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Faixa bônus from hell
Por que não se deve dormir ao som do álbum Mellow Gold
do Beck
Já
passa das 23h, o cara chega em casa depois de um dia cheio, trabalho
o dia inteiro e aula à noite. O cansaço com certeza está presente
mas depois daquela seqüência básica rango-banho, a impressão é de
que o dia não estaria completo sem antes escutar um bom disco para
depois dormir e aí sim, ficar pronto para a maratona reservada para
o dia seguinte.
A escolha fonográfica não poderia ter sido melhor, o recém adquirido
Mellow Gold do Beck. Um disco ensolarado, alegre, logo ao som da
primeira faixa, a indefectível Loser, já se está com um sorriso
no rosto. E o disco vai rolando, animado em alguns momentos (Fucking
With My Head, Beercan) e mais introspectivo em outros (Pay no Mind,
Truckdrivin'). Já passa da meia-noite e o esgotamento físico é incontrolável.
O disquinho do Beck, como se estivesse antevendo a situação, reserva
em sua segunda metade uma série de canções mais, digamos, relaxantes.
Steal My Body Home, Nightmare Hippy Girl, Blackhole e o sono vem
fácil e recompensador. O sono dos justos, como se diria do cara
que leva uma vidinha medíocre e pacata, ralou o dia inteiro e teve
seus momentos rock n'roll ouvindo um bom disco antes de começar
tudo de novo com o sentimento de dever cumprido.
Mas Beck Hansen é um sujeito malígno e cruel. Do alto de sua ausência
completa de sentimentos e compaixão pelo sono alheio, ele armou
uma bomba, um potentíssimo detonador pronto para explodir ao final
de Mellow Gold. Mas não exatamente ao final do disco, antes da explosão
calculada existe um longo e demorado período de silêncio, o que
permite um efeito devastador ainda maior amplificado pelo silêncio.
Esse detalhe evidencia os requintes de crueldade da armação do Sr.
Beck Hansen. O nosso herói cansado dormia tranquilamente ao som
da calmaria melódica que vinha de Mellow Gold. Mais alguns minutos
e o disco acaba, vem aquele silêncio que vai levando o sono aos
caminhos mais fascinantes. O sono pesado chega a um estágio conhecido
como REM, onde os delírios do inconsciente conduzem ao imaginário
mais fascinante.
O trânsito engarrafado que se transorma num momento mágico, uma
doce ruiva que dança no meio do povo com seu vestido vermelho e
sorriso no rosto... nadar a noite, I don't sleep I dream... rostos
que se formam em pequenos cartazes, pegar carona num caminhão, econtrar
o rio, ser levado por sobre a multidão, imagens em preto e branco,
um dia de aula realmente diferente, uma dia no campo.
Até que...
BLITZPOIIINGKRIIIIIIEGGGBLIMPSCROOOOOIIIIIING
BLEEEEEEINGDOOOOOONGCLAKTDUMPTSCREKTBLI
NNNNNNNNKTUUMPFWOUUUUINGCLAANGDOINGPIII
INGPOIIINGKRIIIIIIEGGGBLIMPSCROOOOOIIIIIINGBL
EEEEEEINGDOOOOOONGCLAKTDUMPTSCREKTBLINN
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POIIINGKRIIIIIIEGGGBLIMPSCROOOOOIIIIIINGBLEEEE
EEINGDOOOOOONGCLAKTDUMPTSCREKTBLINNNNNN
NNKTUUMPFWOUUUUINGCLAANGDOINGPIIIINGPOIII
NGKRIIIIIIEGGGBLIMPSCROOOOOIIIIIINGBLEEEEEEIN
GDOOOOOONGCLAKTDUMPTSCREKTBLINNNNNNNNK
TUUMPFWOUUUUINGCLAANGDOINGPIIIING!!!!!
Maldito Beck!
O cara acorda atônito, assustado...
Maldito Beck!
Zilhões de pensamentos sem sentido em poucos segundos tentam responder
a próxima pergunta. O que está acontecendo?? Não é o meu despertador!?
Será um curto-circuito??? A casa vai pegar fogo???
Maldito Beck!
O barulho não pára. Pânico! Preciso acabar com esse barulho!!!!
Socorro!!
Maldito Beck!
Peraí, é o som!! Será que estragou??? Onde está o controle remoto?
Rápido, os vizinhos vão acordar!!!
MALDITO BECK!
Tudo isso não levou mais que tinta segundos mas pareciam horas tamanha
a adrenalina e a tensão de resolver o problema, desarmar a bomba.
Aquela situação inusitada desencadeou uma severa investigação. Primeiro
o teste do aparelho de som, sintonizando estações de rádio, depois
colocando algum CD. Depois o teste foi com o Mellow Gold, que foi
reproduzido normalmente por um discman e depois no próprio aparelho
de som.
O truque maldoso do Sr. Beck Hansen foi finalmente descoberto. Mas
o fato é que já não havia mais sinal de sono por perto e restou
ao nosso herói ficar várias horas praguejando contra a progenitora
do cantor. Por uma daquelas ironias da vida, o sono só voltou cerca
de 20 minutos antes do despertador tocar. Na medida exata para o
cara novamente ser acordado de sobressalto e ter que encarar mais
um dia de trabalho com um aspecto de zumbi em decorrência a noite
maldormida.
Maldito Beck!
Alexandre Luzardo, que finalmente se decidiu
a respeito de uma coluna fixa, e resolveu começar com o pé esquerdo
escrevendo um texto completamente sem noção.
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