O
Blur começou no início dos anos 90 com uma sonoridade não
muito distante das bandas que dominavam a cena britânica da
época. Era uma mistura do rock psicódelico e dançante do Stone
Roses e afins com as guitarras e a introspecção de bandas
como o My Bloody Valentine, que fazia o estilo "shoegazer"
(a saber, uma postura tímida no palco que se caracteriza pela
quase inércia dos integrantes, que muitas vezes mal encaravam
a platéia e mantinham o olhar para baixo, daí "shoegazer").
Mas com o andamento de sua carreira o Blur desenvolveu o seu
próprio estilo, resgatando elementos da música britânica e
liderou uma verdadeira renovação no rock inglês, o chamado
britpop, se firmando como uma das mais importantes bandas
da década.
Formado por Damon Albarn (vocal), Graham Coxon (guitarra),
Alex James (baixo) e Dave Rowntree (bateria), a trajetória
do grupo começou com o nome Seymour em 1989. Após alguns shows
e a primeira demo tape, a banda assina com a gravadora Food
Records, uma subsidiária da EMI. A única exigência da gravadora
foi a mudança do nome da banda, eles ofereceram uma lista
de onde foi escolhido o nome Blur. Já como Blur, a banda parte
para uma pequena turnê pela Inglaterra, terminando em julho
de 1990 em Londres. Assim que a turnê acabou, o Blur entra
em estúdio para gravar algumas músicas, de onde sairam três
músicas para o single "She's So High", lançado em
outubro. "She's So High" faz um relativo sucesso
nas paradas, chegando ao número 48 na Inglaterra, fazendo
com que a banda entrasse novamente em turnê. A segunda sessão
de gravações ocorre somente em dezembro. As gravações foram
bastante problemáticas no início, as duas possíveis escolhidas
para ser o segundo single, "Close" e "Bad Day"
simplesmente não funcionavam. A salvação veio com o nome de
Stephen Street, produtor bastante conhecido pelo seu trabalho
com o The Smiths, e mais tarde, pelo próprio Blur e o Cranberries.
Stephen havia assistido ao vídeo de She's So High na TV e
demonstrou interesse em trabalhar com o Blur. Com Stephen
Street são gravadas mais duas músicas, "Come Together"
e "There's no Other Way", que acabou sendo o segundo
single, lançado em abril de 1991.

O blur nos primórdios...
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Desta
vez, a crítica caiu de joelhos pelo Blur, a música ganha
as rádios, a banda se apresenta no famosíssimo programa
Top of the Pops da BBC pela primeira vez, e There's
no Other Way acaba atingindo o número 8 na parada. Em
julho começam as gravações do primeiro álbum, também
com Stephen Street. O disco foi intitulado "Leisure"
e que contava também com as músicas dos dois primeiros
singles. |
Foi
lançado em agosto na Inglaterra, tendo lançamento também nos
Estados Unidos algumas semanas mais tarde pela gravadora SBK.
Na carona do sucesso de "There's no Other Way", o
disco chegou a sétima posição da parada inglesa, mas a reação
da crítica já não foi a mesma. "Leisure" foi muito
comparado às outras bandas da época, como Soup Dragons, Jesus
Jones, Inspiral Carpets, entre outras, enquanto que alguns críticos
afirmavam que o som da banda era "fabricado". A New
Music Express definiu assim a banda na época: "Blur are
really pretty good. But it ain't the future. Blur are merely
the present of rock and roll."
Entre os integrantes da banda, o descontentamento com a sonoridade
de "Leisure" foi ainda maior e o Blur passaria a se
concentrar na re-invenção da sua música. Em setembro, eles já
estavam em estúdio e durante um show em outubro eles apresentam
pela primeira vez a inovadora "Popscene", claramente
um passo a frente do material gravado em "Leisure".
Mas pouco a pouco, o interesse da volúvel mídia britânica já
não era mais do Blur. No início de de 1992 só se falava em Suede
na Inglaterra. O som do Suede inspirado no glam-rock de David
Bowie na década de 70 impressionou a todos, enquanto o Blur
ainda era ligado ao rock psicodélico pós-Stone Roses, um movimento
que morria pouco a pouco. Em março, é lançado o single de "Popscene",
um marco na carreira do grupo, com sua pegada quase punk levada
com trumpetes. Em retrospectiva, os críticos consideram "Popscene"
um clássico, o início do brit-pop, mas na época ninguém deu
atenção. Mas o prestígio do Blur era próximo a zero na época,
devido a alguns shows ruins com alguns integrantes completamente
embriagados no palco. O single não passou do número 32 nas paradas.
