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Os discos que marcaram o 2006 da Dying Days

Alexandre Lopes
Alexandre Luzardo
Ana D. M.
Fabricio Boppré
Natalia Vale Asari
Vicente Moschetti

Resumo


Alexandre Lopes


Superguidis – "Superguidis"

De longe, o disco do ano de 2006 que mais ouvi. Melodias grudentas, guitarras sujas sem perder o senso pop, letras 'jovens', mas inteligentes. Bebendo diretamente da fonte de bandas como Pavement, Guided by Voices (e outras menos perceptíveis, como Nirvana, Sonic Youth e, porque não, Strokes), o Superguidis é a banda brasileira que mais me cativa atualmente. Não tem como não viciar em um disco que contém 'O Raio que o Parta', 'O Véio Máximo' e 'Discos Arranhados'. E a performance dos caras ao vivo justifica o favoritismo em tantas listas de melhores discos por aí.


The Twilight Singers – "Powder Burns"

Sou fã confesso e ardoroso de Afghan Whigs, porém o trabalho de Greg Dulli no Twilight Singers nunca me chamou muita atenção. Isso foi até eu pegar 'Powder Burns'. O Twilight Singers não tem a força rock que a banda anterior de Dulli mantinha, mas as músicas têm o mesmo 'magnetismo' lírico e interpretativo do vocalista. Muita gente não enxerga a menor graça no trabalho do Afghan Whigs ou do próprio Twilight Singers, mas no meu caso não adianta: fã é fã mesmo.


Sonic Youth – "Rather Ripped"

Os já vovôs sônicos acertaram a mão nesse aqui. Por mais que esse retorno a uma sonoridade mais básica – em termos de Sonic Youth, claro – já tenha sido apontado no disco anterior ('Sonic Nurse'), a banda parece ter chegado a um resultado bastante coeso só agora, com 'Rather Ripped'. Faixas como 'Reena', 'Incinerate', 'Sleepin' Around' e 'What A Waste' remetem um pouco à fase mais 'limpa' do SY nos anos 90, sem longas jams intermináveis que caracterizaram os últimos lançamentos do grupo. Até me animou mais a vê-los novamente por aqui no Brasil, apesar do show no Claro q é Rock de 2005 não ter me agradado muito.


Yeah Yeah Yeahs – "Show Your Bones"

Depois do Yeah Yeah Yeahs ter jogado um disco novinho em folha na lixeira (a banda alegou que o resultado das gravações do novo material ficou muito parecido com o disco anterior e resolveu retomar o processo), pode-se dizer que o trio nova-iorquino se deu bem ao tentar variar sua fórmula. Não existem faixas esporrentas e gritadas como o hit 'Date With the Night' que catapultou o grupo, mas 'Show Your Bones' merece seu crédito justamente por buscar um caminho contrário: levadas mais acústicas adocicam o som da banda, que também não deixou de mostrar seu lado barulhento em faixas como 'Fancy' e 'Phenomena'. No geral, é um disco com músicas bem dosadas entre peso e melodias acessíveis, como apontam os singles 'Gold Lion' e 'Turn Into'. Dificilmente teria assistido o YYY's no Tim Festival se não tivesse ouvido esse disco – pena que eles não tocaram minha favorita, 'Way Out'...


Cat Power – "The Greatest"

Por incrível que pareça, nunca tive muito saco para ouvir a obra de Chan Marshall (vulgo Cat Power). Acontece que em uma dessas navegadas noturnas pela internet, vi o link para baixar seu disco mais recente. Pensei: "por que não baixar?". Feito isto, 'The Greatest' embalou várias noites minhas do ano que passou com seu tom sublime e acolhedor. O que antes me parecia algo tedioso se mostrou uma boa trilha sonora para noites em que fiquei de bobeira em casa.


...And You Will Know Us By The Trail of Dead – "So Divided"

Passado o susto com a mudança de sonoridade que o Trail of Dead impôs com o disco anterior, 'Worlds Apart', este novo disco desceu naturalmente. Não é algo que chega a empolgar como 'Source Tags & Codes', mas o disco tem seu brilho.


