O
Início da Carreira:
Logo que o Jesus And Mary Chain lançou seus primeiros singles
na Inglaterra em 1985 parecia que a banda iria tomar o mundo
de assalto, tamanho foi o impacto e a repercussão de sua sonoridade
revolucionária. Muitos jornalistas diziam na época que o JAMC
seria o "novo Sex Pistols", o que acabou não se confirmando
(em termos de popularidade). Com o passar dos anos, a banda
ficava cada vez mais restrita ao circuito da música alternativa,
onde eram cultuados e considerados geniais por uma geração
inteira de bandas novas mas a verdade é que o JAMC jamais
se tornou um conhecido do grande público.
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A
espinha dorsal do grupo sempre foi os irmãos William
e Jim Reid (na verdade, os únicos remanescentes durante
toda a trajetória do grupo), que nasceram em Glasgow
na Escócia e passaram a juventude ouvindo Velvet Underground,
Ronettes, Beach Boys e Sex Pistols. |
Depois
de alguns anos tocando juntos e escrevendo músicas sem nenhuma
pretensão, o projeto se torna sério quase que por acidente.
Tocavam com eles Douglas Hart no baixo e o baterista Murray
Dalglish, logo em seguida substituido por Bobby Gillespie
(que mais tarde formaria o Primal Scream). E foi Bobby Gillespie
quem passou uma fita demo do grupo para o empresário Alan
McGee, que na época estava começando uma nova gravadora, a
Creation Records (que mais tarde se tornou uma das mais influentes
do Reino Unido). O entusiasmo de Alan McGee pela fita demo
foi tão grande que o Jesus And Mary Chain se tornou uma das
primeiras apostas do recém criado selo Creation. Ainda em
1984 foi lançado o single de "Upside Down". Foi uma estréia
sensacional, que começava a mostrar os segredos do grupo,
o resgate e a mistura de excelentes e irresistíveis melodias
ao estilo Beach Boys, o ar soturno do Velvet Undergound e
uma "parede" de guitarras distorcidas e barulhentas, além
da atitude punk rock. Hoje em dia, isso pode até não ser nada
novo, mas para a época foi de fato revolucionário, e uma enormidade
de bandas surgidas a partir do final dos anos 80 foram refletiam
a influência do JAMC.
O Furação Psychocandy:
O fato é que o single de "Upside Down" foi recebido com rasgados
elogios da crítica e vendeu muito mais do que qualquer um
poderia esperar. Depois do single também começaram os primeiros
shows por cidades importantes do Reino Unido, inclusive uma
série de shows incendiários em Londres. As primeiras apresentações
do Mary Chain na capital britânica eram recheados de incidentes,
depois de horas de atraso, ao subir ao palco (normalmente
mostrando um indisfarçável consumo de álcool), a banda dava
às costas ao público, virando-se para os amplificadores. Depois
de 15 minutos de barulheira poderiam ser reconhecidos alguns
acordes da música que eles estavam tocando (normalmente "Jesus
Fuck", uma das favoritas da época). Muitas vezes acontecia
a maior pancadaria no público e ao invés de acabar com um
"bis", as primeiras apresentações do Mary Chain acabavam com
a chegada da polícia.
A recém fundada Creation logo se tornou pequena demais para
a banda, que acabou assinando com uma subsidiária da Warner
na Inglaterra, chamada Blanco Y Negro, onde foram lançados
os singles "Never Understand", "You Trip Me Up" e "Just Like
Honey". Todos fizeram um moderado sucesso, embora nenhum deles
tenha vendido tanto quando "Upside Down", os novos lançamentos
apenas aumentaram o prestígio do grupo. Misturando elementos
tradicionais do pop com as guitarras do rock de garagem dos
anos 70, não foram poucos a dizer que o Jesus and Mary Chain
tinha "reinventado o punk rock". No fim de 1985 foi lançado
o LP Psychocandy", que continha todos os singles, e mais algumas
músicas da mesma qualidade. Definitivamente um clássico!
