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A Banda:

Blind Melon
Formado em 1990, Los Angeles, California



Integrantes:
Shannon Hoon: vocal
Rogers Stevens: guitarra
Christopher Thorn: guitarra
Brad Smith - baixo
Glen Graham: bateria

Biografia:

O Blind Melon foi mais um exemplo de banda que teve a trajetória encerrada de forma prematura, deixando a sensação de não ter atingido a plenitude de seu potencial. Pior ainda, diferente de bandas como o Alice In Chains ou o próprio Nirvana, que tiveram desfechos similares, o Blind Melon mal teve tempo de se afirmar plenamente. Muita gente até hoje pensa que o Blind Melon foi apenas uma daquelas bandas 'one hit wonder', que por uma conjunção de fatores muitas vezes fortuitos, descola um grande sucesso com uma única música e imediatamente desaparece sem deixar rastro. Na realidade, é até difícil culpar quem pensa assim, por mais que exista muito mais para ser ouvido no Blind Melon do que apenas o hit "No Rain" (e isso é uma obviedade), é cabível afirmar que os dois únicos discos deixados pela banda (e mais um terceiro, póstumo) não formam um corpo de trabalho suficiente para que o Blind Melon seja considerada uma banda fundamental em qualquer contexto.

Por outro lado, foi sim uma banda que tinha uma visão devidamente distante do que acontecia ao redor, praticamente não estando ligada diretamente a qualquer cena pré-existente. Ainda que seja possível identificar influências claras no som do Blind Melon, há identidade própria nas mesmas proporções.

Formado em Los Angeles em 1990, a única afinidade inicial entre os integrantes da banda era o repúdio à cena poser de hard rock e heavy metal vigente na cidade. Eram todos recém chegados; Brad Smith (baixo) e Rogers Stevens (guitarra), amigos de infância, aprenderam a tocar juntos no Mississipi antes de tentarem a sorte em LA. Shannon Hoon (vocal) vivia em Lafayette, em Indiana, onde se destacava nos esportes nos tempos de colegial, antes de virar um adolescente encrenqueiro, brigão e envolvido com drogas. Hoon já havia sido preso várias vezes por posse de drogas e pequenos delitos, antes de resolver se aventurar em Los Angeles. O trio se conheceu numa festa, onde trocaram idéias sobre a cena local e imediatamente fecharam a questão de que deveriam formar uma banda.

Depois de alguns ensaios iniciais, o guitarrista Stevens sentiu a necessidade de adicionar uma segunda guitarra ao som da banda e lembrou-se de Christopher Thorn, que havia conhecido durante um teste para um grupo que ambos haviam participado (e fracassado). Thorn era mais um recém-chegado a Los Angeles, veio de Dover (Pennsylvania) e tocava guitarra desde garoto, tendo integrado uma banda de trash metal na sua cidade. Faltava apenas um baterista, e foram meses de procura sem sucesso até que Smith e Steven se lembraram do conterrâneo de Mississipi Glen Graham. Feito o convite, Glen topou na hora: desmontou a bateria, juntou suas coisas e seguiu o rumo de Los Angeles, com apenas 25 dólares no bolso. Estava completa a formação do Blind Melon, nome tirado de uma expressão usada pelo pai de Rogers Stevens para se referir aos seus vizinhos hippies sem futuro.

O som da banda era tão diferente do que havia na época que mal a primeira fita-demo ficou pronta, as gravadoras partiram para cima. A banda tirou proveito da situação: a demo tinha apenas quatro ou cinco faixas e não haviam outras músicas no repertório, mas cada gravadora que se aproximava ouvia juras de que existiam mais de 20 músicas compostas. Quando executivos iam assistir a algum ensaio, a banda apresentava as cinco músicas e parava de tocar, alegando cansaço ou uma indisposição qualquer. A malandragem surtiu resultado e a gravadora Capitol fechou contrato com eles.

De imediato, o Blind Melon entrou em estúdio para preparar seu primeiro álbum, mas as sessões não foram muito produtivas e nada foi aproveitado daquele período. No entanto, ocorreu um fato que iria mudar a relação do Blind Melon com a mídia dali para frente. No estúdio ao lado onde o Blind Melon estava, o poderoso Guns n' Roses trabalhava nas gravações dos álbuns "Use Your Illusion" I e II. Shannon Hoon conhecia Axl Rose desde os tempos em que ambos moravam em Indiana, e foi convidado por Axl para fazer backing vocal em algumas músicas. Uma delas foi o mega-hit "Don't Cry", que contava com Shannon Hoon também no videoclipe. O interesse da mídia pelo Blind Melon foi à estratosfera, trazendo na prática uma divulgação enorme para a banda, que sequer havia lançado um single, quanto mais o álbum de estréia.

