Os Replacements, ou os Mats, como ficou carinhosamente conhecido
pelos fãs, definitivamente estiveram entre os grandes da década
de 80.
Num tempo onde o rock nos EUA era algo comercial, as bandas
expunham roupas estravagantes e penteados inusitados, alguns
heróis visionários formavam bandas que iriam mudar a história
da música, culminando com o que aconteceu em 1991 após o lançamento
de “Nevermind”. Mas bem antes disso, como reflexo de uma outra
revolução, que atendia pelo nome de punk rock, começavam a
fervilhar bandas novas que não caiam na armadilha do sucesso
fácil e pré-fabricado. Essas bandas não encontravam espaço
entre as grandes gravadoras, surgindo então uma geração de
bandas independentes, que são responsáveis pelo melhor que
aconteceu no rock durante os anos 80. Ainda no início da década,
o R.E.M., o Hüsker Dü e o Replacements surgiram para se firmar
como os principais nomes da cena. Vários outros seguiram para
povoar os anos 80 de bom rock n’roll como Meat Puppets, Minutemen,
Sonic Youth, Soul Asylum, Dinosaur Jr, Pixies, Lemonheads,
Blake Babies, Screaming Trees, Soundgarden, Green River, Mudhoney...
A lista de bandas de talento é enorme e praticamente infindável,
e todos eles tem ao menos um ponto em comum: nenhuma dessas
bandas encontrou espaço na indústria fonográfica (a única
e honrosa exceção foi o R.E.M. que começou a despontar nas
paradas de sucesso a partir de 1986 com o álbum “Document”).
Os Replacements foram mais uma banda a seguir a cartilha do
hardcore no início de sua carreira, gradualmente inlcuindo
outros elementos desde o folk rock ao rock n’roll clássico
em suas composições.
A história do grupo:
A formação do grupo se deu em Minneapolis (terra também de
Hüsker Dü e Soul Asylum) em 1979 quando Paul Westerberg (guitarra,
vocal), Tommy Stinson (baixo), Bob Stinson (guitarra) e Chris
Mars (bateria) se reuniram pela primeira vez no porão da casa
dos irmãos Stinson. Reza a lenda que o primeiro show foi um
desastre, uma verdadeira baderna, farra e bebedeira. A banda
ainda usava o nome The Impediments e após a apresentação,
o promotor daquele show sentenciou “Vocês nunca mais vão tocar
nessa cidade de novo!”. Foi a partir daí que a banda foi re-batizada
The Replacements (já que os Impediments haviam “queimado o
filme”). Para agendar novos shows os Mats contaram com o apoio
de Peter Jesperson, dono de uma loja de discos. Em seguida
a banda começava a ganhar fama pelos seus shows imprevisíveis.
Em algumas noites a banda se apresentava de forma enérgica,
tocando intensamente, para em outras subirem ao palco tão
bêbados que mal conseguiam ficar em pé. Em muitos desses shows
a banda se negava a tocar o seu próprio repertório, tocando
apenas covers e nunca terminando nenhuma música que começava
a tocar.
A parceria com Peter Jesperson foi mais adiante, a medida
que ele era um dos donos da Twin/Tone Records, uma novíssima
gravadora independente que ainda iria prestar enormes serviços
para a cena musical de Minneapolis. A Twin/Tone assinou com
os Replacements e o primeiro disco, “Sorry Ma, Forget to Take
Out the Thrash”, foi lançado em 1981. O disco hoje virou clássico,
mas na época, pouca gente fora de Minneapolis havia prestado
atenção naquela banda que seguia a cartilha do hardcore misturada
a boas melodias ao estilo Ramones e um muito bom humor.
