Os discos que marcaram
o 2006 da Dying Days
Alexandre Lopes
Alexandre Luzardo
Ana D. M.
Fabricio Boppré
Natalia Vale Asari
Vicente Moschetti
Resumo
Alexandre Lopes

Superguidis – "Superguidis"
De longe, o disco do ano de 2006 que mais
ouvi. Melodias grudentas, guitarras sujas sem perder o
senso pop, letras 'jovens', mas inteligentes. Bebendo
diretamente da fonte de bandas como Pavement, Guided by
Voices (e outras menos perceptíveis, como Nirvana, Sonic
Youth e, porque não, Strokes), o Superguidis é a banda
brasileira que mais me cativa atualmente. Não tem como não
viciar em um disco que contém 'O Raio que o Parta', 'O
Véio Máximo' e 'Discos Arranhados'. E a performance dos
caras ao vivo justifica o favoritismo em tantas listas de
melhores discos por aí.

The Twilight Singers – "Powder Burns"
Sou fã confesso e ardoroso de Afghan Whigs, porém o
trabalho de Greg Dulli no Twilight Singers nunca me chamou
muita atenção. Isso foi até eu pegar 'Powder Burns'. O
Twilight Singers não tem a força rock que a banda anterior
de Dulli mantinha, mas as músicas têm o mesmo 'magnetismo'
lírico e interpretativo do vocalista. Muita gente não
enxerga a menor graça no trabalho do Afghan Whigs ou do
próprio Twilight Singers, mas no meu caso não adianta: fã
é fã mesmo.

Sonic Youth – "Rather Ripped"
Os já vovôs sônicos acertaram a mão nesse aqui. Por
mais que esse retorno a uma sonoridade mais básica –
em termos de Sonic Youth, claro – já tenha sido
apontado no disco anterior ('Sonic Nurse'), a banda parece
ter chegado a um resultado bastante coeso só agora, com
'Rather Ripped'. Faixas como 'Reena', 'Incinerate',
'Sleepin' Around' e 'What A Waste' remetem um pouco à fase
mais 'limpa' do SY nos anos 90, sem longas jams
intermináveis que caracterizaram os últimos lançamentos do
grupo. Até me animou mais a vê-los novamente por aqui no
Brasil, apesar do show no Claro q é Rock de 2005 não ter
me agradado muito.

Yeah Yeah Yeahs – "Show Your Bones"
Depois do Yeah Yeah Yeahs ter jogado um disco novinho
em folha na lixeira (a banda alegou que o resultado das
gravações do novo material ficou muito parecido com o
disco anterior e resolveu retomar o processo), pode-se
dizer que o trio nova-iorquino se deu bem ao tentar variar
sua fórmula. Não existem faixas esporrentas e gritadas
como o hit 'Date With the Night' que catapultou o grupo,
mas 'Show Your Bones' merece seu crédito justamente por
buscar um caminho contrário: levadas mais acústicas
adocicam o som da banda, que também não deixou de mostrar
seu lado barulhento em faixas como 'Fancy' e
'Phenomena'. No geral, é um disco com músicas bem dosadas
entre peso e melodias acessíveis, como apontam os singles
'Gold Lion' e 'Turn Into'. Dificilmente teria assistido o
YYY's no Tim Festival se não tivesse ouvido esse disco
– pena que eles não tocaram minha favorita, 'Way
Out'...

Cat Power – "The Greatest"
Por incrível que pareça, nunca tive muito saco para
ouvir a obra de Chan Marshall (vulgo Cat Power). Acontece
que em uma dessas navegadas noturnas pela internet, vi o
link para baixar seu disco mais recente. Pensei: "por que
não baixar?". Feito isto, 'The Greatest' embalou várias
noites minhas do ano que passou com seu tom sublime e
acolhedor. O que antes me parecia algo tedioso se mostrou
uma boa trilha sonora para noites em que fiquei de bobeira
em casa.

