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Review: Angel Dust

avaliação:

Há alguns dias atrás o Ricardo Schott resenhou muito bem esse que é um dos meus álbuns prediletos. É sem sombra de dúvida o álbum que eu mais me fez salivar até que pudesse colocar minhas mãos nele. Tudo porque no ano de 1992, o Faith No More era o grande destaque internacional no Brasil. Erroneamente vinculado a ídolos do momento, os caras passaram a agradar gregos e troianos, garotinhos e cocotinhas.

Tudo graças à alta rotatividade nas rádios e na (ainda bacana) MTV. Mike Patton chegava ao ponto de figurar em revistas teens como "Carícia". Na turnê nacional que precedera "Angel Dust", esse público incauto e pouco exigente acendia isqueiros em "Edge Of The World", pogueava em "Epic" e batia cabeça com "War Pigs". Mike Patton era Deus e inspirava hordas de clones tupiniquins.

No início de 1992, uma edição da finada revista Bizz antecipava, direto dos estúdios de gravação, o que viria a ser o tão aguardado álbum. A partir da leitura daquela reportagem eu começara a vislumbrar em minha imaginação o que estaria por vir. A descrição que o repórter fizera das faixas abriu minha imaginação e minha impaciência aumentava a cada dia. Certa vez, cerca de um mês antes do CD sair, um colega aparece na sala de aula com uma fita gravada em que haviam 4 faixas do esperadíssimo álbum. As 4 faixas provinham do EP de "Midlife Crisis" e aquele gostinho inicial, 15 minutos do meu recreio (bons tempos aqueles em que eu tinha direito a um recreio), acentuaram ainda mais minha apreensão. A MTV acabou estreiando, uns dias depois, o video de "Midlife Crisis" e algum sortudo, no colégio, pintou com a primeira cópia importada do tão esperado CD.

Naqueles tempos de colégio eu era um pelado, não tinha nem para uma empada (não que hoje dê para fazer grandes compras de CDs, mas sempre dá para encarar alguma coisinha) e fiquei aguardando a tal edição nacional. Ia nas lojas, perguntava e nada. A impaciência chegou ao ponto de eu ter de sucumbir aos meus desejos e comprar o importado por um preço alto. Mas nunca me arrependi dsso.

"Angel Dust" foi aquilo que ninguém esperava. O comentário geral era "tá tipo o do Mr. Bungle". Patton & cia. apostaram no radicalismo e surpreenderam a todos os que esperavam mais uma dose de funk metal no estilo Epic. À base de muita ironia e sarcasmo, sepultaram a imagem de "gatinhos californianos" e deram um fim à pagação de mico que fizeram nos videos de "Epic" e "Falling To Pieces". Pela primeira vez, Patton ganhava terreno dentro da banda, aplicava sua verdadeira personalidade musical e o ecletismo, a opção pelo não-comercial tornara-se oficial dali em diante. Gritos, sussurros, demências e vocais suaves aliavam-se a samplers, muitos teclados e guitarras pesadas. As faixas caminhavam harmonicamente entre funk metals evoluídos ("Land Of Sunshine","Kindergarten","Everything's Ruined"), insanidades industriais ("Caffeine", "Malpractice", "Jizzlobber"), hits potenciais ("Midlife Crisis", "A Small Victory"), experimentalismo ("Crack Hitler") e música de elevador ("Midnight Cowboy"). Tudo assim, naturalmente. A banda mostrava-se segura em relação ao rebento e sabia muito bem que, acima de tudo, "Angel Dust" significava uma gargalhada na cara do mercado, da mídia e dos fãs (convictos ou temporários).

"Angel Dust" é o álbum do FNM que mais remete à Patton, é o que mais tem atitude e inconformismo com o sucesso. Tem os melhores vocais e as melhores interpretações. Impera nele um ar de sarcasmo e conflito entre os 5 integrantes (o que se confirmaria verdadeiro com a saída do guitarrista Jim Martin) que consagraria o fator diferencial desta obra. É o símbolo da falta de compromisso com carreiras fixas que viria a refletir as atitudes futuras de Mike Patton. Depois de "Angel Dust" os cartuchos do FNM perderam potência e as carreiras paralelas passaram a tomar mais importância na vida de alguns integrantes. Os álbuns seguintes foram bons mas perderam muito brilho e se caracterizaram pela falta de entrosamento entre os integrantes. Não houve mais, na carreira do FNM, a mesma metralhadora de inspirações e pontos altos como houvera em "Angel Dust".

Existem boatos fortes de que há, nos circuitos de troca, um DVD-r com 4 horas de making-of deste álbum. Teria sido gravado pela MTV e comercializado no mercado negro. Se alguém aí tiver acesso a este material, por favor, contate-me.

Vicente Moschetti
publicado originalmente
no Baby Let's Rock
março/2003