Albert Hammond Jr – "Yours to Keep"

Disco solo do guitarrista dos Strokes? Pois é, e consegue ser melhor que Strokes. Fora o fato que Albert Hammond Jr canta melhor que Julian Casablancas...

Decepção:
Foo Fighters – "Skin And Bones"

Após o 'The Colour and the Shape', o 'Fufa' foi se embrenhando por caminhos mais 'fáceis' em termos radiofônicos. Por mim, o Dave Grohl acertava a mão em uma faixa aqui e ali, e o resto das canções me davam a impressão que estavam no disco apenas para preencher espaço. Com o lançamento de 'One by One' e do duplo 'In Your Honor', percebi que Grohl mudou de estratégia: agora somente um ou outro riff salvam-se! Se a situação chegou neste nível, o que dizer de um registro ao vivo acústico do Foo Fighters? Dando uma última chance à banda, resolvi puxar, até pela curiosidade de ouvir a versão de 'Marigold' (b-side do Nirvana), mas o disco não deixa de ser mais da mesma coisa enfadonha que não me apetece, um set acústico que não tem o mesmo carisma de acústicos como o do Alice in Chains e Nirvana. Como já falei para um amigo meu: Foo Fighters agora é aquela sua ex-namorada pela qual você já não tem mais tesão nenhum.

Um rápido diálogo de MSN para ilustar minha opinião:

– Acho que a salvação do Ghrol seria ele voltar a sentar no banquinho.

– Mas é o que ele fez. Só que daí ele entendeu errado; pegou um violão e cagou tudo hauhauahuahuha

– HAUUHAUHAHUHAUUHAUHAHUHAUUHAUHAHU

Alexandre Luzardo

Tive alguma dificuldade em compilar minha lista de melhores de 2006. Esse ano foi particularmente complicado no âmbito pessoal e, inevitável, acabei ficando um tanto afastado do site como um todo e até mesmo do prazer de acompanhar e descobrir novos lançamentos. Então, diante de uma certa precariedade de opções de escolha, eis o que tenho a comentar, obviamente sem qualquer pretensão de proclamar ao mundo que estes sejam os melhores discos do ano.


Golden Smog – "Another Fine Day"

Esse foi o campeão pra mim, o disco que mais ouvi, o que mais gostei, o que mais me tocou, o que eu ainda vou ouvir por muitos anos. A ironia foi que o ponto de partida, a música que deu o estalo foi um cover: "Strangers", do Kinks, numa interpretação fantástica do Jeff Tweedy.


Graham Coxon – "Love Travels At Illegal Speeds"

É uma pena que, mesmo com uma sonoridade claramente mais pesada, Graham Coxon não tenha conseguido traduzir peso em impacto na comparação com seu disco anterior, Happiness In Magazines. A impressão é que com menos ele havia feito mais. Mesmo assim, ainda que seja discutível se esse disco é ou não melhor que o anterior, a carreira solo de Graham Coxon justifica plenamente a aparente morte por inanição do Blur.


The Lemonheads – "The Lemonheads"

Já escrevi sobre esse disco, para mim a supresa do ano. Assim como o Posies em 2005, é o caso de banda que resolve fazer bons discos quando não tem mais ninguém ouvindo. Tivesse esse álbum sido lançado no lugar de Come On Feel The Lemonheads em 1993, a história deles hoje seria outra.


Mike Johnson – "Gone Out Of Your Mind"

Eu sempre soube que me tornaria fã do Mike Johnson tão logo tivesse acesso a um disco dele. Não deu outra, já mandei fazer minha carteirinha. Na realidade, Gone out of Your Mind demanda uma boa dose de disposição para mergulhar em sua atmosfera de melancolia e pessimismo, o que me faltou ao longo do ano para apreciar verdadeiramente o álbum. Porém, com a qualidade de Mike Johnson, especialmente como arranjador, é muito fácil de admirar seu trabalho e considerá-lo entre os grandes deste ano.


The Minus 5 – "The Minus 5"

Outra banda que fui descobrir tardiamente. Talvez por causa do Tuatara (outro projeto com participação do Peter Buck do R.E.M.), sempre tive a impressão que o Minus 5 fosse algo hermético e impenetrável. Absolutamente nada a ver. Descobri que eles variam muito de disco a disco, mas esse é rock de inspiração sessentista, folk e country, uma sonoridade que sempre me agrada muito, especialmente se feita por músicos que conhecem o riscado, como é o caso aqui.


