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O Rock in Rio III, realizado em janeiro
passado, apesar de contar com atrações absurdas, toda
aquela presunção insuportável e coberturas
terríveis da rede Globo e do canal Multishow, teve atrações
excelentes que realizaram shows antógicos, fazendo assim
o festival ter valido a pena.
Abaixo são comentados 6 dos melhores shows que rolaram nos
dias de festa na "Cidade do Rock". E só clicar
nos links abaixo para ler as matérias correspondentes!
Beck
(13/01/2001)
Foo Fighters (13/01/2001)
R.E.M. (13/01/2001)
Queens of the Stone Age (19/01/2001)
Neil Young (20/01/2001)
Silverchair (21/01/2001)
Beck
por Alexandre Luzardo
O Beck enfrentou um público que,
na maioria, desconhecia o seu trabalho, além de estar ansioso por
Foo Fighters e R.E.M. O resultado foi uma recepção fria do público,
embora Beck tenha feito uma performance bastante vibrante. Aliás,
quem conheceu o introspectivo "loser" que tocava "Pay No Mind" no
violão olhando para baixo, teve a chance de conferir a versão soulman
do cara, que, no último disco (Midnight Vultures), incorporou elementos
dançantes de funk e soul à sua já vasta mistura retrô/bossanova/folk/rock/hip-hop.
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Um
dos momentos altos do show foi a música "Tropicalia",
fortemente influenciada por ritmos brasileiros, já que Beck
é um fã declarado de Mutantes e da velha MPB do final dos
60 e início dos 70. Mas, para alívio de muitos, ele não
convidou Caetano Veloso para fazer uma participação durante
o show, como já havia sido cogitado. Beck poderia ter sido
a grande estrela do Free Jazz, mas no Rock In Rio, passou
despercebido. |
Foo
Fighters
por Caio Favaretto
Um dos melhores shows do Rock in
Rio, e talvez o melhor da carreira do Foo Fighters. Pela primeira
vez no Brasil e tocando para uma platéia de 200 mil pessoas, Dave
Grohl mostrou o quanto sua presença de palco melhorou desde seus
primeiros shows como "front-man".
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Assim
que acenderam-se as luzes, ouviu-se os primeiros acordes
de "Breakout" e Dave Grohl, com suas costeletas
à Neil Young, botou a galera para cantar, criando uma incrível
atmosfera de cumplicidade com a platéia, que permaneceu
durante toda a noite. Logo rolaram antigos sucessos como
"Big Me" e "Monkey Wrench". |
Em um outro momento, Dave subiu
a bateria e, num dueto espetacular com o atual baterista do Foo
Fighters, Taylor Hawkins , mostrou o porque de ser considerado um
dos melhores bateristas do Rock mundial. Após sucessos como "I´ll
Be Coming Home Next Year" e algumas reboladas (!!!), o show
foi interrompido por um "Parabéns Pra Você", com direito
a bolo, velinhas e beijos no palco, todos trazidos pela namorada
de Dave e ex-baixista do Smashing Pumpkins, Melissa Auf Der Maur.
Cássia Eller também entrou no palco distribuindo abraços ao aniversariante,
que nasceu no dia 14 de janeiro de 1969. Um show excelente, que
lembrou como eram os velhos (e bons) tempos do Grunge.
R.E.M.
por Fabrício Boppré
Para muitos, o show do REM foi o
melhor do festival. A banda estava inspiradíssima, e Michael
Stipe estava particularmente iluminado. O REM dispensa apresentações,
é sem dúvida nenhuma uma das bandas mais importantes
e coerentes da história do rock alternativo, tanto em sua
música quanto em sua atitude. Nunca havia tocado no Brasil
antes, mas a espera valeu a pena, pois a branda brindou os brasileiros
com um show impecável.
O público também foi uma grata surpresa, pois vibrou
muito e parecia estar em perfeita sintonia com a agitação
esquizofrênica no palco de Michael Stipe.
É importante lembrar
que o disco Out of Time fez muito sucesso por aqui, com
os hits "Shinny Happy People" e "Losing
My Religion" tendo sido tocados exaustivamente nas
rádios. Essa última, quando executada pela
banda, teve como resposta da platéia um coro surpreendente.
E ao longo do show, o público mostrou em vários
momentos conhecer pelo menos o básico da obra do
REM. |
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Para quem achava que a banda não
se daria muito bem diante de um público tão grande
e em um palco exagerado como aquele, foi realmente uma grande surpresa.
O som do REM pode soar bem melhor em locais pequenos e fechados,
mas vale deixar registrado que é desde o disco Green que
eles costumam fazer apresentações em grandes locais,
e mostrando que também sabem lidar com grandes platéias.
O setlist foi muito bom, apresentando algumas surpresas e várias
canções clássicas do grupo. Dessas clássicas,
podemos citar o hino "Fall On Me", "Finest Worksong",
"The One I Love" (Michael cantou parte da música
no meio da galera), a sensível "Everybody Hurts",
"So. Central Rain" e "Man on the Moon" (canção
em homenagem ao finado comediante americano Andy Kaufman).
