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O que andamos ouvindo?
Na vitrola de V.M.
Radiohead / "Hail To The Thief" (2003): Mais um caso onde um disco volta à tona com mais força do que teve quando surgiu. Todo mundo lembra o que foi o seu lançamento: vazou, teve quem amou, teve quem torceu o nariz. Um dos casos de maior falatório nos últimos tempos e uma das maiores avalanches de informação que a internet viu. É bom retornar à criança com mais atenção, livre das babás que a circundavam. O contexto de grandiosidade de banda e som pode ser relevado, e temos um disco que sintetiza o Radiohead pós-OKC. A maligna "Myxomastosis" me faz vomitar, "There There" continua teimando em ser um single incasável. Os sons estão todos em seus devidos lugares, na hora certa, pilotados e maturados como só essa banda sabe fazer. Brigo comigo mesmo - o "Kid A" é o auge do Radiohead - mas esse CD sim, tem coisas maravilhosas. Acho que vou ficar uns tempos sem escutar outras coisas. Tenho muito o que descobrir nesse disco ainda.
postado por V.M. em 30.8.04
Na vitrola de Fabricio Boppré
Enquanto não chega o meu "Mestro", tenho ouvindo bastante:
Pearl Jam/"Live at Benaroya Hall":
Álbum duplo, registro de um show basicamente acústico realizado em prol da entidade beneficente americana Youth Care, em outubro do ano passado. A banda apresenta para uma entusiasmada platéia alguns poucos clássicos (Black, Daughter e Yellow Ledbetter) e alguns covers (I Believe in Miracles do Ramones, Masters of War do Bob Dylan e 25 Minutes to Go do Johnny Cash), preenchendo a maior parte do tempo com canções menos cotadas, mas na medida para um show nesse formato, como Can't Keep, Low Light (uma pequena pérola perdida de "Yield"), Around the Bend (outra preferida pessoal), Off He Goes, as b-sides Crazy Mary, Dead Man e Fatal, e o recente single Man of the Hour. Parting Ways e Sleight of Hand, dois dos melhores momentos do disco "Binaural", perdem um pouco da força. Já "Immortality", é uma música perfeita de qualquer jeito. É claro que cada fã vai fazer sua listinha de músicas que faltaram, então nem vou citar a minha aqui. Avaliação final: mesmo em meio a overdose de lançamentos do PJ, este acústico tá valendo.
Pulp/"We Love Life":
Confesso minha quase total ignorância em se tratando de brit-pop. Do Pulp, antes do lançamento de "We Love Life" em 2002, eu tinha ouvido uma única vez o "This Is Hardcore", que passou bem desapercebido. Mas quando ouvi "We Love Life", foi identificação imediata, gostei muito do disco. Ouvi bastante na época, depois deixei um pouco de lado, agora voltei a ouvir de novo. Tenho uma especial admiração por discos que possuem grand finales, e Sunrise é uma música impecável neste quesito.
postado por Fabricio Boppré em 26.8.04
Na vitrola de V.M.
Hurtmold / "Mestro" (2004): Sei que pelo menos o Fabrício ou a Natalia vão cedo ou tarde mencionar esse disco, portanto vão aceitando o fato de haver rasgação de seda pelo álbum. O Hurtmold vem fazendo vários feitos com o passar dos meses: evoluindo seu som, criando confiança e internacionalizando seu potencial. A cada novo disco, reluzem os traços de evolução, de aperfeiçoamento da sonoridade da banda. De uma banda que buscava fixar uma identidade em seus primeiros discos, chegaram a um ponto em que podem se dar ao luxo de usar qualquer coisa que julgam necessário. E "Mestro" é exatamente isso: um passo seguinte ao excelente split com o Eternals. Múltiplos instrumentos, inexistência de fronteiras, músicos de primeira. Vocais, em apenas uma faixa, ainda assim econômicos - mas perfeitos, de causar arrepios na coluna vertebral. O Hurtmold ultrapassou os conceitos de pós-rock, de Mogwai e fundou seu universo próprio. Não se surpreendam se encontrarem o nome da banda em meio a indicações de artistas de 2004 internet afora, mesmo em linhas escritas por um americano ou por um irlandês. Qualidade não falta.
