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A vingança de Seattle
Carreiras que o grunge destruiu

A mídia impressa adora grandes manchetes catastróficas do tipo "o rock morreu" ou "o grunge morreu". Aliás, o rock já foi assassinado não sei quantas vezes. Por quem, cara pálida? A própria mídia é a encarregada de desmerecer o rock em nome de ondas passageiras tipo trip hop (por onde anda o Tricky?), techno (alguém ouviu o que o Prodigy andou fazendo nos últimos 5 anos?), e agora electro. 

Se for para generalizar, é uma obviedade que a música eletrônica, independente dos rótulos ou da onda do momento, tem o seu espaço, aliás, sempre teve nas duas últimas décadas. Agora, pegar um sub-gênero de vida curta para contestar a legitimidade e o futuro de uma verdadeira instituição que é o rock n'roll beira o absurdo.

Por outro lado, o rock n'roll também tem os seus sub-gêneros de vida curta. Coisas malucas como shoegazing, dreampop e afins. Entre eles figura o grunge, que, se for para aplicar ao termo o sentido de sub-gênero de rock n'roll, de fato teve vida curta. Mas mesmo ao tratar a existência do grunge como uma onda passageira de morte anunciada, percebe-se que foi uma Senhora onda passageira, um verdadeiro cataclismo que rende algumas marolinhas até hoje. No meio do cataclismo, rolou um verdadeiro salve-se-quem-puder na indústria fonográfica, já que o abalo provocado pela revolução capitaneada pelo Nevermind rendeu inúmeros mortos e feridos. Praticamente nada ficou imune aos estragos, desde o império do pop e seus reis intocáveis, passando por figurões milionários do rock e até mesmo tendências emergentes do próprio rock alternativo. Seria uma heresia dizer que afetou até a música eletrônica? Aí já é mais complicado, mas ainda assim, dá para levantar alguns casos para reflexão.

E agora chegamos ao melhor dessa história, os casos para reflexão! Durante vários anos a mídia vem insitindo com a afirmação de que "o grunge está morto". Tudo bem, isso já é quase como chover no molhado. Mas está na hora da vingança: para o regozijo da galera, vamos as bandas que o grunge matou!!! Sim, vamos remexer entre os escombros do cataclismo de Seattle para resgatar alguns nomes de que nos livramos ou ficaram um tanto esquecidos ao longo do anos 90.

MICHAEL JACKSON: Assim como o seu rosto, a música de Michael Jackson também caminha há tempos para a auto-destruição. Independente do que aconteceu em 1992, a trajetória dele durante os anos 90 seria a mesma. 

Mas para os roqueiros de plantão, não dá para negar o simbolismo do fato do rei do pop ser destronado do número um da Billboard pelo Nirvana. O Nevermind veio do nada e foi escalando a parada americana, degrau por degrau até chegar ao primeiro lugar, e quem estava lá antes era justamente Michael Jackson. Foi a partir daquele momento que Jacko (para cair no lugar comum: um cara de enorme talento que se tornou uma paródia de si mesmo) iniciou sua decadência.

INXS: O INXS era muito grande nos anos 80. Com milhões de discos vendidos, a banda australiana conquistou o mundo e detinha uma popularidade impressionante em vários países. 

Vinha de uma seqüência de dois discos altamente conceituados, "Listen Like Thieves" e "Kick", e ganhou tudo o que podia de prêmios grammy. Em 1990, a banda fez um show no estádio de Wembley completamente lotado e o disco "X" foi lançado. Mas já estávamos em meio ao cataclismo e o disco não vendeu o esperado. Dali em diante foi só ladeira abaixo, e olha que eles tentaram, foram mais três discos que ninguém ouviu antes de um final melancólico em 1997. Simplesmente não havia o que fazer, ninguém queria saber de "pop dançante" (a exceção do U2) depois do Nevermind.

NEW KIDS ON THE BLOCK: Por falar em pop dançante, o New Kids foi um verdadeiro fenômeno no final dos anos 80 até o início dos 90, não há quem não se lembre da abominável Step By Step. 