...And You Will Know Us By The Trail of Dead – "So Divided"
Passado o susto com a mudança de sonoridade que o Trail
of Dead impôs com o disco anterior, 'Worlds Apart', este
novo disco desceu naturalmente. Não é algo que chega a
empolgar como 'Source Tags & Codes', mas o disco tem seu
brilho.

Albert Hammond Jr – "Yours to Keep"
Disco solo do guitarrista dos Strokes? Pois é, e
consegue ser melhor que Strokes. Fora o fato que Albert
Hammond Jr canta melhor que Julian Casablancas...
Decepção:
Foo Fighters – "Skin And Bones"
Após o 'The Colour and the Shape', o 'Fufa' foi se
embrenhando por caminhos mais 'fáceis' em termos
radiofônicos. Por mim, o Dave Grohl acertava a mão em uma
faixa aqui e ali, e o resto das canções me davam a
impressão que estavam no disco apenas para preencher
espaço. Com o lançamento de 'One by One' e do duplo 'In
Your Honor', percebi que Grohl mudou de estratégia: agora
somente um ou outro riff salvam-se! Se a situação chegou
neste nível, o que dizer de um registro ao vivo acústico
do Foo Fighters? Dando uma última chance à banda, resolvi
puxar, até pela curiosidade de ouvir a versão de
'Marigold' (b-side do Nirvana), mas o disco não deixa de
ser mais da mesma coisa enfadonha que não me apetece, um
set acústico que não tem o mesmo carisma de acústicos como
o do Alice in Chains e Nirvana. Como já falei para um
amigo meu: Foo Fighters agora é aquela sua ex-namorada
pela qual você já não tem mais tesão nenhum.
Um rápido diálogo de MSN para ilustar minha opinião:
– Acho que a salvação do Ghrol seria ele voltar a
sentar no banquinho.
– Mas é o que ele fez. Só que daí ele entendeu
errado; pegou um violão e cagou tudo hauhauahuahuha
– HAUUHAUHAHUHAUUHAUHAHUHAUUHAUHAHU
Alexandre Luzardo
Tive alguma dificuldade em compilar minha lista de
melhores de 2006. Esse ano foi particularmente complicado
no âmbito pessoal e, inevitável, acabei ficando um tanto
afastado do site como um todo e até mesmo do prazer de
acompanhar e descobrir novos lançamentos. Então, diante de
uma certa precariedade de opções de escolha, eis o que
tenho a comentar, obviamente sem qualquer pretensão de
proclamar ao mundo que estes sejam os melhores discos do
ano.

Golden Smog – "Another Fine Day"
Esse foi o campeão pra mim, o disco que mais ouvi, o
que mais gostei, o que mais me tocou, o que eu ainda vou
ouvir por muitos anos. A ironia foi que o ponto de
partida, a música que deu o estalo foi um cover:
"Strangers", do Kinks, numa interpretação fantástica do
Jeff Tweedy.

Graham Coxon – "Love Travels At Illegal Speeds"
É uma pena que, mesmo com uma sonoridade claramente
mais pesada, Graham Coxon não tenha conseguido traduzir
peso em impacto na comparação com seu disco anterior,
Happiness In Magazines. A impressão é que com menos ele
havia feito mais. Mesmo assim, ainda que seja discutível
se esse disco é ou não melhor que o anterior, a carreira
solo de Graham Coxon justifica plenamente a aparente morte
por inanição do Blur.

The Lemonheads – "The Lemonheads"
Já escrevi sobre esse disco, para mim a supresa do
ano. Assim como o Posies em 2005, é o caso de banda que
resolve fazer bons discos quando não tem mais ninguém
ouvindo. Tivesse esse álbum sido lançado no lugar de Come
On Feel The Lemonheads em 1993, a história deles hoje
seria outra.

Mike Johnson – "Gone Out Of Your Mind"
Eu sempre soube que me tornaria fã do Mike Johnson tão
logo tivesse acesso a um disco dele. Não deu outra, já
mandei fazer minha carteirinha. Na realidade, Gone out of
Your Mind demanda uma boa dose de disposição para
mergulhar em sua atmosfera de melancolia e pessimismo, o
que me faltou ao longo do ano para apreciar
verdadeiramente o álbum. Porém, com a qualidade de Mike
Johnson, especialmente como arranjador, é muito fácil de
admirar seu trabalho e considerá-lo entre os grandes deste
ano.

