica em 2007, muito
pelo fato de ser o primeiro lançamento deles numa
gravadora major. Nada mais previsível, principalmente
por se tratar de uma banda que explodiu nos arredores
semi-independentes de 2002. Mas o principal motivo pelo
qual encaixei "Our Love To Admire" na lista foi a
razoável satisfação que tive em escutá-lo frente aos
outros pouquíssimos discos majors que ouvi durante o
ano. Não que ele seja imprescindível: na verdade, ele
até pode ser o disco mais fraco do catálogo do
Interpol. Entretanto, como suas músicas acabaram não
fugindo muito do livro de receitas da banda, não se
ganhou muito mas também não se perdeu quase nada.
Estão lá as guitarras secas, os climas sombrios e os
singles ganchudinhos. "The Heinrich Manouver" e
"Mammoth", os dois hits, são competentes em suas
funções, mas podem deixar a desejar se comparados com
outros momentos do Interpol. Assessorado por Rich Costey
(Block Party, Franz Ferdinand), o Interpol buscou
algumas alternativas para pincelar o novo som,
incorporando instrumentos como piano e teclados de forma
um tanto significativa, o que acabou influenciando
consideravelmente o resultado final. "No I In Threesome"
é melodicamente interessante, com bom refrão. "All Fired
Up", "Rest My Chemistry" e "Who Do You Think" poderiam
figurar no disco anterior. E "The Lighthouse" não deixa
de ser uma mudança interessante, mesmo que ainda muito
incipiente.
Na melhor das hipóteses, "Our Love To Admire" é o primo
pobre de "Antics", que mesmo com todo o esforço, não
conseguiu honrar com brilhantismo o brasão da
família. Talvez o fato dele estar nesta lista mostre o
quão calamitosa foi a proposta artística das grandes
gravadoras. Mas quem se importa com isso, não é?
Orthodox – Amanecer en Puerta Oscura
Em seu disco de estréia, "Gran Poder", os espanhóis do
Orthodox deixaram bem claro que escutaram muito Black
Sabbath durante a adolescência. Mas ao contrário de
tantos outros que enveredaram pelo stoner, o Orthodox
preferiu puxar a influência para o doom, mais lento e
massivo, porém com um efeito sempre peculiar. Mesmo
nesse panorama positivo, o bom disco de estréia deixou
uma sensação de que a banda podia ir além, o que
realmente aconteceu em seu segundo disco, "Amanecer en
Puerta Oscura".
Embora desejado, era impossível imaginar que a banda
quebraria suas barreiras com apenas um disco. "Amanecer
en Puerta Oscura" extrapola os limites do metal,
acomodando-se com muita propriedade nos domínios do jazz
e da música experimental. "Con Sangre de quien te
ofenda" começa o disco de forma 100% jazzística: ritmos
quebrados, baixo vigoroso e sopros escondem a vertente
pesada que a banda explorará ali adiante, quando "Mesto,
Rigido e Ceremoniale" e "Solemne Triduo" dão as caras
com uma vertente mais familiar a quem já conhece o
Orthodox. O disco ainda mergulha em dois ambients
recheados de avant-garde (sendo que "Puerta Osario", tem
um quê de Dylan Carlson). Em "Amanecer em Puerta Oscura"
o Orthodox reciclou suas influência e criou um monstro
todo seu, muito particular, elaborado com muita
confiança. Não perde em nada para grandes medalhões do
gênero experimental.
Boris with Merzbow – Rock Dreams
Quem já ouviu Masami Akita sabe que seu alter-ego
Merzbow executa toda e qualquer possibilidade sonora
existente nos laptops e eletrônicos, numa conjugação
quase insuportável. O resultado é em 99% das vezes
perturbador, afinal de contas, um dos papas do noise não
está na posição de pioneirismo por acaso.
"Rock Dreams" é um disco duplo com a gravação de um show
no Earthdom, Tóquio, onde ao contrário do que geralmente
acontece nas colaborações de Akita, quem dá as cartas é
o Boris. O show em questão é todo calcado em composições
da banda, principalmente no aclamado "Pink", onde o que
predomina é a atuação do trio desancando seus massivos
volumes de guitarra, baixo e bateria. Coube a Merzbow
acompanhar a banda "on the fly", largando uma cobertura
consistente de noise eletrônico que no caso de "Rock
Dreams", funcionou perfeitamente. Há coerência no
encontro das sonoridades, pois a mão de Akita ao invés
de provocar repulsa e se apropriar da atenção do
ouvinte, atuou como um quarto instrumento, levando a
sensação de sujeira para patamares ainda maiores que o
Boris tradicionalmente produz. O primeiro disco explora
o lado experimental do trio, onde o drone e o doom
predominam. O segundo disco começa com quatro faixas
punks de "Pink", para depois cair em mais uma catacumba
sonora e em seguida retornar à sonoridade anterior, mais
acessível. Um belo encontro de duas legendas da música
japonesa contemporânea, merecidamente colocado a nosso
dispor.
