Notícias que não serão
publicadas em lugar nenhum
sobre uma banda que ninguém se importa
Para evitar perda de tempo: é
sobre o Soul Asylum.
E resumindo: o Soul Asylum está nos seus últimos dias.
Não que isso já não fosse esperado. Mas é
que...
Bueno, desde 1998 sem lançar
disco novo e sem contrato com gravadora alguma, o Soul Asylum se
mantinha meio que "no amor", fazendo shows aqui e ali
e apresentando músicas novas só para poder dizer que
a banda está na ativa. As músicas novas complementam
o repertório de um novo álbum que está para
ser lançado desde 2001. A cada vez que as escassas notícias
sobre a banda se renovam, a previsão de lançamento
é empurrada com a barriga. No fim do ano. Em 2002. No próximo
outono. Antes do natal. E nada aconteceu, até que chega 2004
e nem sinal ao menos dos shows esporádicos, parecia o fim
da linha, mas o status oficial do Soul Asylum permanecia "ativo",
só para constar nos registros que a banda não acabou
ainda. Em março deste ano, um fã encontrou o guitarrista
Dan Murphy num bar em Minneapolis e ouviu deste mais uma previsão,
"em outubro", disse ele. Entre a comunidade da lista de
discussão ninguém deu muito crédito, um novo
álbum do Soul Asylum se transformou numa utopia como o nosso
salário mínimo de cem dólares.
Até que alguns dias atrás
(maio/04) uma triste notícia provoca agitação
na comunidade: o baixista Karl Mueller foi diagnosticado com câncer
na garganta. Entre os fãs de Minneapolis, que efetivamente
estão mais próximos à banda e o que estava
acontecendo pareciam extremamente desanimados e pessimistas: parecia
que a perda era iminente. O porta-voz da notícia disse que
a banda já havia passado por muitos maus momentos, mas que
continuar sem Karl era algo que Dave Pirner e Dan Murphy não
estariam dispostos. Como já recomendava o Crowded House no
hit dos anos 80: "Don't dream it's Over..."
Os mais céticos (meu caso)
pareciam não acreditar. Afinal, hoje em dia o câncer
não é nenhuma bestialidade invencível, e quando
diagnosticado em estágio inicial pode ser contornado sem
grandes traumas. Dane-se o futuro do Soul Asylum, mas que ao menos
a realidade não fosse tão dura como estava parecendo.
A partir dali foi organizado um cartão coletivo com os desejos
de breve recuperação por fãs de várias
partes do mundo.
Cerca de dez dias depois (mais precisamente
19 de maio), surge a notícia de um show beneficente no 400
Bar em Minneapolis, apresentando Dave Pirner, Dan Murphy and friends.
Seria o primeiro show do Soul Asylum (ou quase isso) no ano. Não
houve tempo para que os fãs organizassem as tradicionais
viagens interestaduais para conferir o show, que seria dali a apenas
dois dias. Os ingressos esgotaram-se rapidamente, e no sábado
22/05, Dave Pirner e Dan Murphy sobem ao palco do 400 Bar tocando
na seqüência "Obsessions", "Freak Accident"
em set acústico. Músicas inéditas em disco,
familiares ao vivo, velhas promessas para o novo álbum que
não aconteceu. Ao final da terceira música, "Blood
Into Wine", o público delira com a entrada do próprio
Karl Mueller no palco. Ele revela uma aparência saudável
e essa foi a descrição dos presentes, embora as fotos
do show mostrarem uma preocupante faixa branca em torno do pescoço.
Foram mais cinco músicas (entre elas mais uma inédita
em disco já conhecida do público, "Directions")
contando com o discreto baixo de Karl e ele deixa o palco para dar
lugar aos convidados Marc Perlman e Tim O'Reagan do Jayhawks, outra
grande banda de Minneapolis. O show segue em frente e são
apresentadas mais quatro músicas inéditas do Soul
Asylum, estas inéditas mesmo, nunca mostradas ao vivo. Parece
que a expectativa de um novo álbum continua viva, ao menos
no set list desse show. Mais convidados aparecem, a banda prossegue
misturando covers desconhecidas do público, mais músicas
inéditas e algumas velhas conhecidas como "Gone Til
November", "Summer of Drugs" e "Oh La La".
Parecia que as músicas ganhavam novos e especiais significados
naquela noite. No encerramento, um medley (velho costume do Soul
Asylum) onde cabe desde "I Wanna Be Sedated" dos Ramones
até Bon Jovi (!). Além de Dave e Dan, Marc e Tim,
a esta altura também estavam no palco Kraig Johnson, e Gary
Louris (todos do Jayhawks) e Jim Boquist (do Son Volt).
Alguns dias depois o show repercute
em um jornal local, onde é noticiada pela primeira vez a
sitação de Karl. O conteúdo do artigo
é, como dizem, bittersweet (tá, poderia usar
o termo agridoce, mas deixa assim). Aquela faixa branca confirma
ser uma proteção para a traqueostomia que permite
que Karl respire. Ele só está "falando"
por escrito, deverá enfrentar sessões de quimioterapia,
e o texto refere a uma expectativa de apenas mais dois anos. "Cinco
a dez se nós formos agressivos", diz a corajosa Mary
Beth, esposa de Karl. Mas dá para ficar otimista com os sinais
de serenidade, determinação e confiança demonstrada
por Karl e todos os envolvidos nessa difícil batalha.
É difícil dizer isso,
mas após ouvir a gravação do show, o sentimento
é de que o tal disco novo PRECISA sair em outubro ou mesmo
antes. Seria doloroso demais ver um lançamento póstumo.
Mas o otimismo permite sonhar com o Soul Asylum encerrando sua história
com um último disco com seus três fundadores unidos
e quem sabe fazendo um show de despedida aos moldes da apresentação
no 400 Bar, com direito a uma última participação
de Karl no baixo, antes do retiro para o convívio familiar
para uma vida saudável e plenamente recuperada.
Alexandre Luzardo,
que pensou em publicar uma nota sobre isso na seção
de news do site ou mandar para a mailing-list... melhor não.
|