Graham
Coxon construiu sua carreira tocando guitarra em uma das
principais bandas inglesas de sua época, o Blur.
Mesmo tendo seu talento como guitarrista e sua importância
no Blur reconhecidos por fãs e pela crítica,
Graham deixou a banda em 2002 após seis álbuns,
embarcando definitivamente em uma carreira solo iniciada
quatro anos antes.
Seu envolvimento com a música
começou desde cedo. Nascido na antiga Alemanha Ocidental,
em uma base militar onde seu pai, músico de jazz,
dava aulas de música em uma base militar inglesa,
Graham e sua família se estabeleceram na Inglaterra
poucos anos depois. Por volta dos 12 anos, Graham aprendeu
a tocar guitarra e sax e em pouco tempo já participava
de diversas bandas. Aos 14 conheceu Damon Albarn e ambos
se reencontrariam na faculdade onde formaram o Blur.
Ao longo da uma trajetória bem sucedida, o Blur passou
por inúmeras transformações sonoras.
Do primeiro álbum, Leisure (1991), quando a banda
ainda parecia uma cria da Manchester dos Stone Roses, ao
auge do britpop e mais tarde ao flerte com o rock americano
(no álbum Blur, de 1997) e com a música eletrônica
(a partir de 13, de 1999), o elemento que sempre deu unidade
ao som da banda foi a guitarra característica de
Graham Coxon. Desde o primeiro single do Blur, “There’s
No Other Way”, podia-se comprovar pelo riff que ali
estava um guitarrista especial, e sua carreira comprova
isso.
No
Blur, enquanto Damon Albarn centralizava as atenções
e os holofotes da mídia como frontman se
comportando no palco e em entrevistas como um típico
popstar, Coxon era o carismático guitarrista
tímido e nerd, satisfeito a ficar de canto
sem aparecer muito. Era também um notório
beberrão, suas inúmeras e curiosas
histórias de backstage só aumentavam
o folclore em torno de si, que aos poucos foi se
tornando uma figura muito querida entre os fãs
da banda. |
A célebre
foto da caixinha de leite,
do vídeo de "Coffee & TV" |
Com o passar dos anos, a
facilidade de Graham Coxon em compor foi crescendo e começou
a faltar espaço no Blur para conciliar as canções
de Graham e de Damon Albarn, por si próprio uma locomotiva
criativa. Além disso, Graham mostrava também
uma disposição para se expressar como autor.
No álbum Blur de 1997, surgiu a primeira música
interpretada unicamente por ele na voz e guitarra, a balada
“You’re So Great”. Com isso, não
foi surpresa quando em 1998, Graham Coxon montou o selo
Transcopic Records e lançou um álbum solo,
The Sky Is Too High Assim como em “You’re So
Great”, Graham Coxon é o único músico
presente no álbum, tocando todos os instrumentos.
No disco, Graham explorava
uma massiva gama de influências e experimentações,
desde folk até o punk, gravado com uma produção
descuidada, por vezes precária, evidenciando se tratar
de um projeto paralelo onde Graham dava vazão a sua
produção como compositor. A prioridade (ainda)
era visivelmente o Blur, tanto que não houve promoção
ou turnê em torno do disco. Em 2000 surge o segundo
álbum solo, “The Golden D”, mais pesado
e agressivo, que teve uma repercussão um pouco menos
restrita, sendo percebido fora do espectro dos fãs
do Blur como um trabalho distinto da sonoridade da banda.
Em 2001, tirando proveito
de um intervalo nas atividades do Blur, que a esta altura
tinha Damon Albarn envolvido em seu próprio projeto
paralelo, o Gorillaz, Graham Coxon deu seqüência
a sua carreira solo com o álbum “Crow Sit On
Blood Tree”. Trata-se de um disco completamente diferente
dos anteriores, mais introspectivo e delicado. Com a boa
repercussão do álbum junto à crítica,
o entusiasmo de Graham foi aumentando e ele já preparava
um novo álbum quando o Blur se reuniu novamente para
discutir idéias para seu próximo disco. Foi
então que começaram a surgir especulações
sobre a possível saída de Graham do grupo.
