Todo fã de rock costuma
brincar com a "banda perfeita", sonhando em escalar um time
de músicos de vários grupos para formar a banda dos sonhos.
Imagine-se em 1994 escolhendo uma "banda perfeita": Começando
pela bateria, pegue o baterista da maior banda de todos os
tempos daquela semana (sem querer soar Titãs), um cara explosivo
e com um batida pulsante e energética. No baixo? Bem, um bom
baixista tem que ser discreto e competente, com forte nas
melodias e se for backing vocal, ótimo! Na guitarra tem que
ser um cara animal, destruidor, experimental, criativo. Feito!
O vocalista tem que ser um cara bem rock n'roll, mas não pode
ser de banda muito conhecida, senão vai chamar toda a atenção.
Essa banda tem que ser igual a um bom time de futebol, a força
tem que estar no conjunto, e não no individual. E por que
não dois vocalistas? Perfeito!!! No comando, um produtor tarimbado,
que entenda do assunto e de preferência que toque guitarra.
E o repertório? Quem sabe o rock descompromissado dos primórdios
da década de 60, só por diversão??? Fechado!!!
O que parece uma brincadeira foi realidade no que foi um dos
grandes eventos que entrou para a história do rock dos anos
90, a Backbeat Band. Na banda, um time de primeira formado
por David Grohl do Nirvana na bateria, o baixista Mike Mills
do R.E.M., Thurston Moore do Sonic Youth na guitarra e Greg
Dulli do Afghan Whigs e Dave Pirner do Soul Asylum como vocalistas
interpretando clássicos dos anos 60. Na produção do disco,
Don Fleming (Screaming Trees, Teenage Fanclub, Hole), que
ainda completa a formação tocando guitarra.
A idéia da banda surgiu
a partir do filme "Backbeat" (em português,
"Os Cinco Rapazes de Liverpool"). O filme conta a história
do início de carreira dos Beatles, quando eles realmente
eram cinco e tocavam em pequenos bares, verdadeiros
buracos, com um repertório de covers da época. |

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Para a trilha sonora do
filme, ao invés de garimpar registros históricos dos Beatles,
a idéia foi de juntar músicos atuais numa banda fictícia.
Assim, em poucos dias foi gravado o disco. Entre as músicas
escolhidas, figuram "Long Tall Sally" e "Good Golly Miss Molly"
de Little Richard, "C'mon Everybody" de Eddie Cochran e "Rock
And Roll Music" de Chuck Berry e a indefectível "Twist
And Shout", entre outras. Os músicos pegaram o espírito
da brincadeira. "Foi muito bom, se reunir para tomar cerveja
e tocar Beatles", relembra Greg Dulli sobre o clima das gravações.
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E foi isso mesmo, o clima do disco é esse, de pura diversão,
com performances empolgantes. Dave Pirner, apesar de
cantar em apenas três músicas, contribui talvez com
o vocal mais vibrante de sua carreira e o mesmo vale
para Greg Dulli. |
A banda soa coesa e entrosada.
Também não há sinal de jabá no projeto, não se trata de idéia
de nenhuma gravadora de juntar astros de seu cast para promovê-los
(dois dos músicos tem contrato com a Geffen, outros dois com
a Warner e um com a Sony). Tampouco nenhum dos músicos usou
da Backbeat Band como vitrine para divulgar sua própria banda
(se bem que um empurrãozinho na carreira do Afghan Whigs e
até do Soul Asylum não seria mal, ao menos teria sido uma
boa causa).
Depois de lançado o filme, a Backbeat Band ganhou dois singles
e videoclipes, "Money" e "Mr. Postman", que, de quebra, viraram
hits e ajudaram o filme a ter um desempenho "menos pior" na
bilheteria. Na verdade, a trilha sonora valeu muito mais que
o próprio filme, que por pouco não caiu na mediocridade.
No MTV Movie Awards '93, a premiação de cinema da MTV americana
daquele ano, a Backbeat Band fez a sua primeira e única apresentação
ao vivo, tocando "Money" e "Long Tall Sally".
Depois desse show, cada um foi para o seu lado e a Backbeat
Band para a história. Como registro, sobrou o disco da trilha
sonora, que, longe de ser um clássico, comprova perfeitamente
que idéias como essa podem dar certo.
Hoje em dia, Mike Mills e Thurston Moore continuam firmes
no R.E.M. e Sonic Youth. David Grohl gravou mais um clássico
com o Nirvana antes de formar o Foo Fighters. Dave Pirner
segue fazendo shows com o Soul Asylum e Greg Dulli permaneceu
até o final do Afghan Whigs em 2001, hoje é o líder do Twilight
Singers, que já lançou dois discos e planeja um projeto paralelo
com Mark Lanegan (ex-Screaming Trees).
Alexandre Luzardo
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