postado por V.M. em 18.8.04
Na vitrola de Alexandre Luzardo
Jellyfish - Splitmilk [1993]
Banda altamente deslocada de seu tempo. Esse disco é de 93, e todo mundo lembra o que rolava em 1993. Pois o Jellyfish misturava num caldeirão melodias meio ripongas em arranjos hard rock setentista. Alguns momentos emulam Beach Boys, tamanha a riqueza de detalhes do negócio, e no geral resgatam sonoridades que estavam completamente "out" na época (na real, até hoje): dá para acreditar que em dado momento eis que surge aquele tecladinho SUPERTRAMP?!?!?! E os backing vocals carregam uns 'uáááás' bem na linha do QUEEN. Mas bem de canto: o som é massa!
A melhor "amostra" para o som deles é "The Ghost At Number One", cujo videoclip passava de vez em quando no Gás Total.
postado por Alexandre Luzardo em 15.8.04
Na vitrola de Fabricio Boppré
New Model Army/"The Ghost of Caim"
Os melhores discos do NMA foram lançados nos anos 80, e este é o melhor deles, na minha opinião. É ouvir e descobrir que a principal influência do Interpol não é o Joy Divsion, como está escrito em 99% das resenhas de "Turn on the Bright Lights" que saíram por aí.
The Black Heart Procession/"Two"
Poucas são as bandas hoje que você ouve e percebe de imediato que trata-se de um som original. O TBHP é tranquilamente uma dessas. A 'diversão' dos caras é fazer música sorumbática, floreada por uma sempre bela melancolia. Pra isso usam e abusam de teclados, vocais lamuriantes e arranjos atmosféricos. O resultado é trilha sonora perfeita para os filmes mais fantasiosos do Tim Burton. "Two" e "Three" são os melhores discos deles.
postado por Fabricio Boppré em 10.8.04
Na vitrola de Chico Marés
The Decemberists - Her Majesty The Decemberists (2003)
Esse é um disco difícil de definir. Passeia pelo folk, pelo rock sessenstista dos Zombies, pelas canções de marinheiro e pelo bom e velho rock'n'roll. Canções muito estranhas - no sentido elogioso da palavra -, como a magnífica "Shanty For Arethusa" - que seria um belo tema para um filme baseado em um conto qualquer de Jack London - e "The Gymnast, High Above The Ground", se alternam com deliciosas canções pops como "Billy Liar", "Los Angeles, I'm Yours" e "Soldiering Life". As letras são achados: vão desde contos de piratas a soldados gays em um campo de batalha (!!!), passando por Los Angeles, orfãos limpadores de chaminé, tesouros, ciganos, etc. Se vendesse bem, talvez uma mitologia toda fosse criada ao redor dessas letras, mas infelizmente esse não é o tipo de música que eu ouço quando ligo o rádio. Infelizmente.
Recomendadas: "Shanty For Arethusa" (melhor música do ano que passou), "Soldiering Life", "Red Right Ankle" e "Billy Liar"
Neutral Milk Hotel - In The Aeroplane Over The Sea (1998)
Afinal, o que é Neutral Milk Hotel? Simples: pegue o Jason Lytle e o Euros Childs, cabeças pensantes do Grandaddy e do Gorky's Zygotic Mynci respectivamente, dê bastante ácido aos guris e veja o resultado. Partindo do princípio que essas já não são as bandas mais certinhas do mundo, conclui-se que as viagens de Jeff Magnum não são para amadores. Alternative Country, teclados estranhos, guitarras podraças distorcidas em lugares nunca antes visitados por seres do gênero, gaitas de fole, experimentos diversos, tudo emoldurado por letras bizarras e vocais ligeiramente esganiçados. Essa cultuada obra está repleta de grandes momentos de lisergia - ouça "The King Of Carrot Flowers Part. 2" e sinta o que uma mente alterada pode fazer com alguns instrumentos - e estranhamente belas canções folk, como a maravilhosa "Oh, Comely", que poderia estar em um bom disco do mestre Bob Dylan.