Mas não foi um disco de grande sucesso comercial, infelizmente.
"Psychocandy" acabou não entrando nem entre os 30 mais vendidos
na Inglaterra e foi praticamente ignorado nos Estados Unidos.
Algum tempo depois, Gillespie deixa a banda, que fica um tempo
parada. O Mary Chain só reaparece em 1987 com o lançamento
de "Darklands". O novo disco dispensava um pouco o barulho,
enfatizando mais as melodias em arranjos mais limpos e uso
de bateria eletrônica. A repercussão do disco foi bastante
curiosa. Enquanto que os críticos consideraram "Darklands"
um trabalho bem inferior a "Psychocandy" (a verdade é que
o Mary Chain jamais iria igualar a aclamação recebida pelo
seu primeiro álbum), o disco foi o de maior de sua carreira,
atingindo o 5º lugar da parada britânica, principalmente graças
ao single "April Skies", igualmente o maior hit da carreira
do grupo.
Mesmo com tão pouco tempo de carreira, o JAMC já possuía,
em 1988, sobras de estúdio, lados B, raridades suficientes
para uma coletânea. E foi assim que surgiu "Barbed Wire Kisses",
disco obrigatório para quem acompanha a carreira do Mary Chain.
Entre as músicas deste álbum, destaca-se um cover/paródia
de "Surfin' USA" do Beach Boys, influência decisiva no som
dos irmãos Reid.
No ano seguinte foi lançado "Automatic", terceiro álbum do
grupo. John Moore, o baterista que havia substituido Bob Gillespie
nos shows ao vivo da banda, praticamente não participou das
gravações do álbum, com a banda optando mais uma vez pela
bateria eletrônica. Dessa vez, até algumas linhas de baixo
eram provenientes de sintetizadores, o que foi considerado
uma estratégia da banda para ter mais receptividade nos Estados
Unidos (o que não aconteceu). A produção de "Automatic" ficou
a cargo do então iniciante Alan Moulder (que mais tarde trabalharia
com grandes nomes como U2, Smashing Pumpkins). Mas mesmo tendo
boas músicas, como "Head On" (música que o Pixies gravou cover
em 1992, no disco "Trompe Le Monde") e "Sidewalking", e o
bom trabalho de Moulder, "Automatic" traz as limitações inerentes
ao uso das baterias eletrônicas e sintetizadores. O disco
foi recebido com frieza pela crítica e público ingleses e
mais uma vez passou completamente despercibido pelos Estados
Unidos. Enquanto o Primal Scream, do ex-baterista Bobby Gillespie
se tornava ídolo da noite para o dia, o Jesus And Mary Chain
passava a ser considerado uma banda ultrapassada pela exigente
imprensa britânica.
Os Anos 90:

os irmãos Reid na foto
com Ben Lurie
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Mas as coisas melhoram em 1992, com o álbum "Honey's
Dead", um disco comparativamente mais equilibrado
do que que "Automatic". "Honey's Dead",
também produzido por Alan Moulder, trazia o Mary Chain
com uma formação revigorada, contando com um novo baterista,
Steve Monti (que tocava também na banda Curve), embora
o baixista Douglas Hart já não pertencesse mais ao grupo.
O baixista passa a ser Ben Lurie que já havia tocado
no Mary Chain como segundo guitarrista em algumas turnês. |
"Reverence", o primeiro single tirado de "Honey's
Dead", é a segunda música da carreira do JAMC a alcançar o
Top 10 britânico (embora isso em deva em parte a polêmica
letra: "I wanna die like Jesus Christ, I wanna die like JFK").
Nessa época a banda participa de grandes turnês, ao lado de
My Bloody Valentine, Dinosaur Jr. e Blur na Inglaterra e como
uma das atrações da primeira edição do festival Lollapalooza
nos Estados Unidos. A turnê nos EUA finalmente resulta em
algum interesse do público americano pelo Jesus and Mary Chain.
Naquela época o rock alternativo tinha grande destaque na
mídia e cruzava definitivamente às fronteiras do underground.
