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O que andamos ouvindo?
Na vitrola de V.M.
Boris / "Smile" (2008): Em meio a brincadeiras que questionaram a possibilidade de algum link entre Boris e Brian Wilson, os japoneses largaram seu novo disco no começo do ano, dando seqüência ao bem-sucedido "Pink" de 2006. Mantendo o hábito de surpreender até ao mais ávido fã, o Boris foi ainda mais além com seu novo trabalho, levando ao extremo o conceito de editar múltiplas versões e arrancar os cabelos de seus colecionadores. Dessa vez, além de brincar com as possibilidades de incluir faixas extras nos diferentes e limitadíssimos formatos (algo que sempre explorou), a banda simplesmente editou o disco em duas versões diferentes, uma japonesa, outra americana. Muito além de uma mera diferença nas embalagens, o que teria pouca relevância, "Smile" tem duas possibilidades sonoras, dependendo da versão escolhida. A partir de uma espinha dorsal única, cada faixa foi trabalhada de forma diferente, de acordo com a concepção sonora de cada versão. A versão japonesa as conduz por um terreno mais eletrônico e psicodélico, cheia de samplers, quebras sonoras e manipulações. Já a versão americana passa o disco por um triturador stoner, grave e ferrenho, mantendo a fidelidade com a sonoridade de seus discos anteriores na Southern Lord. Independente da versão, "Smile" herda de "Pink" apenas o formato canção que deixa o Boris mais palatável. Fora isso, é um álbum mais solto e muito pouco preocupado com eventuais erros e acertos. Não há consideráveis traços de drone, mas ainda há resquícios de punk ("Buzz-In", "Statement" na versão EUA). Já no plano inédito, "My Neighbor Satan" baseia-se em doces dedilhados de órgão para depois descambar em guitarras massivas e distorcidas. "Flower, Sun, Rain", cover da banda Pyg, é brilhante e funciona muito bem nas duas versões. "No One Grieves" (ou "Dead Destination" na japonesa) é outro ponto alto, que se destaca ainda mais na americana graças à sua introdução climática e aos solos destruidores que entram na seqüência. E em "You Were Holding An Umbrella", a banda cadencia o jogo com um ritmo mais lento, arrastado, mas igualmente brilhante. Os primeiros comentários acerca da versão japonesa de "Smile" não foram dos mais empolgantes, embora o disco cresca à medida que é prestigiado. Interessante mesmo é a quebra que a versão americana traz à japonesa, desvirtuando todo o conceito da antecessora, apresentando-se de forma bem mais pesada e impactante. Embora ambas as versões sejam muito boas, a melhor maneira de escutar os discos é justamente na seqüência como saíram, para depois intercalar audições e comparar como cada música caminhou por caminhos tão diferentes. Não apenas por todo esse conceito arrojado, mas pelo conteúdo das canções, "Smile" atinge os objetivos traçados pelo trio, muito possivelmente consagrando-se como a melhor obra do quarteto. Muito provavelmente.
postado por V.M. em 8.5.08
Na vitrola de V.M.
Tirando um pouquinho da preocupante camada de pó na seção: Oren Ambarchi / "In The Pendulum's Embrace" (2007): O australiano Oren Ambarchi é mais uma daquelas figurinhas prolíficas que precisam de tratar suas incontroláveis necessidades de registrar sons. Tendo trabalhado com uma infinidade de artistas independentes como Lasse Marhaug e Z'Ev, Oren notabilizou-se recentemente como membro recorrente do Sunn O))). Gravou o indispensável "Black One", tocou em dezenas de shows, participou de projetos paralelos e teve três discos solo lançados pela Southern Lord, o que lhe trouxe uma razoável visibilidade, principalmente com o poder de influência que o selo vem demonstrando nos últimos anos. Ambarchi é mestre na arte de modificar sons de guitarras, processando-os através de seu laptop, tornando-os irreconhecíveis. Seja em favor do obscurantismo abrasivo do Sunn O))), ou de estripulias ensurdecedoras com artistas do noise, seu estilo é inconfundível e altamente versátil. Seus discos na Southern Lord, porém, exploram um lado menos radical, calcando-se em tons leves e hipnóticos, quase relaxantes. É ambient music em formato plenamente assimilável, feito por quem conhece as possibilidades e profundezas que os tons graves podem atingir. "In The Pendulum's Embrace" pega o embalo do aclamado disco anterior, e torna-o um pouco mais suave, aproximando instrumentos familiares como a viola, o piano e a bateria de suas tradicionais linhas de modificação sonora, fazendo as duas vertentes combinarem-se com perfeição. Não é o tipo de artista de quem se espera algo muito diferente disto, mas há certeza de que o conteúdo satisfaz as expectativas de quem já gosta de sua música.
postado por V.M. em 11.4.08
Na vitrola de V.M.
