Vindo de dois grandes discos, verdadeiros clássicos
do rock independente da década de 80, You're Living
All Over Me e Bug, a banda se tornou um referencial.
Era o exemplo do Dinosaur Jr (e do Sonic Youth, diga-se) que
Kurt Cobain perseguia ao assinar o Nirvana com uma grande
gravadora. O Dinosaur Jr havia fechado com a Warner e passou
no 'teste de integridade' ao lançar seu primeiro álbum
pela major, o bom Green Mind em 1991, mantendo sua
(um tanto restrita) base de fãs. Só que o sucesso
de Nevermind do Nirvana mudou as regras do jogo,
e a expectativa para Where You Been era seguir um
caminho semelhante rumo ao topo.
Não foi exatamente o que aconteceu
e daria para gastar umas dez páginas tentando entender
o porquê, mas não vem ao caso. O fato é
que o Dinosaur Jr fez a sua parte em Where You Been,
refinando o seu som sem perder o que de melhor caracteriza
a banda. E estamos falando da guitarra de J Mascis. Aliás,
J Mascis deveria ser o guitar hero de sua geração,
o cara faz o que quer com o instrumento, solando o tempo
todo e fazendo da guitarra o centro das atenções
em todas as músicas. Os cínicos diriam que
essa era a única opção de Mascis, já
que ele não canta nada mesmo. Aliás, o vocal
de J Mascis é a opção mais votada na
hora de explicar porque o Dinosaur não obteve um
sucesso comercial mais expressivo. Mas também não
é por aí, o jeito resmungão, preguiçoso
e desinteressado do vocal de Mascis era uma antítese
aos vocais carregados de emoção da era grunge,
e acabou por influenciar outras bandas como o Pavement,
o Cake e várias outras onde os vocalistas, intencionalmente
ou não, seguem um jeito de cantar que remete ao Dinosaur
Jr. Em Where You Been, o peculiar e idiossincrático
vocal de J Mascis brilha em "Not the Same", com
um falsete a la Neil Young (grande influência do cara)
e surpreende nos agudos inesperados da balada "What
Else Is New".
Where You Been tem muito mais a oferecer,
como os pseudo-hits "Start Choppin" e "Get
Me". A primeira é o mais próximo do pop
que o Dinosaur Jr poderia chegar, com riffs de apelo instantâneo
e um de seus melhores refrões. E os solos! O primeiro
deles pontua a metade da música com muita distorção
e barulho enquanto a cozinha segura a onda, retomando o
riff suingado da introdução em meio ao solo
de maneira marcante. Já "Get Me" é
provavelmente a melhor melodia que J Mascis já compôs.
Pode até ser um pouco longa demais (tem quase 6 minutos),
mas a melodia é tão boa que o estrago é
imediato, basta uma única audição para
nunca mais se esquecer dela.
Em "Out There" Mascis já
entra solando de cara com uma naturalidade impressionante,
longe da pretensão dos virtuosos. É talento
mesmo. A música é praticamente inteira acompanhada
pela guitarreira desconcertante do cara, na parte final
não respeitando nem os trechos com vocal. A já
citada "What Else Is New" surpreende não
só pelo agudo fora de lugar de Mascis, mas por contar
com arranjo de cordas. É até supérfluo
e não tem grande efeito na música, mas é
quase um choque para quem se apaixonou pelo som tosco e
garageiro dos primeiros trabalhos da banda. A produção
de Where You Been foi do próprio J Mascis,
e no geral a banda desacelerou as músicas e limpou
bastante o som. A balada semi-acústica "Goin'
Home" mostra o lado mais cristalino do som da banda
no disco. Ao mesmo tempo, a pegada não desapareceu
por completo, as rápidas "On The Way" e
"Hide" garantem o pique do disco em meio às
músicas mais lentas.
Talvez o único ponto realmente fraco
do disco seja "Drawerings", que herdou exatamente
a mesma base e a batida de "Get Me", claro, sem
a mesma melodia vocal. O pior é que na seqüência
do disco, "Drawerings" vem imediatamente depois
de "Get Me", e a repetição fica
óbvia e é cansativo ouvir duas músicas
tão parecidas. Trata-se de um deslize tão
evidente e tão fácil de ser evitado que se
torna até difícil entender por que a banda
simplesmente não usou "Drawerings" como
um B-Side ou pelo menos embaralhou melhor a ordem no disco.
Se Where You Been não supera
os lendários You're Leaving All Over Me
e Bug, tanto no som quanto no impacto e importância,
o disco tem virtudes suficientes para se justificar entre
os melhores trabalhos do Dinosaur Jr, talvez o melhor disco
deles na década de 90. Se fez o sucesso que deveria
realmente não vai fazer diferença mesmo, e
o melhor dessa história é que a grande expectativa
em torno do álbum fez com a Warner apostasse alto.
Resultado: o disco encalhou e hoje é facilmente encontrado
em sebos a preços módicos. Vale o investimento.