Na vitrola de V.M.
Arcade Fire / "Neon Bible" (2007): Engraçado que se fosse há um ano atrás eu teria ficado empolgadíssimo com esse lançamento, contando os dias até que ele chegasse aos meus ouvidos. Como não tenho tido muito tempo, fui me dar conta e o envelope da Merge já tinha aparecido aqui em casa. Paralelamente, não tive muito saco para ler as opiniões a respeito desse disco (coisa que também já fiz com mais freqüência), então perdoem-me se o que escrevo já foi mastigado antes.
O Arcade Fire era/é um mistério, pois de um simples EPzinho eles chegaram no obrigatório "Funeral", disco que comoveu até o mala do Bono Vox. Os registros confrontaram-se para o ouvinte: um extremamente simples, caseiro e o outro poderosíssimo, brilhante. Difícil então imaginar qual passo a banda daria no futuro. "Neon Bible", na verdade, acabou de alguma forma se colocando no meio desse caminho entre o EP e "Funeral". Se "Cold Wind" e "Brazil", faixas lançadas em 2005, sugeriram um Arcade Fire menos elétrico e mais pastoril, "Neon Bible" não deixa de reafirmar essa tendência, logicamente anabolizada com ricos arranjos e principalmente com uma incrível demonstração de amadurecimento da banda. Essa nova etapa preservou a tensão onipresente da música deles, o sangue pulsando nas veias, mas ao invés de gritar como fazia em "Power Out", Win Butler sussurra ironias e críticas no decorrer do disco. As guitarras elétricas tiveram seus volumes reduzidos, dando lugar a uma série de outros instrumentos que, em combinação, são igualmente poderosos, fazendo de "Neon Bible" um disco tenso à sua maneira. Suas músicas são amargas, sem a urgência adolescente de algumas músicas anteriores (com exceção da regravação de "No Cars Go"), mas indiscutivelmente superiores a muito do que se ouve por aí.
A grande tendência, me parece, é colocar os dois discos lado-a-lado e escolher o melhor. "Neon Bible" é uma ótima saída pela tangente. A banda voltou-se para si e extraiu a melhor fotografia de seu som após o boom independente do qual foi vítima. Mais paciente e pensativo, o Arcade Fire acertou mais uma vez.
postado por V.M. em 12.4.07