The Minus 5 – "The Minus 5"
Outra banda que fui descobrir tardiamente. Talvez por
causa do Tuatara (outro projeto com participação do Peter
Buck do R.E.M.), sempre tive a impressão que o Minus 5
fosse algo hermético e impenetrável. Absolutamente nada a
ver. Descobri que eles variam muito de disco a disco, mas
esse é rock de inspiração sessentista, folk e country, uma
sonoridade que sempre me agrada muito, especialmente se
feita por músicos que conhecem o riscado, como é o caso
aqui.

Pearl Jam – "Pearl Jam"
Já há algum tempo o Pearl Jam parece ter perdido a
capacidade de surpreender. Por isso, se alguém, como eu,
esperava uma espécie de recomeço com esse disco do abacate
pode ter ficado meio frustrado, pois a impressão é de
continuidade no que a banda já vinha apresentando nos
últimos discos. No entanto, trata-se de um belo álbum, com
músicas que apresentam um vigor mais imediato que vinha
fazendo falta. "Comatose", com todas as restrições que
possa ter, é provavelmente a música mais pulsante da banda
desde "Spin the Black Circle".

Sonic Youth – "Rather Ripped"
Nunca tinha ouvido um álbum do Sonic Youth com
guitarras tão melódicas e assobiáveis. A banda resolveu
simplificar nesse disco e realmente soa mais pop como eles
diziam que seria, mas ainda é a cara do Sonic Youth. Em
nenhum momento música alguma soa previsível, para eles
fazer o simples não significa fazer o óbvio.
Decepção
Tive várias. Do Beck tinha gostado muito de Guero, mas esse The
Information soou forçado demais. O Audioslave eu achei que
tinha finalmente convencido com Out of Exile, e então o
Revelations quebrou a minha cara. Teve o Foo Fighters com
um acústico dispensável depois de ter agradado com o In
Your Honour. Mas decepção mesmo foi o Soul Asylum com The
Silver Lining. É certo que eu tenho uma ligação "afetiva"
com essa banda, por isso é que havia expectativa, mas
ouvindo o disco fica claro por que ele é decepcionante.
Ana D. M.
Então, a mesma história de sempre. O ano termina e
a gente sempre acaba com a impressão de que está em
defasagem, que não deu a devida atenção ao que foi lançado
durante o ano ou nem se deu ao trabalho de procurar.
Olha, este ano até que tentei. E esta é a razão pela qual
eu vou tirar uma das vagas de indicar disco pra deixar uma
pérola.

Sonic Youth – "Rather Ripped"
Competentíssimo.

Steve Turner and His Bad Ideas – "New Wave Punk Asshole"
Steve é a alegria dos grunges abandonados. Embora com
um "pouco" menos de distorção e mais rock'n'roll.

Josef K – Entomology
Não é pela referência do nome, nem pelo nome do
disco. Josef K é uma banda de pós-punk escocesa meio
obscura (provavelmente nem tanto a estas alturas) e esta é
uma coletânea de Peel Sessions.

Scissor Sisters – "Ta Dah!"
Porque nem só de chorões se preenche o mundo biba.

New York Dolls – "One Day It Will Please Us to Remember Even This"
As bonecas (cada vez mais chuchuzinhos) ainda estão aí
e sabem o que estão fazendo, ao contrário de muitos que
apareceram por aí.