O lado negativo foi a vinculação do Blind Melon ao Guns n' Roses, que desagradava a banda. Em praticamente todas as entrevistas da banda na época, a pauta era centrada muito mais no G'N'R e em Axl do que propriamente no trabalho do Blind Melon. Ao mesmo tempo, a pressão da Capitol aumentou para que eles aprontassem o primeiro álbum logo. Sem ceder às pressões, a banda achou melhor cair na estrada do que entregar ao mercado um álbum finalizado às pressas. Depois de uma rápida turnê, onde tocou em pequenos clubes e também abriu alguns shows da turnê do Soundgarden, o Blind Melon retornava a Los Angeles direto para o estúdio. No entanto, a banda novamente estava dispersiva e não conseguiu finalizar as músicas. Era hora de buscar refúgio em um lugar mais afastado da agitação de Los Angeles. A pequena Durham na Carolina do Norte serviu para esse fim, e finalmente o Blind Melon concluiu o que acabou sendo a pré-produção de seu primeiro álbum. Em janeiro de 1992 a banda foi até Seattle para gravar o
disco com o produtor Rick Parashar (o mesmo de Ten, do Pearl Jam). Em maio, a banda embarcou numa turnê patrocinada pela MTV, abrindo para Big Audio Dynamite II e PIL. A repercussão da turnê foi boa e as expectativas pelo álbum aumentavam. As gravações terminaram em junho, mas o disco, auto-intitulado "Blind Melon" só chegaria ao mercado em setembro. O disco refletia as influências setentistas da banda, de Led Zeppelin a Lynyrd Skynyrd, e de Pink Floyd a Allman Brothers num clima vibrante e celebratório, quase hippie.

Ironicamente, naqueles tempos o cenário se modificava rapidamente e a espera pelo disco parecia ter sido tardia demais. Com isso, o interesse do público pelo álbum foi muito pequeno, diluído entre inúmeras outras bandas que ganhavam maior destaque no momento. O Blind Melon partiu em turnê que se estendeu por vários meses, mas as vendagens estavam bem abaixo do que a Capitol esperava. O primeiro single, "Tones Of Home", passou despercebido e o disco já era encarado como causa perdida pela gravadora.

A banda não esmoreceu e seguiu em turnê apesar da baixa repercussão, e a sorte acabou virando de lado. Em meados de 1993, o disco ganhou uma segunda chance com o lançamento do single de "No Rain". Para o videoclipe, o diretor Sam Bayer (com "Smells Like Teen Spirit" do Nirvana no currículo) recriou a menina-abelha da capa do álbum. O carisma da abelhinha, interpretada por Heather DeLoach, conquistou o mundo, e passado um ano de o seu lançamento, o álbum ganhava nova vida nas paradas, chegando à terceira posição na Billboard.

Com o inesperado sucesso, a turnê do Blind Melon se estendeu até o final de 93, incluindo a abertura de shows de Neil Young e Lenny Kravitz, além de apresentações como atração principal. Em 1994 a banda planejava entrar em estúdio, mas a gravadora queria extrair cada centavo que fosse possível do álbum de estréia e com isso o Blind Melon seguiu na estrada. Foi a partir dali que começaram os problemas. O Blind Melon sempre foi dado aos excessos da vida em turnê e especialmente o uso de drogas do vocalista Shannon Hoon tornava-se preocupante. A situação saiu de controle e a turnê foi abortada para que Hoon pudesse se internar em uma clínica para desintoxicação. O retorno foi ainda em 94 com alguns shows abrindo para os Rolling Stones e uma elogiada participação na segunda edição do festival Woodstock. A partir de então o Blind Melon passou a se dedicar ao seu próximo álbum, contando com o conhecido Andy Wallace na produção.

O balanço daquele ano foi bastante positivo, o álbum Blind Melon ultrapassou 4 milhões de cópias vendidas somente nos Estados Unidos e a banda foi indicada ao Grammy daquele ano. As perspectivas eram boas. O sucesso do Blind Melon chegou a criar um 'revival' dos anos 70, que ia da moda à música, onde surgiam bandas claramente com as mesmas influências do Blind Melon como 4
Non Blondes e outras. Mas o grande desafio mesmo era mostrar que o Blind Melon ia muito além de "No Rain". Incomodava a banda o fato de que boa parte do público pensava no Blind Melon como a banda do clipe da abelhinha. A própria Heather DeLoach participou de alguns eventos, inclusive subindo ao palco do MTV Video Music Awards de 1993 fazendo a performance da menina-abelha ao som de "No Rain". A performance da garotinha foi no mínimo desconfortável para a banda, já que o próprio Blind Melon não se apresentou durante a premiação.

