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Quando se fala em Led Zeppelin
a grande maioria das pessoas se lembra do quarto disco,
aquele sem nome, chamado por alguns de Four Symbols, com
o velhinho na capa, cheio de sucessos ("Black Dog", "Rock
And Roll" e o standard máximo "Stairway To Heaven"). Tá
bom, alguns metaleiros ainda preferem o segundo disco. |
Os críticos malas de plantão amam o Physical Graffitti. Mas
o que pouca gente percebe é que o grande clássico do quarteto
está escondido, bem no meio dessa discografia maravilhosa.
É, o esquecido e maravilhoso Led Zeppelin III.
Em 70 a moral do Led estava nas alturas.
Dois discos sensacionais, turnês intermináveis e o principal,
o som pesadão. Led era sinônimo de decibéis, potência sonora
e gordura nas guitarras. E isso andava tirando o sono de Jimmy
Page. Unindo o útil ao agradável, a banda se trancou num sítio
bucólico em Bron-Y-Aur, no País de Gales, para descansar e
gravar o terceiro disco. Page carregou sua Les Paul amada
sim, mas arrumou na bagagem espaço para violões Martin. O
maestro John Paul Jones, por sua vez, carregou um arsenal
de banjos, bandolins e seu órgão delicioso. O disco veio completamente
diferente: o som era quase todo acústico, com nuances indianas,
algumas coisas celtas, country e muita inspiração e criatividade.
É, som acústico sim. Mas
tem rock n'roll também! A faixa de abertura é a sensacional
"Immigrant Song", o maior sucesso comercial do disco. Destaque
para as batidas cavalgadas que muito metaleiro gosta de imitar
até hoje. Curiosidade para fãs: saiu o single dessa música e
vale procurar na net o lado B, a excelente "Hey Hey What Can
I Do", que poderia perfeitamente estar no disco. Muito boa!
"Friends" já é regada por violões. Complexíssimos por sinal,
muitos acordes, influência oriental, bastante bonito. "Celebration
Day" é uma alegre celebração roqueira. Aqui Robert Plant brilha
com vocais magníficos. O solo é de derrubar qualquer mortal.
Heresia. Vem aí a melhor do disco. Corrigindo, a melhor de toda
a carreira dos caras. Eu simplesmente poderia escrever o texto
inteiro sobre ela, sobre o poder de cada acorde, cada compasso:
"Since I've Been Loving You", o mito. O blues cheio de feeling,
gravado ao vivo no estúdio, de uma vez só. Só os quatro. Todo
mundo arrebentando. Plant com aquele gosto de bourbon, como
se estivesse cantando com uma garrafa de whisky na mão; Jones
só no órgão, fazendo o baixo no pedal. John Bonham (o maior!
O maior de todos os tempos!!!) com sua bateria folheada com
alumínio, um som que até hoje tentam imitar. E Page... Nossa,
Jimmy com o diabo no corpo. A cada riff. A cada solo matador.
E os agudos de Plant fazendo você pensar o quanto o ama o rock
n'roll. 7 minutos e 23 segundos perfeitos. E você está
sujeito a derramar umas lágrimas. Nada vergonhoso não, viu?
A primeira metade de Led Zeppelin III termina com "Out On The
Tiles", rockão, que o chupador profissa Lenny Kravitz gostaria
de ter no seu Are You Gonna Go My Way.
Começa o lado-b. E começa muito bem.
É "Gallows Pole" na fita. Raízes celtas, flamenco, dedilhados
na viola, tudo no lugar. Um dos melhores refrões do disco. E
viva o folk. Começa outra sequência DAQUELAS sabe? "Tangerine"
é a grande balada do Led. Muito mais que os lampejos hippies
de "Stairway...". Feeling de sobra (tanto que eles erram a introdução
e começam de novo), um pedal steel delicioso dando um toque
country, quase caipira. Delicadeza arrebatadora. Se não fosse
o bastante, ainda tem um solo elétrico. É, Jimmy cruel. Linda
mesmo! "That's The Way" segue na mesma linha e é ainda mais
sossegada. É a música que anima o ledzeppeliniano filme Quase
Famosos (a primeira vez que eles liberaram uma música para uma
trilha sonora). "Bron-Y-Aur Stomp", uma ode ao local de gravação,
tem violões ainda mais complexos que as outras. E é ainda mais
country que "Tangerine" E é mais animada também. "Hats Off To
(Roy) Harper" fecha o disco com chave de diamante! Como o cara
conseguiu um slide daqueles? É realmente de rachar a cuca dos
ouvintes. O Led foi, com toda a certeza, a mais perfeita combinação
técnica entre quatro músicos.
Led Zeppelin III foi lançado em outubro
de 70, permanecendo por quatro semanas no primeiro lugar das
paradas norte-americanas. A banda continuou genial, lançando
o quarto disco que fez ainda mais sucesso. E nada de cair a
qualidade. Banda clássica é desse jeito. Por tudo isso e muito
mais, esses quatro cabeludos foram os maiores dos anos 70, adorados
até hoje e eternizados para o resto da existência humana.
TEM QUE OUVIR:
Led Zeppelin - Celebration
Day
Led Zeppelin - Since I've
Been Loving You
Led Zeppelin - Tangerine
Led Zeppelin - Hey Hey
What Can I Do (b-side)
Stone Temple Pilots - Dancin'
Days (esse clássico não está no III, mas a versão do STP tem
um arranjo muito inspirado aqui)
Jonas
Lopes, 18, é auxiliar de escritório, aspirante a músico e apaixonado
por Rock N'Roll.
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