O Pixies é,
sem dúvida alguma, uma das bandas mais originais e influentes
que apareceram nos anos 80. Junto com Hüsker Du e Sonic Youth,
o grupo capitaneou o renascimento do circuito de Rock alternativo
norte-americano. Com um som que mesclava elementos básicos
do punk rock, surf music, noisy guitar, passando mesmo pela
suavidade da música pop, o Pixies fez história e ficará para
sempre na memória daqueles que se achavam meio deslocados
entre os hard rock farofas que reinavam nos anos 80.
A banda foi formada em Boston, Massachusetts, no começo de
1986, por Charles Thompson que depois mudaria seu nome
para Black Francis nos vocais e guitarra base, e seu
companheiro de quarto na universidade Joey Santiago na guitarra
base.
Através de um anúncio nos classificados encontraram Kim Deal,
uma baixista de Ohio, que tocara antes em sua cidade natal
numa banda chamada Breeders com sua irmã, Kelly. Pouco depois
recrutaram o baterista David Lovering (amigo de Deal), e assim
formaram os Pixies. Reza a lenda que o nome da banda foi tirado
aleatoriamente do dicionário por Joey (o nome significa "fadas",
"duendes"). Foi também nessa época que Charles resolveu,
inspirado por Iggy Pop, mudar seu nome para Black Francis.
Em 1986, os Pixies estavam tocando em Boston, num show com
a banda co-irmã Throwing Muses da guitarrista Tanya Donnevy
que mais tarde participaria das Breeders. O empresário
dos Muses, Gary Smith, que estava na platéia e gostou muito
do som do Pixies, ofereceu-lhes a gravação de um disco. Em
março de 1987, a banda grava 17 músicas (em 3 dias!). Essa
demo ficaria conhecida como "The Purple Tape". A
demo acaba caindo nas mãos de Ivo Watts, um dos donos do selo
inglês 4AD Records, que na época também era gravadora das
Throwing Muses. Impressionado com o material, Watts contrata
os Pixies e lança um EP chamado "Come On Pilgrim",
que possui 8 das 17 faixas da demo original de "The Purple
Tape".
No ano seguinte, a banda entra em estúdio para a gravação
do seu primeiro LP, ao lado do produtor Steve Albini. O álbum
"Surfer Rosa" é lançado na primavera de 1988 e recebe
ótimas críticas. A banda passa a ficar mais conhecida e acaba
trocando de selo, indo para a Elektra Records. Curiosidade
nos dois primeiros álbuns dos Pixies: a baixista Kim Deal
assinava seu nome como Mrs. John Murphy. Inclusive, a única
música composta por ela em todo repertório do álbum "Sufer
Rosa", "Gigantic", é assinada por Murphy. Kim
Deal só usaria seu próprio nome a partir de "Doolittle",
já pela Elektra.
No final de 1988, a banda volta ao estúdio. Dessa vez, o produtor
escolhido foi o Inglês Gil Norton. O disco "Doolitle"
é lançado na primavera de 1989, e é, certamente, o melhor
da banda, além de ser um dos melhores discos de Rock alternativo
de todos os tempos. Puxado pelo forte apelo comercial de "Monkey
Gone to Heaven" e "Here Comes Your Man", o
disco faz bastante sucesso e acaba indo parar no Top 10 inglês.
Importante frisar que, apesar de algumas músicas mais comerciais,
o som da banda continuava o mesmo: músicas simples e curtas,
excelentes melodias e sonoridades inusitadas, como a nítida
influência latina em várias canções. A turnê "Sex and
Death" é muito bem sucedida, principalmente na Europa.
As apresentações ao vivo da banda eram marcadas pela performance
de Black Francis, que quase nunca se dirigia a platéia. Deixando
que a baixista Kim Deal apresentasse as canções e divertisse
o público. A banda também ficou conhecida por algumas extravagâncias
como, por exemplo, tocar o set list dos seus shows em ordem
alfabética. E claro, pela extravagância maior: o próprio Black
Francis.
Em 1989, a banda resolve dar um tempo e alguns dos integrantes
resolvem levar adiante alguns projetos paralelos. Kim Deal,
ao lado de Tanya Donnevy (Throwing Muses) e Josephine Wiggs
(Perfect Disaster), ressuscita o The Breeders e lança o álbum
"Pod" em 1990. Esse disco tem a produção de Steve
Albini e foi lançado pelo ex-selo do Pixies, o 4AD Records.
Black Francis parte para uma pequena turnê solo.
Ainda neste ano, a banda volta a se reunir para a gravação
de mais um disco. Sob a produção de Gil Norton, "Bossanova"
é lançado no final de 1990 e segue a mesma linha dos discos
antecessores. Talvez a única diferença seja que esse álbum
tenha uma influência maior de surf Rock, gerando hits como
"Allison", "Dig For Fire" e a instrumental
de abertura "Cecilia Ann". Nas músicas "Velouria"
e "Is She Weird" ouvimos um Theremin (instrumento
que ficou conhecido nas mãos de Jimmy Page, do Led Zeppelin,
introduzido no rock por Brian Wilson dos Beach Boys no álbum
"Pet Sounds"), tocado por Robert Brunner. Ainda
neste ano, o grupo é um dos headliners do Reading Festival,
na Inglaterra.
Nessa época não dava mais para esconder que Black Francis
e Kim Deal não se davam mais muito bem. No disco "Bossanova"
a participação nos vocais de Kim Deal foi bastante reduzida.
A baixista chegou a dizer publicamente que a banda estava
no fim.
Apesar dos boatos de sua desintegração, a banda se junta uma
vez mais para a gravação de um novo disco, novamente com a
produção de Gil Norton. O disco "Trompe Le Monde"
é lançado em 1991, fazendo bastante sucesso. Dessa vez, as
músicas possuem um acento mais hard-rock, sem deixar de lado
a sonoridade que já era a marca registrada da banda. Muitos
chegaram a dizer na época do lançamento que essa influência
hard rock vinha da presença de Ozzy Osbourne em um estúdio
próximo. Novamente Deal é deixada de lado nas composições
e nos vocais. O álbum trás também uma cover da banda inglesa
Jesus and the Mary Chain, "Head On".
Depois de abrir os shows do U2 na turnê ZooTV, a banda resolve
dar uma nova parada. Deal aproveita para gravar um EP com
o The Breeders (chamado "Saffari" e lançado na primavera
de 1991). Nesse período Black Francis aproveita para gravar
um disco solo.
Um pouco antes do lançamento desse disco solo (o disco iria
se chamar "Frank Black"), em 1992, Francis dá uma
entrevista a BBC dizendo que o Pixies tinha terminado. Os
outros membros da banda ainda não sabiam disso, mas tampouco
desmentiram o fato, provando que a relação entre Deal e Francis
realmente não era mais suportável.
Após o fim, foram saindo regularmente discos póstumos,
destacando-se as coletâneas "Death to the Pixies"
(1997) e "Complete B-Sides" (2001), e em 2003, surgem
boatos de que o grupo poderia se reunir para uma turnê
mundial. O que era boato torna-se oficial no ano seguinte,
com o grupo inclusive passando pelo Brasil, para um show memorável
em Curitiba, em maio. Ainda não se sabe se a banda
volta aos estúdios ou se separa novamente após
o fim da turnê.
Alexandre Luzardo
atualizado por Fabrício Boppré
em jun/2004 |