A história já é conhecida.
Zack de la Rocha, a voz do Rage Against the Machine deixa
a banda outubro de 2000 para seguir carreira solo, enquanto
os três remanescentes partiam para a busca de um novo vocalista.
O futuro do Rage Against the Machine era incerto. Em Los Angeles,
por sugestão do produtor Rick Rubin, os três integrantes da
banda, a saber: Tom Morello (guitarra), Tim Commerford (baixo)
e Brad Wilk (bateria) receberam o vocalista Chris Cornell
para um ensaio.
Cornell vinha de uma longa e bem sucedida carreira no Soundgarden,
que durou até 1997, e já havia lançado um álbum solo, Euphoria
Morning, em 1999. A repercussão de seu trabalho solo, mais
melódico e menos pesado, foi modesta, dividindo muitos dos
antigos fãs do Soundgarden, embora Chris mantivesse um público
cativo que viabilizava sua carreira.
A "química" entre os ex-Rage Against the Machine e o ex-Soundgarden
surpreendeu até os próprios músicos, em pouquíssimo tempo
uma banda nova estava surgindo. Mas para que o projeto fosse
adiante, os músicos tiveram que enfrentar vários inconvenientes:
- Gravadoras: existiam contratos em vigor com duas gravadoras
distintas, e rivais. De um lado a Epic/Sony Music do Rage
Against the Machine e de outro a A&M/Interscope do grupo
Universal, gravadora de Chris Cornell. Através de um acordo
raro na indústria fonográfica, que não foi conseguido sem
que houvesse muita negociação, foi permitido aos músicos seguir
em frente.
- Questionamentos: os boatos sobre a nova banda não demoraram
a surgir na internet, o que dividiu tanto os fãs de RATM quanto
os fãs do Soundgarden. Do lado do RATM, os fãs lamentavam
a perda de identidade do grupo, já que Cornell representa
um caminho bem diferente da firmeza política e da influência
hip-hop de Zack de la Rocha. Já muitos fãs do Soundgarden
repudiavam Cornell justamente por entrar num grupo muito vulgarmente
taxado de rap-metal. Se for para tocar rock de peso novamente,
então porque o fim do Soundgarden? Mesmo entre aqueles que
admiram Chris Cornell e que acompanharam a sua carreira solo,
questionavam a coerência do músico, já que a união com o Rage
Against the Machine significava um caminho radicalmente oposto
ao que pôde ser conferido em Euphoria Morning. Mas, sem dar
ouvidos a esse tipo de manifestação, o futuro Audioslave permaneceu
unido e disposto a provar a todos o quanto ainda é possível
ousar e atingir novos horizontes com o novo trabalho.
- Turbulências: por pouco, o Audioslave não acabou antes mesmo
de começar. Além de contar com duas gravadoras, a banda inicialmente
contava com dois times de empresários, os "managers". De um
lado, a empresa que cuida da carreira de Chris Cornell e de
outro a empresa que defendia os interesses do Rage Against
the Machine. Com tanta gente dando palpites, não foi muito
difícil acontecerem os primeiros conflitos. Em março de 2002,
o Audioslave (que ainda sequer tinha definido o nome da banda)
anunciou a participação na turnê Ozzfest (a saber, o maior
festival itinerante de rock da atualidade nos EUA, promovido
por Ozzy Osbourne). Com tudo definido, datas e horários dos
shows (o Audioslave seria um headliner, a atração principal),
Chris Cornell anuncia que está fora. Tanto da turnê Ozzfest
como da banda em si. Foi um novo choque para a base de fãs
do Soundgarden/Rage Against the Machine. Mas a gravadora Epic
continuou anunciando que o disco seria lançado e em pouco
tempo Cornell estava de volta para ficar. E a partir de então,
o grupo passou a contar com apenas um manager, da empresa
The Firm, de Los Angeles.
- Nomes: Primeiro, o projeto foi batizado Civilian (na época
do Ozzfest, era assim que o grupo era conhecido). Mas acontece
que já existia uma banda de nome Civilian, e foi preciso procurar
outro nome. Chris Cornell sugeriu Audioslave e ninguém na
banda ousou discordar. Só que também já existia um Audioslave!
Desta vez, a banda resolveu entrar em acordo (por acordo,
leia-se $$$) com a banda homônima para continuar sendo Audioslave.
- Demos: Durante o processo de transmissão digital de demos
gravadas em Los Angeles para Chris Cornell em Seattle (sim,
conforme anuncia o site da banda, o Audioslave é uma banda
de ponte-aérea, Los Angeles e Seattle), as músicas caíram
em mãos erradas. E dali para a internet foi um pulo. Foi então
que, por volta de maio, 13 músicas do Audioslave circulavam
livremente pela internet. O que foi um tanto frustrante, conforme
Tom Morello:
"Foi uma pena porque a gente gravou 21 músicas, e vazaram
cerca de 13, exatamente o número para um álbum. E então foi
muito frustrante, porque a gente sabia que aquelas demos tinham
tanto em comum com o disco quanto um carvão e um diamante.
(?) três ou quatro vezes por dia, alguém vinha me dizer 'eu
ouvi o seu disco', e eu respondia 'não, você não ouviu! Eu
juro que você não ouviu!' e eles tentavam me convencer 'Ah
não cara, eu ouvi seu disco!' [risos]."

videoclip de Cochise
O disco "Audioslave", que efetivamente
tem muito pouco da demo que vazou, chegou finalmente as lojas
em novembro de 2002 e vem fazendo um moderado sucesso desde
então (ganhou disco de ouro pela venda de 500.000 cópias ainda
antes do final de 2002). A estréia do Audioslave nos palcos
foi no programa Late Show with David Letterman no dia 25 de
novembro, ainda em 2002. Depois de mais alguns shows isolados
no currículo em dezembro, a banda passa boa parte de 2003
excursionando para divulgar o álbum.
O futuro de um projeto como esse é sempre imprevisível, mas
depois de todos os percalços já enfrentados pelo grupo, não
é insensato prever uma longa e estável carreira daqui para
frente. Ao menos, é o que transparece no entusiasmo das entrevistas.
Segundo Tom Morello, o Audioslave compôs mais nos últimos
8 meses do que o Rage Against the Machine em 8 anos, e a possibilidade
de trabalhar com Cornell abriu a possibilidade de trabalhar
as melodias nos vocais, um território não explorado durante
a carreira do Rage. E acrescenta: "Não é só melodia nos vocais,
é o freakin' Chris Cornell!".
E confirmando as melhores expectativas,
em 2005 o Audioslave chega ao teste do segundo álbum,
lançando "Out of Exile" em maio. O disco
foi novamente produzido por Rick Rubin e mostra um Audioslave
mais entrosado, conciso, dosando o peso e o potencial pop
das músicas. "Out of Exile" obteve grande
repercussão nas paradas, conquistando o topo na Billboard
e em diversos outros países. Para o lançamento,
a banda viajou a Cuba para fazer uma inédita apresentação
na ilha de Fidel Castro. O show foi gravado para lançamento
em DVD. Na seqüência, a banda partiu para uma turnê
européia, onde a novidade foi a inclusão de
clássicos do Soundgarden e Rage Against The Machine
no setlist.
E para não perder o
embalo, ainda em 2005 a banda ja começa a trabalhar
em novas canções para seu disco seguinte. O
resultado é lançado no meio do ano de 2006,
sob o título de "Revelations".
Alexandre Luzardo
atualizado por Fabricio Boppré
em outubro/2006
- entrevista extraída do artigo "After A Rough Start,
Audioslave Prepares To Cruise" de Wes Orshoski para a
Billboard. |