Recomendadas: "Holland, 1945", "Oh, Comely", "Two Headed Boy" e as duas partes de "The King Of Carrot Flowers"
Beastie Boys - To The 5 Boroughs (2004)
Desde que ouvi o Clash tocando "Ruddy Can't Fail", cheguei a conclusão que nenhum gênero musical, nem mesmo o ska, deve jamais ser subestimado. Sendo assim, não conclua que o rap e o hip-hop da terra do Tio Sam é apenas os hinos ao consumismo e à violência compostos por gente "brilhante" como 50 Cent, Snoop Doggy Dog, P. Diddy e similares. Os Beastie Boys, por exemplo, sabem como usar o gênero de uma forma pra lá de proveitosa, fazendo grandes rimas e letras bem-humoradas sobre batidas agradáveis e simples. O single já clássico "Ch-Check It Out" prova que, depois de quase duas décadas de carreira, os tiozinhos ainda sabem fazer um puta som. Mais um grande disco de Adrock, Mike D e MCA!
Recomendadas: "Ch-Check It Out", "It Takes Time To Build", "An Open Letter to NYC"
* Agradeçam ao Jonas pelos Decemberists. Ele que me fez correr atrás do som dos caras.
postado por Chico Marés em 9.8.04
Na vitrola de Alexandre Luzardo
The Kinks - The Village Green Preservation Society [1968]
Estava lendo esses dias sobre o recente relançamento desse disco e bateu uma vontade incontrolável de ouvir de novo. Engraçado que quase todo mundo conhece Kinks somente por You Really Got Me, eu mesmo fui procurar a banda a partir dessa música. Mas o Kinks tem uma carreira e uma história riquíssima. Aqui não é o espaço para se estender muito, então resumindo, o Village Green é o melhor disco que já ouvi deles. É uma explosão criativa, não exatamente lisérgica.
postado por Alexandre Luzardo em 6.8.04
Na vitrola de V.M.
The Rapture / "Echoes" (2003): Hypasso do ano passado, estiveram no país junto com as Listras Brancas no Tim Festival. Alguns críticos acusam os caras de requentar o pós-punk do Gang Of Four, o público torce o nariz "apenas" por eles serem de NY. Na real, não conheço muitos discos que ousem misturar batidas eletrônicas chinelonas com guitarras e vocal, mas sei que gosto dessa coisa. Vocal a-la Robert Smith, melodias legais, dançante para quem gosta de dançar, escutável para quem gosta de dirigir. Não veio para se destacar, mas para oferecer resultados imediatos e efêmeros.
Dios / "Dios" (2004): As boas críticas mentem quando comparam os caras com os Beach Boys. É um lance bem menos perfeccionista, ao contrário, de Brian Wilson há mais a adoração por melodias bem elaboradas. A produção parece caseira, de quintal mesmo, o que ajuda muito eles no fator sinceridade. Entre Wilson e o Dios, interferências de Nick Drake, Neil Young e coisas caipiras como o Grandaddy. Enfim, um disco que puxa todas essas influências para uma sala de ensaio e as retoca com algumas eletronices novas e frescor atual. Destaque para "Starting Five", popzão, e "Fifty Cents", com intromissão da harmonia de "You Still Believe In Me" do Pet Sounds, na cara dura (ficando legal, diga-se de passagem).
postado por V.M. em 3.8.04
Na vitrola de Fabricio Boppré
Pearl Jam/"Vs"
Este é o meu disco preferido do PJ hoje. O "Vitalogy" está em um nível diferente, como obra, mas se for pensar em termos de "coleção de músicas", "Vs" é o disco. O "No Code" é excepcional também, mas funciona como um elo de transição, acaba não tendo o poder de fogo deste. O "Ten" é aquela história: a produção precária e a overdose de audição de suas 4 ou 5 músicas principais a que todos fomos submetidos, fazem o disco ficar menor. A questão é que, por um punhado de fatores, "Vs" é o meu disco do PJ, atualmente. Eu apenas gostaria de saber onde foi parar a fitinha k7 original que eu tinha desse disco, comprada na época do lançamento... resenha a seguir, já está no prelo.
postado por Fabricio Boppré em 3.8.04
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