Para piorar, em junho a banda parte para uma humilhante turnê
de 44 shows nos Estados Unidos. Na época, o Nirvana estava no
auge com um som muito distante do Blur, que foi ostensivamente
vaiado em vários shows. De volta a Inglaterra em agosto, a Food
Records ameaça dispensar a banda, que depois de um tempo parada,
retorna em outubro para iniciar as gravações de seu segundo
álbum. Inicialmente a banda trabalha com o produtor Andy Patridge
(ex-integrante da banda XTC), mas o resultado foi desastroso.
Por acaso, o guitarrista Graham Coxon reencontra Stephen Street
durante um show do Cranberries. Stephen mostra interesse em
trabalhar de novo com o Blur e em novembro as gravações recomeçavam
a todo gás. No mês seguinte, a banda apresenta o disco novo
para sua gravadora, que rejeita o material, alegando que não
havia nenhum hit. No natal, Damon Albarn compõe "For Tomorrow"
e a Food estava pronta para lançar o álbum. Só que a SBK, gravadora
da banda nos Estados Unidos, insistia que não havia nenhum hit
em potencial para o mercado americano. Então o Blur voltou ao
estúdio e gravou "Chemical World". O disco estava
pronto para ser lançado em abril quando a SBK pediu a banda
que regravasse todo disco com o produtor Butch Vig (Nirvana,
Smashing Pumpkins, Sonic Youth). Desta vez, a banda se negou
e "Modern Life Is Rubbish" foi lançado na Inglaterra
em maio.
"For Tomorrow", o primeiro single, chega ao número
28 e o álbum não passa do número 15, embora a crítica tenha
sido razoavelmente positiva. O Blur apresentava um som completamente
renovado e distante de qualquer comparação com outras bandas
da época. O novo Blur relembrava influências de bandas dos anos
60, principalmente The Kinks, se voltando ao resgate de elementos
essencialmente ingleses. Como compositor, Damon Albarn se distanciava
completamente do "shoegazing" dos primeiros tempos,
em letras e temáticas bem diretas com várias referências e comentários
sobre a sociedade britânica.
O
segundo single, "Chemical World" é lançado
e também atinge o número 15. A banda volta às turnês
e faz uma excelente apresentação durante o Reading Festival.
O interesse pelo Blur voltava a crescer e em Agosto,
apenas três meses depois do lançamento de "Modern
Life Is Rubbish", a banda começa a compor músicas
para seu terceiro disco. |

Blur em 1993...
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Em
outubro é lançado o último single de "Modern Life is
Rubbish", "Sunday Sunday" e em dezembro a banda
entra em estúdio novamente. No mês seguinte, o disco já estava
pronto.
Foi uma época especialmente criativa e fértil da banda, todas
as idéias se encaixavam fácil. Todas as músicas foram cuidadosas
pensadas em cada detalhe, preenchidas por efeitos, teclados,
arranjos de cordas e instrumentos de sopro, coros. As letras
contavam histórias irônicas sobre o cotidiano recheados de
personagens e caricaturas da sociedade britânica. A criatividade
do Blur não tinha limite e resultou num álbum muito mais pop
que o anterior, recebido como um clássico pela crítica britânica.
Em fevereiro é lançado o single de "Girls & Boys",
como uma prévia do novo álbum "Parklife". O single
faz um enorme sucesso (quinta posição na parada) e abre o
caminho para o lançamento do álbum em abril, o primeiro do
Blur a chegar no número 1 na Inglaterra. "Parklife"
ficou mais de um ano entre os 20 mais vendidos no Reino Unido
e teve ainda mais três hits, "To The End", "Parklife"
(que contava com participação de Phil Daniels, o ator da ópera-rock
do The Who "Quadrophenia") e "End of a Century".
