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A Banda:

Cracker
Formado em 1991, Santa Cruz, California

Integrantes:
David Lowery- vocal e guitarra
Johnny Hickman - vocal e guitarra

demais integrantes e ex-integrantes:
baixistas: Davey Faragher / Bob Rupe / Brandy Wood / Victor Krummenacher

Bateristas: Rick Jaeger / Jim Keltner / Michael Urbano / Phil Jones / Charlie Quintana / Eddie Bayers / Johnny Hott / Frank Funaro

Tecladistas: Kenny Margolis / Jonathan Segel

Guitarristas: Greg Lisher / David Immerglück

Biografia:

Se um dia os anos 90 forem revisitados com tanto afinco quanto os 80, é possível que uma banda como o Cracker possa receber uma segunda chance de ser ouvida por mais pessoas. Ou talvez não, já que esses revivals costumam pender mais ao lado mais caricato (leia-se trash) de determinada época. De qualquer forma, o Cracker, mesmo não figurando entre os nomes mais influentes e conhecidos, marcou presença a partir a década de 90, construindo uma trajetória coerente com sua proposta e seu surgimento, cativando um reduzido, porém ativo grupo de fãs e simpatizantes pelo caminho.

Assim com o contemporâneo Sugar foi formado a partir da dissolução do Hüsker Dü, o Cracker também é descendente direto de uma banda marcante dos anos 80, o Camper Van Bethoven. David Lowery era o vocalista e guitarrista do Camper Van Bethoven, uma banda vanguardista imprevisível que misturava múltiplas sonoridades diversas, desde punk a ritmos folk eslavos. O Camper Van Bethoven teve até um hit na manga, com a clássica "Take the Skinheads Bowling", que tocou bastante nas college rádios americanas, e tinha contrato em vigor com a Virgin quando se dissolveu em 1990. Em poucos meses, Lowery formou o Cracker com o parceiro John Hickman (guitarras, vocais), herdando o contrato da Virgin e grandes expectativas.

Além de Lowery e Hickman, o Cracker contava ainda com o baixista Davey Faragher (baixo), mas não havia um baterista fixo. Ainda assim, em pouco tempo a banda já tinha repertório definido e entrava em estúdio para gravar seu primeiro álbum com o produtor Don Smith. O resultado, Cracker, álbum auto-intitulado lançado em março de 92, revelou uma sonoridade bastante diversa ao Camper Van Bethoven. Muito mais focado (ou limitado?) que a banda anterior de Lowery, o Cracker tinha um direcionamento mais voltado a um rock garageiro, influenciado pelo que é chamado de rock clássico, de raíz, muitas vezes esbarrando no country, se aproximando de bandas como Jayhawks e Wilco. Mesmo que a Virgin não tenha apostado forte no Cracker em termos de divulgação, o ano de 1992 era um momento muito favorável para bandas novas, ainda mais no caso do Cracker, uma banda com o pedigree de um passado relevante atrelado ao Camper Van Bethoven. Com isso, o single de "Teen Angst" repercutiu bem nas rádios e MTV, garantindo uma boa exposição. "Teen Angst" explorava o lado mais garageiro do grupo, com guitarras distorcidas que caíram bem entre a legião de apreciadores do som de Seattle que despontava na época. Outro destaque de "Teen Angst" evidenciava mais uma característica do Cracker: a acidez e o sarcasmo das letras.

"What the world needs now
Is another folk singer
Like I need a hole in my head"
Teen Angst


Repare na indumentária grunge dos rapazes

Além de "Teen Angst", o álbum trazia ainda "Happy Birthday To Me", também lançada como single, e "This Is Cracker Soul", até hoje entre as preferidas dos fãs. Por sinal, os fãs precisaram ser convertidos aos poucos, pois o Cracker dividiu opiniões à primeira impressão. Alguns fãs do Camper Van Bethoven e parte da crítica acusaram Lowery de optar por um caminho mais fácil com o Cracker, se aproveitando da onda grunge e escrevendo letras irônicas nihilistas de fácil apelo aos adolecentes. Sell-outs, resumindo.

A resposta do Cracker veio a base de muita turnê e trabalho sério. Já no ano seguinte chegava as lojas Kerosene Hat, também produzido por Don Smith. O novo disco reafirmava a sonoridade do primeiro álbum, contando com um single ainda mais forte, "Low". Outras músicas como “Get Off This”, “Sick of Goodbyes”, e especialmente “Euro-Trash Girl” (mais uma favorita entre os fãs), mostrava que David Lowery e John Hickman estavam cada vez mais azeitados como compositores. No entanto, foi "Low" que repercutiu. O videoclipe que mostrava cenas de boxe rodou direto na MTV levando o álbum Kerosene Hat ao número 59 na parada da Billboard americana. A esta altura, o Cracker ainda não tinha baterista fixo (pelo menos quatro bateristas passaram pelo Cracker em seus primeiros anos), e acabava de perder o baixista quando Davey Faragher deixa a banda. A partir de então se tornou evidente que o Cracker era a dupla David Lowery e John Hickman, onde quem mais estivesse com eles teria uma importância menor.


"I'll be with you girl
Like being low
Hey hey hey
Llike being stone"
Low


Johnny Hickman e David Lowery: os donos da bola

Os anos seguintes foram dedicados extensivamente às turnês e um novo álbum somente surgiria em 1996. The Golden Age, produzido pelo próprio Lowery em parceria com Dennis Herring, é um disco bastante diverso, alternando músicas mais pesadas (“I Hate My Generation”, “I’m a Little Rocketship”) com momentos mais intimistas, como na semi-acústica “I Can’t Forget You” e “Dixie Babylon”. Bob Rupe tornou-se o novo baixista da banda, enquanto na bateria continuava o revezamento de músicos convidados, foram três para a gravação do álbum. Aliás, a lista de músicos convidados em The Golden Age é enorme, evidenciando o cuidado especial da banda com os arranjos, contando até com arranjo de cordas em algumas faixas. No entanto, por volta de 1996 o rock alternativo vinha perdendo destaque nas paradas, mesmo as bandas grandes viram suas vendas minguarem, e com o Cracker não foi diferente. O disco repercutiu menos que Kerosene Hat, e a partir de então a banda ficou mais restrita ao seu próprio círculo de fãs.


