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Review: Summerteeth

avaliação:

Um dos momentos mais difíceis da existência humana é a separação da pessoa amada. Se você nunca passou por isso, calma, a hora do acordo inevitável vai chegar: um dos parceiros entra com o pé, o outro com a bunda. Este segundo sai perdendo, claro. Aquela desesperadora impotência de ressuscitar o relacionamento, que traz angústia e ansiedade, vem à tona e consome energia, noites e lágrimas.

A música pop já nos deu inúmeros exemplos de que transformar esta dor em canções pode trazer bons resultados. Frank Sinatra foi o ilustre pioneiro ao lançar o aterrador In The Wee Small Hours, o primeiro disco a tratar somente de pés na bunda. Dylan compôs Blood On The Tracks, seu melhor disco, para exorcizar o fim de seu casamento com Sara. Mais recentemente, Nick Cave fez o mesmo em The Boatman´s Call, assim que foi deixado por PJ Harvey. Jeff Tweedy não chegou a sofrer deste mal, mas compôs uma pedra fundamental para os sofredores, mesmo que não fosse essa a intenção. É Summerteeth, o terceiro petardo do Wilco.

Todos os sentimentos que nos atormentam após uma separação estão expostos nas sofridas letras do álbum. A sensação inicial de auto-suficiência está presente na irônica “How To Fight Loneliness”: “how to fight loneliness/smile all the time/shine your teeth ´till meaningless/sharpen them with lies”. Depois vem o ódio, cruel em “Via Chicago” (“I dreamed about killing you again last night/and it felt alright to me”), e a conformação e a admissão do erro cometido, em “ELT” (“oh, what I have I been missing/wishing that you were dead (…) I was trying to keep the door locked/I realize that´s a mistake”). Então inicia-se aquele sentimento de incapacidade, impotência, descrito em “A Shot In The Arm” (“Maybe all I need is a shot in the arm”), e depois o tempo passando, impiedoso (“When You Wake Up Feeling Up Feeling Old”, “Summerteeth”), até nosso personagem perceber o quanto ainda a ama (“I still care/I still love you”, em “Pieholden Suite”).

Musicalmente, como é constante na carreira do Wilco (e Yankee Hotel Foxtrot só comprova isso), o álbum é um passo à frente dos anteriores. Se AM ainda bebia demais na fonte do Uncle Tupelo, Being There adicionou psicodelia no country-rock da banda, vide a ótima “Misunderstood”. Summerteeth extrapola: é um disco muito mais pop do que tudo que Tweedy havia feito até então. O uso de teclados é bem maior que o de pedal steel, devido ao multi-instrumentista Jay Bennett - que infelizmente deixou a banda pouco depois. Essa nova sonoridade é clara em “Can´t Stand It”, que tem guitarras à Built To Spill (!) e teclados típicos do pop setentista.”I´m Always I Love” tem um sintetizador que apita alto. A grandiosa “Pieholden Suíte” traz trumpetes e Brian Wilson certamente se orgulharia de tê-la composto.

Esperava-se bastante sucesso comercial de Summerteeth, algo bastante compreensível para um álbum com as popíssimas “ELT” e “Nothing´severgonnastandinmyway (Again)”. Mas o êxito nunca aconteceu, o que estremeceu seriamente a relação do Wilco com a gravadora Reprise. Estes aflitos cresceram durante as gravações de Yankee Hotel Foxtrot e a gravadora acabou dando um belo pé na bunda no disco, se recusando a lançá-lo. Mas essa já é outra história.

Jonas Lopes
publicado originalmente no Yerblues
fevereiro/2004