Pearl Jam – "Pearl Jam"

Já há algum tempo o Pearl Jam parece ter perdido a capacidade de surpreender. Por isso, se alguém, como eu, esperava uma espécie de recomeço com esse disco do abacate pode ter ficado meio frustrado, pois a impressão é de continuidade no que a banda já vinha apresentando nos últimos discos. No entanto, trata-se de um belo álbum, com músicas que apresentam um vigor mais imediato que vinha fazendo falta. "Comatose", com todas as restrições que possa ter, é provavelmente a música mais pulsante da banda desde "Spin the Black Circle".


Sonic Youth – "Rather Ripped"

Nunca tinha ouvido um álbum do Sonic Youth com guitarras tão melódicas e assobiáveis. A banda resolveu simplificar nesse disco e realmente soa mais pop como eles diziam que seria, mas ainda é a cara do Sonic Youth. Em nenhum momento música alguma soa previsível, para eles fazer o simples não significa fazer o óbvio.

Decepção

Tive várias. Do Beck tinha gostado muito de Guero, mas esse The Information soou forçado demais. O Audioslave eu achei que tinha finalmente convencido com Out of Exile, e então o Revelations quebrou a minha cara. Teve o Foo Fighters com um acústico dispensável depois de ter agradado com o In Your Honour. Mas decepção mesmo foi o Soul Asylum com The Silver Lining. É certo que eu tenho uma ligação "afetiva" com essa banda, por isso é que havia expectativa, mas ouvindo o disco fica claro por que ele é decepcionante.

Ana D. M.

Então, a mesma história de sempre. O ano termina e a gente sempre acaba com a impressão de que está em defasagem, que não deu a devida atenção ao que foi lançado durante o ano ou nem se deu ao trabalho de procurar. Olha, este ano até que tentei. E esta é a razão pela qual eu vou tirar uma das vagas de indicar disco pra deixar uma pérola.


Sonic Youth – "Rather Ripped"

Competentíssimo.


Steve Turner and His Bad Ideas – "New Wave Punk Asshole"

Steve é a alegria dos grunges abandonados. Embora com um "pouco" menos de distorção e mais rock'n'roll.


Josef K – Entomology

Não é pela referência do nome, nem pelo nome do disco. Josef K é uma banda de pós-punk escocesa meio obscura (provavelmente nem tanto a estas alturas) e esta é uma coletânea de Peel Sessions.


Scissor Sisters – "Ta Dah!"

Porque nem só de chorões se preenche o mundo biba.


New York Dolls – "One Day It Will Please Us to Remember Even This"

As bonecas (cada vez mais chuchuzinhos) ainda estão aí e sabem o que estão fazendo, ao contrário de muitos que apareceram por aí.


Comets on Fire – "Avatar"

Comets on Fire é dessas bandas que começam agrandando stoners que estão com o pezinho no roque clássico e que acabam puxando cada vez mais coisas, até o ponto em que consegue ser feliz na frente de quem precisa de alguma coisinha mais punk.

E agora, a pérola:
Joanna Newsom

Apontada por várias listas como um novo expoente do ano, foi impossível ver isto e não acreditar que se trata de uma reencarnação daquele clipe medonho da Kate Bush (WOOOOOW). Elfa freestyle: um vestido esvoaçante, uma harpa e uma menina bonitinha de cabelo hippie fazendo caretas involuntárias!

A vaga que eu tirei foi a da coletânea megalomaníaca do Tom Waits (Orphans), primeiro porque não dá pra ouvir um disco triplo numa sentada só, por melhor que seja a obra, e segundo porque isso já apareceu em listas demais e com certeza vai aparecer em outras.

Grande decepção:
Mudhoney – Under a Billion Suns

Teve outras bombas, mas esta acho que foi a pior, porque eu estava esperando.