As surpresas ficaram por conta de duas canções novas
chamadas "The Lifting" e "She Just Wants to be God",
que devem sair no próximo disco da banda, e das magníficas
execuções de três músicas do disco Up:
"Daysleeper", "Walk Unafraid" e "At My
Most Beatiful". Stipe cantou-as com um feeling de emocionar,
e pode-se dizer que, apesar de serem canções introspectivas
e calmas, foram sem dúvida alguns dos melhores momentos do
show.
Pouco antes do fim, Michael Stipe chamou no palco um garçon
que lhes trouxe caipirinha, a bebida "mais brasileira, impossível".
Depois de brindar com o público, a banda fecha a noite com
"It's the end of the world as we know it (but I feel fine)".
O fim do mundo podia ser dali a meia-hora, mas não há
dúvida de as 200.000 pessoas que presenciaram esse show morreriam
feliz.
Queens of the Stone
Age
por Alexandre Luzardo
Chegou a vez do Queens of the Stone Age, banda de Josh Homme, conhecido
por ter tocado no Kyuss, ou para os fãs da música de Seattle, por
ter sido guitarrista nas turnês do Screaming Trees por quatro anos.
Pois quando o Queens of the Stone Age subiu no Palco Mundo do Rock
in Rio, tinha a responsabilidade de conquistar o público, que na
esmagadora maioria desconhecia o som da banda e estava presente
para conferir o aguardado show do Iron Maiden. Mas o QotSA mostrou
tranqüilidade e personalidade ao fazer um show bastante competente
e mostrar o seu som a quem quisesse ouvi-lo. Josh Homme comprovou
ser um grande guitarrista, ao mostrar ao vivo os intrincados arranjos
das músicas dos álbuns Rated R e Queens of the Stone Age. O som
se revela elaborado, mas ao mesmo tempo despretensioso, evitando
solos mais virtuosos e evidenciando os riffs, o que permite uma
sonoridade menos grandiosa e mais direta. Ficou evidente o entendimento
perfeito entre guitarra e baixo, com a presença bastante competente
de Nick Olivieri. Os dois aliás, tocam juntos há uma década, desde
os tempos de Kyuss (a banda de Josh antes de formar o QotSA).
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Os
melhores momentos foram as candidatas a hit "Feel Good Hit
of the Summer" e "The Lost Art of Keeping a Secret". O fim
do show contou com a presença de capoeiristas no palco,
enquanto a banda improvisava numa antiga música do Kyuss.
O QotSA deixou o seu recado, mas infelizmente o que parece
ter chamado mais a atenção foi o fato de Nick Olivieri ter
se apresentado completamente nu, o que garantiu à banda
o título de show mais polêmico. |
Todos pareciam interessados em expor
o fato nas manchetes. A detenção de Nick pelo juizado de menores
e o conseqüente pedido de desculpas ao público e ao povo brasileiro
foram amplamente reportados, mas poucas linhas foram escritas sobre
o som da banda. As vezes soa incoerente que no país do carnaval
e do pagode, um fato como esse provoque tanto alvoroço.
Mas verdade seja dita, o Queens of the Stone Age não faz a mínima
questão de ser politicamente correto. Perguntado sobre as referências
sobre drogas nas letras, Nick, que já havia se apresentado nu em
vários outros shows da banda, respondeu ironizando o lema do festival:
"Mas as drogas não são para um mundo melhor?".
O álbum Rated R foi recentemente escolhido pela influente revista
inglesa New Musical Express como o melhor do ano 2000, e o texto
afirmava que se não fosse por algumas de suas letras, e algumas
de suas atitudes, o Queens of the Stone Age seria sem dúvida, um
dos nomes mais populares do rock hoje em dia. Talvez eles estejam
certos, talento para isso parece não faltar.
Neil Young
por Fabrício Boppré
Falar da importância desse cidadão chamado Neil Young
é chover no molhado. Um dos exemplos máximos (e, talvez,
solitário atualmente) de como deve-se portar um artista honesto
e engajado, Neil Young era uma das atrações mais esperadas
do Rock in Rio. Mas, tendo em vista que por aqui pouca gente conhece
a obra e vida do chamado "pai de Grunge", e que sua música
não é exatamente feita para agitar, então somos
obrigados a constatar que o público presente na noite do
dia 20 de janeiro não era dos maiores (na verdade, deve ter
sido o menor de todos: foi divulgado um público de "somente"
125.000 pessoas) e nem um dos mais agitados. Ainda assim, foi um
show antológico esse protagonizado por Neil e o Crazy Horse
(dentre todas as bandas que já o acompanharam em sua extensa
carreira, o Crazy Horse é uma das mais rockers e vibrantes).
| Neil Young
mistura música com espírito. Canta e toca
guitarra com a sua alma na flor da pele. Isso tudo pode
parecer clichê, mas definitivamente é a melhor
maneira de se descrever suas apresentações.