Comets on Fire – "Avatar"
Comets on Fire é dessas bandas que começam agrandando stoners que
estão com o pezinho no roque clássico e que acabam puxando
cada vez mais coisas, até o ponto em que consegue ser
feliz na frente de quem precisa de alguma coisinha mais
punk.
E agora, a pérola:
Joanna Newsom
Apontada por várias listas como um novo expoente do
ano, foi impossível ver isto e não acreditar que se trata
de uma reencarnação daquele clipe medonho da Kate Bush
(WOOOOOW). Elfa freestyle: um vestido esvoaçante, uma
harpa e uma menina bonitinha de cabelo hippie fazendo
caretas involuntárias!
A vaga que eu tirei foi a da coletânea
megalomaníaca do Tom Waits (Orphans), primeiro porque não
dá pra ouvir um disco triplo numa sentada só, por melhor
que seja a obra, e segundo porque isso já apareceu em
listas demais e com certeza vai aparecer em
outras.
Grande decepção:
Mudhoney – Under a
Billion Suns
Teve outras bombas, mas esta acho que foi a pior, porque eu estava esperando.
Fabricio Boppré

Mission of Burma – "The Obliterati"
Não satisfeitos com "OnOffOn", o primeiro lançamento
após o hiato de duas décadas – e um dos melhores
álbuns de 2004, estes senhores resolveram então gravar o
melhor disco de 2006. "The Obliterati" é pesado, denso,
nervoso, multíplice, e mais uma penca de adjetivos
elogiosos.

Secret Machines – "Ten Silver Drops"
As primeiras audições deste novo álbum do Secret
Machines me deram um impressão de elaboração meio vazia e
repetitiva, não parecia à altura do que o primeiro disco
entregava e prometia para o futuro. Mas dada a segunda
chance que a banda merecia, esta impressão se desfez. "Ten
Silver Drops" é um bom trabalho – se não é
equiparável ao ótimo debut do grupo, ao menos brilha
individualmente, cheio de melodias e ótimo trampo de
guitarras.

Silversun Pickups – "Carnavas"
Ainda acho exagerado todo o frenesi sobre o Silversun
Pickups. O que se lê em praticamente todas as resenhas
sobre o debut da banda é verdade: tem fortes ecos de My
Bloody Valentine, Smashing Pumpkins e Sonic Youth, e, se
por um lado isso de remeter tanto à outras bandas não é lá
muito abalizador, por outro é inegável que eles souberam
fazer boas músicas baseados nestas respeitáveis
influências. No final das contas esta última interpretação
se sobressai e é com merecimento que eles figuram na
maioria das listas de melhores do ano.

Bonnie 'Prince' Billy – "The Letting Go"
Bonnie 'Prince' Billy vem se tornando meu pseudônimo
preferido do Will Oldham. Sob esta alcunha Will lançou
grandes discos como "Master and Everyone" e "Superwolf"
(este em parceria com Matt Sweeney). Este belo "The
Letting Go" segue o estilo mais contido e minimalista de
"Master and Everyone": vozes, violões e um feeling
impressionante para fazer muito mais a partir do
incrivelmente menos que dispõe – ou que prefere
usar.

Sonic Youth – "Rather Ripped"
E o Sonic Youth segue empilhando ótimos discos. Este
"Rather Ripped" não é um clássico como um "Daydream
Nation" ou um "Goo", mas é tão bom quanto os dois últimos
discos da banda, por exemplo. Já é o suficiente para
fazê-lo um dos meus discos do ano.

...And You Will Know Us By The Trail of Dead – "So Divided"
Um disco bastante surpreendente na primeira audição
– ou surpreendente o suficiente para embaçar o
julgamento. Vá lá, eles não gravaram nenhum bolero, mas,
por exemplo, algo próximo a Beach Boys tem lá. E
conhecendo-se os primórdios do Trail of Dead, ninguém
apostaria que um dia eles gravariam algo que pareça Beach
Boys. Passada a estranheza, reconhece-se o bom e velho
Trail of Dead no punch, naqueles momentos grandiosos e
empolgantes que eles engedram como ninguém mais. Temos que
admitir que estes momentos não são mais tão catárticos
como outrora foram, mas eles ainda entregam coisas
sublimes como So Divided (a música). E aos poucos as
esquisitices aqui e ali até que fazem sentido. Botando em
perspectiva, não é a melhor obra da banda e nem aquilo que
eu particularmente gostaria de estar ouvindo destes
texanos, mas é uma tentativa bastante válida e
interessante dos caras de fazerem o que querem com uma boa
margem de chance de agradar aos fãs. A mim, pelo menos,
agradaram bastante.