Fabricio Boppré


Mission of Burma – "The Obliterati"

Não satisfeitos com "OnOffOn", o primeiro lançamento após o hiato de duas décadas – e um dos melhores álbuns de 2004, estes senhores resolveram então gravar o melhor disco de 2006. "The Obliterati" é pesado, denso, nervoso, multíplice, e mais uma penca de adjetivos elogiosos.


Secret Machines – "Ten Silver Drops"

As primeiras audições deste novo álbum do Secret Machines me deram um impressão de elaboração meio vazia e repetitiva, não parecia à altura do que o primeiro disco entregava e prometia para o futuro. Mas dada a segunda chance que a banda merecia, esta impressão se desfez. "Ten Silver Drops" é um bom trabalho – se não é equiparável ao ótimo debut do grupo, ao menos brilha individualmente, cheio de melodias e ótimo trampo de guitarras.


Silversun Pickups – "Carnavas"

Ainda acho exagerado todo o frenesi sobre o Silversun Pickups. O que se lê em praticamente todas as resenhas sobre o debut da banda é verdade: tem fortes ecos de My Bloody Valentine, Smashing Pumpkins e Sonic Youth, e, se por um lado isso de remeter tanto à outras bandas não é lá muito abalizador, por outro é inegável que eles souberam fazer boas músicas baseados nestas respeitáveis influências. No final das contas esta última interpretação se sobressai e é com merecimento que eles figuram na maioria das listas de melhores do ano.


Bonnie 'Prince' Billy – "The Letting Go"

Bonnie 'Prince' Billy vem se tornando meu pseudônimo preferido do Will Oldham. Sob esta alcunha Will lançou grandes discos como "Master and Everyone" e "Superwolf" (este em parceria com Matt Sweeney). Este belo "The Letting Go" segue o estilo mais contido e minimalista de "Master and Everyone": vozes, violões e um feeling impressionante para fazer muito mais a partir do incrivelmente menos que dispõe – ou que prefere usar.


Sonic Youth – "Rather Ripped"

E o Sonic Youth segue empilhando ótimos discos. Este "Rather Ripped" não é um clássico como um "Daydream Nation" ou um "Goo", mas é tão bom quanto os dois últimos discos da banda, por exemplo. Já é o suficiente para fazê-lo um dos meus discos do ano.


...And You Will Know Us By The Trail of Dead – "So Divided"

Um disco bastante surpreendente na primeira audição – ou surpreendente o suficiente para embaçar o julgamento. Vá lá, eles não gravaram nenhum bolero, mas, por exemplo, algo próximo a Beach Boys tem lá. E conhecendo-se os primórdios do Trail of Dead, ninguém apostaria que um dia eles gravariam algo que pareça Beach Boys. Passada a estranheza, reconhece-se o bom e velho Trail of Dead no punch, naqueles momentos grandiosos e empolgantes que eles engedram como ninguém mais. Temos que admitir que estes momentos não são mais tão catárticos como outrora foram, mas eles ainda entregam coisas sublimes como So Divided (a música). E aos poucos as esquisitices aqui e ali até que fazem sentido. Botando em perspectiva, não é a melhor obra da banda e nem aquilo que eu particularmente gostaria de estar ouvindo destes texanos, mas é uma tentativa bastante válida e interessante dos caras de fazerem o que querem com uma boa margem de chance de agradar aos fãs. A mim, pelo menos, agradaram bastante.


Pajo – "1968"

Eu estava entre este e o "Both Sides of the Gun" do Ben Harper para fechar os sete preferidos de 2006. O do Ben Harper é ótimo, mas não digeri seus dois discos por completo, acho que os funks e assemelhados poderiam ter sido deixados para um outro álbum separado... Então, por ser mais harmônico e simples, optei pelo disco do índio, que tem ainda a seu favor o fato de conseguir gravar seus disquinhos solos despretenciosos em meio aos seus trocentos outros projetos e parcerias. Mesmo cantando com sua voz inexpressiva, David Pajo gravou um disco muito agradável, que vale uma escutada, que depois puxa outra e outra...

A decepção de 2006:
Neil Young – "Living With War".

