Muito se falou nos últimos anos
sobre o Canadá. Na tentativa de manter os paradigmas
tradicionais de divulgação musical, a mídia
tentou formar um senso de que o país até
então um tanto irrelevante em termos artísticos
estaria reunindo as melhores bandas do planeta. O conceito
de cena não tardou em ser utilizado, o que segundo
as bandas canadenses não passa de uma grande bobagem.
Por outro lado, não há como ignorar que
alguns artistas de lá estão efetivamente
gravando discos excelentes, com mais espontaneidade e
relevância que muitas bandas veteranas vêm
fazendo desde o ano 2000. Esse é o caso do Wolf
Parade, independente de conceitos acerca de uma maldita
cena local.
Spencer Krug tinha serviços prestados ao Frog Eyes
(foi um dos fundadores) e ao Destroyer (assumiu o piano
em algumas turnês), sendo convidado pelo então
desconhecido Arcade Fire para abrir um show local. Spencer,
à procura de um guitarrista, chegou a Dan Boecker,
ex-integrante da finada Atlas Strategic, transmitindo-lhe
a necessidade de escrever canções com uma
bateria eletrônica no intervalo de três semanas,
período disponível até o momento
do show de estréia. A necessidade de um baterista
foi eliminada com a entrada de Arlen Thompson, que consolidou
a formação responsável pela gravação
do EP "Wolf Parade".
Lançado
em 2003 de forma independente, o disco é
hoje uma relíquia disputada a altos valores
nos leilões virtuais. Em 2004, após
uma série de shows responsáveis
por uma maior desenvoltura da banda, o Wolf Parade
incorporou os sintetizadores de Hadji Bakara na
sua sonoridade, definindo assim a formação
que gravaria o seu segundo EP, em 2004. Novamente
denominado "Wolf Parade", o disco independente
revelou um som mais elaborado, além de
deixar bem evidente uma proposta musical peculiar,
com composições inconstantes e fortes
traços da personalidade dos vocalistas. |
Juventude sem preconceitos |
Com a crescente atenção voltada para a
música canadense e a unanimidade em torno do álbum
"Funeral", do Arcade Fire, nova bandas passaram
a ser garimpadas na terra das coníferas. Nesse
período, o líder da banda Modest Mouse,
Isaac Brock, voltou sua atenção para o quarteto
que vinha se destacando em Montreal, interesse que nutria
desde a época em que Dan Boecker tocava no Atlas
Strategic. Ligado à Sub Pop, Brock não só
conduziu o Wolf Parade a assinar um contrato com o estimado
selo como foi responsável, junto com Chris Chandler,
por produzir algumas músicas que integrariam o
primeiro disco da banda. O primeiro registro dessa parceria
foi lançado num terceiro EP em julho de 2005, adiantando
duas faixas que estariam no LP de estréia. Nesse
meio tempo, o quarteto foi à estrada em turnês
com o Modest Mouse e o Arcade Fire, ganhando uma repentina
expectativa que lhe rendeu a indigesta responsabilidade
de lançar o "disco indie canadense mais esperado
de 2005", segundo a revista Time. Participou também
de uma compilação de covers organizada pela
revista norte-americana The Believer, onde contribuiu
com uma versão de "Claxxon's Lament",
do Frog Eyes.
Bingo! A inevitável imagem dos caras no
palco |
Em setembro, o Wolf Parade revelou o esperado "Apologies
To Queen Mary", seu LP de estréia. Com as
composições divididas entre Dan e Spencer,
no melhor estilo Lennon/McCartney, o álbum delineou
a sonoridade construída até então,
rendendo comparações com Arcade Fire e Modest
Mouse. Entretanto, uma digestão mais adequada do
disco revelou aos ouvintes uma banda com grande potencial
de escrever ótimas canções, suficientes
para destacarem o quarteto do restante dos hypes que surgiram
em 2005. A crítica recebeu muito bem o disco, colocando
sua capa em várias listas de final de ano. A banda
visitou os EUA e a Europa em turnê e terminou o
ano consagrada como uma das mais interessantes revelações
da temporada.
O ano de 2006 promete muito material para quem se interessou
pelos canadenses. Ao contrário de focalizar única
e exclusivamente a banda, os integrantes pretendem manter
a tradição de compartilhar suas atenções
com outros projetos. Motivado pelos bons resultados obtidos
pelos EPs independentes do Wolf Parade, Arlen pretende
elaborar um selo/estúdio para lançar trabalhos
de músicos locais. Spencer vai seguir firme com
o Sunset Rubdown, seu projeto paralelo que lançou
um terceiro álbum em maio. Além disso, vai
gravar um disco com Dan Bejar (Destroyer) e Carey Mercer
(Frog Eyes) sob a insígnia Swan Lake, a ser lançado
até o final do ano pelo selo Jagjaguwar. Já
Dan Krueger realizou uma turnê escandinava com seu
projeto Handsome Furs, talvez antecipando a possibilidade
de uma futura gravação. Além disso,
contando com o ex-Hot Hot Heat Dante Decaro nos palcos,
o Wolf Parade se apresentou no destacado festival Coachella
e percorreu em turnê algumas cidades norte-americanas.
A fogueira da cena canadense não pára de
queimar.
Vicente Moschetti
junho/2006