No
fim do ano, "Parklife" era escolhido como
o melhor disco do ano por várias revistas. Em janeiro
de 1995 a banda recebe os prêmios de melhor banda, melhor
disco, melhor single e melhor vídeo no Brit Awards (absolutamente
todos os prêmios principais da premiação que é o equivalente
ao Grammy inglês). O Blur definitivamente era a
banda número 1 da Inglaterra e seus integrantes, principalmente
Damon, se tornavam celebridades. |

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O
sucesso do Blur abriu o caminho para o sucesso de uma série
de bandas como Pulp, Supergrass, Elastica e principalmente do
Oasis. O Oasis teve um excelente ano em 1994 quando lançou seu
disco de estréia "Defenitely Maybe" e se tornou uma
das mais promissoras bandas da Inglaterra. O suficiente para
a mídia lançar uma verdadeira guerra entre Blur x Oasis, com
direito a várias trocas de farpas entres os integrantes das
duas bandas pela imprensa. As gravadoras das duas bandas adoraram
a idéia e passaram a explorar a rixa na imprensa.
O Blur passou metade de 1995 trabalhando em seu novo disco,
"The Great Escape", e tocando alguns shows esporádicos,
inclusive o lendário show "Mile End" no estádio
de Wembley lotado.
Em agosto surge o primeiro single de "The Great Escape",
da música "Country House". Por iniciativa da gravadora,
o lançamento de "Country House" foi atrasado em
uma semana para coincidir com o lançamento de "Roll With
It", o novo single do Oasis. O Blur saiu vencedor da
batalha, "Country House" ficou no primeiro lugar
na parada. A Flood e a EMI fizeram uma festa para comemorar
o fato mas a "guerra" com o Oasis não agradava a
banda, principalmente a Graham Coxon, o que levou a alguns
desentendimentos internos no Blur.
De fato, quando "The Great Escape" foi lançado,
a crítica recebeu o disco com elogios rasgados e entuasiasmados
e as vendagens foram excelentes. O disco trazia a sonoridade
de "Parklife" levada às últimas conseqüências, com
produção grandiosa e a mesma temática, centrada em personagens
irônicos como o "Ernold Same", "Dan Abnormal"
e o "Charmless Man", das músicas de mesmo nome.
O disco também teve grandes hits, como "Country House",
"The Universal" e a própria "Charmless Man"
e até então foi o disco mais bem sucedido do Blur nos Estados
Unidos, vendendo cerca de... bem, 120 mil cópias. Só que a
estratégia da rivalidade com o Oasis se mostrou muito prejudicial
ao Blur. O Oasis lançou seu segundo disco, "What's the
Story (Morning Glory)?" que teve um sucesso ainda mais
avassalador que o de "Great Escape". E quando o
Oasis conquistou a América, vendendo cerca de 5 milhões de
cópias, as comparações foram inevitáveis. A partir daí, o
som do Blur passou a ser tratado como superado e ninguém via
muito futuro para eles. A postura da crítica com relação ao
álbum "The Great Escape" mudou radicalmente, a ponto
do disco ser considerado de fracasso (embora tenha vendido
muito bem), argumentando que no disco a banda mais parecia
uma paródia de si mesma na preocupação de repetir o fenômeno
de "Parklife".
De fato, a banda quase acabou no início de 1996. Em março,
após o final de uma turnê nos EUA, Damon Albarn viaja para
a Islândia para descansar e volta completamente reanimado.
Em junho eles tocam o último show daquele ano em Dublin, na
Irlanda, onde tocam pela primeira vez as músicas "Song
2" e "Chinese Bombs". Era um claro sinal de
que o Blur re-inventando a si mesmo novamente. As músicas
foram compostas após um encontro entre Damon e Stephen Malkmus
do Pavement. Após o show a banda retornou para Islândia, onde
iniciaram as gravações de seu quinto disco. Durante o tempo
em que estavam na Islândia, a relação entre os integrantes
da banda melhora sensivelmente. Em dezembro de 1996, o Blur
retorna à Inglaterra, onde grava a última faixa do novo disco,
que foi lançado em fevereiro de 1997. Nessa época, Damon dava
declarações a imprensa dizendo não estar mais interessado
na rock inglês e que estava fascinado pelo rock alternativo
americano, um gênero que Graham Coxon cultuava há anos.