Mas o ano de 1995 começou muito difícil; os problemas de Shannon Hoon com as drogas persistiam e as gravações do segundo álbum foram tumultuadas. Aos trancos e barrancos, o disco foi completado em junho, mas o lançamento foi adiado. Quem convivia com os integrantes do grupo sabia que era temerário encarar a maratona de divulgação e turnê nas condições em que Hoon estava. A banda pressionou Hoon para que fizesse um programa completo de reabilitação numa clínica antes que o disco chegasse às lojas. Em julho nasceu a filha de Shannon Hoon e sua namorada Lisa Crouse. A chegada da pequena Nico Blue Hoon deu novo ânimo ao vocalista que chegou a declarar em entrevistas que o bebê foi o impulso que faltava para ele se livrar das drogas de vez (alguém já ouviu essa história antes? Kurt Cobain disse o mesmo).

"Soup", o segundo álbum do Blind Melon, finalmente chegou às lojas em agosto. A recepção da crítica foi a pior possível e o novo álbum foi duramente criticado. Injustamente, diga-se; "Soup" é um belo disco construído a partir da sonoridade do primeiro álbum acrescentando arranjos mais pesados e intrincados, sem perder a espontaneidade característica de uma jam session em vários momentos. Principalmente se destacavam temas mais sérios, não havia aquela atmosfera alegre do álbum da abelhinha. Aliás, não havia outra música como "No Rain". O primeiro single, "Galaxie", refletia o novo momento da banda: nada de videoclipes carismáticos dessa vez, a ênfase devia estar na música.

O resultado foi que "Galaxie" não teve grande repercussão na MTV, as rádios não pegaram carona e somando-se as duras críticas, "Soup" começou mal nas paradas, atingindo apenas a posição número 28 na Billboard na semana de estréia e caindo rapidamente. Pressionado, a saída para o Blind Melon reverter a situação era pegar a estrada imediatamente, mas Shannon Hoon ainda não estava pronto para confrontar o vício nas drogas com o estilo de vida em turnê. Mesmo assim, o Blind Melon encarou a estrada contando com um profissional acompanhando Hoon. Mas não durou muito, com poucas semanas de shows, Hoon dispensou o profissional e voltou a se drogar. Numa quinta-feira, dia 21 de setembro, a banda iria se apresentar em New Orleans, ironicamente a cidade onde "Soup" foi gravado. Naquela tarde, o técnico de som foi até o ônibus da turnê chamar Shannon para a passagem de som e encontrou o vocalista morto. Overdose de cocaína.

Foi o fim do Blind Melon. Na segunda-feira, 25 de setembro, seria o lançamento do novo single de "Soup", "Toes Across The Floor". A Capitol cumpriu rigorosamente o previsto e o single chegou as rádios e MTV. Mas a música foi superada pela tragédia. A morte de Shannon Hoon ganhou todas as manchetes e comoveu fãs no mundo todo, mas diferente do que se podia imaginar, "Toes Across The Floor" foi constrangedoramente ignorada. Sem dúvida foi melhor assim; teria sido doloroso demais para os integrantes da banda ver "Soup" virar o jogo nas paradas em função da morte do amigo.

Em 1996 dois lançamentos póstumos do Blind Melon chegam às lojas. Um deles foi o álbum "Nico" contendo sobras de estúdio e faixas inéditas que foram retrabalhadas em estúdio pelos integrantes remanescentes. Muitos fãs e parte da crítica consideram "Nico" o melhor disco do Blind Melon, mas, sem divulgação, o álbum ficou restrito à base de fãs da banda. O vídeo "Letters From a Porcupine" também foi lançado, contendo todos os clipes e imagens de shows e bastidores, sendo indicado ao Grammy no ano seguinte.

O vídeo foi relançado em DVD com vasto material inédito em 2001. A data não poderia ter sido mais trágica: 11 de setembro. No ano seguinte, a coletânea Classic Masters reunindo os maiores sucessos e músicas mais importantes da carreira da banda, foi lançada em janeiro.

Após o fim do Blind Melon, Brad Smith e Cristopher Thorn formaram o Unified Theory com o baterista Dave Krusen (ex-Pearl Jam e Candlebox) e o vocalista Chris Shinn, lançando um álbum auto-intitulado em 2000 (exatos 5 anos após o lançamento de "Soup"). O disco teve pouca repercussão e a banda se separou no ano seguinte. Brad Smith seguiu solo sob o nome Abandon Jalopy lançando o disco de estréia, "Mercy", em 2001.


Alexandre Luzardo
Outubro / 2004

Álbums:
Discos Oficiais Ano
Blind Melon 1992 (Capitol)
Soup 1995 (Capitol)
Nico 1996 (Capitol)
Coletânea Ano
Classic Masters 2001 (Capitol)