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O
segundo álbum do Foo Fighters, The Colour and the Shape,
na verdade é o primeiro do Foo Fighters como uma banda,
já que o álbum de estréia era formado basicamente por
gravações caseiras de Dave Grohl (a única participação
foi do onipresente Greg Dulli na guitarra em uma faixa). |
A
pressão de gravar um sucessor a uma estréia bem sucedida não
parece ter abalado Dave Grohl e a nova formação, que mostra
personalidade neste disco que é tão forte quanto o álbum anterior.
The Colour and the Shape contou com a produção de Gil Norton
que trabalhou no clássico Doolittle dos Pixies e o resultado
é uma banda coesa, um som mais pesado e decididamente mais
mainstream do que o Foo Fighters da estréia em 1995. As composições
de Dave Grohl desde o início mostravam um apelo pop fácil,
mas The Colour and the Shape trouxe um som pronto para as
multidões. Se com o primeiro disco, o Foo Fighters definitivamente
entrava no mapa do rock, com o segundo, a banda ganhava o
mundo.
O disco começa com a baladinha intimista Doll, que em pouco
mais de um minuto serve como introdução para a verdadeira
abertura do álbum com o excelente single Monkeywrench. E aí
está um recurso que marca o álbum, o impacto dos contrastes.
Doll com sua melodia doce com toda a pinta de balada acústica
(embora não seja), só evidencia o poder do riff maravilhoso
da introdução de Monkey Wrench, um rock acelerado com uma
pegada impressionante, muito bem escolhido como o primeiro
single. Em Monkey Wrench fica evidente o quanto o Foo Fighters
precisava de dois guitarristas e Pat Smear caiu como uma luva
na sonoridade da banda. O recurso do "contraste" fica evidente
também em February Stars, que começa como uma balada de vocal
sussurrado e vai seguindo na lenta por intermináveis três
minutos até surgir uma explosão de guitarras revelando um
excelente refrão. No geral, isso acaba provocando o incômodo
de precisar ouvir o disco controlando o volume!!
Hey, Johnny Park! traz outro riff espetacular na introdução,
tem versos limpos e de andamento bem mais lento, onde as guitarras
retomam o peso no refrão. My Poor Brain segue a mesma fórmula,
começa confusa, meio ao contrário, para depois revelar mais
uma melodia limpa com um refrão vibrante e pesado. Wind Up
já é mais hard rock dos mais pesados, de andamento bem cadenciado
e tem uma "ponte" sensacional com as guitarras distorcidas
até o talo. Up In Arms tem o seu começo desperdiçado num andamento
arrastado, o vocal é sussurrado mais uma vez, para depois
acelerar (não sem aumentaro volume outra vez) e revelar uma
melodia bacana num andamento típico de power pop.
My Hero é um grande momento. A bateria preenche todos os espaços,
até que entram as guitarras num riff estridente, poderoso
e harmonioso, no contraste da melancolia pop da balada de
tema difícil, cantada com convicção por Dave Grohl.
A alegre See You é uma das surpresas do disco. Começa somente
no violão e voz, depois acompanhada por baixo e bateria emprestados
do rockabilly.
A pesada e furiosa Enough Space, baseada num riff simples
e eficiente, é mais uma de contrastes, alterando vocal ora
tranqüilo ora gritado. Depois segue a já comentada February
Stars e abre caminho para o melhor momento do disco, Everlong.
A pegada e o pique das guitarras é de novo impressionante,
a melodia é empolgante, com espaços para crescendos e explosões
de guitarra e bateria temperados com um refrão "pura adrenalina".
De novo mostrando o acerto na escolha dos singles, Everlong
ganhou um clip histórico, a melhor das historinhas divertidas
do Foo Fighters.
Walking After You é mais uma das baladas sussurantes de Dave
Grohl, a diferença é que ela segue assim até o final. Com
sua letra romântica, Walking After You também virou single,
quando foi incluida na trilha sonora do filme Arquivo X. O
revés foi que, ao entrar no filme, Walking After You teve
a bateria retrabalhada para ficar (ainda) mais pop e o resultado
anulou um pouco o arranjo intimista de sua versão original.
O disco encerra com a vibrante New Way Home, que tem o clima
de final de disco com o refrão se estendendo indefinidas vezes
por mais de 3 minutos até o final da música. O vício dos contrastes
também aparece exageradamente aqui. A música praticamente
some quando Dave começa a sussurrar o refrão repetidas vezes
aumentando a intensidade dos instrumentos e do vocal até a
previsível explosão das guitarras com vocal gritado.
The Colour and the Shape com suas virtudes e alguns reparos,
trouxe a certeza de que Dave Grohl é um competente líder de
banda e compositor do primeiro time. Antes do segundo álbum,
alguns críticos argumentavam que o primeiro álbum foi fruto
de anos e anos acumulando canções não usadas nos trabalhos
anteriores de Dave e que reunidas renderam um bom disco. Mas
definitivamente o Foo Fighters passou no teste do segundo
álbum e com The Colour and the Shape a banda mais uma vez
mostrava que tem brilho próprio, independente dos méritos
anteriores de Dave Grohl no Nirvana.
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