Graham: pronto para vôos mais altos
|
De
fato, já fazia algum tempo que se tornava
difícil para o Blur conciliar a divergência
musical de seus dois principais compositores e,
com os anos de convivência, as relações
pessoais também já andavam desgastadas,
com o agravante do histórico de Graham com
a bebida. A soma desses fatores resultou na saída
definitiva de Graham Coxon do Blur em 2002. A banda
seguiu seu rumo sem um substituto e com Damon deixando
as portas abertas em entrevistas para um eventual
retorno, ao que Graham reagiu declarando não
ter intenção de voltar a integrar
o grupo. |
“The Kiss of Morning”,
lançado em outubro de 2002, foi gravado enquanto
Graham Coxon ainda era membro do Blur, foi o primeiro a
contar com músicos de apoio e a ajuda de um produtor,
resultando num disco mais coeso.
Após quatro discos tão diferentes entre si,
para os críticos se tornou uma tarefa árdua
situar o trabalho solo de Graham e não é difícil
encontrar nomes absolutamente díspares como Pavement,
Sonic Youth, Syd Barrett e Nick Drake sendo citados como
referências em textos sobre o agora cantor-compositor.
O fato é que, apesar de refletir suas influências
em seu trabalho, Graham Coxon consegue passar nas músicas
sua personalidade, transitando com facilidade entre vários
estilos mantendo uma identidade própria, facilmente
reconhecível. Nesse aspecto, um outro nome freqüentemente
relacionado ao trabalho solo de Graham é o de Billy
Childish, que inclusive teve álbuns seus lançados
pela Transcopic Records, gravadora montada por Coxon.
Em 2004 surge o primeiro
álbum de Graham Coxon efetivamente como um artista
solo, “Hapiness In Magazines”. Desta vez, o
enfoque foi diferente, a idéia de produção
caseira, lo-fi, foi deixada de lado, assim como boa parte
dos experimentalismos, tornando o som mais pop e acessível.
Para o disco, Graham contou com a produção
de Stephen Street, que havia trabalhado nos quatro primeiros
álbuns do Blur. Com isso, a comparação
com o som de sua antiga banda foi inevitável. O disco,
sonoramente falando, se situa entre Modern Life Is Rubbish
e Parklife, como se numa hipotética linha no tempo
o Blur lançasse Hapiness In Magazines como uma ruptura
ao caminho traçado pela banda em Parklife. Essa característica
do “novo velho” Graham Coxon certamente agradou
fãs mais antigos do Blur, além de ser pop
o suficiente para atingir o grande público na Inglaterra.
O disco repercutiu muito bem nas paradas, puxado principalmente
pelos singles “Freak Me Out” e “Bittersweet
Bundle of Misery”. Com sua primeira turnê solo,
Graham tocou nos grandes festivais ingleses e em 2005 foi
escolhido como melhor artista solo do ano pela NME.
Após sua
saída do Blur, Graham Coxon pôde
retomar também a sua vertente de artista
plástico. Na verdade, desde os tempos de
faculdade, quando estudou artes, Graham nunca
havia deixado de pintar mas a atividade era mais
um passatempo despretencioso do que uma carreira.
Seus únicos trabalhos a atingir o público
foram as pinturas usadas nas capas de todos os
seus álbuns solo e no álbum 13 do
Blur. Mas em 2004 Graham fez sua primeira exposição
de arte e desde então ocasionalmente expõe
seus trabalhos na área, além de
participar de leilões beneficentes com
a doação de telas.
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Entre palcos e galerias de arte |
Mas a prioridade continuou
com a música e ainda em 2005 Graham Coxon passou
a trabalhar em seu sexto álbum solo, novamente com
Stephen Street. O disco, Love Travells At Illegal Speeds
foi lançado em março de 2006 e trata-se de
uma continuação natural do caminho trilhado
em Hapiness In Magazines, mostrando um Graham mais confiante
e confortável na sua atual posição.
Uma característica que marca o novo disco se faz
presente nas letras, onde pela primeira vez Graham explora
temas pessoais, especialmente relacionamentos, como nunca
antes em sua carreira.
Após o lançamento
do novo disco, Graham Coxon embarcou para sua primeira turnê
solo em território norte-americano. A turnê
deve se estender ao longo do ano pela Inglaterra e a expectativa
para o futuro é o seguimento natural de sua carreira
solo, com o retorno ao Blur parecendo cada vez mais improvável,
ainda que os rumores nesse sentido continuem surgindo.
Alexandre Luzardo
abril/2006 |