No caso deste Pig lib, segundo disco do ex-Pavement
Stephen Malkmus, olha só o que um gaiato andou escrevendo
lá fora: "Pig lib é o som de uma
banda que se encontrou e que se sente confortável em
sua pele coletiva (sem injeção de Botox)".
Noffa...
Vera Loyola, Tônia Carrero, Fernando
Collor e outros ícones do rejuvenescimento facial
à parte, Pig lib é a prova de que
a banda nova de Malkmus é tecnicamente superior ao
antigo grupo. Não é a maravilha toda que a
crítica anda falando - como aliás, aconteceu
com Stephen Malkmus, o primeiro solo, e já
acontecia com o Pavement. A ex-banda de Stephen foi realmente
importante e Crooked rain, crooked rain (em breve
aqui) foi um de seus grandes momentos (a Mojo andou
citando esse disco, o primeiro do Pavement a sair aqui,
para tecer comparações com Pig Lib).
Só que o grupo tinha algumas músicas soporíferas,
detalhes esquisitos demais para quem não é
indie encruado e arranjos que deixavam o ouvinte com cara
de palerma, esperando que viesse aquela mega-surpresa e...
não vinha nada. O que contava era que os melhores
momentos da banda eram realmente excelentes (como "Cut
your hair" e "Range life", de Crooked
rain...) e que o Pavement aliava a cabecice sonora
a quilos e mais quilos de bom humor.
Pig lib mostra-se como uma continuação
desse projeto, só que com mais identidade - ao contrário
do que rolava com o primeiro CD solo, que era Pavement cuspido
e escarrado - e músicas melhores. O começo
é meia-boca: "Water and a seat" conquista
com o dedilhadinho da abertura - só que ele é
repetido até romper as paredes do saco e depois vira
um quase-blues, meio arrastado. Depois é que o disco
vai ficando mais palatável e acessível. A
definição que Stephen deu para seu som ("música
casual pós acid-rock") cabe como uma luva em
faixas como "Ramp of death", a enoorme "1%
of one" e "Craw song", rock´n roll
com toques de Neil Young e Creedence. "(Do not feed
the) oyster", uma das melhores, começa com uma
guitarra quase indiana e vira um bom rock´n roll que
nem parece que foi gravado agora - Stephen, por sinal, deveria
investir mais no lado anos 70 de seu som, que realmente
dá mostras de que vai passar a ser o mais importante
nos próximos discos. "Dark wave" lembra
uma espécie de B-52's acústico, que já
andou rendendo comparações com os Pixies.
E "Vanessa from Queens" ganha beleza extra graças
ao piano Rhodes de Mick Clark, tecladista dos Jicks e grande
"elemento surpresa" do grupo.
Entre as outras faixas, há ótimos
momentos também em músicas como "Animal
midnight" e "Witch mountain bridge". Pig
lib dá a entender que Stephen anda em fase de
transição - aperfeiçoando-se como compositor,
sem deixar tanto as idéias caírem no vazio
- e que os Jicks são uma banda boa para acompanhar
essa evolução.