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A carreira
do Lemonheads começava a engrenar depois de dois
discos lançados, "Hate Your Friends"
e "Creator". Mas foi em 1988 com o lançamento
de "Lick", que a banda realmente fez barulho
no underground americano, assinando com uma grande gravadora
logo em seguida.
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Até então, o
Lemonheads era adepto de uma sonoridade pesada e furiosa,
intensamente derivada do hardcore. Em "Lick", as
composições da banda começam a mostrar
mais personalidade ao mesmo tempo em que revelam uma sensibilidade
pop que se tornaria uma marca registrada na banda.
Na época, Ben Deily
e Evan Dando dividiam as composições na banda.
Dividiam mesmo, não havia colaboração,
e disso surgiu uma espécie de disputa interna que fica
óbvia ouvindo o disco, cujo principal problema é
a inconsistência e por vezes incoerência.
O disco abre com a belíssima
"Mallo Cup", de longe a melhor composição
do disco e a melhor música da carreira do Lemonheads
até então. "Mallo Cup" é uma
balada que reflete influências folk, embora tenha seus
momentos de peso. A letra é de uma singeleza comovente
("Here I am outside your house at 3 A.M. / Try'n to think
you out of bed / I whistle at your sill /
it echoes 'cross the street instead"). Um belo refrão
e a interpretação na voz delicada de Evan Dando
completa tudo o que seria necessário para termos aí
um clássico da banda!
"Glad I Don´t Know"
volta a exercitar a veia punk do Lemonheads, sem muito entusiasmo,
abrindo espaço para a primeira composição
de Deily no disco, o competente punk pop de "7 Powers".
Evan Dando toma as rédeas de novo em "Circle of
One", outra balada bacana e com um belo arranjo. "Cazzo
di Ferro", também de Dando, corta o clima com
um riff heavy metal, solos virtuosos e um vocal furioso em
italiano que soa como uma grande brincadeira. Ben Deily reaparece
nos vocais em "Anyway", mais um punk pop, que mesmo
não sendo ruim, não está a par das músicas
de Evan Dando. Na seqüência surge o cover de "Luka"
de Suzanne Vega, que injustamente se tornou a música
mais conhecida do disco. Não que a versão não
tenha agradado, pelo contário, o Lemonheads colocou
um tempero elétrico e distorcido ao hit folk de Suzanne,
cantado fielmente por Evan Dando. Em seguida o disco retoma
sua veia punk, na furiosa "Come Back D.A." e no
cover de "I Am a Rabbit" do Proud Scum. Essa última
é particularmente bem sucedida, com a execução
de categoria da banda. Mas o melhor do Lemonheads punk está
em "Sad Girl", mais uma de Evan Dando, mas Deily
dá uma ajuda no refrão. Evan devolve a
ajuda em "Ever", a melhor composição
de Deily no disco. "Strange" devolve o tom mais
melódico sem perder a força nas guitarras, o
solo poderoso e distorcido, embora sem muita inspiração,
entra sufocando o vocal de Dando na metade da música.
O disco encerra furioso em "Mad", de melodia simplória,
que segue a linha de "Cazzo di Ferro", sem acrescentar
muito.
Em síntese, "Lick"
é um bom disco recheado de canções competentes
e mesmo algumas descartáveis, mas com seus momentos
de brilhantismo (não deixe de ouvir "Mallo Cup"!),
que certamente abriram caminho para o trabalho mais consistente
da banda em "It's a Shame About Ray". Antes da consagração
de "It's a Shame About Ray" a banda ainda lançaria
outro bom disco, "Lovey" em 1990, já sem
Ben Deily, onde Evan Dando pôde exercitar sem competição
o seu talento como compositor, vocalista e líder de
banda. |