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Wonder how it came to be my
friend
(Preâmbulo) Chove. Certas músicas
são mágicas.
Comparações entre músicas
e diversos fenômenos naturais, outros sons, explosões,
risos, gritos, riachos, bosques, cidades não faltam. Nada
mais justo do que tentar explicar o inexplicável com cenas
de sonhos. Músicas que tangem e tingem a alma daquela maneira
incompreensível.
Não fosse a injustiça,
claro, com as músicas mágicas. Músicas mágicas
não podem ser comparadas a nada. Elas são anteriores
ao mundo, e delas o mundo surgiu. Mais ou menos como no Ainulindalë.
Thru the Eyes of Ruby* foi a principal
responsável pela concepção do mundo, do submundo
e tudo que habita entre. A essência e a sustentação,
assim como a leveza e o cheiro do ar fresco.
Só que chove. Chove desde
madrugada, o céu continua branco vivo, malhado de cinzas,
e a água resolve cair do céu aqui e ali e mais adiante.
Isso não significa outra coisa: Diamond Sea** reina plena.
Simploriamente colocando, eu adoro isso.
Time takes its crazy toll
And how does your mirror grow
You better watch yourself when you jump into it
'Cause the mirror's gonna steal your soul
Quando o verão torna-se brumal
– aproximação do outono –, Diamond Sea
seduz e não há outra opção a não
ser contemplá-la. Sublime. Acontecimentos no tempo inexplicáveis
com quadrivetores; mas perfeitamente visíveis dentro daquelas
janelas dos olhos.
Acontecem então aquelas fusões
inebriantes. Ela que criou você ou você que a criou?

I wonder how it came to
be my friend
That someone just like you has come again
Chove. Começou aos poucos,
e não foi tão inesperado. Surpresa? Certamente! Não
era inesperado que uma música sobrenatural e mágica
me arrebatasse. Lembranças de pulos na chuva, toques delicados,
cheiros familiares, tão próximos e encantadores. Coisas
que trazem lágrimas aos olhos, lágrimas de alegria
incontida, de nostalgia que não é só lembrança.
Corolário: as lágrimas
também surgiram de um oceano de diamantes.
You'll never, never know how close you came
Until you fall in love with the diamond rain
Também surgiram dos oceanos
mágicos os entes que caem do céu. Místicos
flocos de neve, meigos pingos de chuva, shooting stars. O que, também,
deu origem a geadas, granizo, intéperes congelantes, tempestades
torrenciais. Todos parentes da chuva dos solstícios.
Throw all his trash away
Look out he's here to stay
Your mirror's gonna crack when he breaks into it
And you'll never never be the same
E, em contato com todo esse céu,
as loucuras o dia-a-dia ficam quase perdidas. Menino jogando mini-game
em pé no ônibus. Favor não limpar as mãos
de giz na cortina. Não usar cesto de lixo como descanso de
pés. Loucuras quase sobrenaturais, não? Sim, perdidas.
Porque essa não é uma música alertando sobre
os efeitos do narcisismo. Não é sobre a indústria
da música. Não é sobre uma relacionamento do
Woody Allen. É sobre como o céu surgiu da terra.
Look into his eyes and you can see
Why all the little kids are dressed in dreams
O mais incrível não
é a criação, e sim tudo ainda continuar aqui
para ouvirmos. Todas as sendas e campos espelhados, espalhados com
ondas de satisfação e memórias.
I wonder how he's gonna make it back
When he sees that you just know it's make-belief
Ou seria um mundo sobrenatural criado
por alucinações?, alguém ponderaria. Talvez.
Mas mais real não há.
Blood crystalized as sand
And now I hope you'll understand
You reflected into his looking glass soul
And now the mirror is your only friend
De resto, qual é a dor de
se tranformar em tudo isso? Nenhuma. Ela continua inteira, com sua
melodia, suas várias melodias, todos seus infindáveis
– infindáveis eternos – tempos.
Look into his eyes and you will see
That men are not alone on the diamond sea
Sail into the heart of the lonely storm
And tell her that you'll love her eternally
Não há trégua,
portanto. Ela tem poderes inesgotáveis.
Por exemplo: um mar gigantesco, basquinhos
desprotegidos. Longas faixas de água cristalina. Barquinhos
especiais, daqueles que se reconhece ao longe, só pelo jeito
que ele se deixa levar pelo vento. Sonhos de cenários assépticos
de filmes de ficção científica figurando como
estranhas previsões de futuros que não chegarão;
cheiro de projetores. Estes substituídos por aquelas tentativas
de tentar ver o que é o eterno e o infinito... E conseguir!
Sabe a tal sensação
linda do indescritível?*** Está exatamente ali, naqueles
(hereticamente falando) barulhinhos entre estrofes e outras.
Time takes its crazy toll
Mirror fallin' off the wall
You better look out for the looking glass girl
'Cause she's gonna take you for a fall
Trazer de volta, para as chuvas,
aqui.
Look into his eyes and you shall see
Why everything is quiet and nothing's free
De volta, de volta... Ainda os mesmos
cheirinhos e afetos.
I wonder how he's gonna make her smile
When love is running wild on the diamond sea
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Palavras ainda
necessárias? Ora, estes versos criaram o mar, e isso
já não é mais do que uma resposta? Estes
versos criaram o oceano verde, azul, cristalino, gigantesco.
Não cabe nos olhos.
Thru the Eyes of Ruby realmente criou o mundo e todo o resto.
Mas Diamond Sea fez a imensidão de coisas belas tornar-se
tangível a almas mortais. |
* Smashing Pumpkins
** Sonic Youth
*** Alkalino
Natalia está navegando no diamond sea e coletando
espécimes de músicas mágicas.
12/03/2004
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