Depois do belíssimo "Prairie Wind", este "Living With War" apareceu meio de surpresa após um curto intervalo de tempo, e era natural ouvi-lo ainda sob efeito da empolgação do disco anterior. Mas nem de longe "Living With War" lembra a inspiração de "Prairie Wind". Mesmo dando os descontos de que se trata de uma obra que possui um outro contexto (nem vou me aprofundar na questão do Neil Young ser o canadense mais americano que existe, pois realmente acredito que isso não vem ao caso), este disco não vinga, não traz nenhum momento memorável, nada. Pelo contrário; a maioria das canções são desinteressantes, com seus corinhos pé no saco. Mas assim é Neil Young – uma discografia de grandes discos e um punhado de outros dispensáveis. Só espero que "Prairie Wind" não tenha sido seu último grande álbum.

Natalia Vale Asari


6 Organs of Admittance – "The Sun Awakens"

[Cantos ciganos.] Dentre os discos lançados em 2006, este foi o que mais procurei para bloquear distrações e mergulhar no trabalho. O plano foi um fiasco, claro, principalmente quando "Black Wall" tomava espaço. Depois disso, a concentração era exclusividade do disco. E ele ainda exigia um replay para me mostrar as primeiras faixas.


Bonnie 'Prince' Billy – "The Letting Go"

[Uma manhã fria.] Poupo-lhes dos comentários sobre o sangue azul do artista. Sob qualquer alcunha, Will Oldham sabe o que é fazer canções com cheiro de novidade e gosto de nostalgia. Este é mais um disco que entrou para a lista dos sete depois das tentativas frustradas de ser usado como música de fundo para trabalhar.


Mogwai – "Mr. Beast"

[Qual nome vou dar a esta música.] Este disco é o oposto dos outros que figuram aqui. Eu começo a escutá-lo com atenção e dedicação. Depois das primeiras músicas, porém, o clima é para trabalhar. Tudo bem: se o Mogwai lançasse algo do nível do Rock Action a cada dois anos, não haveria trabalho, papo ou concentração que resistissem. Um Mr. Beast está ótimo, por enquanto.


...And You Will Know Us By The Trail of Dead – "So Divided"

[A mais nova íncrivel intemperança dos destemidos.] Alheios aos escorregões curtos – mas épicos – o Trail of Dead continua fazendo sua música. Mesmo com ainda mais esquisitices do que o disco anterior, "So Divided" não está nem aí para a falação. E isto é apenas parte do charme por trás da obra. A estrutura que deu certo é a mesma: a eficácia de cada nota. Para completar, as introduções sempre geniais.


Cat Power – "The Greatest"

[O sol do meio-dia.] O trabalho da Cat Power é sempre gracioso, e não engraçado, apesar de eu sempre associar o nome artístico da cantora a um episódio dos Simpsons. Revelação para mim: o charme da leve rouquidão da moça em músicas não-sussurradas.


Mission of Burma – "The Obliterati"

[Em uma lanchonete drive-in, de madrugada.] Parece até história de banda de bairro. Só fui dar atenção a "The Obliterati", sucessor do simpático "Onoffon", depois do show aqui no Brasil. Isso não pode ser mau sinal. O retorno não deixa muitas alternativas a não ser usar a frase batida: Mission of Burma mostra a muito moleque de hoje o que é fazer rock. De verdade.


Sonic Youth – "Rather Ripped"

[Direto e reto.] Enganação? Delírio coletivo? Aos detratores do Sonic Youth e a sua longa carreira de competência na maciota: este não é o disco que vai fazê-los mudar de idéia. Alta dose do mesmo de sempre, ao longo de todo o disco, mas sem pausa para respirar. Músicas enxutas, Sonic Youth sem rodeios.

Decepção:
Grandaddy – "Just Like the Fambly Cat"

[E o grand finale?] Eu não conheço ninguém mais que preferisse o "Sumday" ao "Software Slump". Portanto, a minha expectativa para o último disco do Grandaddy era muito grande. A culpa da derrocada foi a intolerância às babaquices da indústria musical? Não sei, mas foi uma despedida insossa para uma banda que deveria ter saído em grande estilo.