Tanto o álbum, simplesmente intitulado "Blur" quanto
o primeiro single "Beetlebum" entram na parada como
número 1 em fevereiro de 1997. Em geral as críticas ao novo
som do grupo foram um tanto divididas, com alguns críticos
considerando que o Blur havia perdido o rumo enquanto que
outros publicavam que a banda reconquistava sua posição como
uma das mais inovadoras e originais da Inglaterra. Mas o público
ainda mostrava uma certa resistência pela mudança no estilo,
logo após o seu lançamento o disco rapidamente despencou nas
paradas.
Em março, "Blur" é lançado nos Estados Unidos, onde
a banda contava com uma nova gravadora, a Virgin, que se mostrou
bem mais comprometida na promoção do Blur do que era a SBK.
"Song 2" é escolhido pela Virgin e pela banda como
o primeiro single americano e a escolha se mostrou um acerto,
fazendo da música um hit e finalmente tornando o Blur conhecido
nos Estados Unidos. Depois de uma turnê bem sucedida pelos
EUA, a banda parte para outros países como Japão e Austrália,
onde se tornam grandes também.
A boa repercussão do disco em outros países ironicamente se
refletiu na Inglaterra, onde a banda voltou a subir nas paradas
e definitivamente reconquistou seu espaço.
"Blur" teve ainda os singles de "M.O.R."
e "On Your Own" e realmente refletia uma mudança
de direção. Dessa vez, a banda parecia mais solta, mais espontânea,
as guitarras voltavam a ganhar destaque, trazendo à banda
uma levada mais rock e experimental e menos pop.
No intervalo entre o fim da turnê e o reinício dos trabalhos
no próximo disco, os integrantes do Blur trabalham em projetos
próprios. Damon Albarn fez algumas trilhas para filmes e Graham
Coxon lançou um álbum solo, "The Sky's Too High".
Em 1998 a banda entra em estúdio com o produtor William Orbit
para gravar seu novo álbum, "13", de novo, número
1 nas paradas da Inglaterra. O disco, lançado em 1999, segue
o mesmo rumo do trabalho anterior, incorporando alguns elementos
da música eletrônica e desta vez ainda mais experimental (embora
o primeiro single, "Tender", tenha sido o mais pop
do Blur nos últimos anos) e mais uma vez reafirma o Blur como
uma das mais influentes bandas da atualidade. Depois de mais
dois singles "Coffee & TV" e "No Distance
Left to Run", a banda comemora seus 10 anos de carreira
em mais um show no estádio Wembley. O Blur ainda recebeu prêmios
pelo videoclip inovador de "Coffee & TV" que
conta a impagável saga de uma caixinha de leite (!?!?). Com
o fim das atividades de promoção de "13" a banda
dá mais uma parada, quando seus integrantes se voltam aos
seus próprios projetos. Sai o segundo disco de Graham Coxon,
"The Golden D" e Damon se envolve na banda Gorillaz,
que acaba fazendo um enorme sucesso, talvez até maior
do que o próprio Blur, se levarmos em conta um âmbito
mundial.
Em
2000 foi lançado um "Best Of", ainda como parte
das comemorações pelos 10 anos da banda, contendo uma
faixa inédita, "Music is my Radar". Em 2001,
mais um disco solo de Coxon, chamado "Crow Sit on
Blood Tree". O Blur só volta efetivamente
em 2002, quando descobre-se que a banda está gravando
um novo disco, tendo Fatboy Slim como produtor. |

a banda em ação
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Também começam
a circular boatos sobre uma eventual saída de Graham
Coxon, o
que acaba se confirmando logo. 2002 marca ainda o lançamento
do quarto disco de Coxon, chamado "The Kiss of the Morning".
Aparentemente a razão de sua saída da banda foi
insatisfação com os rumos que o som do Blur estaria
tomando nas gravações do novo disco. "Think
Tank" é lançado em 2003. Para o lugar de
Coxon, foi recrutado Simon tong, ex-guitarrista do Verve. "Think
Tank" recebeu muito mais críticas negativas do que
positivas, e também
muitos fãs torceram o nariz para o novo disco do grupo.
Essa reação é em parte reflexo da saída
de Coxon, muito querido pelos fãs. |