Earth / "And The Bees Made Honey In The Lion's Skull" (2008): Nem bem terminei de rasbicar minha lista de melhores de 2007 e já estou tranqüilo quanto a pelo menos uma certeza na de 2008: vazou o novo disco do Earth. Tive a satisfação de conhecer o projeto de Dylan Carlson há alguns anos (já que não escutava-o quando surgiu em plena efervescência de Seattle) e mesmo bem atrasado, acolhi seus discos e os escutei com tanta freqüência ao ponto de ter o Earth como uma das minhas bandas prediletas. O mais interessante sobre ele é que, apesar dos diferentes estilos explorados em sua discografia (embora sempre fiel à política do drone), Dylan Carlson está nos devendo até hoje um disco ruim. Percorrer seus discos é uma experiência magnífica, pois sempre pode-se tirar de qualquer um deles momentos memoráveis, inigualáveis, que escancaram a genialidade do criador. Carlson é sem dúvida um músico diferenciado, sempre posicionado à frente de seu tempo. "And The Bees Made Honey In The Lion's Skull" não vai causar grandes surpresas para quem absorveu a fase mais recente do Earth, quando a banda retornou do limbo no qual ficou durante anos. O álbum dá continuidade ao som inaugurado em "Hex", mantendo as influências de western americano e country music. Entretanto, o som ficou menos árido e sangrento, em decorrência de uma maior participação de outros instrumentos que não a guitarra. Predominam o piano e o hammond, muitas vezes em primeiro plano, tomando espaço das cordas agonizadas que ecoavam no LP anterior. O encanto permanece nos tons, nos timbres, na insitência em fazer as notas ecoarem e revelarem detalhes que só existem nas músicas do Earth. Assim como no EP que intercalou os dois lançamentos ("Hibernaculum"), o novo trabalho resultou num som mais polido, embora o clima predominante ainda seja tão obscuro quanto o de qualquer outro disco do catálogo. O mais interessante é observar que Carlson, apesar de marcar o terceiro lançamento dentro de uma mesma proposta sonora, consegue escapar da redundância, dando ao álbum razão suficiente para existir. Mais do que isso, para se destacar dentro do que vai sair em 2008. Com discos como esse, não tem muito o que se reclamar da música contemporânea.
postado por V.M. em 14.12.07
Na vitrola de Ana
Dinosaur Jr. - Beyond [2007]Estes dias estava reclamando com meus botões céticos, acreditando que ia continuar ilhada nesse negócio de sempre ter que ir atrás de discos velhos, cercada por todo esse monte de mod revivals, numetals, e outros filões bizarros. Ainda bem que estava errada. Beyond está muito, muito perto do que o Dinosaur Jr. fazia em "Bug" há quase vinte (!) anos atrás, mostrando que a formação perdida com a saída de Lou Barlow, e retomada agora, ainda funciona. Siouxsie Sioux - Mantaray [2007]É primeiro disco solo dela, o que é surpreendente, principalmente se for lembrado que isso significa que Siouxsie está trabalhando direto em bandas desde quando começou a aparecer em 77. Mantaray mostra claramente a exigência musical mencionada por vários contemporâneos, e vai fácil do industrial (Into a Swan) ao quase-jazz (If It Doesn't Kill You). O resultado é fantástico, não deve quase nada aos melhores discos com os Banshees, a não ser o fato de que nunca mais vai sair outro Peepshow. :-)
postado por Ana em 3.11.07
Na vitrola de V.M.
Salve! Duas dicas, no mínimo, díspares: Justice / "Cross" (2007): Incrível como às vezes surge um disco, ou uma música que seja, com todos os atributos de qualidade e magnetismo que faz o ouvinte questionar seus gostos pessoais e aceitar alguns gêneros que normalmente não fazem parte de seu playlist. O duo francês Justice não faz um som extremamente inovador, na verdade, lembram muito os conterrâneos do Daft Punk: electro dançante e leves flertes com o rock. Entretanto, seu disco "Cross" é bem resolvido do início ao fim, mesmo para quem não pretende dançar ao seu embalo (meu caso). As músicas oferecem um bom trabalho de colagem e timbres escolhidos com sabedoria. Nos fones de ouvido, as texturas soam muito bem, os ritmos definitivamente fazem a perninha balançar e isso já é o suficiente para dedicar algumas horinhas a esse álbum (num caso de, como dizem os gringos, guilty pleasure). E, porra, aquela "D.A.N.C.E.", mesclando Daft Punk com Go! Team é irresistível. Wolves In The Throne Room / "Two Hunters" (2007): Black metal feito por norte-americanos que não costumam se maquiar com corpse paint. Produzido por Randall Dunn (SunnO))), Earth), o disco dá uma conotação um pouco diferenciada ao Wolves In The Throne Room, onde a ambiência se sobrepõe às manias desse gênero tão repetitivo e desgastado. Guitarras pesadíssimas, vocais cavernosos (intercalados por uma contribuição angelical de Jessica Kinney) e bateria tresloucada. As nuances que destacam a banda são sutis, o disco ainda soa como um de black metal, quem não gosta do gênero deve ficar longe. Mas quem encontra nesse tipo de som uma das possíveis soundtracks para os dias apocaliticos em que vivemos, vai gostar do clima "floresta amaldiçoada" dos caras.
postado por V.M. em 5.10.07
Na vitrola de Ana
O filme sobre o Joy Division (particularmente Ian Curtis), baseada no livro da esposa dele, "Touching from a Distance", deve estrear em cerca de 1 semana, de acordo com o comunicado do próprio site. Eles também colocaram lá um podcast que inclui entrevistas com diretor, roteirista, trilha sonora, et al, em versão para iTunes e genérica. Aliás, uma trilha também bastante "genérica". Já havia mencionado um aperitivo, mas enfim. Mais sobre o filme aqui.
postado por Ana em 28.9.07
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