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Review: Candy From A Stranger

avaliação:

O Soul Asylum ficou três anos sem lançar nada depois de "Let Your Dim Light Shine", de 1995, mas não exatamente por culpa da banda. A Columbia não ficou nem um pouco satisfeita pelo fato de "Let Your Dim..." ter vendido 'apenas' 1 milhão de cópias nos EUA, e a pressão em cima da banda era grande.

A gravadora chegou ao ponto de ter rejeitado um disco já gravado e entregue, forçando o grupo a retornar ao estúdio regravar todo o disco (preferencialmente com hits em potencial).

De fato o Soul Asylum regravou o disco, mas não fez o jogo da gravadora. A Columbia definitivamente perdeu a paciência com os caras, mesmo tendo lançado o "Candy From a Stranger" em 1998 sem exigir novas alterações, não investiu absolutamente nada em divulgação. O resultado é que pouca gente ficou sabendo que tinha álbum novo do Soul Asylum na praça (muitos nem sabiam que a banda ainda existia!), e o disco não entrou nem entre os 100 mais vendidos da parada da Billboard. Poucos mesmes depois de "Candy..." ter sido lnaçado, aconteceu o presivível, a Columbia rompeu o contrato com a banda.

Mas não dá para defender "Candy" cegamente. É um disco bastante irregular, de muitos altos e baixos. Uma outra justificativa para o fraco desempenho do disco comercialmente foi a escolha dos dois singles. A pálida "I Will Still Be Laughing" não impressiona, não emociona, nem empolga. Já "Close" é uma balada sofrível, absolutamente descartável. Não dá para saber quem é o responsável pela escolha dos singles, se a banda teve alguma participação ou se foi uma escolha puramente da gravadora (nesse caso, a idéia de um possível boicote da Columbia ao Soul Asylum não seria absurda, ou mera teoria da conspirção).

Genericamente falando, "Candy From a Stranger" é um disco que arrisca pouco, o que fica mais evidente nas músicas mais pesadas (estranhamente um dos pontos fracos do disco), que pouco fogem ao lugar comum, não convencem. É de se lamentar também a presença de baladas excessivamente melodramáticas, como a já referida "Close", mas também "The Game". Se isso é a tal maturidade, até não se discute, mas o que transparece é cansaço, falta de vontade mesmo. Mas quando "Candy" acerta, é outra história. O talento para boas melodias permanece intocável, os arranjos são simples mas consistentes, explorando bem as melodias, principalmente nas progressõs de guitarra. Curiosamente este não é um disco de riffs, aquele tipo de riff tradicional de hard rock quase não aparece ao longo do álbum todo. Tlavez esteja aí a maior "ousadia" do álbum, em termos de composição.

O disco abre com "Creatures of Habit", um dos rocks do disco. A letra é um tanto otimista, por vezes até bem humorada (if the darkness has no end / light up the darkness). O arranjo é bem carpichado, com um solo bacana de Dan Murphy, e a bateria é bem dosada, na medida. Mas ainda assim, falta alguma coisa para fazer de "Creatures of Habit" figurar entre as melhores do Soul Asylum.

"I Will Still Be Laughing" é ainda mais apagada, quando a melodia começa a entusiasmar, a música atola num refrão repetitivo que não sai do lugar. A curiosidade é que as guitarras usam um efeito de distorção muito comum ao longo dos anos 90, que ficou célebre no álbum "Monster" do R.E.M.

Depois surge a balada intimista "Close" e a vontade é de jogar o disco pela janela mas é por essas e outras que existe o botão 'next'! 

E "See You Later" finalmente começa a virar o jogo. Belo trabalho de guitarra, melodia fácil e instantânea. Uma ótima canção pop. "No Time For Waiting" segue a mesma linha, mais uma música correta que faz bonito. Cheia de paradinhas e com um bom refrão.

O guitarrista Dan Murphy mantém a tradição de compor uma música por disco. A sua contribuição em "Candy From A Stranger" é a balada de influência country "Blood Into Wine". Para quem não conhece bem o trabalho da banda, pode parecer oportunismo uma música como essa na carona do sucesso do chamado alt-country (leia-se Wilco). Mas o Soul Asylum na verdade é um pioneiro em agregar inlfuências country no rock alternativo desde a década de 80, ou mais precisamente desde seu segundo álbum (1986), na música "Never Really Been". Voltando a "Blood Into Wine", parece que até Dan Murphy não estava no auge da inspiração. Normalmente as suas contribui;ões são sempre pontos altos nos discos, como a inesquecível "Cartoon" de Hang Time (1988), ou mesmo "Promisses Broken" do álbum anterior. "Blood Into Wine" é uma balada correta, com uma boa harmonia no vocal de Pirner e Murphy, mas é uma música que acaba passando despercebida, sem deixar muitas impressões.

"Lies Of Hate" é mais uma de pegada mais rock. É mais bem sucedida do que as tentativas anteriores, mas nem precisava muito para isso. O trecho da letra em que Pirner usa um jogo de palavras meio cacófono cria uma melodia interessante (How to find out about / How to get out of it).

Se o mundo fosse um lugar justo, a sensacional "Dragging The Lake" teria um grande impacto na programação das rádios que se auto-proclamam pop-rock. Com uma melodia envolvente, "Dragging The Lake" vai evoluindo até um refrão vibrante que diz tanto sobre o momento da banda quanto o "you know I'm not dead" de Billy Corgan do Smashing Pumpkins. Diz a letra: "Am I still here / can you hear me / please say yes!" Pode ter sido involuntário e é até lógico que tenha sido escrito com outros significados, mas é quase impossível não sentir o refrão como um apelo ao público. Pode ficar tranqüilo Dave. Ainda estamos ouvindo sim! Mas se o próximo disco vier tão irregular quanto "Candy..." é melhor ficar preocupado!!!

A impecável "New York Blackout" é a balada que dá certo. E pensar que a música escolhida para single foi "Close"! "New York Blackout" se impõe imediatamente na primeira audição, com uma melodia doce e ingênua e letra feita sob medida. Um dos pontos altos do disco, sem dúvida.

Já "The Game" é um desastre. A introdução beira o patético ao lembrar uma música de Michael Jackson ("Heal The World"). O problema todo é a carga exageradamente melodramática e sentimentlóide. Chega a um ponto que a letra leva ao humor involuntário, no auge de sua fossa, Dave canta a improvável rima: "Makes me feel pretty good I guess / hey, that's a pretty dress..." 

"Cradle Chain", de belo refrão e arranjo, com destaque para o solo e a bateria, é a balada que encerra o disco, essa vale a pena e é de alto nível. "Candy From A Stranger" não é uma vergonha na carreira da banda, mas encontra o Soul Asylum marcando passo. O futuro não parecia nada animador com a dispensa da Columbia, mas hoje em dia as perspectivas parecem bem melhores. De dois anos para cá, o Soul Asylum vem mantendo uma agenda constante de shows, onde já apresentou várias musicas novas (e a receptividade dos fãs tem sido boa para as novas composições) e os integrantes tem dito em entrevistas que o Soul Asylum planeja um novo álbum para 2003.

Alexandre Luzardo