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Review: The Rescue EP

avaliação:

Foi-se mais um rótulo. Já em tempos em que os rótulos, quando "pegam", entram com prazo de validade vencido, o post-rock teve tempo de apenas mexer com algumas gramas da música independente desde que o Slint e o Tortoise lançaram seus discos mais emblemáticos.

Mas ao contrário de quando as coisas eram rotuláveis e classificáveis em seções, a vertente musical em questão nunca esteve disposta a entrar em circuitos mais comerciais, a começar pela própria resolução das músicas que a caracterizaram. Som instrumental, discos com três, quatro faixas de mais de vinte minutos cada. Gravadoras independentes, divulgação online na base do blog e do fórum de discussão. Realmente, o post-rock não tinha muito o que semear no panorama tão dinâmico que se formou desde a era Napster.

Ainda assim, os que tiveram o interesse de fustigar a aparente irrelevância e obscuridade das bandas envolvidas, tiveram a chance de escutar belos discos. "Rock Action" (Mogwai), "F# A# (Infinity)" (Godspeed You! Black Emperor) e "TNT" (Tortoise) são exemplos de álbuns do gênero que não merecem ser ignorados – deixemos o "Spiderland" (Slint) fora do concurso. Ao frigir dos ovos, um rótulo desnecessário, alguns discos bem relevantes e nesse contexto, a vertente sonora deixou uma banda especial. Do Texas, o Explosions In The Sky gravou dois discos especiais e encontrou uma pequena horda de admiradores. Mestres na composição de melodias intensas, recheadas de emoções cristalinas e inspiradoras, renderam frutos suficientes para se desprenderem do fatídico rótulo, enchendo os ouvintes de esperança na continuidade de uma carreira bastante inspirada. Mas o desgaste do post-rock, que se revelou à medida que as bandas começaram a largar discos repetitivos e menos inspirados ("Ianqui U.X.O." do Godspeed You! Black Emperor e "Happy Songs For Happy People" do Mogwai) passou a significar um desafio mesmo para as bandas que de alguma forma conseguiam se afastar da rotulagem. Dali foi cada um por si.

Nesse sentido, o Explosions In The Sky pareceu bem posicionado em relação a essa necessidade de reinvenção. Encabeçaram a trilha sonora do filme "Friday Night Lights", cujo resultado foi um tanto irrelevante se comparado aos anteriores (culpe aí a necessidade de contextualização da música ao filme, se quiser). Resolveram em seguida dar um tempo. Os indícios de que a síndrome da reinvenção se instaurava estavam revelados: a banda tinha de encontrar uma saída para a desgastada estratégia das longas faixas que começam tímidas e crescem até o ápice da turbulência. Culpe todas as bandas citadas nesse texto, culpe até o Explosions In The Sky. Novas saídas se fazem agora necessárias.

"The Rescue", um EP que acabou se transformando num mini-álbum, é uma contribuição da banda ao selo que lhe acolheu desde os primórdios, o Temporary Residence e um primeiro indício dos novos passos que a banda poderá dar. Jeremy deVine, o dono do selo, havia encomendado à banda uma contribuição para a série de edições limitadas que a gravadora edita regularmente, a Travels In Constants. Nela, uma banda escreve músicas inéditas que são lançadas no formato de EP, podendo ser adquiridas pelos fãs aos pacotes, de forma limitada. Depois de um período de quatro anos de promessa, a banda interrompeu o período de férias com o intuito de gravar músicas de resoluções breves, num intervalo de quatorze dias. Oito dias depois, haviam concluído "The Rescue", uma música para cada dia, num processo mais intuitivo e menos aplicado do que o que geralmente usa em seu metódico modo de gravação. O resultado do trabalho mostra, como se poderia esperar, novas facetas da banda.

As oito faixas mantêm pelo menos um fator que se fez claro desde o segundo álbum, "The World Is Not a Cold Dead Place": os músicos pegam leve. O som em momento algum recorre ao peso exacerbado, na verdade, a exemplo do trabalho na trilha sonora de 2003, não há distorção. E eles exploram bem menos a intensidade emocional que tanto os celebraram. Tudo isso bate contra os melhores momentos do quarteto, mas, por outro lado, demonstra que a banda caminha tranqüilamente para novas resoluções sonoras. O que no trabalho anterior (a maldita trilha) dava sinais de repetição e ligeira falta de inspiração, aqui é apresentada como uma nova proposta sonora. A banda abre mão do purismo do baixo-guitarras-bateria e começa a explorar outros instrumentos, mesmo que timidamente: pianos, percussões, toques vocais. Além disso, as faixas antes longas agora são apresentadas em versões enxutas, mais relaxadas. Tudo isso vem de encontro à urgência comentada acima, de buscar alternativas e evoluir, evitando que a música acomode-se no lugar-comum. Isso tudo não representa a conquista de grandes resultados para o ouvinte, uma vez que seus dois discos superam tranqüilamente esta iniciativa, mas ainda assim há toques inconfundíveis e extremamente satisfatórios em "Day One" e "Day Five". Há ainda as variações bem vindas, como o mini-coral de "Day Two", a nova visão de arranjos em "Day Eight" e mesmo "Day Four", que chega a lembrar a instrumentalização que o Smashing Pumpkins usava na era "Gish".

Embora a iniciativa não possa ser catalogada como uma etapa definitiva na discografia deles, ela acena para a noção da banda em torno da versatilidade que possui. Na obrigação de trabalhar músicas em pouco espaço de tempo, o Explosions In The Sky passou por um aprendizado e se saiu bem nos resultados. Deixam o sentimento que em seus próximos passos poderão usar o que descobriram no processo para evoluir seu som. Se um novo disco usar um pouco de cada receita, teremos aí boa honraria em nome do saudoso post-rock.

Vicente Moschetti
novembro/2005