Vicente Moschetti

Infelizmente, 2006 não foi um ano em que me esmerei para acompanhar tendências e sugestões. Se 2005 já tinha deixado bem claro que os destaques não obedeciam a uma linha coerente para serem revelados, 2006 mostrou-se desafiante até para o audiófilo mais xiita quando o assunto é reter as sugestões em seu escopo. Por isso, minha lista ficou bem mais segmentada do que no ano anterior. Tenho certeza que há discos bem melhores que os listados abaixo, embora não tenha tido oportunidade de escutá-los (mesmo com as consagrações da mídia já disponíveis a essa altura do campeonato), mas isso se corrige no decorrer dos próximos meses.

[sem ordem de preferência]


SunnO))) & Boris – "Altar"

O SunnO))) destacou-se ao explorar o legado do Earth, mergulhando o ouvinte num calabouço de trevas embalado por longos e maléficos riffs. Os japoneses do Boris são objeto de culto com sua mistura de doom/stoner/garagem. O fato das duas bandas se reunirem e criarem um disco como se fossem uma entidade única é fato suficiente para suscitar as melhores expectativas. Essas expectativas foram relativamente bem alcançadas, já que o resultado de "Altar" em vários momentos transcreve as vertentes que essas bandas exploram em seus discos individuais, misturadas ou individualizadas. Entretanto, eles vão além, oferecendo caminhos inesperados como a emocional "The Sinking Belle" e a ultra-climática "Fried Eagle Mind", surpreendendo muitos ouvintes com facetas até então inéditas para ambas as bandas. Para os mais conservadores, a versão limitada trouxe um CD extra com uma única faixa, onde Dylan Carlson (do Earth) ajuda o coletivo a submergir em um drone devastador. [recomendadas: "Etna" / "Her Lips Were Wet With Venon"]


The Mars Volta – "Amputechture"

Embora não me considere fã de carteirinha do The Mars Volta, a presença deles nessa lista evidencia a relação satisfatória que estabeleço com seus discos, já que no ano passado eles foram alvo de reconhecimento nesse mesmo espaço. "Amputechture" seguiu a linha do disco anterior e embora não reate com a razoável acessibilidade de "De-Loused In The Comatorium", soa um pouco mais palatável do que "Frances The Mute". A participação de John Frusciante como músico fixo deu ainda mais combustível para um coletivo que já abusava das guitarras, transformando-o numa poderosa usina sonora (destaque para o baterista-monstro Jon Theodore). Estão no disco as intermináveis jams que ameaçam não chegar a lugar algum, não fosse pelas passagens em que o The Mars Volta retorna ao planeta terra e desanca melodias infalíveis, provocando o ouvinte com a alternância entre o experimental e o ganchudo. [recomendadas: "Vermicide" / "Viscera Eyes"]


Elma – "EP"

Num ano em que algumas bandas independentes brasileiras ensaiaram lampejos de notoriedade (com direito a turnê patrocinada pela MTV e lançamento de disco pela SubPop), o Elma foi meio que um patinho feio. Com um EP de econômicos nove minutos lançado no final do ano pela Amplitude, provaram a capacidade brasileira de alcançar a mesma qualidade sonora que muitos gringos notabilizam no mercado exterior. Caminhando por trajetos exclusivamente instrumentais, o som do Elma pode não ser o mais inovador, mas é o mais convincente e bem feito: uma verdadeira tormenta sonora. Com os timbrões mais vigorosos do ano, gravaram nove minutos do que há de mais bagudo no panorama nacional. [recomendadas: tudo, é claro, são apenas nove minutos]


Jesu – "Silver" EP

O projeto do ex-Godflesh Justin Broadrick já havia chamado a atenção com seus dois lançamentos anteriores, que revelaram um compositor mais introspectivo, porém ainda interessado nas distorções que explorou no decorrer de sua carreira. O EP "Silver" aperfeiçoa ainda mais o que notabilizou tão rapidamente seu projeto: múltiplas paredes de guitarras, faixas longas, eletrônica e ritmo arrastado – um misto de metal, industrial e shoegazing. O que faz do EP um lançamento tão especial é a evolução de Broadrick como compositor, que se mostrou mais preocupado em se aproximar do ouvinte, disposto a explorar outras cadências, resgatando um pouco das sombras o som lá inoculado nos discos anteriores. Infalível nas manipulações eletrônicas em benefício do metal, ele abusa de texturas, timbres e fortalezas de guitarras, numa combinação tão perfeita que induz o ouvinte a um replay. [recomendadas: "Star" / "Wolves"]