Ulver – Shadows Of The Sun
Os noruegueses do Ulver começaram sua carreira em 1993
misturando black metal com folclore regional. Após três
sucessivos discos dentro daquela proposta, passaram a
desenvolver seu som ao ponto de quebrar barreiras
inimagináveis, alcançando outros terrenos como o
industrial, o eletrônico e o avant-garde.
"Shadows Of The Sun" é o capítulo mais recente desta
saga, com o Ulver baseando suas composições num forte
caráter emocional, casando-as muito bem com a sonoridade
contemplativa e intimista que permeia o
disco. Indiferente a rótulos e barreiras sonoras, a
banda compôs um disco que mescla fortes elementos
sinfônicos com ambient, toques de avant-garde e até
new-age. Embora não recorra a nenhum elemento
tradicional do metal, "Shadows Of The Sun" é mais
sombrio do que muitos discos do gênero, de onde
contrasta um interessante sentimento de desolação com a
suavidade dos vocais e do piano onipresente. Uma grata
surpresa de 2007, que cresce consideravelmente à medida
que as audições se sucedem.
Burial Chamber Trio – Burial Chamber Trio
Um projeto de 3/4 do SunnO))), Burial Chamber Trio é
Greg Anderson, Oren Ambarchi e o absurdo Attila
Csihar. Correspondendo ao que se pode esperar desse
encontro, o disco reúne mais experimentações em torno de
oscilações sonoras e esgotamento de timbres. Nada muito
novo para quem freqüenta essas praias, no entanto, a
massa sonora é tão intensa que o disco acaba se
distanciando um pouco dos demais. Com Anderson no baixo
e Ambarchi em seu tradicional laptop, a gravação
distorce, oprime e sobrecarrega os graves das caixas,
justamente como o ouvinte poderia requisitar. O panorama
de peso e obscuridade transcende a sisudez do SunnO)))
com as intervenções sempre inusitadas de Attila, que
agrega performances xamânicas e tribais ao seus
tradicionais cânticos, dando um caráter bastante
descompromissado ao projeto. Nada revolucionário, mas
uma grata surpresa para os que convivem com essa
vertente musical.
E a decepção do ano:
Smashing Pumpkins – Zeitgeist
Billy Corgan fez um esforço imenso para tentar me
convencer que os Smashing Pumpkins eram ele e o
baterista Jimmy Chamberlin. De quebra, quis me mostrar
que os Pumpkins ainda não tinham cumprido com sua missão
no planeta Terra, puxando da manga a ressurreição de uma
das maiores legendas do rock alternativo dos anos
90. Todo esse plano mirabolante culminou em "Zeitgeist",
que encontrou muitos alvos, menos os que originalmente
deveria ter encontrado: me convencer que ele e Jimmy
eram os Pumpkins e que a banda realmente precisava
ressurgir das cinzas.
Resumo
3 citações: Black Rebel Motorcycle Club - Baby 81
3 citações: Wilco - Sky Blue Sky
2 citações: Arcade Fire - Neon Bible
2 citações: Dinosaur Jr - Beyond
2 citações: Radiohead - In Rainbows
1 citação: Albert Hammond Jr - Yours to Keep
1 citação: Boris with Merzbow - Rock Dreams
1 citação: Boris with Michio Kurihara - Rainbow
1 citação: Burial Chamber Trio - Burial Chamber Trio
1 citação: Converge - No Heroes
1 citação: Grinderman - Grinderman
1 citação: Interpol - Our Love To Admire
1 citação: Meat Puppets - Rise to Your Knees
1 citação: Modest Mouse - We Were Dead Before The Ship Even Sank
1 citação: Orthodox - Amanecer En Puerta Oscura
1 citação: Pelican - City of Echoes
1 citação: Rasputina - Oh Perilous World
1 citação: Silverchair - Young Modern
1 citação: Siouxsie - Mantaray
1 citação: Ulver - Shadows of the Sun