David Lowery: sem mais hits para o Cracker

“I hate my generation
I offer no apologies
Oh, I hate my generation
Yeah”
I Hate My Generation

Após a turnê de divulgação do álbum The Golden Age, David Lowery esteve envolvido em diversas atividades extra-banda. Em seu próprio estúdio, o Sound of Music em Richmond, Virginia, ele trabalhou como produtor com bandas como Sparklehorse, Counting Crows e Magnet, além Joan Osborne, retribuindo um favor, já que a cantora havia emprestado seus vocais para o Cracker fazendo backing em faixas de The Golden Age. Lowery também atuou no cinema (!), atuando no filme independente River Red, de 1998 (mais tarde ele repetiria a dose em This Space Between Us, lançado em 2000).

Em 1998, o Cracker volta a trabalhar com o produtor Don Smith no álbum Gentleman’s Blues. O disco continuava o caminho trilhado pelo álbum anterior, com forte presença de músicas mais lentas e intimistas, sem abandonar o lado rock and roll. A novidade é que primeira vez a banda contaria com um baterista fixo na formação, com Frank Funaro tomando conta das baquetas com sua batida à la Stones, grande influência do grupo. O disco foi solenemente ignorado pelas paradas (número 192 na Billboard), mas o sucesso comercial já não era perseguido pelo Cracker já há algum tempo.

Em 2000 surge a retrospectiva Garage d’Or, coletânea reunindo as faixas mais conhecidas da banda, além das tradicionais três faixas inéditas. Para a mídia, o lançamento de coletânea é um indício do fim de uma banda, mas não no caso do Cracker. Garage d’Or na verdade foi o fim de um ciclo, com a banda sendo dispensada da Virgin logo em seguida. Era a volta à independência, o início de um novo caminho trilhado, ironicamente, ao lado do Camper Van Bethoven.

"Both Camper and Cracker always had grand commercial ambitions. Camper wanted to be the Beatles, but we didn't really succeed. Cracker wanted to be the Rolling Stones -- we wanted to be a great rootsy rock band -- but we didn't really succeed either. We ended up being the Kinks."
David Lowery


O combo Cracker / Camper Van Bethoven

Ainda em 2000, quando o Cracker estava se preparando para a turnê de divulgação para Garage d’Or, a banda mais uma vez ficou sem um baixista, com a saída de Bob Rupe. Com isso, Lowery chamou o ex-parceiro de Camper Van Bethoven Victor Krummenacher para tocar na turnê e a partir daí surgiu a idéia de reunir o próprio Camper Van Bethoven. Com os demais ex-integrantes do CVB apoiando a idéia surgiu uma grande turnê com as duas bandas. Era como se o Breeders fizesse os shows de abertura da turnê de reunião dos Pixies, mas no caso foi melhor ainda, integrantes do Cracker e do CBV se misturavam no palco, alternando releituras de músicas do Cracker, os clássicos do Camper e músicas de projetos paralelos de vários dos integrantes. Foi uma festa.

O Camper Van Bethoven acabou voltando a ativa de verdade, voltando a lançar álbuns desde então, mas isso não significou o final do Cracker. Em 2002 foi lançado Forever pelo selo Back Porch, que vinha acompanhado de um disco ao vivo na prensagem inicial. No ano seguinte foi a vez de Countrysides, curioso projeto que reúne covers de clássicos da música country, gravados como uma banda country o faria. O disco surgiu de um projeto paralelo de Lowery e Hickman chamado Ironic Mullet, onde eles se apresentavam em bares country tocando covers. Foi tudo uma grande brincadeira, que na verdade revelava o apreço pela música country, elemento presente no Cracker desde a formação da banda. É irônico perceber na trajetória do Cracker um movimento contrário ao do Wilco, por exemplo. No início de carreira, o Wilco tinha os pés fincados no country-rock e aos poucos foi agregando outros elementos que culminaram nos álbuns Yankee Hotel Foxtrot e A Ghost Is Born, discos aclamados de rock alternativo. Já o Cracker surgiu em meio ao turbilhão do rock alternativo e aos poucos foi tomando distância dessa cena, culminando com o lançamento de um álbum totalmente focado no country.

Nos anos seguintes, tanto Cracker quanto Camper Van Bethoven seguiram na estrada, ao mesmo tempo em que Johnny Hickman estabeleu uma carreira-solo, lançando o álbum Palmhenge em 2005 enquanto o Cracker planeja um novo álbum para 2006.

Alexandre Luzardo
nov/2005

Álbums:
Discos Oficiais de Estúdio Ano
Cracker 1992 (Virgin)
Kerosene Hat 1993 (Virgin)
The Golden Age 1996 (Virgin)
Gentleman's Blues 1998 (Virgin)
Forever 2002 (Virgin / Backporch)
Countrysides 2003 (iMusic)
Outros lançamentos Ano
Bob's Car 1995 (independente)
Garage d'Or [coletânea] 1988 (Virgin)
Flash Your Sirens [ao vivo] 1989 (Pitch a Tent)
Hello Cleveland [ao vivo] - Reino Unido 2002 (Crooked Vynil)
Oh Cracker Where Art Thou? 2003 (Pitch a Tent)
Live at Wavefest [ao vivo] 2005 (Pitch a Tent)