Robert
Smith (líder e único membro da banda The Cure a permanecer
desde a sua formação) nasceu em Blackpool, Inglaterra, em
21 de Abril de 1959, se mudando ainda criança para a periferia
da cidade de Crawley. Há quem diga que formar uma banda de
rock foi a saída óbvia para o garoto tímido e estranho que
usava maquiagem e roupas pretas, tendo sido expulso da escola
por ser considerado uma má influência para os outros alunos.
Mas Robert admite também que a inspiração para uma banda foi
o Clash. Aos 16 anos, montou com os companheiros de escola
a banda Easy Cure que seria o embrião da banda The Cure, precursora
e principal divulgadora do rock que viria a ser conhecido
como gótico, marcado por visual depressivo, letras idem, batida
acelerada e dançante.
Uma das primeiras formações
do Cure |
Em
1977, o Easy Cure participou de um concurso de uma gravadora
alemã chamada Hansa, cujo prêmio seria um contrato de
gravação de um disco. O Cure venceu o concurso, mas
ao gravar o disco percebeu que os produtores queriam
mesmo era um novo Sex Pistols, o que fez Bob Smith bater
em retirada, e até rendeu uma composição, "Do the
Hansa". Em 1978, uma demo com a música Killing
An Arab caiu nas mãos de Chris Parry, executivo da gravadora
Polydor. Impressionado com a música e principalmente
com a atitude estranha e original da banda, Chris resolveu
bancar a produção de um single, sendo desde então seu
empresário. |
O single foi lançado e seguido
de um intenso trabalho de divulgação e shows, logo esgotando
a primeira tiragem. Embora a música não tenha chegado aos
primeiros lugares nas paradas (pelo menos não quando foi lançada),
a boa repercussão foi suficiente para que a banda pudesse
gravar seu primeiro long play, o clássico "Three Imaginary
Boys", em 1979. Nos Estados Unidos o disco foi lançado
em 1980 como "Boys Dont cry", com a adição
de singles não existentes em "Three Imaginary Boys"
- cuja capa, aliás, não trazia nenhuma foto da banda, somente
três eletrodomésticos.
Os singles que se seguiram, "Boys Don't Cry" e "Jumping
Someone Elses Train", seriam sucessos ainda maiores.
No final de 1979, o The Cure já havia tido duas mudanças de
formação e desde então nenhum componente durou muito tempo.
Mas prosseguiu como um trio até 1982 - Bob Smith na guitarra,
vocal e sintetizadores, Laurence Tolhurst, baterista (depois
tecladista) e Simon Gallup no baixo.
O segundo álbum, "17 Seconds" (1980), marcou um
avanço na técnica de estúdio da banda, com muito experimentalismo,
teclados e arranjos muito elaborados, que os caracterizariam
a partir de então. É deste disco o seu primeiro grande hit,
A Forest. A banda se torna um grande sucesso na Inglaterra
e arrisca a sua primeira turnê mundial. Todos os discos desde
então apenas viriam a confirmar a popularidade crescente.
O terceiro álbum, "Faith" (1981), e o quarto , "Pornography"
(1982), marcam a fase mais sombria do Cure. Esses três álbuns
poderiam ser denominados de a "trinca soturna" do
Cure, que refletem um período muito conturbado de Bob Smith,
perpassado por problemas com drogas e principalmente alcoolismo.
As letras são tristes de doer mas o forte mesmo são os arranjos,
em que Bob imprime toda sua depressão.
Brigas
com Simon Gallup resultam na sua saída, e o Cure reduz-se
a um dueto. Bob dá um tempo na Ásia e experimenta sons
eletrônicos. Dá um auxílio também para o Siouxie and
the Banshees, que se viu sem seu guitarrista em meio
à turnê "Nocturne" (aliás, Smith aparece no
vídeo dessa turnê e no clip Dear Prudence, do LP "Hyena").
Depois participou das gravações do disco "Hyena",
em que surge um briga entre Bob e Siouxie - e desde
então os dois só trocariam gentilezas pela imprensa,
como na vinda de Siouxie ao Brasil, em 1987 ("aquela
salsicha empanada?").