No ano seguinte, a banda lançou o EP "Stink" que
seguia as características do álbum anterior. Foi apenas em
1983, quando o segundo álbum "Hootenanny" foi lançado,
que os Mats começaram efetivamente a fazer algum barulho em
todo o país e efetivamente a conquistar uma sólida base de
fãs e seguidores. "Hootenanny" incorporava à receita
hardcore do grupo elementos de rock, do pop, folk e mesmo
country. Ainda que a mudança no som dos Mats muitas vezes
soasse apenas como irônicas referências a outros estilos,
a novidade foi elogiadíssima por público e crítica. "Hootenanny"
abriu caminho para "Let It Be", de 1984, que definitivamente
foi o disco que consagrou o grupo, aparecendo em várias listas
dos melhores de 1984 das revistas especializadas. "Let
it Be" mostrava o quanto Paul Westerberg tinha se tornado
um compositor de primeira linha, capaz de grandes melodias
pop como "I Will Dare", excelentes rocks e baladas
introspectivas como "Answering Machine". Críticos
e outros músicos eram unânimes em elogiar a banda, que conquistou
um enorme público no underground americano. Nessa época, o
Replacements passou a ser uma das mais cultuadas bandas do
underground, muitos fãs passaram a redescobrir os álbuns anteriores,
e até não foi surpresa quando o primeiro álbum, "Sorry
Ma..." passou a ser um dos favoritos do público.
Em pouco tempo, as grandes gravadoras passaram a se interessar
no potencial do grupo, que acabou assinando com a Sire Records
em 1985.
O primeiro disco do Replacements por uma grande gravadora,
"Tim", foi lançado já em 1985. Os planos do grupo
era de contar com a produção de Alex Chilton (ex-líder do
Big Star), de quem Paul Westerberg sempre foi fã declarado.
Chilton chegou a produzir algumas demos, mas no entando, quem
acabou produzindo o álbum "Tim" foi o não menos
lendário Tommy Erdelyi, o Tommy Ramone, baterista original
e produtor dos Ramones.
Assim que foi lançado, "Tim" igualou a excelente
repercussão de "Let It Be". A mídia apostou em peso
que a banda iria fatalmente conquistar o grande público e
que o disco seria um grande hit. Mas a banda em particular
não parecia colaborar com a idéia. O entuasiamo pelos Replacements
gerou um convite para uma apresentação ao vivo no programa
Saturday Night Live, e os integrantes do grupo compareceram
ao estúdio visivelmente embriagados, apresentando uma performance
absolutamente desleixada, enquanto Westerberg falou palavrões
no ar. Foi o suficiente para fechar portas com parte da conservadora
mídia mainstream americana que ainda ignorava o grupo. Nessa
época, os shows ao vivo da banda continuavam mais e mais problemáticos,
com diversos incidentes com bebidas onde não raro era impossível
assistir ao show pois os Replacements não podiam tocar de
tão bêbados. A atitude errática do grupo também impediu que
a MTV garantisse alguma exposição à banda. Os excassos videoclips
gravados pelos Mats eram o mais "anti-MTV" possível.
Um dos mais notórios deles foi o da música "Bastards
of Young", que se resumia a imagem de um aparelho de
som reproduzindo a música.

A banda por volta de
86. Clique na foto para ampliar
Após
a turnê de "Tim", Bob Stinson saiu da banda em função
de seus problemas com drogas e álcool. As circunstâncias de
sua saída foram no estilo "está demitido!/eu me demito!".
Westerberg reconheceu tempos depois que a atitude de Bob estaria
"nos empurrando para o buraco."
Os Replacements gravaram seu próximo disco como um trio na
cidade de Memphis, contando com a produção de Jim Dickinson
(produtor do Big Star). O resultado foi o álbum "Pleased
to Meet Me", lançado em 1987, de sonoridade mais limpa
que os anteriores. Novamente a repercussão dos críticos e
da imprensa foi entusiamente, ainda que o disco não tenha
garantido muitos novos fãs para a banda. Naquele ano, durante
a turnê, o guitarrista Slim Dulap tornou se o quarto integrante
do grupo.
Dois anos depois a banda retornou com "Don't Tell a Soul",
que foi a última cartada do grupo em nome do sucesso comercial.
Até hoje não se sabe ao certo se foi a gravadora Sire que
estaria pressionando por um hit ou se o próprio grupo queria
entrar para ganhar no jogo do mainstream. O disco, embora
sem restrições quanto a qualidade das composições de Westerberg,
trazia uma sonoridade muito mais polida, sob medida para as
rádios, desagradando os fãs mais radicais. E desta vez a banda
filmou clips mais amigáveis para a MTV, a começar pelo single
de "I'll Be You". Inicialmente a tática funcionou,
"I'll Be You" foi o primeiro e único "hit"
dos Replacements, chegando ao primeiro lugar da parada de
rock da Billboard, e ao 51º lugar na parada de singles. No
entanto, o sucesso do single não se refletiu nas vendas de
"Don't Tell a Soul", que se mantiveram nos mesmos
patamares anteriores.