É uma verdade que a vida útil de boy band não é uma coisa muito duradoura, ou seja, eles iam sumir do mapa de qualquer jeito. Mas ao menos o fato de não surgir um substituto pode ser creditado à turminha de Seattle. Simplesmente boy band não era uma coisa autêntica naquela época e não tinha aceitação. Mais alguns anos depois, precisamente 1996, Hanson, Spice Girls e Backstreet Boys viraram o jogo, mas com certeza todos eles seriam figuras risíveis em 1992, presas fáceis para o cataclismo.

POISON: Autenticidade é a palavra chave que destruiu o Poison e uma dezena de bandas similares. Imediatamente depois do Nevermind, o som do Poison e afins se tornou datado e ultrapassado. 

Mesmo durante na década de 80 eles já eram chamados de posers, mas a máscara caiu definitivamente a partir de 91, quando se tornou impossível levar a sério o som dos caras. Só para fazer uma analogia, já são mais de dez anos desde o lançamento de um disco como Badmotorfinger, por exemplo, e se o som já não parece inovador ou revolucionário, é um atestado de integridade da época, onde a agressividade ou qualquer outro sentimento transmitido pela música era com um mínimo de legitimidade. 

Outras bandas: 
MÖTLEY CRÜE: Depois de Seattle, até o rótulo dessas bandas se tornou depreciativo. O que antes era conhecido simplesmente como hard rock, se tornou hair metal, em função da preocupação dos caras (e o Mötley Crüe parece ser um caso típico) ser maior com seus cabelos estilo poodle do que com a música.

WARRANT: Tem gente que hoje chama o hard rock dos anos 80 de glam, mas pelo amor de Deus, não caia nessa! O que tem a ver um lixo descartável como Warrant com o grande Bowie dos anos 70?

VAN HALEN / MR. BIG / EXTREME: Instrumentistas "virtuose" são o suficiente para fazer uma boa banda? O destino de Mr. Big e Extreme respondem a essa pergunta. Não adianta o cara ter só a técnica. Até o maior deles, Edward Van Halen viu a sua banda ficar marcando passo depois do Nirvana. 

WINGER: A banda que chegou a ser tema daquelas propagandas radicais do Hollywood nos anos 80 (com a radical "Miles Away"), virou motivo de piada pós 1992. Stuart, o loirinho boa-praça que era feito de palhaço por Beavis e Butthead, usava uma camiseta do Winger no desenho. 

UGLY KID JOE: O Ugly Kid Joe teve muito azar. Só teve tempo de faturar um único hit (Everything About You) antes de ser atropelado pelo grunge e sumir do mapa. Era uma das bandas mais simpáticas da última leva do hard rock anos 80. Aliás, surgiu já em 92.

BON JOVI / SKID ROW: O Bon Jovi nadou contra a maré e foi um dos poucos a sobreviver na década de 90. Qual foi o segredo? Será que o Jon Bon Jovi é bonito demais para fracassar? Talvez não seja isso, pois Sebastian Bach do Skid Row dividia com ele a preferência das meninas e sua banda sucumbiu. É provável que o mais justo seja reconhecer na banda de Jon e Richie Sambora o talento para fazer o que faz. Jon Bon Jovi não precisava berrar e chorar como Sebastian para tornar suas baladas mais palatáveis e acessíveis, em geral elas naturalmente tinham mais consistência do que as dos concorrentes. 

DEF LEPPARD: Mas o Def Leppard é a prova de que só o talento não teria sido suficiente para o Bon Jovi. Os caras do Def Leppard são muito talentosos, o disco Pyromania estabeleceu um padrão de sonoridade que se tornou referência para programadores de FM, executivos de gravadora, produtores e técnicos de estúdio. Ninguém tinha baladas tão grandiosas e melosas quanto eles. Se pelo menos seus integrantes fossem mais atléticos quem sabe eles poderiam ter a mesma sorte do Bon Jovi...

GUNS N' ROSES: O Nirvana foi o principal responsável pelo Guns n'Roses ter deixado de ser a maior banda do mundo (provavelmente um motivo de orgulho para Kurt Cobain).