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Robert Smith = The Cure |
Esse meio tempo resulta num
EP chamado "Japanese Whispers" (1983), com as clássicas
The Walk (uma das preferidas de Bob Smith), Lovecats e Lets
Go To Bed, basicamente eletrônicas (exceto por Lovecats, que
já contava com uma banda). Mas o melhor estava por vir...
"The Top" (1984) foi considerado pela crítica
e pelo público como o melhor trabalho do Cure até então,
ao contrário de Bob Smith, que o considerou o pior disco
por problemas de mixagem. Perfeccionismos à parte, "The
Top" teve excelente recepção, mistura psicodelia (a
começar pela capa), pop de boa levada e aquele toque soturno
bem dosado. Teve até uma música que participou de trilha
sonora de novela (The Catterpillar ou Catterpillar Girl)!
Mais popularidade viria em 1985, com o disco "The
Head on the Door", de altíssima rotatividade por aqui,
com In Between Days (usada na abertura do programa Clip
Clip, da Globo, em 1985 e 1986) e Close to Me (que ganhou
o astronauta de prata da MTV como melhor clip do ano em
1985). É um disco pop, em que a depressão dá lugar a uma
leve melancolia e prova a capacidade de Robert Smith (principal
compositor e letrista) de renovar seu som.
Com a coletânea de singles chamada "Standing On The
Beach", de 1986, o Cure conquista finalmente nos Estados
Unidos e em todo o mundo o sucesso que já haviam experimentado
em sua terra natal.
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Uma
curiosidade: a versão cassete dessa coletânea possui,
no seu lado A, todas as músicas do vinil, e no lado
B, várias músicas só editadas em singles (inéditas no
Brasil, portanto). Detalhe: o cassete foi comercializado
por aqui, e não existe qualquer outro similar em CD!
E a versão de Boys Dont Cry contida da coletânea
é uma regravação feita em 1986. Fora isso, foi lançado
um livro comemorando os dez anos de Cure, além de uma
coletânea de clips, "Staring at the Sea",
com vídeos dirigidos sempre por Tim Pope (até
hoje). |
Tamanha popularidade rendeu
um show lendário no Brasil, em 1987, em uma turnê que deixou
o quinteto (formação mais conhecida - Bob, Laurence Tolhurst,
Simon Gallup, Porl Thompson na guitarra e teclados, e Boris
Williams na batera) assustado e exausto com tamanha receptividade.
Um similar do que rolou por aqui pode ser conferido no vídeo
"The Cure in Orange", com uma apresentação da banda
na França, onde eles ficaram para gravar um álbum novo. 1987,
aliás, foi o ano da graça para muita gente que curtia os sons
ingleses, brindados com a vinda de Cure, Siouxie e Echo and
the Bunnymen ao Brasil.
"Kiss Me Kiss Me Kiss Me" (1987) continua a linha
pop de "The Head on the Door", mas é um disco longo
(já pensado para o formato de CD), alternando momentos sublimes
com outros de extrema chatice. Em 1988 o bicho pegaria feio,
com a saída de Laurence Tolhurst da banda por motivos pessoais
até hoje nunca revelados (só sabemos que ele tentou mover
um processo contra a banda para ficar com o nome e parte dos
lucros - sendo que Robert Smith compõe tudo e ainda registra
no nome de todos). O resultado disso, e da chegada aos 30
anos, é "Disintegration" (1989). Para muitos o fim
do Cure, e para outros tantos, um disco mal compreendido.
No geral foi gravado ao vivo, com muito baixo de seis cordas
e arranjos elaborados e extensos, resultando em um disco melancólico,
triste, mas bonito - como uma dia de chuva. O CD possui duas
faixas a mais que o vinil (Prayers for Rain e Untitled).
Em 1990
o Cure lançou um disco de remixes, "Mixed
Up", em que uma faixa nova aparecia repleta de
wah-wahs e barulheira dançante, "Never Enough",
com um clip super engraçado, inspirado nos shows de
horrores (creep-show) de circo.
O hiato do Cure seguiu-se até 1991. Para os fãs, restaram
o fim dos anos 80, a invasão da dance e o fim dos tempos
em que poderiam dançar nas boates ao som de The Walk.
