Na vitrola de V.M.
Dälek / "From Filthy Tongue Of Gods And Griots" (2002): Cada vez tenho tido menos preconceito com discos de outros universos sonoros, contanto que sejam bons. Às vezes pintam discos roots que valem a escutada, gente de outros gêneros como o heavy metal e a surf music que lançam discos bons em suas linhagens e isso acaba caindo aqui na rede. Agora, o que gosto mesmo é de discos que transcendem seus rótulos e ousam se meter com outras turmas, exatamente o caso desse disco do Dälek. Os caras fazem hip-hop, mas enchem o som de samplers de guitarras e baterias pesadas, completando com eletrônica intrincada. Nada de coisas MTVísticas, a atmosfera é extremamente sombria, ajudada pelos vocais graves dos caras e a evidente predileção por coisas mais abstratas que se confundem com o avant e até mesmo o indie. Passando por hip-hops musculosos como "Speak Volumes" e "... From Mole Hills", os caras não se acanham em fazer um ópus avant de doze minutos em "Black Smoke Rises". O teto preto em que o Planet Hemp nunca pensaria tocar.
John Zorn / "Moonchild" (2006): O senhor que não hesita em colocar um disco de peidos e vômitos no catálogo de sua gravadora (se isso se fizer necessário) teve a idéia de traduzir para o rock alguns trabalhos literários sobre misticismo e bruxaria. Reuniu Mike Patton e Trevor Dunn (50% do Fantômas) e Joey Baron (Naked City), "dirigindo" os caras por um pesadelo de voz, baixo e bateria. Dunn e Baron mostram um grande entrosamento, desbravando rumos sem receios, chegando a lembrar momentos do Naked City, do Fantômas e do Painkiller. Patton começa com sua esquizofrenia de sempre, até emular a garotinha de "O Exorcista" na faixa "Possession". Idiomas inteligíveis, climas sombrios e flertes com o metal contextualizam o lado maligno da obra. Do que fazem em sua parceria na Tzadik, em "Moonchild" Zorn e Patton parecem ter acertado a receita como não tinham feito antes.
Sunset Rubdown / "Shut Up I Am Dreaming" (2006): O Sunset Rubdown é 50% dos compositores do Wolf Parade. Spencer Krug, o homem, é quem ouviu muito David Bowie e não consegue se conter dentro de uma única banda, participando de alguns projetos canadenses que vêm dando o que falar. Aqui, Spencer trafega sem limites com seus vocais ébrios e teclados errantes, saindo da configuração caseira de seus primeiros discos para projetar o trabalho como uma colaboração de banda. Com isso, deixou a coisa mais universal, próxima em alguns momentos de Wolf Parade, para em outros mexer com o Frog Eyes e o próprio Bowie. Embora o disco não guarde a mesma magia de seu trabalho em "Apologies To Queen Mary", é um prato cheio para quem não se contentou com o debut do Wolf Parade, sendo forte o suficiente para justificar os elogios que seu autor vem recebendo e mesmo as vias paralelas que resolveu percorrer.
postado por V.M. em 4.6.06