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É
como uma bala. Não dá tempo nem de respirar,
você já está caido no chão.
Com uma única diferença: com Surfer Rosa,
você sente prazer nessa queda súbita, proporcionada
por meia hora do mais puro rock. Cru até o talo
(o produtor é Steve Albini, e quem já
ouviu In Utero, do Nirvana, vai entender perfeitamente
que timbres delicados e sutis não é exatamente
a praia do cara), rápido, gritado e divertido,
é aquele tipo de disco que pode ser descrito
com uma só palavra: clássico. |
A bateria entra. É
como um aviso: se você não quer ser atingido
por pancadas violentas vindas diretamente do seu som, é
melhor apertar stop agora. Entra o baixo, como se fosse um
segundo aviso. Joey Santiago entra com sua repetitiva (e genial)
guitarra, e Black Francis grita "This is a song for Carol"
como se dissesse: bom, já que você não
desligou seu som, ouça uma das cinco melhores músicas
de todos os tempos. E é a mais pura verdade. Bone Machine
é simplesmente indescritível. Simples, crua
e... maravilhosa! Quando acaba, você pergunta "e
precisa de mais?" Precisar não precisa, mas Black
Francis estava de bom humor, e queria nos dar um dos melhores
discos da história. Então, que a viagem continue.
Break My Body é a tradicional
música do Pixies. Segue a levada de Bone Machine, mas
com um pouco menos de brilho. O melhor ainda está por
vir. Quando você menos espera, entra uma guitarrinha
ska. Um riff simples que faz você pensar "o que
esses caras estão aprontando?" A resposta é
rápida: uma bateria furiosa, outra guitarra e o baixo
entram, fazendo um punk enérgico e raivoso, com Black
Francis com o diabo no corpo gritando apenas "I've got
something against you", com o microfone entupido de distorção.
É a terceira pedrada do álbum: Something Against
You. Um minuto e meio de loucura total, com Steve Albini caprichando
na crueza e no barulho. Na mesma levada, começa a quarta
música, Broken Face, que começa com um falsete
absurdo de Francis, e segue como uma tijolada na cabeça:
um hardcore rápido, sujo, gritado e cru.
Depois da tempestade, a calmaria.
Calmaria? Bom, depois de Something Against You e Broken Face,
um furacão é calmaria. Gigantic conta com a
suave voz da baixista Mrs. John Murphy (mais conhecida como
Kim Deal), na única música do disco que não
é do chefão da banda. Por trás da delicada
voz da menina, a música que Kurt Cobain sempre quis
compor: uma melodia pop entupida até a boca de guitarras
distorcidas e barulho. Depois dela, vem sua seqüência
natural, River Euphrates, com quem dividiu o single. Outra
música 100% Pixies, 3 riffs de guitarra de Joey Santiago,
vocal endiabrado Black Francis e tudo o que tem direito.
Você já viu Clube
da Luta? Sabe a última cena? Então, a trilha
sonora dessa cena é a sétima pérola de
Surfer Rosa: Where Is My Mind? tem um arranjo mais limpo e
uma melodia mais pop e acessível do que o resto do
disco. Na seqüência, a calma Cactus deixa um pouco
de lado a crueza, e mostra que nem só de barulheira
vive o Pixies (Here Comes Your Man, o único grande
hit da banda, mostra bem isso). A música é uma
das melhores do disco, apresentando um lado mais melancólico
e lento da banda. Ponto para Black Francis.
Ok, ok. Eles já nos
pouparam demais. Hora de voltar ao que estavam fazendo no
começo do disco: uma espécie de tortura agradável.
Tony's Theme é, sem dúvida, uma das músicas
mais divertidas da carreira dos Pixies. Começa com
Mrs. John Murphy dizendo que este é o tema de um super-herói
chamado Tony. A partir daí, o disco vira o portal para
o inferno. Um riff surf-music distorcido ao máximo
(dádiva de Joey Santiago) e o vocal gritado de Black
Francis dão tom à música. Em seguida,
Oh My Golly!, um punk rock com um violão mariachi,
cantada em espanhol (apesar de não fazer muita diferença,
já que não é possível entender
uma palavra do que Francis canta, apenas o Oh My Golly, depois
de cada verso). É uma pancada na cabeça. E quem
disse que seria a última? Na mesma levada da anterior,
vem Vamos, que começa com o mesmo violão mariachi
e alguns versos em espanhol até cair numa balhureira
infernal: o "solo" de 2 minutos, onde Joey Santiago
quase destrói sua guitarra, é o climax do disco.
Em seguida, vem I'm Amazed, com um riff de surf music e uma
levada mais punk. Soa pequena, depois de tudo o que você
passou, mas não deixa de ser uma ótima música
para se acordar os vizinhos.
E todo grande disco deve
acabar com uma grande música. E isso é Brick
Is Red, o Grand Finale de Surfer Rosa, com uma introdução
que com certeza vai grudar na sua cabeça, e só
vai sair quando você se lembrar de Bone Machine. Eu
falei em Bone Machine? Opa, hora de escutar tudo de novo,
e sentir a mesma sensação de queda que você
acabou de sentir. Vencido pela pancadaria sonora, mas feliz.
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