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A Banda:






Pulp

Sheffield, Inglaterra, em 1978

Formação clássica:
Jarvis Cocker: vocal e guitarras (fundador da banda)
Candida Doyle: teclados (desde 1985)
Mark Webber: guitarras (desde 1994)
Nick Banks: bateria (a partir de 1988)
Steve Mackey: baixo (a partir de 1988)


Biografia:

Jarvis Cocker cultiva hábitos exóticos, a começar pela sua estranha consciência de que "JC" são as iniciais de um outro cara bem famoso. Além disso, é atormentado por suas várias idéias e tino artístico, sem contar com enorme capacidade de desviar a atenção da sua música usando os artefatos mais bizarros, como os tablóides ingleses. E, como se isso não fosse o bastante, é capaz de transformar letras imensas e histórias comuns em hinos instantâneos, cantarolados por qualquer um em cinco segundos e berrados a plenos pulmões em estádios lotados.

Jarvis formou sua religião, digo, sua banda, em 1978, na escola de Sheffield, sul de Yorkshire, sob o nome de Arabicus Pulp - excêntrico nome tirado de uma aula de economia e logo abreviado para Pulp. New wave e glam, David Bowie e the Cure: esse foi o ponto de partida para o então garoto de 15 anos. A princípio, a formação era Mark Swift na percussão, David Lockwood no baixo, Peter Dalton na guitarra e o Jarvis Cocker na guitarra e nos vocais. O primeiro registro sonoro feito por eles foi a canção Shakespeare Rock, mas o primeiro trabalho conhecido foi surpreendentemente um filme, projeto de universidade: "The Three Spartans". Em 1979, Lockwood inaugurou algo que iria acontecer muito durante a vida do grupo: abandonou seus companheiros e foi substituído por Philip Thompson.

O Rotherham Arts Centre abrigou o primeiro show do Pulp, em 1980. Foi então que a banda começou a ser conhecida em South Yorkshire. Contando com Jamie Pinchbeck no baixo e Wayne Furniss na bateria, o Pulp gravou algumas de suas músicas e as distribuiu por aí. O trabalho chegou aos ouvidos do saudoso John Peel, e a música "What Do You Say" acabou participando da compilação "Your Secret's Safe With Us", de 1982.

O debut do Pulp saiu em 1984, com o simples (e misterioso) nome de "It". Como não poderia deixar de ser, o line-up já havia sofrido mais alterações. Constam nos créditos os músicos Simon Hinkler, David Hinkler, Wayne Furness, Peter Boam, Saskia (irmã de Jarvis) e Gary Wilson. Jarvis, como todo bom insatisfeito, não gostou muito do rumo que o Pulp tinha tomado após o lançamento de "It". Por um tempo, então, ele divagou e se ocupou com teatro dadaísta, vários outros projetos musicais, e até mesmo considerou começar uma faculdade.

Os senhores Russell, Magnus Doyle, Peter Mansell e Tim Allcard deram um chacoalhada em Jarvis e o convenceram a retomar a banda. Foi uma época de shows com experimentações intelectuais e conceituais, leitura de poesias entre as músicas e muito tomate do público pasmo com as mudanças. Acostumem-se, jovens, nunca se atravessa o mesmo Pulp duas vezes.


O Pulp nos primórdios

Mantendo o espírito de rotatividade da banda, Tim saiu (talvez constrangido pelas leituras de poesia) e deu lugar à irmã de Magnus, Candida. Diz-se que no primeiro show com a moça o selo Fire Records descobriu o Pulp. Como a boa sorte é sempre acompanhada de uma onda de azar, Jarvis Cocker caiu de uma janela e, quando pôde retomar os shows, ainda estava de cadeira de rodas.

E parece que a meiga Candida também provocou outros estragos. Em apenas uma semana de gravações, o Pulp criou o "Freaks", o seu segundo LP. Os tons soturnos do novo trabalho chegaram às lojas no ano de 1987.

