Segundo
o próprio site oficial da banda, o Twilight Singers
é a oportunidade do seu vocalista, Greg Dulli, de estar
em qualquer tipo de banda que ele necessite estar em qualquer
momento da sua carreira. Uma banda mutante, não um
projeto solo propriamente dito. "Para mim o Twilight
Singers é o que quer que eu queira que seja. Posso
resolver fazer um álbum de reggae e dizer que é
do Twilight Singers desde que participe e escreva as canções,
pois o Twilight Singers sou eu."
Teve início em 1997,
quando o Afghan Whigs ainda estava firme como um dos grandes
nomes do rock alternativo dos anos 90 antes de lançar
o que viria a ser seu último álbum, "1965".
Neste ponto, o bem relacionado Greg Dulli se uniu aos amigos
Harold Chichester (Howlin' Maggie, Pigeonhed, Satchel) e Shawn
Smith (Brad), além do baterista Barret Martin (Screaming
Trees, Mad Season), e músicos de Nova Orleans (berço
de grande parte das influências musicais de Greg) para
gravar um disco, no Kingsway Studios.
Pode-se dizer que Nova Orleans
foi a grande responsável pela volta de Greg Dulli à
música após o relativo fracasso do "Black
Love", uma vez que ele, à época, atuava
em alguns filmes e se mostrava descontente com o music business.
Uma época complicada para o vocalista que enfrentou
novamente a depressão e as drogas (já bastante
retradadas em seu último disco). Apesar de ter afirmado
que o contato com grandes nomes da música mundial e
a possibilidade de tocar com eles "recarregou suas baterias",
ele só se recuperaria voltando a Seattle e se internando
para tratar sua depressão clínica.
Com a ida do Afghan Whigs para a Columbia (após o desligamento
da Elektra pelas baixas vendagens do Black "Love",
que teve um alto custo de produção), um novo
disco dos Whigs se tornou prioridade. Com isso, o projeto
Twilight Singers foi deixado de lado e "1965" foi
lançado, em outubro de 1998. Nele já se verificava
a melhora de Dulli, com músicas mais felizes em um
disco que soava como uma celebração.
Finalmente após o lançamento
dos Whigs e uma exaustiva tour, Dulli resgatou as fitas gravadas
em Nova Orleans para descobrir o que fazer com elas. Grande
fã do dance duo instrumental underground Filla Brazillia
(Steve Cobby e Dave McSherry), os contactou e os três
passaram a trabalhar durante um mês naquele esboço
de disco. Essa nova colaboração chegou até
mesmo a gerar novas músicas, tamanha a identificação
entre os três.
Em setembro de 2000, "Twilight
As Played By The Twilight Singers", viu a luz do dia.
O resultado, segunda a crítica: arranjos sensíveis,
letras confessionais, influências de rhythm and blues
de Nova Orleans até british dancefloot ambience, retratando
um lado ainda não conhecido de um soulman que era famoso
por sua atitude rock and roll e que definiu o disco como o
fim de um ciclo de introspecção, raiva, vingança
e tristeza que começou com o "Congregation"
(disco de 1992) e que excluía o "1965" -
segundo o próprio, um "espaço para respirar".
Chegou o dia, então,
que as distâncias entre os membros do Afghan
Whigs, que moravam em cidades diferentes (Los Angeles e Seatlle),
custou o fim da banda. Dulli, que já trabalhava em
novas músicas para um próximo disco, passou
a direcioná-las para o Twilight Singers, havendo escrito
já quase 30 canções. Também ajudou
vários amigos em seus projetos, entre eles Mark Lanegan
em seu álbum solo "Bubblegum", aparecendo
em duas faixas, "Methamphetamine Blues" e "Message
to Mine". Não parou de trabalhar naquelas novas
músicas, no entanto, e já havia finalizado metade
de um álbum que ainda não possuía gravadora.
Da mesma forma que o último disco da banda, Greg Dulli
resolveu gravá-lo antes de se preocupar com problemas
administrativos. Tudo ia bem até que Ted Demme, diretor
e grande amigo de Dulli, faleceu em uma quadra de basquete.
A partir daquele momento, aquelas músicas foram deixadas
de lado, pois, segundo o vocalista, "não se conectavam
com a minha vida naquele momento". Mais uma vez os sentimentos
de perda e depressão seriam responsáveis por
um grande disco.
E foi o que ocorreu com o lançamento
de "Blackberry Belle", em 2003, um disco pesado,
depressivo e carregado que espelhava os sentimentos de seu
líder à época. Mark Lanegan retribuiu
a contribuição com "Number 9", em
um disco produzido por Mike Napolitano e Mathias Schneeberger,
gravado tanto em Nova Orleans quanto em Los Angeles e Memphis.
Este lançamento foi acompanhado pelo EP "Black
is the Color of My True Love's Hair", que além
da cover do título, contava com "Domani"
e "Son of a Morning Star", curiosamente apontada
nos créditos como produzida e mixada por Yin e Yang.
Mais tarde Dulli revelaria que Yin e Yang são seus
velhos companheiros do Afghan Whigs que gravaram esta música.
Também a presença de vários deles em
shows do Twilight Singers (dependendo da localidade) mostram
que não restou qualquer tipo de inimizade entre eles.
Após extensiva tour,
o próximo projeto do Twilight Singers seria um disco
de covers. "She Loves You", de 2004, contém
várias das já tradicionais versões que
a banda faz em cima do palco (a mais famosa, talvez, a dobradinha
de "A Love Supreme" e "Please Stay").
Mais alguns destaques ficam por conta de "Feeling of
Gaze" (Hope Sandoval), "Hyperballad" (Bjork)
e "Strange Fruit", que ganhou uma releitura a la
Beatles "I Love You (She´s So Heavy)". Mais
uma série de shows se seguiu.
2005 foi um ano bastante cheio
para Dulli. Para citar os principais projetos: composição
e gravação de canções para o Gutter
Twins, seu novo projeto com Mark Lanegan; produção
do disco e participação na tour da banda italiana
Afterhous; lançamento das canções que
haviam sido deixadas de lado para dar vez ao que seria o "Blackberry
Belle", "para os fãs"; trabalho no novo
disco do Twilight Singers, "Powder Burns"; lançamento
de um DVD com registros ao vivo. Apesar de já contar
com um bom número de canções gravadas
com o Gutter Twins e até mesmo ter estreado ao vivo
uma delas ("Front Street", em meio a covers de Screaming
Trees, Afghan Whigs, Twilight Singers e Queens of the Stone
Age) ao abrir um show para o Afterhours, em novembro, o lançamento
de um disco ficaria para depois.
O lançamento de "Amber
Headlights", as "canções perdidas"
do Twilight Singers, foi feito, curiosamente, sob o nome de
Greg Dulli. Algo incoerente se notarmos que o Twilight Singers
nada mais é do que um projeto solo de Dulli, moldado
conforme o seu estado de espírito e ainda mais incoerente
pelo fato do disco estar lado a lado com os outros discos
do Twilight Singers no próprio site oficial da banda.
Excentricidades à parte, trata-se de um disco mais
direto, mais orientado para o rock do que os três anteriores,
algo mais Afghan Whigs. O que é bastante coerente se
lembrarmos que muitas destas músicas estavam sendo
escritas para serem lançadas pelo antigo grupo.
Em maio de 2006 é lançado
"Powder Burns", o sucessor "oficial" de
"Blackberry Belle", produzido novamente por Mike
Napolitano. A ele se seguirá o que promete ser mais
uma longa tour.
Felipe Barros Pereira
maio/2006 |