Após o final da turnê de "Don't Tell a Soul, Paul Westerberg
passou a trabalhar em um disco solo, mas a gravadora acabou
vetando a idéia, convencendo Paul a gravar um disco dos Replacements.
A conseqüência disso foi que o próximo lançamento do Replacements,
"All Shook Down", lançado em 1990, pôde ser considerado
um disco solo de Westerberg em todos os sentidos, exceto pelo
no nome da banda na capa. Tommy Stinson, Chris Mars e Slim
Dulap fizeram pouco mais do que participações especiais no
disco, que tinha uma sonoridade predominantemente acústica
e contava com o apoio de músicos de estúdio em diversas músicas.
Os boatos de desentendimentos entres os integrantes da banda
foram se confirmando quando logo após o lançamento do álbum,
Chris Mars saiu da banda, alegando que Westerberg tinha assumido
o controle do grupo. Foi ficando muito claro entre os fãs
que acompanhavam o grupo de que os Mats estavam perto do fim.
Os Replacements completaram a turnê com o baterista Steve
Foley,que tocava na banda de Minneapolis Things Fall Down.
Após o final da turnê, cada um vai para o seu lado e a banda
anuncia o seu final em 1991.
Uma coletânea, o álbum duplo “All for Nothing/Nothing for
All” foi lançado seis anos depois pela Sire/Reprise. O primeiro
disco trazia todas os singles e no segundo raridades e faixas
inéditas. As esperanças dos fãs de uma reunião da formação
original foram cairam por terra com a morte de Bob Stinson
em 1995, por overdose de drogas.

The Replacements: Paul Westerberg, Chris Mars,
Bob Stinson e Tommy Stinson
Carreiras-solo:
Após o fim dos Mats, o baterista Chris Mars surpreendeu a
todos sendo o primeiro ex-integrante a lançar um álbum solo,
o power pop “Horseshoes & Hand Grenades” em 1992, onde
tocava todos os instrumentos. Mais três discos foram lançados,
o último deles sendo “Anonymous Botch”, de 1996, quando Chris
declarou estar se retirando da música. Tommy Stinson formou
a banda Bash & Posh, que lançou apenas um disco em 1993.
Em 1996 ele formou o Perfect que tocou vários shows, gravou
um EP mas também não durou muito. Hoje em dia, Tommy faz parte
da formação do Guns n’ Roses.
O guitarrista Slim Dulap também toca em carreira solo, tendo
lançado dois discos desde 1996.
Paul Westerberg solo:
Inegavelmene, o projeto pós-Replacements mais aguardado era
o disco solo do vocalista e principal compositor da banda,
Paul Westerberg. A estréia foi com a participação com duas
músicas na trilha sonora do filme Singles em 1992. O seu primeiro
álbum solo saiu no ano seguinte, "14 Songs", que
repete a sina dos Replacements, consegue boas críticas mas
não alcança um grande público. “Eventually”, é lançado em
1996 e não obtém muito destaque, culminando com a saída de
Paul de sua gravadora. Em 1999, Westerberg lança com “Suicane
Gratifaction” pela gravadora Capitol. Infelizmente, a época
do lançamento do disco foi de mudanças na direção da Capitol,
o que acabou prejudicando a divulgação do disco de Westerberg,
que acabou dispensado no ano seguinte.
De volta às gravadoras indepentes, Westerberg retorna com
o álbuns 'gêmeos' "Mono" e "Stereo", lançado
pela gravadora independente Vagrant em 2002. Em "Mono",
Paul recupera um pouco da sonoridade mais descompromissada
e barulhenta do início da carreira dos Mats, enquanto que
em "Stereo", ele segue desenvolvendo o seu estilo
em canções leves de forte levada folk e country. "Mono"
e "Stereo" foram considerados pela crítica como
os melhores trabalhos da carreira solo de Paul Westerberg. |