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O ...And
You Will Know Us By The Trail Of Dead cravou já
em 2001 um dos discos imperdíveis da década,
sem na verdade recorrer a tendências momentâneas
em seu som. Eles, na verdade, estavam sendo eles mesmos
dentro do salão de festas de uma multinacional:
um pouco menos de sujeira talvez, compensada com um
fino trato nas melodias, numa versatilidade sonora até
inesperada para quem tinha dois álbuns bem ruidosos
na mochila. |
"Source Tags & Codes"
(2002) não dava nenhum vôo vertiginoso, buscando
suas referências no rock sujo dos anos 90 e os resultados
do disco foram, indiscutivelmente, bastante felizes –
memoráveis até. No ano seguinte, lançaram
um EP um tanto surpreendente: "The Secret Of Elena's
Tomb" trazia mudanças significativas que davam
a entender que os rapazes estavam inclinados a encarar outras
sonoridades, afinal de contas, Conrad Keely e cia. tinham
mais a mostrar àqueles que insistentemente os encaravam
como um "Sonic Youth dos infernos". O EP trouxe
faixas um tanto distintas entre si, que é verdade,
cruzavam algumas fronteiras embora não corressem o
risco de chocar quem tinha aprovado o disco anterior.
O que ninguém imaginava
é que tal amostra não retratasse exatamente
os passos seguintes dos texanos. Ainda em 2002, Conrad Keely
daria as caras em Chicago numa noite acústica com a
finada banda Zwan, tocando em número solo versões
de Beach Boys e Elton John, piano e voz. Já durante
o desenvolvimento do novo disco em 2004, o baixista Neil Busch
caiu fora, indicando que o parto envolvendo a resolução
do álbum pudesse ser um tanto complicado. Para completar,
as faixas foram parar na internet meio ano antes da Interscope
colocá-las nas prateleiras. Pensando em esquentar o
lançamento tardio, a gravadora editou um single para
música "Worlds Apart", cujos lados-b eram
covers de Genesis e Monkees. Em meio a todos esses indicativos
e imprevistos, o Trail Of Dead entregou um trabalho cujo título
antevê as reações dos que esperavam ansiosamente
pela continuação do triunfo de 2002. "Worlds
Apart" (mundos separados) divide os ouvintes entre os
que torceram o nariz e os que acolheram-no pacientemente.
Desde a bela arte do encarte
sugerindo conquistas e acontecimentos épicos até
as resoluções sonoras do álbum distanciam
centenas de quilômetros o Trail Of Dead de 2005 de suas
encarnações anteriores. Praticamente todas as
faixas têm algum corpo estranho em seu arranjo, algo
que grita se analisarmos o mundo que foi deixado para trás.
Fica um tanto estranho perceber que pertence ao Trail Of Dead
a condução de "Summer Of '91", toda
no piano. Mesmo quando as guitarras clamam por atenção,
o piano segue lá, participando do andamento, indicando
que já em Chicago o líder da banda estava revelando
seus passos futuros. Até mesmo "Caterwaul",
que pretende ser um momento de tensão, se apresenta
comportada, muito longe do caos de outros tempos. O bom-mocismo
dos caras mistura-se com pretensões épicas em
"Let It Dive", quando os arranjos arriscam grandezas
magnâmias, baseando-se nos serviços de uma orquestra.
Violas em "The Best", corais em "All White".
O mais lógico é imaginar que os músicos
buscaram uma maturidade sonora, uma saída que acolhesse
suas veias mais artísticas – embora sigam destruindo
seus instrumentos no palco. Pelo menos é o que pode
se concluir das letras, que se em um momento criticam a indústria
musical ("Worlds Apart"), em geral se debruçam
mesmo nas questões existenciais. Sinais de maturidade
ou dificuldade em encontrar uma resolução para
as canções? Ainda assim, por baixo de todas
essas camadas de camuflagem, algumas belas melodias imperam,
empurrando o ouvinte para cima do muro. O instrumental contido
colide com os vocais urrados de Conrad em "Will You Smile
Again For Me?" e, de uma maneira geral, temos bons refrões
como os de "And The Rest Will Follow", que podem
grudar na cabeça. Os vocais por sinal, combinam melodias
diferenciadas com rispidez, causando um contraste interessante
que é o ponto alto do disco e convida o ouvinte a balbuciar
junto.
"Worlds Apart" não
deixa de ser uma tentativa louvável de se reciclar
os princípios da banda, embora seja notória
a dificuldade do trio em definir os meios para isso. O Trail
Of Dead abre mão de características consagradas
por eles próprios em outros tempos, mas peca ao preencher
o espaço com outras idéias, que poderiam atingir
melhores resultados se tivessem sido melhor maturadas. Tentando
soar épico, o disco acabou soando confuso, o que nos
traz à primeira conclusão tirada linhas atrás:
seu título sim, foi o maior dos acertos. |