O experimento sociológico continuou. Se alguém ainda estiver acompanhado o folhetim: Magnus e Manners saíram; Jarvis, Candida e Russell continuaram; Nick Banks e Anthony Genn entraram. Os shows cheios de parafernália também resistiram: "a multi media cosmic tangerine experience", como o profético Jarvis os chamava. Um belo dia, finalmente, eles perceberam que o gelo seco, as árvores, os perfumes e o papel laminado desviavam demais a atenção da música.

Mais do mesmo: Anthony Genn abandonou o Pulp e foi visto anos mais tarde tocando "al natural" em shows com o Elastica. As perspectivas não eram boas em Sheffield, então Jarvis uniu o útil ao agradável e foi estudar cinema em Londres. Tentando dar um basta no troca-troca novelesco, Steve Mackey responsabilizou-se pelo baixo do Pulp e não o largou mais. E, por volta de 1990, o disco "Separations" já estava pronto.

A gravadora ficou em um lenga-lenga e só lançou o terceiro disco do grupos em 1992, quando ele começou a dar sinais de que havia finalmente engatilhado. Uma turnê no Reino Unido junto com a banda St Etienne foi um marco para a expansão das fronteiras do Pulp.

Com os membros estabelecidos, foi a vez de migrar para o selo Island. Para aproveitar a alta cotação, o primeiro lançamento pela Island foi a compilação "Pulp-Intro - The Gift Records". O quarto disco, "His 'n Hers", de 1994, levou Pulp à indicação ao prêmio viúva negra Mercury Music Awards, que felizmente eles não ganharam naquele ano. Já grandinhos, foi a hora de atravessar o canal da mancha e conquistar o continente isolado. França, Holanda e Suécia foram os primeiros agraciados.

A Fire aproveitou o ensejo e lançou a compilação "Masters of the Universe". Seguindo o espírito do título, o Pulp sentiu-se impelido a conquistar os Estados Unidos com o charmoso sotaque britânico, em uma turnê ao lado do Blur. A música Common People veio sacramentar a escalada. Hino do Pulp e clássico imediato, com uma das inúmeras historinhas legais que Jarvis Cocker sabe compor, foi figurinha obrigatória por todos os shows da banda. No festival de Glastonbury de 1995 ficou claro o quanto o público havia crescido: o coro nesta música foi assustador. E olha que eles estavam esperando ver o Stone Roses, e não o Pulp!

A fama não vem sem a cama, e logo Jarvis entrou no alvo dos "imparciais" tablóides ingleses. O single duplo "Mis-shapes"/"Sorted for E's and Wizz", em uma das muitas viagens artísticas do líder do Pulp, continha instruções de como fazer embalagens para esconder drogas. Um escândalo, óbvio, com direito a pegadinhas de paparazzi e o pior do que o jornalismo é capaz de conceber. Impressa marrom à parte, o que aconteceu de importante mesmo nesta época foi a inclusão de Mark Webber, guitarrista e tecladista, no Pulp. O curioso é que, antes disso, a sua ocupação era presidente do fã-clube do grupo.

Mais turnês pela Inglaterra e outros carimbos europeus nos passaportes anteciparam o lançamento de "Different Class", o quinto disco. Com as invenções típicas do Jarvis, o álbum vinha com a arte ao gosto do freguês, com 12 sabores diferentes de capas. A divulgação do disco foi exaustiva e, no fim de 1995, a suposta agenda sobrecarregada fez com que Jarvis não tivesse mais forças para tocar o bis em um show em Paris. Nick Banks foi quem acalmou a fúria da multidão. Parecia que finalmente descobriu-se que os outros membros da banda também eram importantes.


JC de encontro ao sucesso

Em janeiro do ano seguinte, o Pulp retomou o fôlego para poder invadir o Japão e a Escandinávia. Entrementes, Jarvis e Candida ainda arrumaram tempo para invadir o palco do então escandaloso Michael Jackson e protestar contra suas "performances profanas". A picuinha foi parar na polícia e o Pulp ganhou publicidade por ser processado - ironia - pelo Michael Jackson.