Pajo – "1968"
Eu estava entre este e o "Both Sides of the Gun" do Ben
Harper para fechar os sete preferidos de 2006. O do Ben
Harper é ótimo, mas não digeri seus dois discos por
completo, acho que os funks e assemelhados poderiam ter
sido deixados para um outro álbum separado... Então, por
ser mais harmônico e simples, optei pelo disco do índio,
que tem ainda a seu favor o fato de conseguir gravar seus
disquinhos solos despretenciosos em meio aos seus
trocentos outros projetos e parcerias. Mesmo cantando com
sua voz inexpressiva, David Pajo gravou um disco muito
agradável, que vale uma escutada, que depois puxa outra e
outra...
A decepção de 2006:
Neil Young – "Living With War".
Depois do belíssimo "Prairie Wind", este "Living With War"
apareceu meio de surpresa após um curto intervalo de
tempo, e era natural ouvi-lo ainda sob efeito da
empolgação do disco anterior. Mas nem de longe "Living
With War" lembra a inspiração de "Prairie Wind". Mesmo dando
os descontos de que se trata de uma obra que possui um
outro contexto (nem vou me aprofundar na questão do Neil
Young ser o canadense mais americano que existe, pois
realmente acredito que isso não vem ao caso), este disco
não vinga, não traz nenhum momento memorável, nada. Pelo
contrário; a maioria das canções são desinteressantes, com
seus corinhos pé no saco. Mas assim é Neil Young –
uma discografia de grandes discos e um punhado de outros
dispensáveis. Só espero que "Prairie Wind" não tenha sido
seu último grande álbum.
Natalia Vale Asari

6 Organs of Admittance – "The Sun Awakens"
[Cantos ciganos.] Dentre os discos lançados em 2006,
este foi o que mais procurei para bloquear distrações e
mergulhar no trabalho. O plano foi um fiasco, claro,
principalmente quando "Black Wall" tomava espaço. Depois
disso, a concentração era exclusividade do disco. E ele
ainda exigia um replay para me mostrar as primeiras
faixas.

Bonnie 'Prince' Billy – "The Letting Go"
[Uma manhã fria.] Poupo-lhes dos comentários sobre o
sangue azul do artista. Sob qualquer alcunha, Will Oldham
sabe o que é fazer canções com cheiro de novidade e gosto
de nostalgia. Este é mais um disco que entrou para a lista
dos sete depois das tentativas frustradas de ser usado
como música de fundo para trabalhar.

Mogwai – "Mr. Beast"
[Qual nome vou dar a esta música.] Este disco é o
oposto dos outros que figuram aqui. Eu começo a escutá-lo
com atenção e dedicação. Depois das primeiras músicas,
porém, o clima é para trabalhar. Tudo bem: se o Mogwai
lançasse algo do nível do Rock Action a cada dois anos,
não haveria trabalho, papo ou concentração que
resistissem. Um Mr. Beast está ótimo, por enquanto.

...And You Will Know Us By The Trail of Dead – "So Divided"
[A mais nova íncrivel intemperança dos destemidos.]
Alheios aos escorregões curtos – mas épicos – o Trail of
Dead continua fazendo sua música. Mesmo com ainda mais
esquisitices do que o disco anterior, "So Divided" não
está nem aí para a falação. E isto é apenas parte do
charme por trás da obra. A estrutura que deu certo é a
mesma: a eficácia de cada nota. Para completar, as
introduções sempre geniais.

Cat Power – "The Greatest"
[O sol do meio-dia.] O trabalho da Cat Power é sempre
gracioso, e não engraçado, apesar de eu sempre associar o
nome artístico da cantora a um episódio dos
Simpsons. Revelação para mim: o charme da leve rouquidão
da moça em músicas não-sussurradas.

