Tem-se
atualmente um tremendo preconceito quanto ao que é popular.
É pejorativo, quase um palavrão, a palavra "pop".
Mas o que tem de bicho papão esse singela palavrinha de
3 letras (que o U2 se apropriou para lançar como título
de um dos seus discos mais anti-comerciais)? |
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Bem, usando a lógica, popular é
pop. Pop é o que toca no rádio, o que passa na TV, o que vai no
Faustão, playbacks, fãs gritando e por aí vai.
Daí já pra perceber
o motivo da repulsão com a palavra pop. É só ligar o rádio e constatar:
o pop de hoje é Britney Spears, Falamansa, Charlie Brown Jr, Kelly
Chave e por aí vai. Quem quer ser pop? Quem quer ser classificado
na mesma categoria que a Sandy? Isso explica todo esse ódio. Pois
bem. Mas o que eu quero colocar é que nem tudo que é pop é ruim.
Pelo contrário. Já houveram epócas que a boa música dominou as
Fms da vida, e há também as bandas que fazem um som maravilhoso,
que faria sucesso em qualquer dial, mas que ninguém percebe. Por
que isso? Como diz Billy Corgan, está difícil lutar contra as
britneys da vida.
Velho clichê:
tudo começa com os Beatles. O quarteto sempre fez um som radiofônico,
perfeito para os ouvidinhos castigados. Desde a fase iê-iê-iê,
até os arremedos psicodélicos, todo o repertório do Fab Four desce
redondinho. Ironia das ironias, hoje em dia não se ouve nas rádios
a maior banda de todos os tempos. Culpa de mr. Michael "ET"
Jackson. Mas isso não vem ao caso. Mas a beatlemania abriu portas
para novos grupos se arriscarem no rock n'roll, fazer a boa música
triunfar. Durantes os 60's grandes bandas surgiram, como os Animals
(com uma ótima pitada de R&B) e Kinks (do hit "You Really
Got Me"). Vale destacar os excelentes The Zombies, que lançaram
em 67 o antológico Oddisey And Oracles, marco da psicodelia. Por
baixo de toda a lisergia, muito poder comercial, e de qualidade!
Os anos 70 foram
dominados pelo som pesado do Led Zeppelin e do Black Sabbath.
Em 77 o punk estoura e não rolam só bandas violentas não.
Muita coisa boa surgiu, principalmente com o pós-punk. Crias:
o polivalente Elvis Costello, o XTC, The Police e The Cure
(que apesar da melancolia, tem clássicos do flash-back como "Boys
Don't Cry", "Inbetween Days" e "Just Like
Heaven"). Pouco depois apareceu o ótimo Jesus & Mary
Chain, dos irmãos Reid. Músicas lindas, por trás de grandes microfonias
e melodias velvetianas.
Já a década de 90 foi complicada. Nos Estados Unidos Mariah Carey
e MC Hammer dominavam impiedosamente a cena. O grunge até diminui
um pouco isso, felizmente, mas na Inglaterra a coisa tava preta.
A ilha sugava tudo o que vinha do outro lado do Atlântico. Parecia
que não rolava outra grande banda depois do fim dos Smiths. Na
verdade tinham várias. Eles é que não percebiam. A prova é que
em 90 os talentosíssimos do Teenage Fanclub lançava seu primeiro
disco (por uma gravadora americana por sinal). Música de alto
nível, assobiável, rock de bom gosto. Atravessaram a década com
bastante dignidade, discos de alto nível e clássicos como "Star
Sign", Sparky's Dream" e "I Need Direction".
Pouco depois apareceu o Blur, que apesar do sucesso na Inglaterra,
foi a grande decepção no Brasil. Com 3 discos beirando a perfeição
(Modern Life Is Rubbish, Parklife e The Great Escape), só estouraram
aqui em 97, com o nirvânico hit "Song 2". Uma pena para
o público tupiniquim. Atualmente os reis da cocada da boa música
são, de novo, escoceses, o cultuado Belle & Sebastian. Música
calma e bonita, arranjos detalhados, letras tristes e com historinhas,
combinação perfeita pra conquistar adolescentes com problemas
psicológicos. Mas a boa música é que vale. O público inglês agora
espera a próxima grande banda a surgir com música de qualidade
e sim, muito pop!
TEM QUE OUVIR:
Beatles:
She Loves You, From Me To You, I Want To Hold Your Hands, Ticket
To Ride
Zombies:
Time Of The Season
Echo
& The Bunnymen: Bring On The Dancing Horses
Teenage
Fanclub: About You
Blur:
End Of A Century
Belle
& Sebastian: Jonathan David