Eram incontáveis as bandas e artistas que citavam o JAMC como
uma banda importante e influente. Mesmo no Brasil, onde a
MTV estava apenas começando e ainda dava grande destaque ao
rock alternativo, o Jesus and Mary Chain era bastante citado
e o videoclip de "Reverence" tinha rotação garantida. Foi
a primeira vez que o Jesus and Mary Chain conquistava algum
espaço de destaque fora do Reino Unido.
No ano seguinte, surge "The Sound of Speed", a segunda
coletânea de raridades e sobras de estúdio, esta cobre
o período entre 1989 e 1992 (entre os álbuns "Automatic"
e "Honey's Dead"). |

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O próximo álbum inédito é o surpreendente "Stoned and Dethroned",
de 1994. Bem mais suave que os anteriores, quase acústico,
"Stoned and Dethroned" tinha como destaque a participação
da vocalista Hope Sandoval (da banda Mazzy Star) na bela balada
"Sometimes Always". Essa música faz um grande sucesso nos
EUA, levando o Mary Chain às posições intermediárias da parada
da Billboard (feito inédito na carreira do grupo). Mas na
Inglaterra, "Stoned and Dethroned" acabou passando meio despercebido
e a banda acabou sendo dispensada da gravadora Blanco y Negro
(que garantia a distribuição da Warner nos EUA).
O single de despedida pela Blanco y Negro foi da barulhenta
e amarga "I Hate Rock 'N' Roll", que, nos Estados Unidos acabou
lançado como a terceira coletânea de raridades do Mary Chain,
também chamado "I Hate Rock 'N' Roll". Entenda a confusão:
a coletânea "The Sound of Speed" foi lançada somente na Inglaterra
e, três anos depois é lançado, somente nos Estados Unidos,
"I Hate Rock 'N' Roll", que contém material da coletânea inglesa
com mais algumas faixas inéditas. A culpada do disparate é
a gravadora American Recordings (antiga Def American) que
obteve o contrato da banda que estava pendente junto ao Warner
americana.
O imbróglio das gravadoras continuou para o próximo álbum
inédito. No Reino Unido, a banda volta as origens assinando
com a Creation. Nos Estados Unidos, o próximo álbum seria
lançado pela SubPop e no restante do mundo (inclusive no Brasil)
o disco seria distribuído pela Sony Music, que mantém contrato
de distribuição com a Creation (exceto nos EUA).
O próximo disco, que viria a ser a despedida do grupo, surge
em 1998, "Munki". É talvez o álbum mais eclético do Mary Chain,
com músicas que relembram vários momentos da sua carreira.
Até um novo dueto com Hope Sandoval está presente, mas desta
vez, o disco não faz muito sucesso nas paradas (em parte devido
a fragilidade da divulgação da SubPop nos EUA). "Munki" ironicamente
começa com a música com "I Love Rock 'N' Roll" e fecha com
"I Hate Rock 'N' Roll". De certa forma, essa ironia resume
a relação do Jesus and Mary Chain com a mídia, eles que foram
idolatrados/ignorados ao longo de sua carreira, jamais atingindo
o tamanho que todos previam que pudesse atingir quando do
lançamento de "Psychocandy".
No dia 12 de Setembro de 1998, durante um show lotado no House
of Blues em Los Angeles, os irmãos Reid têm uma briga séria
e pode-se dizer que naquele momento acontece o fim da banda.
O JAMC ainda continuou a cumprir os shows agendados daquela
turnê sem a presença de William Reid nos Estados Unidos e
Japão. Depois da turnê o Jesus and Mary Chain encerrou as
atividades, embora o anúncio oficial do fim da banda só tenha
surgido em Outubro de 1999.
Hoje em dia William Reid ainda atua na música, usando os nomes
Lazycame, William, Ravenscraeg and CNYK. Jim Reid e Ben Lurie
formaram uma nova banda, chamada Freeheat.
Alexandre Luzardo
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