Mission of Burma – "The Obliterati"
[Em uma lanchonete drive-in, de madrugada.] Parece até
história de banda de bairro. Só fui dar atenção a "The
Obliterati", sucessor do simpático "Onoffon", depois do
show aqui no Brasil. Isso não pode ser mau sinal. O
retorno não deixa muitas alternativas a não ser usar a
frase batida: Mission of Burma mostra a muito moleque de
hoje o que é fazer rock. De verdade.

Sonic Youth – "Rather Ripped"
[Direto e reto.] Enganação? Delírio coletivo? Aos
detratores do Sonic Youth e a sua longa carreira de
competência na maciota: este não é o disco que vai
fazê-los mudar de idéia. Alta dose do mesmo de sempre, ao
longo de todo o disco, mas sem pausa para
respirar. Músicas enxutas, Sonic Youth sem rodeios.
Decepção:
Grandaddy
– "Just Like the Fambly Cat"
[E o grand finale?] Eu não conheço ninguém mais que
preferisse o "Sumday" ao "Software Slump". Portanto, a
minha expectativa para o último disco do Grandaddy era
muito grande. A culpa da derrocada foi a intolerância às
babaquices da indústria musical? Não sei, mas foi uma
despedida insossa para uma banda que deveria ter saído em
grande estilo.
Vicente Moschetti
Infelizmente, 2006 não foi um ano em que me esmerei
para acompanhar tendências e sugestões. Se 2005 já tinha
deixado bem claro que os destaques não obedeciam a uma
linha coerente para serem revelados, 2006 mostrou-se
desafiante até para o audiófilo mais xiita quando o
assunto é reter as sugestões em seu escopo. Por isso,
minha lista ficou bem mais segmentada do que no ano
anterior. Tenho certeza que há discos bem melhores que
os listados abaixo, embora não tenha tido oportunidade
de escutá-los (mesmo com as consagrações da mídia já
disponíveis a essa altura do campeonato), mas isso se
corrige no decorrer dos próximos meses.
[sem ordem de preferência]

SunnO))) & Boris – "Altar"
O SunnO))) destacou-se ao explorar o legado do Earth,
mergulhando o ouvinte num calabouço de trevas embalado
por longos e maléficos riffs. Os japoneses do Boris são
objeto de culto com sua mistura de
doom/stoner/garagem. O fato das duas bandas se reunirem
e criarem um disco como se fossem uma entidade única é
fato suficiente para suscitar as melhores
expectativas. Essas expectativas foram relativamente bem
alcançadas, já que o resultado de "Altar" em
vários momentos transcreve as vertentes que essas bandas
exploram em seus discos individuais, misturadas ou
individualizadas. Entretanto, eles vão além, oferecendo
caminhos inesperados como a emocional "The Sinking
Belle" e a ultra-climática "Fried Eagle
Mind", surpreendendo muitos ouvintes com facetas
até então inéditas para ambas as bandas. Para os mais
conservadores, a versão limitada trouxe um CD extra com
uma única faixa, onde Dylan Carlson (do Earth) ajuda o
coletivo a submergir em um drone devastador.
[recomendadas: "Etna" / "Her Lips Were
Wet With Venon"]

The Mars Volta – "Amputechture"
Embora não me considere fã de carteirinha do The Mars
Volta, a presença deles nessa lista evidencia a relação
satisfatória que estabeleço com seus discos, já que no
ano passado eles foram alvo de reconhecimento nesse
mesmo espaço. "Amputechture" seguiu a linha do
disco anterior e embora não reate com a razoável
acessibilidade de "De-Loused In The
Comatorium", soa um pouco mais palatável do que
"Frances The Mute". A participação de John
Frusciante como músico fixo deu ainda mais combustível
para um coletivo que já abusava das guitarras,
transformando-o numa poderosa usina sonora (destaque
para o baterista-monstro Jon Theodore). Estão no disco
as intermináveis jams que ameaçam não chegar a lugar
algum, não fosse pelas passagens em que o The Mars Volta
retorna ao planeta terra e desanca melodias infalíveis,
provocando o ouvinte com a alternância entre o
experimental e o ganchudo. [recomendadas:
"Vermicide" / "Viscera Eyes"]