As suas letras falam das coisas simples da vida, da importância
em se viver com o coração, em se entregar
ao amor, e temas similares. |

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Vê-lo no palco é uma
lição de vida, e quem sabe uma lição
ainda maior em um país como o Brasil, onde na música,
virtudes como essas são vistas raramente. Na imprensa brasileira
saíram ótimos textos sobre sua apresentação,
parece que críticos e jornalistas redobram sua inspiração
para escrever sobre um show como esse - o que é perfeitamente
normal, pois é impossível assistir Neil Young e ficar
impassível.
Sobre o show em si, podemos começar dizendo que Neil Young
é minimalista ao extremo. Suas músicas se resumem
a guitarra, baixo, voz e bateria. Vez ou outra faz uso de um piano
ou violão. É bem verdade que no passado ele já
se aventurou em em outra áreas, como arranjos eletrônicos
no disco Trans, mas a essência de sua música é
mais perceptivel quando ele está com sua "Old Black"
(apelido de sua guitarra). É nessa situação
que ele mostra a que veio e cumpre sua missão.
Entrou no palco andando, ao lado de Frank Sampedro, Billy Talbot
e Ralph Molina (os músicos do Crazy Horse), alheio às
luzes, ao telão gigantesco que se erguia às suas costas
e gritos da platéia. Dispensa pirotecnia, fogos, entradas
triunfais e coisas do tipo - não precisa de nada disso. Ajeitou
a "Old Black" nos ombros e começou a pregação.
Vestido com uma surrada calça jeans, uma camisa da banda
inglesa Placebo e um velho chapéu de cowboy, Young cantava
e tocava sua guitarra daquele jeito que já lhe é peculiar:
desajeitadamente, com as pernas arqueadas, castigando suas guitarras
Gibson Les Paul o máximo que seus 56 anos permite. Seguiram-se
clássicos como "Sedan Delivery", "Cinammon
Girl", "Like a Hurricane", "Hey Hey, My My (into
the black)" (um dos hinos máximos do rock 'n' roll),
"Cortez the Killer". "Fuckin' Up" e "Rockin'
in the free World", que o Pearl Jam adora tocar, estiveram
presentes também. Ao final de cada música, a banda
se ocupava com microfonias, brincadeiras com as caixas de som e
cordas dos instrumentos. Deve ter ficado claro para o público
o porque das gerações recentes do rock alternativo
gostarem tanto desses artifícios, em especial o Sonic Youth,
que esteve recentemente no Brasil (e admite sem hesitar que o Neil
Young é uma de suas maiores influências).
Muitas outras coisas devem ter ficado claras: o porque de muita
gente importante admirar e idolatrar Neil Young (o exemplo que mais
salta aos olhos é o Pearl Jam, que já gravou um disco
com seu mestre); o porque de ele ser uma lenda e servir de exemplo
para todos que estão formando suas bandas; e o porque da
simplicidade ainda ser um ponto fundamental na música daqueles
que ambicionam emocionar e tocar que a ouve. Um show visual do porte
de um Iron Maiden (que se apresentou no dia anterior), tem seus
méritos, mas Neil Young não quer saber disso. Para
ele bastam três amigos, guitarras, baixo e bateria plugados
nas caixa de som, e se possível, uma bela noite estrelada
para ilustrar melhor suas palavras. Todo o exagero do Rock in Rio
contrasta com Neil Young, e as luzes exageradas da "Cidade
do rock" certamente ofuscavam as eventuais estrelas no céu,
mas tudo bem. Ouvindo "Powderfinger", "Down by the
River" e "Welfare Mothers" (as três últimas
canções), qualquer um tem a impressão de estar
no céu.
Silverchair
por Caio Favaretto
Após um ano sem apresentações ao vivo, o trio australiano Silverchair
voltou aos palcos, para enfrentar o maior público desde o início
da banda. Pela segunda vez no Brasil, Daniel Johns abriu o penúltimo
show do Rock in Rio com um de seus primeiros sucessos, "Israel´s
Son", que foi seguida por um dos mais recentes, "Paint
Pastel Princess". Durante todo o show, Daniel tentou se comunicar
e sem qualquer sucesso, se tornou um pouco agressivo, falando coisas
do tipo: "Let me see if you say something….oi, oi oi, Fucking
Oi!". A partir daí o show seguiu tranquilo.
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A banda tocou
sucessos dos três discos, como "Pure Massacre"
(do álbum "Frogstomp"), "Slave" (Freak
Show) e mais cantadas pelas tietes de plantão "Miss
You Love" e "Ana´s Song". O trio fechou o
show com "Freak", numa versão diferente, onde
Daniel Johns alternava a voz entre graves à Max Cavalera
e agudos à Carmina Burana (!!!). Digamos que após um ano
fora dos palcos e tocando para uma platéia de 250 mil pessoas,
o Silverchair fez um show razovável, com direito a bate-cabeça
e menininhas histéricas chorando. |
Fotos retiradas dos sites Usina do Som (www.usinadosom.com.br)
e Site Oficial do Rock in Rio (www.rockinrio.com.br),
que realizaram cobertura de todos os dias do festival.
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