Thom Yorke – "The Eraser"

Os ouvintes se acostumaram tanto com a aura esquizofrênica do Radiohead que parecem ter degustado a suavidade de "The Eraser" com uma certa indiferença. Thom e Nigel Godrich não foram atrás do mais tortuoso ruído estridente, tampouco usaram esse primeiro trabalho solo para destilar críticas contra a política e a vida na sociedade contemporânea. Ao contrário, optaram por uma abordagem simplista, intimista (considerando Radiohead), muito mais voltada para a sensibilidade de Thom do que para a postura irônica e contestadora que vem permeando os discos de sua banda oficial. Musicalmente, as composições não desvirtuam os traços familiares do autor, mas suas construções sonoras baseiam-se em ensinamentos eletrônicos da fase "Amnesiac", mais apurados e orientados a melodias, revelando uma agradável e estranha acessibilidade.


KTL – "KTL"

KTL surgiu quando Pita e Stephen O'Malley escreviam músicas para uma peça de teatro francesa. Embora a sigla não denuncie, o duo conta com um dos grandes nomes atuais da manipulação eletrônica (Pita) e com um dos integrantes do SunnO))) (O'Malley), referências que tornam fácil para os mais familiarizados deduzirem que o projeto investe pesado em ambiência e drones recheados de ruídos infinitos. O mais interessante do projeto é a ambientação, com Pita propondo diferentes sonoridades sobre as guitarras corrosivas de O'Malley (remanescentes do cultuado "Black One"), resultando numa longa proposta sombria de efeitos ora interessantes ora repulsivos. Um disco de uma dinâmica só, porém, encharcado de pequenos detalhes e de uma penumbra onipresente, fruto de gravações realizadas em uma fortaleza francesa durante uma tempestade. [recomendadas: "Forestfloor 1" / "Forestfloor 3"]


Black Boned Angel – "Ashes"

Embora observada apenas no mais genuíno underground, a Nova Zelândia começou a destacar alguns nomes para a cena experimental mundial. Campbell Kneale talvez seja o nome mais reverenciado no meio, com seu prolífico selo Celebrate Psi Phenomenon e seus limitadíssimos CDRs. Registrando trabalhos experimentais com gente como Lee Ranaldo, Kneale é um obstinado manipulador de distorções e ambiências, usando guitarras e eletrônica de forma sempre inesperada e ensurdecedora em prol da destruição de caixas de som. Black Boned Angel é o projeto onde Campbell flerta com o doom, usando suas distorções em forma de longos mantras ridiculamente pesados. "Ashes" é um conjunto de três CDRs que coleciona sobras registradas em estúdio, demos e apresentações ao vivo. O Black Boned Angel, para resumir, foi a trilha sonora macabra para rituais obscuros de 2006. [recomendada: "Endless Coming Into Life" / "Black Throat Abyss"]

E a decepção do ano:
Red Hot Chili Peppers –"Stadium Arcadium"

Certo, por que considerar um disco duplo de uma banda ultra-comercial algo frustrante? Realmente, são eles dignos da expectativa de alguém que colabora com a Dying Days? Explico: esse álbum é o primeiro passo na carreira de John Frusciante logo após o seu lote de excelentes discos solo lançados em 2004/5. Longe da expectativa de que o novo álbum do quarteto fosse igualar-se aos discos obrigatórios citados, havia a certeza de que o resultado encontraria um dos dois caminhos possíveis: ou Frusciante converteria seus colegas para um novo patamar de música pop, ou inibiria sua veia musical em prol dos repetitivos hits de FM. Infelizmente, Frusciante não foi capaz de salvar o enfadonho pacotão de dois discos, fazendo parte do que possivelmente é o pior disco dos caras. Poucas idéias, hits mais-do-mesmo, supostas experimentações sem pé nem cabeça e muito xerox de sucessos que emplacaram seus dois álbuns anteriores. Mais uma evidência de que qualidade dificilmente rima com quantidade.


Resumo

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