Elma – "EP"
Num ano em que algumas bandas independentes
brasileiras ensaiaram lampejos de notoriedade (com
direito a turnê patrocinada pela MTV e lançamento de
disco pela SubPop), o Elma foi meio que um patinho
feio. Com um EP de econômicos nove minutos lançado no
final do ano pela Amplitude, provaram a capacidade
brasileira de alcançar a mesma qualidade sonora que
muitos gringos notabilizam no mercado
exterior. Caminhando por trajetos exclusivamente
instrumentais, o som do Elma pode não ser o mais
inovador, mas é o mais convincente e bem feito: uma
verdadeira tormenta sonora. Com os timbrões mais
vigorosos do ano, gravaram nove minutos do que há de
mais bagudo no panorama nacional. [recomendadas: tudo,
é claro, são apenas nove minutos]

Jesu – "Silver" EP
O projeto do ex-Godflesh Justin Broadrick já havia
chamado a atenção com seus dois lançamentos anteriores,
que revelaram um compositor mais introspectivo, porém
ainda interessado nas distorções que explorou no
decorrer de sua carreira. O EP "Silver"
aperfeiçoa ainda mais o que notabilizou tão rapidamente
seu projeto: múltiplas paredes de guitarras, faixas
longas, eletrônica e ritmo arrastado – um misto de
metal, industrial e shoegazing. O que faz do EP um
lançamento tão especial é a evolução de Broadrick como
compositor, que se mostrou mais preocupado em se
aproximar do ouvinte, disposto a explorar outras
cadências, resgatando um pouco das sombras o som lá
inoculado nos discos anteriores. Infalível nas
manipulações eletrônicas em benefício do metal, ele
abusa de texturas, timbres e fortalezas de guitarras,
numa combinação tão perfeita que induz o ouvinte a um
replay. [recomendadas: "Star" /
"Wolves"]

Thom Yorke – "The Eraser"
Os ouvintes se acostumaram tanto com a aura
esquizofrênica do Radiohead que parecem ter degustado a
suavidade de "The Eraser" com uma certa
indiferença. Thom e Nigel Godrich não foram atrás do
mais tortuoso ruído estridente, tampouco usaram esse
primeiro trabalho solo para destilar críticas contra a
política e a vida na sociedade contemporânea. Ao
contrário, optaram por uma abordagem simplista,
intimista (considerando Radiohead), muito mais voltada
para a sensibilidade de Thom do que para a postura
irônica e contestadora que vem permeando os discos de
sua banda oficial. Musicalmente, as composições não
desvirtuam os traços familiares do autor, mas suas
construções sonoras baseiam-se em ensinamentos
eletrônicos da fase "Amnesiac", mais apurados
e orientados a melodias, revelando uma agradável e
estranha acessibilidade.

KTL – "KTL"
KTL surgiu quando Pita e Stephen O'Malley escreviam
músicas para uma peça de teatro francesa. Embora a sigla
não denuncie, o duo conta com um dos grandes nomes
atuais da manipulação eletrônica (Pita) e com um dos
integrantes do SunnO))) (O'Malley), referências que
tornam fácil para os mais familiarizados deduzirem que o
projeto investe pesado em ambiência e drones recheados
de ruídos infinitos. O mais interessante do projeto é a
ambientação, com Pita propondo diferentes sonoridades
sobre as guitarras corrosivas de O'Malley
(remanescentes do cultuado "Black One"),
resultando numa longa proposta sombria de efeitos ora
interessantes ora repulsivos. Um disco de uma dinâmica
só, porém, encharcado de pequenos detalhes e de uma
penumbra onipresente, fruto de gravações realizadas em
uma fortaleza francesa durante uma tempestade.
[recomendadas: "Forestfloor 1" /
"Forestfloor 3"]

