Mais do que só encher o saco, eles querem é
incomodar de verdade. Assim conseguem o resultado de que na
maioria dos discos, quando você escuta, só tem
duas opções: ou odeia ou ama.
Stag é uma exceção,
neste ponto. Apesar de não ser o primeiro disco da
banda numa gravadora grande (acho que é o "Houdini",
que saiu pela própria Atlantic), o disco é
muito mais fácil de ouvir que os "grandes"
do começo ("Gluey Porch Treatments" e "Ozma"),
mas também não é tão odiável
quanto o "Prick". Não tem músicas
extremamente lentas e longas, apesar de "Lacrimosa"
ser realmente terrível, pinacotecagem pura (ou, como
disseram, só "a faixa mais perturbadora dos
Melvins em toda a sua carreira"). Milhões de
vezes mais digerível, não é bem o que
tem de pesado nos discos anteriores, só que ainda
são os Melvins. Pior, são os Melvins em estúdio
- e daí vêm coisas como a terceira faixa, "Bar
X The Rocking M", em que você tem metal com trompete,
teclado e scratch, ou "The Bit", em que a introdução
é com cítaras, e o resultado é maravilhoso
sem ser poser e nem de longe (olha a data de lançamento!)
é new metal. Acho - veja bem, ACHO - que eles fizeram
isso para foder a cabeça de metaleiro com viseiras
ou qualquer outro tipo purista que se atreva a ouvir este
negócio.
Faixa a faixa, Stag é um disco experimental
(no bom sentido da palavra). Nem tudo soa como "Bar
X...". Há intromissões menos ("Hide")
e mais ("Soup") forçadas, há algo
de lisérgico em "The Bloat" e "Buck
Owens", há algo de REM (!) que vai até
Chipmunks (!!! - EXTREMAMENTE irritante) em volta de "Skin
Horse" e, finalmente, as últimas faixas têm
dois rocks amigáveis ao rádio (!!!!!!) ("Captain
Pungent" e "Berthas"), acabando com uma intromissão
country tosca ("Cottonmouth").
E por mais que eu escreva tudo isso, O DISCO É BOM.
Só é diferente do resto porque você
não precisa escutar umas cinco ou seis vezes antes
de poder dizer que é bom mesmo. Numa escala de zero
a dez, eu daria uns 7, mas como aqui a numeração
é de 1 a 5, vai três e meio.
"Um leão é um leão
é um leão - e sua genealogia o aproxima antes
dos tigre que das minhocas; mas reconheço que algum
sistema de pensamento humano bem poderia ter por princípio
centrar um nexo espiritual ou metafórico entre leões
e minhocas, o que entretanto não alteraria as genealogias
da natureza." - Stephen J. Gould