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Robert Smith: um dos maiores
ícones do rock
alternativo
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Em 1992, com o álbum "Wish",
alcançaram a sua fase de maior vendagem e execução em rádio
e MTV. O principal single foi Friday I'm in Love e o disco
alcançou o primeiro lugar nas paradas européias (segundo lugar
na parada americana). Wish foi bem recebido pelo público,
mas não tanto pela crítica. Pode ser considerado um disco
razoável, se comparado ao The Top. Bob Smith compõe músicas
longas e bem arranjadas, com batida dançante e guitarras viajantes,
mas há alguns imbróglios (Trust, por exemplo). Rendeu três
clips: High, Friday Im in Love (editado em quatro horas
com o assombroso orçamento de 600 dólares, reza a lenda) e
A Letter To Elise, confirmando a fama de bom baladeiro.
Depois disso só ouviremos falar
de Cure em 1996, quando eles se apresentam por aqui na última
edição do Hollywood Rock, motivados por uma abaixo-assinado
que os fãs brasileiros organizaram, a exemplo de um pessoal
da Austrália. Músicas de um álbum em andamento foram apresentadas
- "Wild Mood Swings". Esse disco foi lançado
assim que a banda voltou para a Inglaterra. Logo depois, o
Cure parte para uma nova turnê, a "The Swing Tour",
que teve mais de 100 apresentações ao redor
do planeta.
Em 1997 é lançada a coletânea
"Galore (1987-1997)", com a respectiva coletânea
de clips, e mais uma faixa nova, "Wrong Number",
em que Robert Smith faz novamente uma coisa bem-humorada,
mas sem aquele punch de antes.
No começo
de 1998, Robert Smith aparece em um episódio do desenho
animado americano "South Park", e participa da trilha
sonora do filme "Orgazmo", de Trey Parker e Matt
Stone, como a música A Sign From God. Com a
sua banda, Robert grava uma música (World In My Eyes)
para um tributo ao Depeche Mode e uma outra (More Than This)
para a trilha sonora do seriado "The X-Files". Durante
o verão, a banda participa de festivais na Europa,
e no fim do ano, volta aos estúdios ao lado do produtor
Paul Corkett para a gravação de um novo disco.

Robert Smith salva o mundo
no South Park
O Cure passa boa parte de 1999
produzindo seu novo disco, dividindo os trabalhos de gravação
e mixagem entre o RAK Studios, em Londres, e o Fisher Lane
Farm, em Survey. Depois do disco pronto, a banda parte para
sua divulgação, começando com uma apresentação
no VH1's Hard Rock Live, em New York.
Em 2000 é lançado
aquele que, de acordo com Robert Smith, é o último
e mais perfeito disco do The Cure: "Bloodflowers".
A banda faz alguns shows na Europa e nos EUA, antes de partir
para mais uma turnê mundial, a "Dream Tour".
Em 2001, Robert reune a banda
novamente e o The Cure participa do festival alternativo europeu
Roskilde. No mesmo ano é lançada a coletânea
"Greatest Hits", que vem com duas faixas inéditas,
Cut Here e Just Say Yes. No embalo, também sai um DVD
com o mesmo nome, trazendo diversos vídeo-clipes de
toda a carreira do Cure.
O DVD épico "Trilogy"
vem a seguir, em 2003, trazendo os shows em Berlim nos quais
o The Cure tocou, em seqüência, três álbuns
completos: "Pornography", "Disintegration"
e "Bloodflowers". Como se não fosse o bastante
para os fãs, os extras continham entrevistas da banda
falando sobre as gravações do disco a ser lançado
no ano seguinte. Robert Smith deu mais detalhes sobre a inusitada
colaboração com o produtor Ross Robinson, mais
famoso por seus trabalhos com bandas do chamado "new
metal".
Após a longa espera,
em 2004, o Cure começou a mostrar resultados no seu
trabalho festival Curiosa, nos Estados Unidos, ao lado de
gente como Interpol, Mogwai, The Rapture, Muse, Cooper Temple
Clause e Melissa Auf Der Mar. E, após lançar
no começo do ano o box set "Join the Dots"
- uma compilação de material inédito,
b-sides e versões alternativas, em quatro discos -
a banda lança em junho o sucessor de "Bloodflowers",
intitulado simplesmente "The Cure".
Karina Belloti e Fabrício Boppré
atualizado
por Fabrício Boppré em abril/2005 |