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O Teenage
Fanclub na verdade começou fazendo mais barulho do que
se poderia supor pelo que a banda representa hoje em
dia. Lógico, as melodias suaves e bem trabalhadas já
eram uma presença forte e mesmo quem conheceu a banda
a partir do Grand Prix não tem dificuldades para familiarizar-se
com "A Catholic Education". |
Mas é inegável que a
banda não estava imune a influências da época como My Bloody
Valentine e Jesus & Mary Chain. O resultado é que a veia
pop do Teenage Fanclub estava mascarada numa atmosfera mais
abrasiva, de guitarras distorcidas e dissonantes.
É engraçado que não se encontra praticamente nada que tenha
sido escrito sobre esse disco na época de seu lançamento (1990).
Mas em retrospectiva, com a saudável distância de alguns anos
e já bem depois da banda ter se afirmado como um dos nomes
de maior talento na útlima década, "A Catholic Education"
vem ganhando as credenciais de disco inovador e à frente do
seu tempo.
O disco abre com "Everything Flows" e sua introdução desconcertante
de guitarras. A boa melodia transmite tranquilidade mas também
está presente na música uma melancolia inquietante que faz
de Everything Flows uma música belíssima e inesquecível. Desde
já o ponto alto de A Catholic Education e um dos pontos altos
da carreira do Teenage Fanclub. A relaxada "Everybody's Fool"
evidencia o estágio ainda embrionário da banda na comparação
com os discos mais, principalmente pelos vocais, naquele estilo
descompromissado de Pavement ou Dinosaur Jr. Nas harmonias,
não há nada que lembre a perfeição 'byrdsiana' que a banda
conseguiu principalmente no disco "Songs From Northern Britain",
sete anos mais tarde. Um bom refrão e uma melodia certeira
fazem de "Everybody's Fool" mais uma vitoriosa. A pegada é
mais rock na faixa-título "Catholic Education", mas com o
Teenage Fanclub, o barulho nunca é gratuito, sempre há uma
melodia por trás das guitarras, e, invariavelmente é difícil
ouvir alguma música da banda que seja verdadeiramente agressivo.
É o caso de "Catholic Education", as guitarras estão a serviço
de uma bela melodia pop e acessível (para não dizer eficiente).
"Eternal Light" tem um andamento mais lento, balada, mas com
forte presença de guitarras. Segue tranquila sem grandes alterações
até o final, passando por um solo bem interessante. Não é
inesquecível mas tampouco desagrada.
Heavy Metal realmente não tem muito de heavy metal, é uma
música instrumental, animada e vibrante com vários solinhos
complementando a melodia.
"Critical Mass" é uma das melhores canções do disco, grande
refrão, daqueles de ficar cantando uma semana. O arranjo é
na medida, sem dúvida um grande acerto e mais um grande momento
da banda.
O início de "Too Envolved" evidencia a grande e admirável
contradição do Teenage Fanclub. Uma guitarra pesada e distorcida
até o talo acompanhando uma melodia doce entoada pelo vocal
altamente delicado de Norman Blake. Logo após esse começo,
o arranjo fica mais convencional, coeso com o restante do
disco, e o destaque são as guitarras que seguram as pontas
de uma música sem refrão.
"Don't Need A Drum" é mais uma canção lenta porém bem cadenciada
nas guitarras, que desta vez ganha o reforço de um teclado
na parte final da música (e sim, a música tem bateria). Não
é das mais memoráveis canções do disco, mas soa bastante coesa
e homogênea com o restante do álbum. Já "Every Picture I Paint"
é uma das mais rápidas do disco, e as guitarras devem agradar
em cheio a quem gosta do Sonic Youth na linha de "Teenage
Riot". A "Catholic Education 2" não é nada além de uma segunda
versão da primeira. De diferente nota-se o mix do vocal, que
nessa segunda versão está mais escondido por entre as guitarras.
Desta vez, no final surjem guitarras esbanjando solos, fazendo
a música empolgar ainda mais.
Encerrando o disco, Heavy Metal 2, que não é exatamente idêntica
a primeira Heavy Metal, mas segue instrumental. Desta vez
os solos aparecem bem menos do que o esperado, o que até tira
um pouco o brilho da música, embora enfatize a pegada da banda.
No entanto, seus longos 7 minutos de duração não contribuem
muito para manter o pique.
Embora seja uma estréia altamente respeitável, "A Catholic
Education" de maneira nenhuma pode ser o pontapé inicial para
quem vai ouvir Teenage Fanclub. A sonoridade não é a que define
a banda, que nessa época ainda buscava uma identidade definitiva
para poder fazer história e entrar para a história. Aliás,
o que não demorou muito para acontecer.
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