O Slint é hoje um nome extremamente cultuado e tido
como referência para um grande número de bandas
da geração pós-anos 90. A revisão
(ou, para muitos, a "tardia descoberta") que a
banda sofreu nos últimos tempos - principalmente
em função da explosão post-rock, gênero
supostamente burlado pelo Slint - é proporcional
ao ofuscamento que a banda sofreu devido à mega exposição
das bandas de Seattle, na virada dos anos 80 para os 90.
Sua obra-prima "Spiderland" é tida hoje
em dia como um clássico absoluto, uma obra magnâmica
à frente de seu tempo, e talvez por isso mesmo não
tenha recebido o merecido mérito na época
de seu lançamento. De qualquer forma, o tempo tratou
de desfazer esta injustiça, tanto é que a
banda está de volta à ativa, cerca de 14 anos
após sua dissolução.
O Slint nasceu das cinzas da obscura (e de acordo com algumas
testemunhas, também legendária) Squirrel Bait,
banda de Louisville (Kentucky, EUA), que gravou dois discos
na segunda metade dos anos 80 antes de encerrar suas atividades.
Da formação deste grupo, sobraram o guitarrista
e vocalista Brian McMahan e o baterista Britt Walford, que
logo depois se juntaram ao guitarrista David Pajo e ao baixista
Ethan Buckler para criar o Slint.
O primeiro rebento surgiria em 1988. Produzido pelo mago
Steve Albini, "Tweez" saiu pelo selo da banda,
o Jennifer Hartman Records and Tapes (que logo sumiria do
mapa). Já era um disco visionário, de sonoridade
caótica e difícil classificação,
despertando atenção no underground americano.
A banda se distinguiu até na hora de nomear as suas
composições: cada faixa ganhou o nome de um
parente ou animal de estimação dos membros
do grupo. Após a gravação do debut,
Ethan Buckler deixou a banda para formar sua própria
banda, o King Kong, cedendo o baixo para Todd Brashear.
A nova formação foi a responsável
por cometer um dos discos mais geniais de todos os tempos,
"Spiderland", lançado pela Touch and Go
em abril de 1991. A produção dessa vez ficou
a cargo de Brian Paulson. Ainda mais complexo e sombrio
que "Tweez", com apenas seis músicas ocupando
a extensão normal de um full length, o álbum
prima pelo tratamento pouco convencional dado a praticamente
todos os elementos que formam um disco de rock, e que lá
estão: vocal, baixo, bateria, guitarras, ritmos,
tempos, etc. A banda quebra com tudo que existia de pré-estabelecido,
cria sua própria linguagem musical e escreve seu
nome no panteão dos imortais. O álbum foi
aclamado, mas por algum tempo continuou restrito aos círculos
mais fechados, devido à sua contundência perturbadora
e estruturas beirando o rock progressivo. Some a isso o
rolo compressor chamado grunge, que naquele mesmo ano entregou
ao mundo os principais discos de seus dois maiores expoentes.
A adoração e influência de "Spiderland"
(e em menor escala, de "Tweez") foram crescendo
pouco a pouco, à medida que o disco ia sendo compreendido
e conhecido por mais e mais indivíduos que conseguiam
enxergar a genialidade por trás daquela barulheira
angustiante e aparentemente desconexa. Mas já em
1991, um estrago brutal havia sido deixado pelo Slint, ainda
que suas reais proporções só seriam
notadas dali alguns anos. O Mogwai e seus dois primeiros
clássicos discos que o digam.
Depois de "Spiderland", o grupo se desfez, com
cada membro tomando seu rumo: Pajo participaria efetivamente
de inúmeros projetos como Tortoise, Papa M e Zwan;
Walford tocaria no Breeders (utilizando o pseudônimo
Shannon Doughton), no King Kong, no Bastro e no Evergreen;
McMahan e Brashear apareceriam no projeto Palace, de Wil
Oldham; McMahan também formaria seu próprio
projeto, o The For Carnation, que contaria com a colaboração
de Pajo também.
Em 1993 aconteceria o relançamento de "Tweez"
pela Touch and Go, e no ano seguinte, foi lançado
um EP com duas músicas (uma inédita e uma
nova versão de uma faixa de "Tweez") gravadas
no período entre os dois LPs oficiais, com a mão
de Steve Albini.
No fim de 2004 surgiram boatos sobre uma reunião
da banda, que logo tornaram-se fatos oficiais. O Slint fará
seu primeiro show no dia 22 de fevereiro em Loiusville,
seguindo logo depois para a Inglaterra, onde será
a principal atração da primeira semana da
edição 2005 do festival All Tomorrow's Parties.
A banda toca em outros países europeus antes de voltar
a fazer shows em outros estados americanos.