O ano era 1997. O Radiohead lança
um dos melhores discos de todos os tempos, OK Computer (na minha
humilde opinião, o melhor). Vende como água no mundo todo,
a banda é saudada como a melhor do planeta, a turnê rende horrores
e os rapazes tocam em 3 cantos do mundo (é, só a América do Sul
ficou de fora...). O grande problema veio depois: a ressaca de
toda essa exposição: crises existenciais, bloqueios criativos,
falta de direção pra preparar um novo disco... Até que conseguiram
chegar a um resultado. Aliás, dois. A reação em todo o planeta
foi de surpresa absoluta. Ninguém estava preparado para a ousadia
de Thom Yorke e sua trupe. E é dos subestimados Kid A e Amnesiac
que eu vou falar.
Depois do sucesso de OK Computer
os rapazes do Radiohead naturalmente decidiam como seria o próximo
disco, que, com certeza, viria com muita pressão. OK Computer tinha
como destaques excelentes intervenções eletrônicas no guitar rock
da banda, além de resvalar também no rock progressivo (choveram
comparações com Pink Floyd). E apesar disso, o guitarrista Ed O'Brien
queria dar atenção às guitarras, fazer um disco orgânico, com pouco
ou quase nada de eletrônica. Palavras do líder Thom Yorke: "Não
haveria a menor possibilidade de um disco assim. Não me interesso
mais por melodia. Só quero saber de ritmo". Foi assim que veio Kid
A, em 2000. As músicas (músicas?) mais pareciam colagens, mosaicos.
Guitarras? Nada disso. Quando muito apareciam, estavam sintetizadas.
Letras ainda mais desesperadoras que no disco anterior, com direito
a narração de um acidente de navio (!). Os efeitos e samples agora
rolavam de forma até abusada. A reação? O público levou um choque
poucas vezes visto na história da música. Muita gente não conseguiu
compreender Kid A. A crítica, claro, amou. E o disco virou sinônimo
de Sgt Peppers do século 21 (rótulo melhor, impossível). Só música
sensacional: "Idioteque", "How To Dissapear Completely",
"Everything In It's Right Place"...
Mas todo mundo sabia que haviam muito
mais canções do que as 10 incluídas em Kid A. "Knives Out",
por exemplo, era tocada em todos os shows da época, e era uma das
que lembrava um pouco as coisas mais antigas deles. Então a banda
anunciou para maio de 2001 o disco Amnesiac, com algumas sobras
de Kid A. Antes do lançamento chegaram a rolar boatos fortíssimos
de que o disco remeteria completamente a outros discos, como The
Bends. Mas no lançamento se comprovou que se tratava de um "Kid
B". O que aliás continou muito bom, pois Kid A é um dos melhores
discos já feitos. O grande problema foi que, ao contrário do primeiro,
Amnesiac não causou impacto nenhum, pois todos já sabiam o que esperar
do novo Radiohead (em 2000, no mundo da música, a pergunta mais
feita foi "o que você achou do novo Radiohead?"), e isso acabou
prejudicando um pouco o rendimento do álbum. Nada demais, pois ali
estava uma nova fornada de clássicos: "I Might Be Wrong", "Pyramid
Song", a já citada "Knives Out", além de uma nova versão
de "Morning Bell", canção de Kid A.
Agora em fevereiro de 2002 saiu o
disco ao vivo I Might Be Wrong, com 7 músicas tiradas dos dois discos,
além de um b-side, a maravilhosa "True Love Waits". As más-línguas
dizem que a razão de existir desse live recordings seria uma espécie
de "fechamento" da fase Kid A/Amnesiac. Ao poucos isso parece se
confirmando, pois Yorke, numa entrevista, disse que o novo álbum
será mais focado e menos neurótico. Será que teremos um novo The
Bends, ou Pablo Honey? Quem sabe um OK Computer? Acho que nenhum
deles, pois eu duvido que uma banda tão genial queira se repetir.
Como vai ser o disco novo então? Como dizia aquela bela canção de
Brian Wilson, god only knows...
TEM QUE OUVIR:
Radiohead - Idioteque
Radiohead - Knives Out
Radiohead - True Love Waits
Radiohead - Lift (b-side, como aliás tem vários outros muito bons)
Jonas
Lopes, 18, é auxiliar de escritório, aspirante a músico e apaixonado
por Rock N'Roll.
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