Black Boned Angel – "Ashes"
Embora observada apenas no mais genuíno underground,
a Nova Zelândia começou a destacar alguns nomes para a
cena experimental mundial. Campbell Kneale talvez seja o
nome mais reverenciado no meio, com seu prolífico selo
Celebrate Psi Phenomenon e seus limitadíssimos
CDRs. Registrando trabalhos experimentais com gente como
Lee Ranaldo, Kneale é um obstinado manipulador de
distorções e ambiências, usando guitarras e eletrônica
de forma sempre inesperada e ensurdecedora em prol da
destruição de caixas de som. Black Boned Angel é o
projeto onde Campbell flerta com o doom, usando suas
distorções em forma de longos mantras ridiculamente
pesados. "Ashes" é um conjunto de três CDRs
que coleciona sobras registradas em estúdio, demos e
apresentações ao vivo. O Black Boned Angel, para
resumir, foi a trilha sonora macabra para rituais
obscuros de 2006. [recomendada: "Endless Coming
Into Life" / "Black Throat Abyss"]
E a decepção do ano:
Red Hot Chili Peppers –"Stadium Arcadium"
Certo, por que considerar um disco duplo de uma banda
ultra-comercial algo frustrante? Realmente, são eles
dignos da expectativa de alguém que colabora com a Dying
Days? Explico: esse álbum é o primeiro passo na carreira
de John Frusciante logo após o seu lote de excelentes
discos solo lançados em 2004/5. Longe da expectativa de
que o novo álbum do quarteto fosse igualar-se aos discos
obrigatórios citados, havia a certeza de que o resultado
encontraria um dos dois caminhos possíveis: ou
Frusciante converteria seus colegas para um novo patamar
de música pop, ou inibiria sua veia musical em prol dos
repetitivos hits de FM. Infelizmente, Frusciante não foi
capaz de salvar o enfadonho pacotão de dois discos,
fazendo parte do que possivelmente é o pior disco dos
caras. Poucas idéias, hits mais-do-mesmo, supostas
experimentações sem pé nem cabeça e muito xerox de
sucessos que emplacaram seus dois álbuns
anteriores. Mais uma evidência de que qualidade
dificilmente rima com quantidade.
Resumo
5 citações: Sonic Youth - "Rather Ripped"
3 citações: ...And You Will Know Us By The Trail of Dead - "So Divided"
2 citações: Bonnie 'Prince' Billy - "The Letting Go"
2 citações: Cat Power - "The Greatest"
2 citações: Mission of Burma - "The Obliterati"
1 citação: 6 Organs of Admittance - "The Sun Awakens"
1 citação: Albert Hammond Jr - "Yours to Keep"
1 citação: Black Boned Angel - "Ashes"
1 citação: Comets on Fire - "Avatar"
1 citação: Elma - "EP"
1 citação: Golden Smog - "Another Fine Day"
1 citação: Graham Coxon - "Love Travels At Illegal Speeds"
1 citação: Jesu - "Silver" EP
1 citação: Josef K - Entomology
1 citação: KTL - "KTL"
1 citação: Mike Johnson - "Gone Out Of Your Mind"
1 citação: Mogwai - "Mr. Beast"
1 citação: New York Dolls - "One Day It Will Please Us to Remember Even This"
1 citação: Pajo - "1968"
1 citação: Pearl Jam - "Pearl Jam"
1 citação: Scissor Sisters - "Ta Dah!"
1 citação: Secret Machines - "Ten Silver Drops"
1 citação: Silversun Pickups - "Carnavas"
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1 citação: SunnO))) & Boris - "Altar"
1 citação: Superguidis - "Superguidis"
1 citação: The Lemonheads - "The Lemonheads"
1 citação: The Mars Volta - "Amputechture"
1 citação: The Minus 5 - "The Minus 5"
1 citação: The Twilight Singers - "Powder Burns"
1 citação: Thom Yorke - "The Eraser"
1 citação: Yeah Yeah Yeahs - "Show Your Bones"