A Fire, ainda com seu faro para dinheiro, lançou então "Countdown", uma coletânea que incluía músicas desde 1983 até 1992. A pendenga na justiça também virou a favor da banda. A turnê nos Estados Unidos e Canadá ganhou notoriedade e os shows lotaram. No fim de 1996, aconteceu: o Mercury Music Awards foi entregue ao o Pulp, prenúncio de tempos de vacas magras.

Depois disso, a banda passou por um pequeno hiato, mas a aparente aposentadoria foi apenas para a mídia, na verdade. Cansados de tanta correria, pressão e Jacksons, eles deram um tempo nos holofotes para fazer música do jeito que queriam e gostavam. E longe dos jornais. Foi quando Russell Senior resolveu que não ia agüentar mais, e retomou aquela antiga tradição do Pulp: abandonou o grupo.

Os dias seguiram-se e o mundo continuou a girar, com os membros do Pulp reunindo-se no estúdio como assalariados cansados durante ano e meio. Em 1997, para já seguir o caminho de contribuir com trilhas sonoras (Trainspotting já havia sido agraciado com uma música do Pulp), essas sessões renderam músicas para os filmes Velvet Goldmine e Grandes Esperanças. O grande retorno aconteceu na rádio XFM, com os músicos brincando de DJs por um dia inteiro e fechando o programa com o seu novo single, Help The Aged.

"This is Hardcore", o sexto disco, foi lançado em 1998. As mudanças na banda foram profundas e mostraram-se na audição do novo trabalho. Nenhum hit imediato, apenas músicas mais maduras. As vendas também ficam aquém do que havia sido atingido com o disco anterior. Para que ninguém diga que eles cuspiram no prato que comeram: "This is Hardcore" abre com os três últimos segundos de Bar Italia, a última música do "Different Class". E, como não poderia deixar de ser, a sociedade britânica ficou chocada com a capa sugestiva.

Foi então que o Pulp ousou mais uma vez. Começou a gravar um disco com o célebre produtor Scott Walker. "We Love Life", de 2001, continuou com o frescor e o entusiasmo de sempre. Orquestras permeiam todo o disco, e a preocupação com a elaboração e trabalho das músicas é evidente, coisa que não era tão perceptível nos trabalhos anteriores.


A Banda em "We Love Life"

E, claro, o disco carrega aquele estigma de distrair o público que Jarvis não consegue evitar: uma porcentagem das vendas foi revertida para causas ecológicas. De qualquer modo, política à parte, as músicas falariam por si só.

Atualmente, o Pulp está em mais um de seus períodos de hibernação, uma das idiossincrasias de uma banda que teve diversas formações e é sustentada por JC e suas idéias mirabolantes. Jarvis disse recentemente que a banda ainda existe, e não faria sentido "fazer drama por aí" e dar declarações de que ela acabou. Em sintonia com cinema, como é comum nos períodos de calmaria do Pulp, Jarvis parece que vai contribuir com a trilha sonora do novo Harry Potter. Esperemos que seja mesmo apenas um daqueles hiatos típicos porque, desculpem a infâmia, We Love Pulp.

Natalia Vale Asari
abril/2005

Álbums:
Discos Oficiais Ano
It 1984 (Red Rhino Records / Fire)
Freaks 1986 (Fire)
Separations 1992 (Fire)
His N' Hers 1994 (Island)
Different Class 1995 (Island)
This Is Hardcore 1998 (Island)
We Love Life 2001 (Island)
Coletâneas, EPs Ano
Pulpintro: The Gift Records 1993 (Fire / Island)
Masters of the Universe 1994 (Fire)
Countdown 1996 (Fire)
PulpEd 83-92 [box set] 1999 (Fire)
Hits 2002 (Island)