A discussão aqui não é o Nirvana ter tomado o posto do Guns como a maior banda do mundo (mesmo com o fenômeno Nevermind, talvez a maior banda durante 92-93 era o U2, que vivia o auge da Zoo TV Tour), nem está sendo questionado o talento ou o carisma do Guns n'Roses, ambos inegáveis. A questão é a seguinte: o Nirvana era o contraponto de tudo o que o Guns representava. O Nirvana gostava de shows em lugares pequenos, onde o contato com o público era mais próximo e a energia era mais presente, enquanto que o Guns preferia os estádios e grandes multidões. Kurt não se importava com a roupa que vestia no palco, poderia ser a mesma calça velha de três anos atrás. Já Axl trocava o figurino várias vezes durante o show. O Nirvana consistia em três caras, baixo-guitarra-bateria, o power trio. O Guns no palco tinha backing vocals, piano, tecladista e o escambal. Os videoclips do Nirvana em geral eram simples, só com a banda tocando, em alguns momentos seus integrantes não faziam cerimônia de se expor ao ridículo e debochar de si mesmos ao usar roupa de mulher e tudo o mais. Já os clips do Guns eram superproduções com efeitos especiais, perseguições, helicópteros, tempestades... sempre com Axl como ator principal, o mocinho, o herói.

O Nirvana era a antítese do Guns e aparentemente levou a melhor. O Guns ainda está na ativa, e com certeza teria cacife para virar o jogo. Mas é possível que o problema do Guns para lançar material inédito durante esses anos todos seja o receio de Axl em não ser mais o número 1.

FAITH NO MORE: O Faith No More fez muito sucesso com o disco The Real Thing, capitaneado pela música Epic e vários outros hits (From Out of Nowhere, Falling To Pieces, Edge of the World).

Um futuro glorioso parecia estar a caminho, não fosse o fenômeno Nirvana ter deixado a banda meio fora das expectativas do mercado. Uma pena, pois trata-se definitivamente de uma banda de talento que construiu uma carreira respeitável. Mas o FNM teve um final feliz, hoje em dia, Mike Patton, além de comandar o alucinado Mr. Bungle, acabou montando uma gravadora, onde lança seus novos projetos (Fantômas), além de bandas amigas, como o Melvins.

SMITHEREENS: O quê? Você não conhece o Smithereens???
Não é para menos, o Smithereens nunca saiu do circuito do rock alternativo/underground.

A banda passou boa parte dos anos 80 cultivando uma respeitável base de fãs no underground. Quando assinou com uma grande gravadora, já no final da década, era aposta certa para se tornar grande, conhecida e respeitada por todos. Mas em 92 a mistura power-pop / pós punk / pós new wave do Smithereens tinha se tornado azeda demais para o gosto do mercado. É exatamente o mesmo caso do Replacements, que eram heróis da resistência do rock alternativo nos anos 80, e quando o rock alternativo se tornou grande, o pós-punk do Replacements tinha envelhecido.

SNAP / KLF / C+C MUSIC FACTORY / CORONA / DOUBLE YOU: Esses nomes eram os dignos representantes da então dance music do começo dos anos 90.

Desapareceram por volta de 92 (para serem substituídas por nomes ainda mais bizarros). As músicas pareciam ser sempre a mesma, aliás, alguém sabe a diferença de "rythm is a dancer" para "this is the rythm of the night"?

Esse tipo de banda é naturalmente auto-destrutivo, de músicas descartáveis e recicláveis a cada verão (principalmente no Brasil). Mas não é insulto afirmar que o Nirvana e o som de Seattle tiveram algo a ver com o sumiço dessas bandas durante 92-93, já que no verão de 92 era difícil não ouvir "Smells Like Teen Spirit" e no verão de 93 tivemos o Hollywood Rock.

A Vingança de Seattle 2: Marolinhas...

Para quem não entendeu quando foi dito que o cataclismo de Seattle ainda rende espasmos até hoje, aí vai a parada de singles de rock da Billboard, datada de 01/11/2002:
Primeiro Lugar: Nirvana - You Know You're Right
Terceiro Lugar: Foo Fighters - All My Life
Oitavo Lugar: Pearl Jam - I Am Mine
Nono Lugar: Audioslave - Cochise

Menção honrosa: 
Décimo Sexto Lugar: Queens of the Stone Age - No One Knows

É, o grunge está morto! Viva o Rock n'Roll!!!!

Alexandre Luzardo, teve a infeliz idéia de manchar este site ao tecer
comentários sobre Michael Jackson, New Kids e afins..