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Review: Rid of Me

avaliação:
Apresentando as mesmas bases de "Dry", de 1992, e produzido por Steve Albini (renomado músico e produtor que trabalhou com Pixies, Bush e Nirvana), "Rid Of Me" é a versão melhorada de seu predecessor em termos de objetividade, e principalmente, no aprofundamento da crueza sincera de Polly Jean.
A compositora alcança neste trabalho o ápice de sua aspereza, com refrões minimalistas e pegajosos, retomando um estilo punk marcado por repetição de notas e som rápido e áspero, quase livre de mixagens e truques de estúdio. Steve Albini se encarregou de direcionar o trio em explorar uma sonoridade mais pesada, dentro do rock alternativo de "Dry", tornando "Rid Of Me" um álbum de influência mais punk e grunge.

Encarnando sua obscuridade de forma mais densa, sarcástica e até sexual, PJ explora também sua voz de forma angustiante; imprime na mudança de tom de uma mesma canção, aproximação, intimação e logo após, agressão. Como em "Rid Of Me" - Tie your self to me, no one else / yeah, you re not rid of me / I'll make your lick my injuries, I'm gonna twist your head off, see (...) - incitando a evolução da fúria acompanhada de notas repetitivas na guitarra e terminando por explodir no refrão também repetitivo e ameaçador - Till You Say don't you wish you.... never... never met her? - acompanhado da erupção da guitarra em riffs eloqüentes e da bateria nervosa de Robert Ellis. Sem mencionar a ponte grudenta "Lick My Legs, I'm On Fire / Lick My Legs Of Desire".

Tomando a evolução da faixa título como exemplo, o álbum inteiro se comporta da mesma forma, evoluindo das baladas ríspidas aos hits mais pesados e ácidos, retornando ao contimento, para logo depois explodir... Polly esbraveja finos vocais líricos de forma histérica e agonizante (como em "Legs") ou simplesmente grunhe, num gesto sinistramente sexual, quando intercala um diálogo entre Eva e Satã (em "Snake"), e explora mais uma vez temas religiosos na notável versão cover de Bob Dylan ("Highway 61 Revisited").

Notável também é a versão sinfônica de "Man-Size Sextet", que se encaixa de forma intrigante no álbum. Orquestrada, a faixa é acompanhada de violinos agudíssimos e de cellos sinistros, lembrando filmes trash da década de 50. Sua versão rock troca o sinistro pelo pesado, com uma batida constante, notas graves e roucas, acompanhando uma paródia ao homem bruto, descrevendo um estereótipo de homem pop dos anos 50, dando uma certa relação entre as duas versões. Porém, a canção mais explosiva e constante, "50 Ft. Queenie", engloba as qualidades mais fortes do álbum. Simplória, fácil, ardida e poderosa: "Eu posso ter 10 filhos, 10 Deuses, 10 Rainhas, 10 pés e me levantar / Sou a Rainha do Mundo, Você Deveria ouvir minha canção! e Diga, Meu nome F O e D A" demonstram uma canção com uma digna veia punk à la Patti Smith.

Recheado de sinistrismos, de aspereza "que esfola até sangrar", "Rid Of Me" tornou PJ Harvey - tanto Polly como o trio - definitivamente mais popular e visível pela crítica e pelo mundo. Porém, é ainda assim um trabalho difícil em sua apreciação. Para ser absorvido, é necessário ter entrosamento com as intenções do trio e com PJ, em suas letras que beiram o psycho - e naturalmente, um humor negro. Não é um dos trabalhos mais acessíveis e maduros de PJ Harvey, mas é severo, intrigante e um marco de obscuridade que todo bom músico possui em seu currículo.

Vlad Schilling
jun/2005