A crítica costuma
apontar o ano de 1997 como o da decadência do britpop (levando
aqui em consideração o conceito de britpop como as bandas dos
anos 90, pós-Oasis). Pessoalmente não uso esse termo dessa maneira,
e sim de forma literal: pop da Grã-Bretanha. E sim, 1997 foi
um grande ano para a música inglesa, com o lançamento de alguns
discos muito bons, como eu vou mostrar aqui.
O grande destaque de 97 foi o estouro do Radiohead entre as
massas. A banda passou a ser endeusada nos quatro cantos do
mundo. Mas tem outras coisas ótimas também. Agora, um resumo
de bons lançamentos de terras britânicas nesse ano:

|
Radiohead - OK Computer
|
O disco do ano.
Uma obra-prima da música moderna, uma verdadeira aula de como
não se prender ao tempo e continuar genial. Baladas fossa-nova
("No Surprises", "Exit Music", "Let Down"), bons rocks ("Airbag",
"Electioneering"), analogias progressivas ("Lucky") e maravilhas
que impossibilitam qualquer rótulo (a única "Paranoid Android").
Obrigatório em qualquer coleção que se julgue séria.

|
Belle & Sebastian
- If You´re Feeling Sinister |
A surpresa do
ano. Os escoceses tinham lançado no ano anterior o ótimo Tigermilk,
mas com tiragem de mil cópias, ou seja, ninguém conhecia aqueles
caras sensíveis, que faziam uma música delicada e trabalhada.
Uma bomba nos ouvidos gastos por anos de lixos na música pop
(basta lembrar que 97 foi o auge de Backstreet Boys e Spice
Girls). Destaques: "Like Dylan In The Movies", "If You´re Feeling
Sinister", "Get Me Away From Here I´m Dying".

|
Oasis - Be Here Now |
A grande decepção
do ano, de certa forma. Os irmãos Gallagher vinham de um disco
de sucesso mundial e vieram com um álbum bem diferente, menos
comercial. Mas ainda muito bom. Be Here Now sobreviveu bem ao
tempo. O curioso é ver que os rocks é que marcam mais presença,
como mostram as ótimas "It´s Getting Better (Man)", "I Hope
I Think I Know" e "My Big Mouth". Há ainda as baladas beatles
"Magic Pie" e "All Around The World".

|
Blur - Blur
|
Aqui é quando
o rock inglês se funde com o norte-americano. O quarteto deixa
de lado as melodias e parte para os riffs e microfonias com
classe. Basta lembrar o sucesso estrondoso da "nirvânica" "Song
2" (sim, a do u-hu!). Mas ainda há algumas referências à terra
natal, como "Beetlebum" (que poderia perfeitamente estar no
White Album) e a bela "Look Inside America".

|
Teenage Fanclub
- Songs For Northern Britain |
Como tudo que
os escoceses lançaram, é classe A. Songs... é o mais sessentista
de todos os discos do TFC, com ecos de Beatles e Byrds, mas
ainda mantém o ótimo nível da obra-prima Grand Prix, de 2 anos
antes. Destaques: "Ain´t That Enough", "Winter" e a maravilhosa
"Planets".

|
Verve - Urban Hymns |
A explosão do
ano. Depois do sensacional A Northern Soul (que não fez o sucesso
esperado) a banda se meteu em viagens super loucas (drogas das
pesadas) e terminou. O líder Richard Ashcroft compôs belas canções
e deciciu chamar os companheiros de volta. O resultado foram
7 milhões de cópias vendidas e um sucesso nas paradas, "Bitter
Sweet Symphony" (que sampleava a introdução de uma versão orquestrada
de "Last Time", dos Rolling Stones; rolou processo de plágio
e tudo, mas não por parte dos stones, e sim de um ex-empresário).
Pena que os rocks não segurem tanto a onda como as lindas baladas.
Destaques: "The Drugs Don´t Work", "Sonnet", "Lucky Man", "This
Time".

|
Echo & The Bunnymen
- Evergreen |
A velha guarda
do britpop também deixou sua marca em 1997. A volta do Echo
depois de 7 anos é de qualidade. A banda deixa de lado a psicodelia
e climas sombrias e cria lindas baladas, como a perfeita "Nothing
Lasts Forever". Outro destaque é a lírica "Too Young To Kneel".

|
Spiritualized
- Ladies And Gentleman,
We´re Floating On Space |
Perfeito! Esse
disco é tudo. O Spiritualized é o melhor representante atual
do que se costumava chamar nos 70´s de space rock. Melodias
floydianas e harmonias inspiradas no clássico Pet Sounds aparecem
em canções de até 17 minutos de pura beleza. Destaque absoluto
para "I Think I´m In Love", "Come Together" e a faixa-título.

|
Travis - Good Feeling |
O primeiro disco
de Fran Healy e sua trupe é um pouquinho diferente do Travis
que estourou com o perfeito The Man Who. Aqui tem muito mais
guitarras, um delicioso guitar rock. Pena que a banda estava
meio que na sombra do Oasis na época. Destaque para "U16 Girls",
"All I Want To Do Is Rock" e "Happy". Ah, Good Feeling é melhor
que o recente e açucarado The Invisible Band.
Outros bons discos ingleses desse ano foram In It For The Money,
do Supergrass e o auto-intitulado do Portishead. 1997 foi um
ano um pouco mais fraco nos Estados Unidos. Até pelo fato das
grandes bandas ianques terem lançados bons discos em 96 (R.E.M.,
Pearl Jam, Soundgarden), mas ainda rolaram algumas pérolas,
como o ótimo The Colour And The Shape (Foo Fighters), Brighteen
The Corners, do Pavement, e a obra-prima Time Out Of Mind, do
mestre Bob Dylan. Mas nada comparável ao furacão de clássicos
vindo da terra da rainha. Essa coluna agradece.
TEM QUE OUVIR:
Radiohead - Paranoid Android
Belle & Sebastian - If You´re Feeling Sinister
Oasis - I Hope I Think I Know
Blur - Beetlebum
Teenage Fanclub - Planets
Verve - The Drugs Don´t Work
Echo & The Bunnymen - Evergreen
Spiritualized - I Think I´m In Love
Travis - All I Want To Do Is Rock
Portishead - Half Day Closing