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Ao terminar
minha audição do Aenima eu sempre chego
a três conclusões:
1- Esse cd é bom.
2- Tool é única nesse mundo.
3- Third Eye, a última faixa do disco, requer
uma certa disposição da parte do ouvinte.
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Quero dizer, de repente acontece
que, passados uns 5 minutos da música, você começa
a pensar naquela prova que você vai fazer semana que
vem, ou naquele trabalho que você tem que entregar até
o final do mês, ou naquela viagem em que você
se divertiu a valer, ou começa a listar mentalmente
os seus 5 discos favoritos, analisando cada um detalhadamente.
Então você se lembra que tava escutando um cd,
e é quando se dá conta que ainda tá naquela
mesma faixa; aí você pensa: "putz, ainda
tá nessa putaria!?" Ou seja, se você não
terminar a música pensando em tudo menos na música,
você vai achar Third Eye excelente. Convém a
qualquer um sempre se questionar antes de ouvir a referida
composição:
"Estarei eu física
e mentalmente disposto a enfrentar a jornada?"
Deixemos as conclusões
de lado. Stinkfist. "Punho Fedorento". Primeira
música a nos ser apresentada. Assunto abordado: sexo
anal. Um trecho da letra: "Finger deep within the borderline/
Show me that you love me and that we belong together/ Relax,
turn around and take my hand". Em outro momento: "Knuckle
deep inside the borderline/ This may hurt a little but it's
something/ you'll get used to/ Relax/ Slip away". Óbvio
demais. Dá até pra visualizar o cara tentando
convencer sua namorada: "Vamo lá, benzinho. É
sempre bom tentar coisas novas na relação. Dói
no começo, mas depois cê acustuma."
Essa música tem o riff
mais simples do mundo (nota praqueles que adoram associar
simples a punk rock: ele sequer chega perto de ser parecido
com um riff típico do gênero), mas a música
como um todo me passa uma idéia de complexidade. E
acho que o som da banda nesse disco funciona justamente desse
jeito. A bateria marota (!) de Danny Carey, a guitarra pirracenta
(!!) de Adam Jones, o baixo truculento (!!!) de Justin Chancellor,
e claro, o vocal inconfundível de Maynard, que dá
a cobertura melódica e emotiva do sorvete. Tudo isso
em estruturas musicais que desafiam o senso comum do "heavy
rock". No épico pós-moderno Pushit, por
exemplo, eles parecem ter se esquecido do que é um
verso ou um refrão. Mesma coisa vale pra Eulogy, cuja
parte que eu acho mais massa é a introdução
com direito até a xilofone (aquilo é um xilofone,
não?). E o que dizer da porra-louquice coerente da
já mencionada Third Eye? Não podemos nos esquecer
também de Aenema, que dosa muito bem partes leves e
pesadas, passando pela destruição de um meteoro
se chocando com a Terra até a calmaria de uma cidade
completamente submerça pela água do mar. É
também mais um exemplo de riffs simples e marcantes.
Já 46 & 2 conta com um riff mais elaborado que
a média do álbum, possuindo um orgásmico
ápice em seu final, onde entra aquela guitarra com
distorção inexplicável depois de um interlúdio
calmo e tranquilo.
Tem também aquelas músicas mais tradicionais
e mais pesadas - tem Tool pra todos os gostos aqui garotada,
é só chegar e se servir! - como Jimmy e Hooker
With A Penis. Essa última me lembra muito esses metal
muderno que andam fazendo por aí, por isso não
gosto muito, além de ser muito agressiva pro meu paladar.
Mas tem certificado de qualidade "Tool", então
tá valendo. Se você é daqueles que detesta
música de qualquer jeito ou simplesmente adora o mais
puro barulho, vai se deliciar com pérolas do estilo
musical como Useful Idiot, Intermission, Die Eier Von Satan
e Ions.
Ouvindo Aenima, uma imagem sempre se forma na minha mente:
dois cachorros trepam alegremente no meio da rua num ensolarado
dia de primavera, sem se preocupar com os transeuntes que
por ali passam. De repente, um carro em alta velocidade aparece
e atropela impiedosamente os pobres caninos, destroçando
seus corpos.
(Na verdade nada disso vem
a minha mente, mas achei que seria um bom jeito de terminar
essa resenha.)
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