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Review: Pig Lib

avaliação:

Crítico musical é uma coisa brocha, um cara que recebe dinheiro pra ficar procurando defeitos em shows", já dizia a bela Paula Toller, na época em que o Kid Abelha só levava cascudo. Isso é porque ela não sabe do que um crítico é capaz quando se apaixona por alguma banda. É só voltar à época do lançamento do Ventura, do Los Hermanos - quem não se lembra das milhares de resenhas pedantes que se proliferavam (e continuam se proliferando) pela mídia?

No caso deste Pig lib, segundo disco do ex-Pavement Stephen Malkmus, olha só o que um gaiato andou escrevendo lá fora: "Pig lib é o som de uma banda que se encontrou e que se sente confortável em sua pele coletiva (sem injeção de Botox)". Noffa...

Vera Loyola, Tônia Carrero, Fernando Collor e outros ícones do rejuvenescimento facial à parte, Pig lib é a prova de que a banda nova de Malkmus é tecnicamente superior ao antigo grupo. Não é a maravilha toda que a crítica anda falando - como aliás, aconteceu com Stephen Malkmus, o primeiro solo, e já acontecia com o Pavement. A ex-banda de Stephen foi realmente importante e Crooked rain, crooked rain (em breve aqui) foi um de seus grandes momentos (a Mojo andou citando esse disco, o primeiro do Pavement a sair aqui, para tecer comparações com Pig Lib). Só que o grupo tinha algumas músicas soporíferas, detalhes esquisitos demais para quem não é indie encruado e arranjos que deixavam o ouvinte com cara de palerma, esperando que viesse aquela mega-surpresa e... não vinha nada. O que contava era que os melhores momentos da banda eram realmente excelentes (como "Cut your hair" e "Range life", de Crooked rain...) e que o Pavement aliava a cabecice sonora a quilos e mais quilos de bom humor.

Pig lib mostra-se como uma continuação desse projeto, só que com mais identidade - ao contrário do que rolava com o primeiro CD solo, que era Pavement cuspido e escarrado - e músicas melhores. O começo é meia-boca: "Water and a seat" conquista com o dedilhadinho da abertura - só que ele é repetido até romper as paredes do saco e depois vira um quase-blues, meio arrastado. Depois é que o disco vai ficando mais palatável e acessível. A definição que Stephen deu para seu som ("música casual pós acid-rock") cabe como uma luva em faixas como "Ramp of death", a enoorme "1% of one" e "Craw song", rock´n roll com toques de Neil Young e Creedence. "(Do not feed the) oyster", uma das melhores, começa com uma guitarra quase indiana e vira um bom rock´n roll que nem parece que foi gravado agora - Stephen, por sinal, deveria investir mais no lado anos 70 de seu som, que realmente dá mostras de que vai passar a ser o mais importante nos próximos discos. "Dark wave" lembra uma espécie de B-52's acústico, que já andou rendendo comparações com os Pixies. E "Vanessa from Queens" ganha beleza extra graças ao piano Rhodes de Mick Clark, tecladista dos Jicks e grande "elemento surpresa" do grupo.

Entre as outras faixas, há ótimos momentos também em músicas como "Animal midnight" e "Witch mountain bridge". Pig lib dá a entender que Stephen anda em fase de transição - aperfeiçoando-se como compositor, sem deixar tanto as idéias caírem no vazio - e que os Jicks são uma banda boa para acompanhar essa evolução.

Ricardo Schott
publicado originalmente
no Discoteca Básica
setembro/2003